A Psicologia é uma ciência humana relativamente recente. O seu “nascimento” científico data de 1879, quando o alemão Wundt criou, em Leipzig, o primeiro laboratório de Psicologia Experimental. Desde aí, até aos nossos dias, esta ciência desenvolveu-se, “amadureceu” em termos práticos com vários contributos e expandiu-se em várias áreas e correntes. O prestígio social da Psicologia cresceu imenso na últimas décadas, mas, como “não há bela sem senão”, surgiram também algumas ideias (in)fundadas que se foram enraizando no senso comum...
Por exemplo, existe um preconceito que se tem vindo a generalizar socialmente: o de que um psicólogo tem forçosamente de apelar à calma e compreender (ou concordar) sempre com tudo o que um cliente diz. Grande equívoco este! Acontece sim que, muitas vezes, até a postura do psicólogo é (com estudos científicos a suportá-lo) desafiante!
Um outro ponto interessante tem a ver com o mito de que o psicólogo está sempre a interpretar tudo! Uma boa resposta a esta “teoria da conspiração” pode surgir apenas com uma questão, citando um exemplo de outro profissional: conhecem algum contabilista que em todos os minutos e segundos do dia e da noite apenas faça contas?...
Adoptando outro ângulo de análise, podemos ver que, actualmente, há quem erradamente coloque a psicologia no mesmo patamar de doutrinas religiosas de abordagem da vida. Quem o pensa e/ou diz não tem em conta que, apesar de algumas ramificações comuns, um psicólogo nunca será um sacerdote “sofisticado”, nem nas suas teorias, nem, definitivamente, nas suas práticas. São papéis bem distintos, nalgumas matérias até, sob um certo ponto de vista, complementares, mas certamente que não em todas.
Desviando um pouco o foco de reflexão, damo-nos conta que também as diversas religiões sofrem uma onda de equívocos e (des)informação. Julgo ser rigoroso afirmar que, hoje em dia, uma grande fatia da opinião pública sente uma certa desilusão, descrença ou mesmo algum receio para com as diversas religiões. A este facto não é certamente alheio o surgimento e divulgação, pela comunicação social, de fenómenos extremistas (muitas vezes apenas com motivações económicas ou políticas...) que acabam por inspirar nas pessoas o medo de comprometimento com opções erradas e as religiões passam frequentemente por precipitadas avaliações de “8 ou 80”!
Há que reconhecer, no entanto, um facto que urge discutir numa auto-análise a realizar pelas várias religiões: a escassez de bons intérpretes (embora estejam a aumentar) que consigam fazer a ponte entre as doutrinas escritas e os exemplos práticos, respostas a problemas e desafios do dia-a-dia actual. E neste ponto específico da facilidade de comunicação, julgo que algumas “seitas” (onde o conceito de ética é muitas vezes “atropelado” pelo dinheiro fácil...) têm vindo a ganhar espaço...
Ora, ao contrário do que muitos, com ares de modernidade, facilmente dirão, as várias doutrinas religiosas não me parecem desactualizadas. São na sua globalidade ensinamentos muito válidos, ricos e interessantes. No entanto, é necessário explicar bem os seus conceitos com aplicações, reais, concretas e responsáveis no dia-a-dia na relação connosco e com os outros.
A moral dogmática ou a apresentação do sobrenatural como argumento da razão ou, melhor, da “obrigação” (pelo receio da punição) facilmente leva a atitudes artificiais, ansiedades sem razão aparente e aplicações erradas, que provocam desigualdades com consequências para os mais fracos (precisamente quem se quer proteger).
Há razões para optimismo, pois existem, nas várias religiões, cada vez mais, bons intérpretes que conseguem demonstrar que os ensinamentos não são estáticos, são sempre relativos e passíveis de contextualização. Uma conversa é sempre melhor que um juízo. E é exactamente esta abordagem que faz a diferença na vida das pessoas!