terça-feira, 16 de dezembro de 2008

ESCLARECER PELO DIREITO A SEREM FELIZES

É curioso quando ouvirmos dizer, em tom de verdade absoluta e fatalista, que as pessoas não querem ou não conseguem digerir mudanças de mentalidades (quando o assunto é demagogicamente “complicado”), adoptando quem assim o entende uma postura paternalista do povo, infantilizando as pessoas e legitimando a “preguiça” no seu esclarecimento.

Consequência desta atitude simultaneamente atemorizadora e medrosa, há assuntos que são apresentados à opinião pública de uma forma quase já previamente assustadora, refugiando-se depois o tema, por enquanto, numa questão técnica ou seja ainda não digna de debate aberto e popular ao comum dos mortais.

Assuntos como casamento entre casais homossexuais, aborto, eutanásia, nacionalizações na década de 70, entre outros foram ou são recebidos pela classe política do centro com um imediato torcer de nariz por não se entender ou por não se querer entender ou por receio que a maioria das pessoas não entenda e se vire contra quem quis esclarecer e falar abertamente. Enfim, tem-se medo de perder votos das camadas mais conservadoras e/ou mal esclarecidas nas próximas eleições…

E vai-se dizendo “nim” ou seja que é preciso um amplo e profundo debate na sociedade e conveniente consciencialização das massas (devo dizer que um eficaz meio para fazer este debate tem sido representado pelo brilhante programa de televisão de serviço público “Prós e Contras”).
Ora, é natural que as camadas abaladas nos seus privilégios ou crenças gritem de forma indignada o suposto ritmo acelerado das mudanças, acima de tudo, de mentalidades. E este facto aliados ao “nim” de muita gente influente e que se apresenta como “moderada” resulta no “fica tudo na mesma”.

Sucede então que a vontade dos chamados “moderados” é certamente contra a vontade de muitos deles, aproveitada e explorada com êxito por quem quer apenas obstruir no direito pela igualdade de tratamento e oportunidades. As consequências disso mesmo estão à vista hoje em dia, sobretudo para as camadas mais desfavorecidas da população e para o progresso social do país.

Simplesmente o atraso da consciência social não nos deveria “congelar”, numa altura em que estas temáticas já há algum tempo foram abordadas e decididas noutros países que podemos considerar como mais desenvolvidos, como a vizinha Espanha. Não devíamos considerar esse atraso de um modo estático, paralisante, fatal, mas antes levar-nos a intensificar as tentativas de consciencialização e esclarecimento da sociedade portuguesa.

Concluindo: a diferença está na forma como é encarado o atraso da consciência social. Os “moderados” consideram-no quase fatalisticamente como obstáculo às transformações pelos direitos humanos e pela igualdade de tratamento e de oportunidades para qualquer cidadão.

Outros querem declaradamente reforçar esses atrasos e desconhecimentos atemorizados e/ou conservadores (entre estes estão concerteza muitos supostos “moderados”).

Mas há quem veja o atraso da consciência social como um desafio à nossa capacidade mobilizadora e esclarecedora sobre estes e muitos outros assuntos. Também no caso do casamento entre casais homossexuais, há que esclarecer pelo direito a serem felizes…

vascoespinhalotero@hotmail.com
(*) Psicólogo do Trabalho e das Organizações / Orientação Vocacional