sábado, 1 de dezembro de 2007

O QUE SE FAZ AGORA NÃO SE FARÁ DEPOIS

Como me disse um amigo recentemente o que se faz agora não se fará depois e, dadas as actuais contingências sócias, económicas e laborais portuguesas, parece ter chegado o momento de aproveitar uma oportunidade: das organizações portuguesas (públicas e privadas) darem o “salto” na sua cultura organizacional.

Deverão abandonar-se os antigos métodos do “patrão” único sabedor passando para uma nova fase de partilha de responsabilidades, objectivos e resultados. Espera-se que se abra espaço para que a abordagem de ideias, de onde quer que estas venham, independentemente da sua formação, hierarquia ou popularidade, e não apenas de supostos “iluminados de fato e gravata” que exploram mão de obra barata, impondo competentes silêncios como modus operandi da suposta seriedade.

No entanto, todo o povo sabe que várias cabeças pensam mais do que uma. Mas há que ir mais além… Ora, mesmo respeitando as componentes técnicas de cada um, urge, hoje em dia, promover, sem demagogias ou defesa de lobbies, a abertura da inovação de qualquer lado para qualquer lado. Isto é, por mais que um mecânico conheça a sua realidade é possível que uma boa inovação e ajuda ao seu trabalho possa surgir de um colega sapateiro ou de outra profissão, de um cliente antigo ou até de um recente.

Não há mal nenhum em inspirar a forma de inovar no nosso trabalho na forma de trabalhar de colegas de outras funções mesmo que nada similares. Será caso para dizer que várias cabeças pensam mais do que uma e quanto mais diferentes foram essas cabeças melhor. Enfim, a tal transversalidade de saberes.

Talvez não seja por acaso que a metáfora que se utiliza, hoje em dia, no mundo da gestão de recursos humanos nas organizações, não seja já a da visão da ermpresa-orquestra conduzida por um maestro e com secções instrumentos bem definidas e ultra-respeitadoras das suas pautas, como parecia fazer sentido há uns anos atrás.

A visão mais recente apresenta-nos a metáfora dos grupos de improvisação de jazz, cujo líder dá liberdade aos seus músicos para improvisarem, entrarem em sintonia com os seus colegas, sentindo, nos temas musicas que tocam, os “momentos certos” para solarem. Enfim, para inovarem em conjunto a partir dos pedaços de inovação espontâneos de cada um!....

vascoespinhalotero@hotmail.com
(*) Psicólogo do Trabalho e das Organizações / Orientação Vocacional
Leia todos os artigos na Internet em: www.dosonhoaoprojecto.blogspot.com

sábado, 10 de novembro de 2007

PLANETA VERDE VERSUS PLANETA VERDE ACINZENTADO:

Muitos poderão dizer que se está a exagerar ou meramente a especular quando se aponta um futuro global catastrófico. Devido às gritantes desigualdades económicas e sociais, bem como ao “barril de pólvora” ecológico (cujas mudanças este ano se começaram a fazer sentir aos olhos de toda a gente), tanto no nosso país como no mundo em geral algo parece estar a acontecer.... Quanto a reacções: uns ficam surpreendidos, outros cepticamente comprometidos.

Arrisco até a dizer que entre alguns destes últimos estarão, porventura, os mesmos (uma pequena elite) que atacavam, desde há muitas décadas, a protecção do Ambiente em nome do progresso (houve até quem exigisse a extinção deste ministério). Estes agora trazem a bandeira verde, apenas porque a cor está na moda (quem não quer ser o Al Gore português?) e com isso poderão garantir mais uns votos ou favores a empresas “amigas” do ambiente dos seus bolsos…

É triste, mas parece que, no fundo, só quando estes mesmos dirigirem os negócios dos produtos ou energias eco-sustentáveis é que provavelmente se abandonará a exploração do petróleo, pois a amizade com o verde, para os mesmos, só vem quando se traz outro amigo também: o lucro e lucro é poder.

Enfim, se é nossa “sina” da suposta livre concorrência (dado os cidadãos não conseguirem mobilizar-se e exigir) que sejam os mesmos a lucrar, pelo menos que estes lucrem com produtos ou energias que não levem à exploração de mão-de-obra barata (porventura a maior batalha perdida a nível mundial) e, acima de tudo, que não danifiquem o planeta (embora alguns produtos ou energias, supostamente verdes por não poluírem, tenham lados negros, como por exemplo a ultra-exploração dos solos, esgotamento do sais minerais, destruição de ecossistemas, clima, etc).

Mas será esta guerra possível de vencer?... Talvez não, quando temos no papel de árbitro, não movimentos de cidadãos ou organizações internacionais de protecção ambiental, mas sim organismos como o Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial ou o G-7 a ditar as regras para os mesmos amigos… Acresce-se que acaba por nos causar justificada angústia sabermos que foram precisamente estes mesmos os responsáveis pela possível morte lenta que terá a nossa casa: o Planeta Terra.

No entanto, enche-nos de esperança verificar que os cidadãos em geral estão a ganhar uma cada vez mais uma forte consciência ecológica, que se bem dirigida poderá (ou poderia) levar a uma poupança monetária nos bolsos dos consumidores, numa lógica de que o produtor ou energia verde é melhor (para o ambiente), mas também mais barata (para o consumidor).

Este caminho é possível, mas exige uma mobilização e exigência aos cidadãos de outro nível, que não só o da separação do lixo (em que os portugueses se estão a tornar um exemplo a elogiar), nem o da observação e preferência pelos rótulos verdes num qualquer supermercado quando se anda às comprar...

É preciso mais e melhor em termos globais, porque só assim conseguimos arrumar a nossa casa Planeta Terra (não podemos limpar apenas a sala ou um quarto…). E para isso há que chegar a quem pode influenciar a nível nacional e internacional: precisamente os mesmos!

vascoespinhalotero@hotmail.com
(*) Psicólogo do Trabalho e das Organizações / Orientação Vocacional
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domingo, 7 de outubro de 2007

DESEQUILÍBRIOS ECONÓMICOS E CULTURAIS: CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS

Queria partilhar convosco uma análise referente a um país que conheci um pouco: o Brasil. Neste país-continente, genericamente falando, cerca de 20% da população é rica e 80% pobre. Poderíamos, nesta conjuntura, pensar que, no interesse das suas empresas privadas, os preços seriam equilibrados, de modo a possibilitar que o maior número possível de pessoas pudesse aceder aos seus produtos ou serviços: mais clientes, talvez mais lucros… Nesta lógica, as empresas teriam de lutar entre si para oferecer os melhores preços (baixos), levando à letra o conceito de concorrência no mercado.

Porém isto não acontece. Porquê? Bem, parece que ter muitos clientes requer ter mais recursos e, consequentemente, mais despesas. Surpreendentemente ou não, as grandes empresas instaladas no Brasil preferem colocar preços altos apenas acessíveis aos 20% ricos! As empresas perceberam que têm mais lucros se tiverem menos clientes, desde que estes sejam ricos (e daí os preços altos), em detrimento da opção por muitos clientes, mas pobres.
Este fenómeno também só é possível com a permissão de monopólios, concentração de poderes e acordos de lucros base entre grandes empresas (decididos nos bastidores da corrupção) que constituem uma palavra proibida no capitalismo teórico: cartel.

Uma conclusão que se pode retirar é que na lei (da selva) do mercado (seja este regional, nacional ou global) chega-se sempre ao ponto em que deixa de haver concorrência e acaba por compensar ter poucos clientes (desde que ricos) mesmo que o resto da população não possa pagar esses serviços.
A isto chama-se ditadura de mercado. Ora, enquanto esta se reportar apenas a produtos ou serviços de utilidade relativa (como telemóveis, leitores de DVD, artigos de decoração ou outros utensílios) menos mal…

Agora, quando este fenómeno afecta, de forma grave e potencialmente irreversível, sectores vitais para a sobrevivência humana como Educação, Saúde, Electricidade, Água, Cultura, Apoio Social, etc… É que depois para voltar atrás é preciso contrariar leis, lutar nos eternos tribunais, mobilizar e esclarecer a opinião pública, não bastando já as manifestações de rua…

Ora, com as devidas distâncias (embora cada vez mais curtas), parece que estamos, já no nosso cantinho lusitano, infelizmente, a caminhar nesse sentido. Torna-se até possível prever, neste ponto, duas futuras consequências para o nosso país: aumento de emigração (que, comparativamente com a que ocorreu há umas décadas atrás, será altamente qualificada) e aumento do revolta social, insegurança e criminalidade (resultantes da mistura de ingredientes explosivos tais como: falta de princípios éticos e de justiça, vindos de cima, e luta pela sobrevivência).

Enfim, uma bomba relógio, que não é só nacional, tem uma abrangência global (veja-se as semelhanças de causa-efeito entre os motins ocorridos em França, o dia-a-dia dos gangs nos Estados Unidos ou a actual guerra civil no Iraque). É, no entanto, para nós um futuro cada vez menos distante.
Mas por que poderá tudo isto suceder? Resposta complicada, mas podemos apontar algumas causas óbvias: os desequilíbrios escandalosos na distribuição de riqueza económica e os “muros” dos preconceitos inter-culturais criados.

E o que fazer? No que diz respeito ao factor económico um trabalho enorme e corajoso está por realizar (será mesmo possível com os actuais líderes internacionais?). Quanto à segunda causa as coisas podem ser, em certas condições, surpreendentemente mais simples, embora também muito exigentes, sobretudo na abertura mental. E neste ponto será mais cego o que não vê ou o que não quer ver? Talvez o que não quer ver, porque não lhe interessa ver…

Uma aparente dificuldade, mas que poucos vêm como oportunidade, consiste no aproveitamento das, actualmente, inevitáveis vagas de e/imigração. Aqui poderá apostar-se na integração e compreensão cultural mútua através da troca de conhecimentos, tradições e valores.
Sejamos claros, não cabe aos países que acolhem apenas dar trabalho, nem a quem chega a esses países somente procurar trabalho. É fundamental e não acessório que haja mais do que isso! Passando da teoria à prática local, verificamos que na Região Centro, com Cantanhede incluída, há já bons exemplos de avanços inovadores e corajosos nestas áreas!

vascoespinhalotero@hotmail.com
(*) Psicólogo do Trabalho e das Organizações / Orientação Vocacional
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domingo, 16 de setembro de 2007

CIDADANIA VERSUS DEMAGOGIA: A HISTÓRIA DOS MESMOS

Muitos poderão dizer que se está a exagerar ou meramente a especular quando se aponta um futuro social catastrófico. Devido às gritantes desigualdades económicas e sociais, bem como ao “barril de pólvora” ecológico (cujas mudanças este ano se começaram a fazer sentir aos olhos de toda a gente), tanto no nosso país como no mundo em geral algo parece estar a acontecer.... Quanto a reacções: uns ficam surpreendidos, outros cepticamente comprometidos. Arrisco até a dizer que entre alguns destes últimos estarão, porventura, uma pequena elite: os mesmos.

Os mesmos que segregam, para um canto clandestino do nosso país, imigrantes que apenas parecem interessar pelos seus baixos ou inexistentes salários (esquecendo a sua cultura, família e novas gerações) e agora se revoltam indignados e “surpreendidos” com a criminalidade e falta de formação desta “gente”.

Os mesmos que apregoam a inovação e empreendorismo para as nossas empresas e depois que sussurram com orgulho, “lá fora”, a atractividade portuguesa pela sua mão-de-obra barata para as empresas estrangeiras (especialmente pertinente em visitas a países que dão “lições” nesta matéria como a China).

Os mesmos que enaltecem as graciosidade e transparência do capitalismo concorrencial e depois tentam impor o projecto de localização do novo aeroporto na Ota como única solução possível (por várias razões que apenas poderemos imaginar…), embora seja a via mais cara (ainda sem contar com as derrapagens), mais rapidamente obsoleta (não suportará o aumento de tráfego durante mais de treze anos) e, em termos de funcionamento operacional diário, a mais complicada.

Os mesmos que elegeram como símbolos do despesismo todos os serviços e quase todos os funcionários públicos, cito quase pelo facto de se deixar de fora administradores e afins que continuam tranquilamente a auferir salários, comissões, isenções chorudas e futuras reformas.

Os mesmos que juraram mudar as regras relativas a carreiras e aposentação apenas para os novos funcionários públicos e acabaram meses depois por dar o dito por não dito e mudá-las para todos. Ou os mesmos que vêm a terreiro defender e promover os valores da família e, de seguida, sorrateiramente reduzem para metade os apoios após os nascimentos.

Os mesmos que declaravam que todos tinham que contribuir a nível fiscal e depois fecham os olhos a contribuições gigantescas em falta relativas a grandes bancos, seguradoras, construtoras, lucros bolsistas, fortunas milionárias, entre outros, de forma mais ou menos legal, com pressão (ou será mesmo autorização?) de lobbies à mistura.

Os mesmos que destroem o serviço nacional de saúde como direito, em nome da procura do aumento da qualidade de serviço para os utentes (“esquecendo” que não se pode melhorar aquilo que se fecha), abrindo espaço para esta qualidade apenas disponível no privado, cada vez mais somente para alguns: provavelmente entre estes estarão precisamente esses mesmos.

Os mesmos sejam estes de esquerda, direita ou centro, dado que os interesses apenas têm uma cor: a do dinheiro e do poder. Mas será inevitável? Talvez sim… Poderemos pensar que talvez seja inevitavelmente humano ceder aos interesses, mas logo nos lembramos que noutros países as coisas não se passam bem assim ou, pelo menos, não sempre.

Então poderemos pensar que talvez seja uma questão cultural, porém mesmo no nosso país há exemplos de cedência e também de resistência a pressões de lobbies., sendo nuns casos esporádicos, noutros constantes resultando de critérios coerentes assumidos. Mas mesmo estes que são assumidos e cumpridos não constituem garante de que se tomem decisões sempre desta forma…

Talvez sejam demasiados dilemas ingénuos ou desconfiados e nos reste somente uma solução: estar permanentemente atentos, informados e esclarecidos para poder elogiar ou criticar decisões passadas, presentes e futuras, de forma autónoma, para ter a possibilidade de lutar, apoiar e fazer a diferença. Enfim, cidadania é o que se pede e com o que se pode contar contra a demagogia.

vascoespinhalotero@hotmail.com
(*) Psicólogo do Trabalho e das Organizações / Orientação Vocacional
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sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Equívocos sobre Psicologia e Religiões

A Psicologia é uma ciência humana relativamente recente. O seu “nascimento” científico data de 1879, quando o alemão Wundt criou, em Leipzig, o primeiro laboratório de Psicologia Experimental. Desde aí, até aos nossos dias, esta ciência desenvolveu-se, “amadureceu” em termos práticos com vários contributos e expandiu-se em várias áreas e correntes. O prestígio social da Psicologia cresceu imenso na últimas décadas, mas, como “não há bela sem senão”, surgiram também algumas ideias (in)fundadas que se foram enraizando no senso comum...

Por exemplo, existe um preconceito que se tem vindo a generalizar socialmente: o de que um psicólogo tem forçosamente de apelar à calma e compreender (ou concordar) sempre com tudo o que um cliente diz. Grande equívoco este! Acontece sim que, muitas vezes, até a postura do psicólogo é (com estudos científicos a suportá-lo) desafiante!

Um outro ponto interessante tem a ver com o mito de que o psicólogo está sempre a interpretar tudo! Uma boa resposta a esta “teoria da conspiração” pode surgir apenas com uma questão, citando um exemplo de outro profissional: conhecem algum contabilista que em todos os minutos e segundos do dia e da noite apenas faça contas?...

Adoptando outro ângulo de análise, podemos ver que, actualmente, há quem erradamente coloque a psicologia no mesmo patamar de doutrinas religiosas de abordagem da vida. Quem o pensa e/ou diz não tem em conta que, apesar de algumas ramificações comuns, um psicólogo nunca será um sacerdote “sofisticado”, nem nas suas teorias, nem, definitivamente, nas suas práticas. São papéis bem distintos, nalgumas matérias até, sob um certo ponto de vista, complementares, mas certamente que não em todas.

Desviando um pouco o foco de reflexão, damo-nos conta que também as diversas religiões sofrem uma onda de equívocos e (des)informação. Julgo ser rigoroso afirmar que, hoje em dia, uma grande fatia da opinião pública sente uma certa desilusão, descrença ou mesmo algum receio para com as diversas religiões. A este facto não é certamente alheio o surgimento e divulgação, pela comunicação social, de fenómenos extremistas (muitas vezes apenas com motivações económicas ou políticas...) que acabam por inspirar nas pessoas o medo de comprometimento com opções erradas e as religiões passam frequentemente por precipitadas avaliações de “8 ou 80”!

Há que reconhecer, no entanto, um facto que urge discutir numa auto-análise a realizar pelas várias religiões: a escassez de bons intérpretes (embora estejam a aumentar) que consigam fazer a ponte entre as doutrinas escritas e os exemplos práticos, respostas a problemas e desafios do dia-a-dia actual. E neste ponto específico da facilidade de comunicação, julgo que algumas “seitas” (onde o conceito de ética é muitas vezes “atropelado” pelo dinheiro fácil...) têm vindo a ganhar espaço...

Ora, ao contrário do que muitos, com ares de modernidade, facilmente dirão, as várias doutrinas religiosas não me parecem desactualizadas. São na sua globalidade ensinamentos muito válidos, ricos e interessantes. No entanto, é necessário explicar bem os seus conceitos com aplicações, reais, concretas e responsáveis no dia-a-dia na relação connosco e com os outros.

A moral dogmática ou a apresentação do sobrenatural como argumento da razão ou, melhor, da “obrigação” (pelo receio da punição) facilmente leva a atitudes artificiais, ansiedades sem razão aparente e aplicações erradas, que provocam desigualdades com consequências para os mais fracos (precisamente quem se quer proteger).

Há razões para optimismo, pois existem, nas várias religiões, cada vez mais, bons intérpretes que conseguem demonstrar que os ensinamentos não são estáticos, são sempre relativos e passíveis de contextualização. Uma conversa é sempre melhor que um juízo. E é exactamente esta abordagem que faz a diferença na vida das pessoas!

quinta-feira, 19 de julho de 2007

Inovação: não começar a casa pelo telhado, nem copiar a casa do vizinho

Numa altura em que o conceito de inovação parece estar na moda no nosso país, (ou pelo menos apela-se para que esteja) revela-se pertinente pensar um pouco sobre como “nasce” a atitude de inovar. Há quem considere que inovar, no sentido de arriscar, inventar ou criar seja uma característica inata, que a “mãe natureza” a uns dá e a outros não, por mais que a procurem. Outros, porém, defendem que esta característica geral se pode aprender, cultivar, reforçar e aqui se aponta a educação e cultura, na sua abrangência, como ponto essencial para enraizar a estratégia de que o risco da inovação compensa.

Não é por acaso que países como Noruega, Suécia, Finlândia ou Dinamarca têm, nos últimos anos, desenvolvido as melhores ideias em termos de mercado. Vejamos as suas abordagens e práticas concretas ao nível da educação e cultura, que não são vistas como despesas (tão fáceis de cortar num orçamento de Estado de “vistas curtas”), mas sim como investimentos que têm, de facto, retorno para a sociedade!

Com um leve tom de profecia, bastar estarmos atentos às ideias que irão surgir nas empresas dos países de leste europeu nos próximos anos e o salto de desenvolvimento que terão... Nestes casos, uma Educação forte (gratuita, pública, com qualidade e igualdade de oportunidades) traz uma Inovação forte (com aplicações quer no público, quer no privado), não começando a casa pelo telhado…

Assim, parece haver uma maior probabilidade de “criarmos” pessoas inovadoras, porém existirão sempre umas pessoas mais inovadoras do que outras e os portugueses até têm alguns bons exemplos de inventores! Infelizmente, na sua maioria, os nossos inovadores são desvalorizados ou ridicularizados, sendo que este sim parece ser o nosso fado ao longo dos tempos...
Sejamos francos, na sociedade portuguesa do passado e ainda presente, tão bem descrita por Eça de Queiroz, muito mais facilmente é implementada uma ideia copiada do estrangeiro do que uma ideia germinada pela “prata da casa”!... Os nossos anos de atraso devem-se exactamente a isto: estamos à espera das ideias vindas de fora, quando até já as tivemos cá dentro!

O desafio dos nossos dias é precisamente esse: a busca de ideias! Quanto mais espaço dermos para essa busca, maior será a nossa vantagem competitiva, a qualidade dos nossos serviços, a recuperação da nossa economia e da auto-estima nacional. Só assim poderemos estar um passo à frente na inovação do dia-a-dia e, consequentemente, no mercado global, pois a inovação não se pode aplicar apenas às grandes empresas, também as pequenas e médias, quer públicas, quer privadas.

vascoespinhalotero@hotmail.com
(*) Psicólogo do Trabalho e das Organizações / Orientação Vocacional

sábado, 7 de julho de 2007

O NEGÓCIO DAS URGÊNCIAS (PRIVADAS)
A questão do encerramento de diversos serviços de urgências em Portugal, supostamente devido ao número insuficiente de utilizadores nalguns pontos, continua na ordem do dia. A argumentação usada tem tanto de incrível como de teimosa, dado ter sido repetidamente utilizada pelo ministro da Saúde até se tornar banal e aceite como natural, óbvia e mesmo necessária pela maioria da população. Passando, na opinião pública, a discutir-se não este argumento sem lógica alguma, mas sim meramente quem é que vai fechar e quem é que se safa.

Trata-se de uma armadilha demagógica cozinhada na frieza das estatísticas que com jeito provam o que se quiser. Como é possível metermos no mesmo saco um utente de uma urgência (esporádico) e um cliente assíduo de um centro comercial? Ir ao centro comercial às compras pode ser um hábito regular Já ir às urgências é uma necessidade, uma excepção nos hábitos regulares das pessoas. Importa, sem dúvida, se a urgência está a 20 km ou a 50 km; se a urgência está aberta 5, 12 ou 24 horas por dia; se tem técnicos que possam prestar os primeiros cuidados, de forma a, pelo menos, estabilizar uma situação de saúde!

É certo que há pessoas que podem ir às urgências por motivos que não o justifiquem, mas, por essas excepções, pagaram todos os outros? Acrescentemos que, se a questão for apenas esta, há que apostar na informação, prevenção e sensibilização para estas situações (que não têm contado com os apoios suficientes, sobrevivendo apenas da boa consciência dos técnicos envolvidos). De forma a que, paradoxalmente ou não, haja menos situações nas urgências, mas que estas não deixem de lá estar, porque, mais dia menos dia ou mais noite menos noite, alguém vai precisar de lá ir!

Importa também, sem dúvida, se o apoio é gratuito ou se vamos pagar 5, 15 ou 50 euros! Parece que, contrariando a Constituição Portuguesa, que nos diz que o direito à saúde deve ser tendencialmente gratuito, as taxas moderadoras e outras criações económicas estão na forja para o serviço nacional de saúde. Se este cenário já é mau, outro pior se avizinha: para substituir as urgências públicas que se fecharem por suposta falta de utentes, surgirão urgências privadas, com os custos certamente no “menu”…

Com este precedente encara-se o custo de um apoio de urgência na área da saúde com o mesmo “olho para o negócio” que o custo de um produto do centro comercial: que poderá subir ou baixar ao sabor do mercado e da (não) concorrência. Sejamos pragmáticos, relativamente aos custos da saúde, no privado a constituição transforma-se apenas em “caixa registadora” e deixa de haver discussão sobre taxas moderadoras, porque quem pode paga, quem não pode…

A luta pela melhoria das urgências e dos seus serviços deveria ser o foco da discussão e não a sua manutenção, mas o “carimbo” da crise serve para cortar em tudo, excepto para buscar os rendimentos fiscais que resolveriam de forma massiva a situação no Estado... É claro que há problemas, acima de tudo, de má gestão, pois é sabido que há serviços que funcionam mal e que gerem mal os recursos disponíveis. Mas a solução é acabar com os serviços ou procurar melhorá-los? Afinal de contas, pretende-se julgar somente ou ajudar a evoluir? Se a intenção é apenas a primeira, a quem interessam os veredictos desse julgamento redutor?

Parece cada vez mais claro que, actualmente, a política do Estado não é melhorar os serviços, é simplesmente denegrir a sua imagem (muitas vezes alimentando preconceitos sobre os serviços públicos que são generalizados sem factos) para cortar em recursos muitas vezes essenciais às populações. Depois coloca-se em causa a qualidade do serviço e apontar-se como solução mágica a sua transferência para o sector privado! Uma receita já conhecida…

Devo referir que não vejo o privado como diabo, nem o publico como santo. Há obviamente pontos fortes, pontos fracos e potenciais sugestões de melhoria para todos os sectores. Julgo, porém, que existem áreas que deveriam ser o pilar seguro de uma sociedade como: Educação, Saúde, Luz, Água, Cultura, Apoio Social, entre outras que deverão estar sempre no domínio público. Outras áreas menos vitais poderão ficar para a concorrência (assegurando que esta acontece de facto, evitando os monopólios) dos privados. Assim, funcionam os países com maior qualidade de vida do mundo: Suécia, Noruega e a tão falada Finlândia!...
(*) Psicólogo do Trabalho e das Organizações / Orientação Vocacional

domingo, 3 de junho de 2007

Tipo Gil Vicente e tal...

Há muito que um programa de televisão do principal canal público não causava tanto falatório. Não por motivos de pura polémica ou escândalo vazio e “comercialóide”, nem pelo sensacionalismo ou cultura do banal, mas sim simplesmente pelo seu rico e interessante conteúdo e forma: “Isto é uma espécie de magazine”! O novo programa dos “Gato Fedorento” é a mais recente prova de que é possível a máxima “faça você mesmo”. É que sabe mesmo bem observar como pequenos pormenores que já todos vimos, ouvimos ou sentimos, no dia-a-dia da nossa sociedade, são apresentados, de forma descontraída, em rábulas inteligentes, criadas com uma subtil “piscadela de olho”.

Há muito que os domingos à noite não eram tão ansiados (será que ninguém se lembra que o dia seguinte é segunda-feira de manhã?), existindo muitas vezes a expectativa sobre o que é que eles vão fazer desta vez. E a verdade é que este humor é mesmo “sério”! No sentido em que as caricaturas apresentadas retratam com precisão milimétrica estereótipos sociais, económicos, culturais e mesmo religiosos, numa análise nacional e também internacional. Tudo isto com um doce ingrediente de aula de cidadania actualizada e espírito crítico atento e, sobretudo, construtivo…

Muitas vezes parece que podemos imaginar os próprios visados das divertidas críticas a rirem e a aplaudirem, sendo que alguns destinatários concerteza perceberão o “presente envenenado”, enquanto que outros julgarão que a “carapuça” servirá a alguém que não eles ou que foi apenas uma piada como outra qualquer... O estilo destes brilhantes rapazes, cada vez mais mordaz e certeiro, faz lembrar em conteúdo e, algumas vezes, também na forma, as obras de Gil Vicente e mesmo de Eça de Queiroz!

O seu humor não agrada a todos, é certo. Entre os cépticos encontramos pessoas que preferem o estilo mais “terra a terra” de Fernando Mendes, Camilo de Oliveira, Marina Mota, entre outros representantes do humor da revista “à portuguesa“, carregada de tradição e carinho no nosso coração. No entanto, também este público começa a apreciar, por vezes, algumas “tiradas”, sendo que noutras ocasiões optam por abanar a cabeça em sinal de desaprovação moral (embora apreciem bastante os trocadilhos “marotos” do humor mais popular presente nos “Batanetes” ou “Malucos do Riso”). No fundo, esta caracterização poderia simbolizar o possível choque de valores entre gerações no nosso país, porém a coexistência dos diversos “humores” a que assistimos, hoje em dia, é prova dada de que este é um exemplo de integração democrática e tolerante, digno de ser mencionado como modelo a adaptar para outras áreas…

Esta nova vaga humorística em Portugal não surge vinda do nada. Muito se deve à fase de reinvenção mediática do humor que nos foi trazida pela moda do “stand-up comedy”. Mesmo aqui se conseguem discernir diferenças entre o estilo de anedota de que é particular especialista Fernando Rocha e o estilo mais corrosivo, cínico e sedutor de Bruno Nogueira, Rui Unas, entre outros). Ora, numa altura de aparente decadência do “pai” do humor moderno português, Herman José, que à semelhança de Jô Soares, tem vindo ao longo da última década, a preferir o conforto dos sofás nos “talk-shows” do que a criatividade e agitação dos programas regulares de humor, o humor português trilha um caminho sorridente na companhia de novos valores, vindos de uma geração que cresceu a ver séries “Tal Canal”, “Duarte e Companhia”, “Herman Enciclopédia” e o não tão valorizado quanto merecia: “Contra-Informação”!

O espaço conquistado a pulso, com mérito, de projectos como “Portugalmente”, “Cabaret da Coxa” ou “Revolta dos Pasteis de Nata”, para além do já referido “Gato Fedorento”, provam que a inovação portuguesa não é brejeira, nem precisa de importar ao “kilo” séries estrangeiras de qualidade duvidosa (embora as séries de qualidade escolhidas “a dedo” sejam sempre bem-vindas). Sublinhe-se, para que equívocos não se gerem, que os “craques” desta área recusam a defesa “miserabilista” do seu trabalho, bem como a ideia do “orgulhosamente sós”, pelo contrário, assumem referências nacionais, que já abordei, mas também de outros projectos e personalidades internacionais. Há que reconhecer que ao nível dos centros de decisão desta área, neste caso os produtores do mercado televisivo, parece que se está finalmente a perder a vergonha de apostar nos jovens valores nacionais.

Por que não fazer o mesmo com outras jovens ideias inovadoras em diversas áreas do nosso país? Diz que é uma espécie de desafio…

domingo, 13 de maio de 2007

Psicologia sempre existiu: nos provérbios que quisermos

Os provérbios ou ditados populares sempre foram tidos como sinónimo de sabedoria, sendo muitas vezes utilizados para melhor explicar ou justificar a aplicação de uma ideia ou processo. Geralmente quem os utiliza lucra, pois todos lhe dão ouvidos e razão, como se quem os citasse estivesse a ler partes da Constituição! Porém, estas informais leis gerais tidas pela maioria de nós como universais, dependem, na verdade, muito do seu contexto e, acima de tudo, de cada cultura.

Ora, sucede que a moral presente nos provérbios e ditados populares é muito diferente de cultura para cultura, de sociedade para sociedade, mesmo de país para país, variando até ao longo do tempo e espaço da História! Basta comparar os ditados portugueses e espanhóis por exemplo. Por exemplo, os provérbios e ditados portugueses são, na sua globalidade, muito conformistas e resignados (“quem tudo quer, tudo perde”). Já os provérbios e ditados espanhóis são sempre empreendedores e orgulhosos (“mais vale ser a cauda do leão do que o nariz do rato”).

Outro ponto interessante diz respeito à tão famosa mitologia grega que, no fundo, não era mais do que um conjunto de lendas (histórias que se contavam sem garantia de veracidade dos factos) que criavam a moral do povo: as leis informais por que se deveria reger uma sociedade e a conduta dos seus elementos.

Sucede que todo o anterior conjunto de dados e conselhos faz pensar numa determinada ciência... a Psicologia! Trata-se de uma ciência humana relativamente recente. O seu “nascimento” científico data de 1879, quando o alemão Wundt criou, em Leipzig, o primeiro laboratório de Psicologia Experimental. Desde aí, até aos nossos dias, esta ciência desenvolveu-se, “amadureceu” com vários contributos e expandiu-se em várias áreas e correntes. A Psicologia está presente, de forma cultural e contextualizada, na moral desde sempre.
A base da Psicologia poderá ser encontrada nos provérbios e ditados populares, mas não ousemos duvidar da superior riqueza e abrangência destes. Provavelmente, somos obrigados a incluir no “pote” científico, para além da Psicologia, também a Antropologia e a Sociologia, pois há grandes diferenças de cultura para cultura, de sociedade para sociedade, mesmo de país para país, com variações ao longo do tempo e espaço da História.

Em suma, tudo poderá fazer parte de uma grande ciência que sempre existiu e apenas se passou a documentar e reproduzir, via ensino: o conhecimento acumulado, o senso comum, enfim, a experiência da(s) vida(s)! Outras expressões, palavras ou termos mais ou menos técnicos poderiam caracterizar estas “coisas”.

Enfim, segundo este ponto de vista, no que à Psicologia e à sua fatia de conhecimento diz respeito, poderíamos afirmar que esta, afinal, sempre existiu, apenas se racionalizou e modernizou, provavelmente, no último século.

Porém, dado que a moral (expressa nos provérbios e ditados populares) varia de cultura para cultura, ao basearmo-nos apenas nestes registos e tradições, teríamos meramente pequenas psicologias culturais, de diferentes nacionalidades espartilhadas e dispersas, provavelmente passando ao lado dos pontos transversais do Ser Humano... Enfim, a Psicologia não é só conhecimento de vida adquirido e acumulado também nos provérbios, ditados ou saberes populares: é também algo mais.


vascoespinhalotero@hotmail.com
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terça-feira, 2 de janeiro de 2007

Mudar ou mudar "devagarinho"?


Há tempos, ouvimos o nosso Ministro das Finanças afirmar, com confiança, acreditar que dentro de pouco tempo será concluída uma mudança cultural, já em evolução, no nosso país, no que diz respeito aos cumprimentos fiscais: o abandono do “chico espertismo” da fuga aos impostos para passar ao cumprimento geral da população com discriminação forte a quem não o faz!

Com medidas cada vez mais rigorosas (talvez na opinião de alguns falte o levantamento do sigilo bancário), este facto poderá mesmo em breve ser uma realidade, sendo que actualmente já conseguimos ver que algo está mesmo a alterar-se neste ponto vital do desenvolvimento nacional e as pessoas começam a acreditar que é mesmo possível! Atenção que com isto não quero comentar a actuação do Governo, mas sim citar apenas este exemplo em particular!

Porém, há bem pouco tempo atrás, este fabuloso exemplo seria tido como culturalmente impossível numa qualquer conversa de café. O que pensavam as pessoas na altura? Basicamente dividam-se em dois grupos. As mais resignadas diziam “neste país sempre foi assim, não dá para mudar”, confidenciando, com um sorriso nos lábios, que só se “abrissem a cabeça às pessoas”! Outras, supostamente pessoas mais interventivas, alegavam que as “mentalidades” tinham que mudar e que só se poderia fazer isso “devagarinho”...

Ora, se o primeiro conjunto de pessoas assumidamente nada fazia, o segundo conjunto confiava numa mudança gradual “milagrosa”, nada fazendo porém, esperando que viesse tudo do “céu aos trambolhões”! Ouviam-se risadas cúmplices e amargas de uns e viam-se olhares cabisbaixos e apreensivos de outros. Mas a conclusão nos dois grupos era a mesma: não é possível mudar, portanto, caso encerrado e tudo ficava na mesma!...

Porém, neste caso, por exemplo, as coisas estão mesmo a mudar, embora não devamos “por a carroça à frente dos bois”. Resumindo, esta era uma mudança consensualmente pedida, impossível para alguns, que supostamente necessitaria de alterações “milagrosas” de longo prazo de “mentalidades”, mas o que é certo é que aconteceu e mais rapidamente do que se estaria à espera! Mas como é que se conseguiu?

Sucedeu que um terceiro grupo de pessoas assumiu a necessidade imediata de mudança (que já era reclamada pela maioria das pessoas na sociedade portuguesa, se bem que de formas diferentes...), recolheu opiniões e sugestões de métodos e critérios consensuais e simplesmente actuou com confiança e legitimidade. Ou seja assumiu-se que era mesmo para mudar e não para se ir supostamente mudando “devagarinho” por causa das “mentalidades” (no fundo será mais receio das resistências...). Este é apenas um exemplo de como se pode mudar a sério, com sucesso e a curto prazo: com “garra”!

Mas atenção, não parecerá esta “garra” para mudar uma imposição ditatorial? Não, existe uma enorme diferença relativamente à mudança autoritária que se constitui na possibilidade de participação, de dar voz a quem quiser sugerir (e não só destruir), de recolher opiniões construtivas para criar consensos de forma organizada e regular. Enfim, ouvir e responsabilizar na mudança que é sugerida consensualmente. E isto basta? Não. Depois há que agir com confiança, mudar sem receio, pois a razão aí já está do nosso lado, o apoio das pessoas também e nesta fase não as podemos defraudar...

No que diz respeito ao envolvimento das pessoas há que ter em conta um pilar de base: existe a “maioria silenciosa” (que não participa, nem sugere ou se responsabiliza) e a “maioria silenciada” (que pretende ser parte activa da mudança e que encontra um, muitas vezes “burocrático” e “pouco ruidoso”, não!).

E quando se volta atrás num processo de mudança participado? A pessoas que participaram não voltam a participar juntando-se à “maioria silenciosa”. As pessoas que não participaram ficam orgulhosas de não o ter feito e ganham “estatuto” para dar o seu exemplo à “maioria silenciada”. Os lideres e suas equipas que propuseram e trabalharam na mudança tornam-se “reféns” de uma nova autoridade agora criada: a “maioria orgulhosamente silenciosa”! Esta nova maioria impedirá para sempre e com muito mais facilidade qualquer tentativa de mudança consensual e tudo ficará para sempre na mesma para desgosto da esmagadora maioria das pessoas!

É óbvio que resistências a qualquer mudança surgem sempre e são humanamente inevitáveis, até mesmo em pessoas que concordaram com ela. Mas podem até ser positivas se servirem de exemplo, sabendo lidar-se com elas (quer os casos negativos, quer os positivos). E como lidar com as resistências à mudança? Primeiro, nunca alterando decisões consensuais tomadas em função de casos individuais. Segundo, com uma postura aberta e humilde, dando exemplos positivos do que se vai conseguir no futuro, lembrando exemplos negativos do que não se conseguia no passado, explicar, ouvir, oferecer ajuda nesta fase de passagem, etc. Enfim, compreender a dificuldade e resistência, mas sem voltar atrás ou deixar tudo como estava!

Ao longo da nossa História, as mudanças respeitadas sempre se deram com este terceiro grupo a “puxar”, a arriscar, a explicar, a inovar com humildade para ouvir e garra para avançar! Basta pensarmos num bom exemplo de envolvimento e “mãos à obra” colectiva portuguesa. A população portuguesa foi, a nível europeu, das que mais rapidamente se habitou à mudança de moeda escudo – euro! Este facto só por si motivo de orgulho, leva-nos aos pícaros do nosso ego se recordarmos que infelizmente estamos na cauda da europa a nível de alfabetismo, índices de escolaridade e formação! Uma gigantesca mudanças de “mentalidades” que não precisou de ser feita supostamente “devagarinho”...

vascoespinhalotero@hotmail.com

Motivação custa pouco dinheiro


Há tempos, ouvi alguém dizer que as organizações de sucesso a nível regional, nacional ou internacional só “acontecem” com quem faça as coisas acontecer: pessoas talentosas nas suas áreas, dedicadas, capazes de resolver problemas e com capacidade de criar soluções.

Os produtos podem ser imitados, a tecnologia pode ser comprada, até o dinheiro pode ser emprestado... Ora, cada vez mais, a “diferença” no mundo das organizações faz-se com ideias e projectos de qualidade criados por…pessoas motivadas!

Parece simples e óbvio. Porém, muitos logo dirão, num juízo muito popular, que a motivação vem do salário e mais nada, tudo o resto é perda de dinheiro precioso para a organização. Outros acrescentarão que a motivação é uma obrigação, pois, se estes não servem há mais quem queira, na lei da selva do mercado liberal... Nada mais errado ou, pelo menos, mal informado.

Em primeiro lugar, quando uma organização perde um trabalhador eficiente perde tudo o que nele foi investido até então (formação, benefícios, apoios, etc). A perda é duplicada quando há necessidade de dar formação às pessoas que vieram substituir as que saíram e quanto mais alta for a posição hierárquica mais altos os custos...

Por outro lado, se analisarmos bem, concluiremos com realismo que as pessoas trabalham, entre outras coisas, também e muitas vezes, acima de tudo, por dinheiro, mas motivam-se e dedicam-se de “corpo e alma” a metas enaltecidas de valores, missão e o seu contributo para o todo.

Vejamos um exemplo quando as coisas correm bem. Quando, no dia-a-dia de trabalho, o trabalhador persegue o cumprimento ou superação de objectivos (anteriormente negociados em consenso com a sua chefia), não abandona situações/casos pendentes com clientes internos ou externos e apresenta propostas de melhoria / inovações (não apenas para um caso, mas para aspectos transversais) que julga terem boa probabilidade serem ouvidas e aprovadas.

E como surgem as condições para que os bons exemplos floresçam? Os bons ambientes de trabalho seja em equipa de trabalho, seja em toda uma organização não surgem do acaso. São, sim, criados de forma fundamentada e preparada seja em meio público ou privado. Deixem de lado factores como sorte, dinheiro, crise ou o clássico “muito trabalho a fazer que não se tem tempo para essas coisas” para justificar os maus ambientes de trabalho...

Há que sublinhar claramente que satisfação no trabalho não é sinónimo de boas práticas por decreto, requer atitudes partilhadas e discutidas em equipa, acções concretas e compromissos assumidos / cumpridos, sobretudo por parte das lideranças.

Enfim, organizacionalmente, a motivação não pode ser vista como despesa, pois, na verdade dos factos e dos números, é investimento e na esmagadora maioria das vezes custa pouco dinheiro. Precisa, sim, de visão estratégica de longo prazo e podem crer que tem retorno, muito retorno.Devo esclarecer que a minha opinião é baseada em literatura científica da área e na aplicação no terreno de práticas de motivação em organizações públicas e noutras privadas, algumas líderes de mercado e nestas últimas pensa-se em tudo, excepto em perder dinheiro!...

vascoespinhalotero@hotmail.com(*) Psicólogo do Trabalho e das Organizações / Orientação Vocacional

O rigor sem rigor nenhum


Numa fase de sol, praia e relax pós euforia futebolística, as últimas intenções governamentais, relativamente a cortes nos abatimentos fiscais em matérias essenciais e legítimas (Educação, Saúde, Habitação, entre outras) começam a surgir à tona de água. Por enquanto, ainda só nas notas de roda pé num qualquer Telejornal... Estratégias de marketing político para uns, propaganda calculista para outros.

Suspeita-se facilmente sobre qual a argumentação que sustentará tal medida fiscal. O Estado gasta o que considera ser demasiado com estas áreas e quer deitar mão a expedientes que limitem abusos – no preço de consultas, medicamentos, livros técnicos, rendas exorbitantes, etc – que depois terá de pagar à parte. E, de caminho, aumentando a arrecadação do IRS. Porém, o que sucede previsivelmente de seguida? Os produtos ou serviços continuam nos seus altos preços e os seus ainda mais altos lucros. Tal como poderá suceder com o preço da gasolina, mesmo baixando o imposto...

Voltando a dizer o que já muitos alertaram: quem vai acabar inevitavelmente (se nada se fizer...) por pagar a conta e ser o crucificado nesta aparente cruzada em prol da “justiça fiscal”? Será que é acabando com esses supostos “ricos” que ficaremos todos iguais? Talvez haja sempre alguns mais iguais do que outros... Afinal, o que é feito da máxima, utilizada tanto pela direita como pela esquerda, da igualdade de oportunidades?

Numa altura em que se apela à unidade nacional, a pactos de regime, a consensos de Estado é revoltante darmo-nos conta de como estes desígnios são usados para tentar que se passe um cheque em branco a políticas baseadas em critérios tão desiguais! No fundo, seria como se fosse nosso dever patriótico, em nome da estabilidade do nosso país, convidarmos e agradecermos a quem nos “rouba” a casa, porque não se consegue impedir as obras de ampliação do luxuoso palácio do vizinho!

O rumo traçado parece cópia das lendárias directrizes do xerife de Nottingham: cortar nas “migalhas” do povo (vulgo classe baixa e média) para continuar a deixar fugir as grandes fatias do bolo para os nobres (classe alta).

É fácil distinguirmos a classe alta como as grandes e chorudas instituições que detêm as grandes fatias do Produto Interno Bruto do nosso país: bancos (pagam 1 por cento de impostos!...), seguradoras, fortunas milionárias, farmacêuticas, construtoras, lucros bolsistas (para já não falar do jet-set português...). Muitos destes continuam a viver desafogadamente com um sorriso fiscal nos lábios... E na maior parte das vezes com a lei a protegê-los! Uma realidade à parte da “crise”...

Haverá sempre quem ache que são sacrifícios (para apenas alguns...) que se terão de fazer pelo desenvolvimento do país, mas se é de números que falamos, pois apontem-se algumas estatísticas esclarecedoras. Sabia que a diferença de rendimento entre os mais ricos e os mais pobres, no mundo, era de 30 para 1 em 1960 e subiu para 74 versus 1 em 2001? Sabia que 20 por cento dos mais ricos controlam 86 por cento da PIB mundial e 20 por cento dos mais pobres controlam 1 por cento?

E como é que se chegou a estes números? Como se deixou chegar a situação mundial (e nacional por arrasto) a este estado? E como será daqui a mais uns anos? Chegou-se a este ponto por decisões tomadas e por outras que não se conseguem tomar!...

vascoespinhalotero@hotmail.com(*) Psicólogo do Trabalho e das Organizações / Orientação Vocacional

Já que se fala em união nacional...


Numa altura em que o nosso país parece estar numa fase decisiva de explosão ou implosão de desenvolvimento, em plena onda nacional de euforia via Mundial de Futebol, com a atenção distraída para o fenómeno desportivo, anunciam-se, como que assobiadas pelo vento, algumas vontades governamentais. Subitamente, acordamos do sonho futebolístico no qual todos estávamos no mesmo “barco”: o da união nacional.

As últimas intenções, relativamente a cortes nos abatimentos fiscais para matérias essenciais e legítimas (Educação, Saúde, Habitação, entre outras), por enquanto, ainda só passam em nota de roda pé num qualquer Telejornal... Decisões como estas não são mais do que brechas no “barco” da união nacional onde todos sonhamos, por momentos, estar.

Ora, parece que, para nosso pesadelo, só quando toca a futebol é que aparecem algumas figuras importantes no papel de adeptos e até (pasme-se!) de comentadores desportivos, com alma patriótica e cachecol aos ombros, pedindo uma “ingénua” boleia no tal “barco”...

Sem mais demoras e achegas, falemos, então, do assunto “esquecido” da actualidade: impostos. Em primeiro lugar, convém enaltecer o trabalho que tem sido desenvolvido, a um certo nível cultural, no que diz respeito aos cumprimentos fiscais: o progressivo abandono do “chico espertismo” da fuga aos impostos para passar ao cumprimento geral da população com discriminação forte a quem não o faz! Mas, será que se está a apontar para todos aqueles que não cumprem legal ou ilegalmente?... Um velho paradoxo na sociedade portuguesa.

Sejamos francos na análise, sem cairmos em generalizações irresponsáveis. É fácil listarmos as grandes e chorudas instituições que detêm as grandes fatias do Produto Interno Bruto português: bancos (pagam 1 por cento de impostos...), seguradoras, fortunas milionárias, farmacêuticas, construtoras, lucros bolsistas (para já não falar do jet-set português...). Muitos destes continuam a viver desafogadamente com um sorriso fiscal nos lábios... E, na maior parte das vezes, com a lei a “protegê-los”! Uma realidade à parte da “crise”...

O ideal seria, sem dúvida, termos no nosso país uma cultura de responsabilização, de transparência, de levantamento total do sigilo fiscal e do sigilo bancário, porém como a tradição portuguesa, infelizmente, vai muito mais no sentido da denúncia e do “apontar o dedo ao vizinho”, o Governo optou por esta via, à primeira vista, mais segura.

Segura no sentido de facilmente detectável com a cultura da espionagem. Basta pensarmos na justificada revolta que provoca conhecer “vizinhos” descarados que, declarando salário mínimo, possuem com um orgulhoso piscar de olho potentes carros e luxuosas moradias... Porém, se nos reportarmos ao grande crime económico, não descarado, mais sofisticado e disfarçado, as coisas tornam-se mais complicadas de sinalizar e investigar...

Também é certo que, com a (actualmente utópica?) transparência total, os grandes grupos financeiros facilmente encontrariam um simpático e silencioso off-shore ou optariam pela mudança para outro país de mão de obra mais barata e governo mais “amigo”... Enfim, a lei da selva do mercado “livre” global...

Já que se fala em união nacional em torno da selecção portuguesa de futebol com tão bons resultados, porque usar a mesma táctica para esta e outras questões?

vascoespinhalotero@hotmail.com(*) Psicólogo do Trabalho e das Organizações / Orientação Vocacional

Assumir que filho de peixe.. sabe inovar!


Antigamente, a profissão era, muitas vezes, herdada por tradição familiar, numa suposta continuidade de características genéticas relativas a interesses e capacidades transmitidas de geração em geração. Tinha-se como certo que “filho de peixe sabe nadar”. No entanto, com o avançar da História as tradições foram caindo, para o bem e para o mal, e os “filhos deixaram mesmo de saber nadar” ou talvez nunca tivessem mesmo gostado de “nadar”.

Ou seja, as novas gerações ganharam mais espaço para apresentar aos antecessores os seus interesses e capacidades, não apenas aquelas que os seus pais gostariam que tivessem. Os “filhos de peixe” passaram a poder assumir que preferiam, por vezes, correr, saltar, estudar ou trabalhar noutro ofício.

Esta nova liberdade gerou mudanças repentinas que, nalguns casos, criaram vergonha nos “novos” em assumir os labores familiares dos “velhos”. Pela sua parte, os pais, embora desgostosos, acabaram por aceitar as novas opções dos filhos, muitas vezes, quando lhes era explicado que as saídas profissionais ou salário eram mais risonhos...

Ora, se seguir, sem escolha alternativa, a profissão dos pais, hoje em dia, já é pouco aceitável, também o será o menosprezar destas “velhas profissões” por não estarem na moda ou não constituírem estatuto de doutor, engenheiro, enfim.

O mesmo erro é cometido relativamente às tradições e “compreensões” culturais, que passando durante décadas de geração em geração, “emperraram” nestas últimas (das quais também faço parte). Ora, este “corar de vergonha”, relativo ao passado profissional e cultural de muitas gerações em Portugal, criou um “buraco” de partilha de experiências e de valorização profissional, cultural e, porque não, de orgulho nacional (que não se mede apenas pelos gritos das claques da selecção nacional de futebol...).

Julgo, porém, que felizmente começamos a recuperar deste bloqueio. Já podemos ver, por exemplo, gente nova com profissões simples e manuais. Nestes casos específicos, o papel dos cursos profissionais, técnicos e os novos currículos escolares foi e continuará a ser fundamental para combater o insucesso escolar e a acumulação de mão de obra pouco qualificada e desempregada... Já ouvimos dizer com orgulho ou naturalidade sem complexos “sou mecânico”, “sou pintor”, “sou jardineiro”, entre outros.

Por outro lado, vemos de igual modo, hoje em dia, frequentemente, pessoas bastante qualificadas terem como hobbies actividades mais simples e “humildes”. No fundo, talvez sempre tenham sido a sua verdadeira vocação, mas que, por diversos motivos (financeiros, saídas profissionais, proximidade de casa ou estatuto socio-profissional), foram postas de lado. É, pois, possível conciliar o que se faz e o que se gosta no mesmo trabalho ou na conjugação trabalho/hobbie. Não deixo de pensar que o assumir, na idade adulta, destes sonhos ainda possíveis de realizar é um acto de comunhão com o passado pessoal, mas também com a herança geracional, no sentido em que aprendemos a respeitar outras profissões, outros tempos e realidades, outros projectos de vida.

E depois há questão salarial... Atentemos para o facto de que, actualmente, um bom mecânico poderá ganhar mais dinheiro do que um mau” engenheiro”, pelo menos assim faria sentido... Acho que não serei utópico, mas sim realista se esperar que um dia as pessoas ganhem mais ou menos, em grande parte, pelo seu desempenho pró-activo e não pelas “medalhas” que trazem ao peito ou anéis nos dedos.

Sonho até que a “doutourice” ou “engenheirice”, ou seja, a reverência e subserviência das pessoas relativamente aos detentores de títulos profissionais sonantes (que de tanta mordomia mais parecem de tempos passados) terá inevitavelmente os dias contados. Se quisermos apostar no desenvolvimento sustentado e não na exploração do “zé povinho” remetido ao suposto seu estatuto de trabalhador “não –pensador”. Creio ser inevitável seguirmos por este caminho...

Temos exemplos concretos desta pesada corrente cultural que se manifesta também no século XXI : os estrangeirismos que usamos na nossa língua para dar um “ar moderno”, os termos técnicos com que nos vangloriamos sem conseguir “trocar por miúdos”, a pomposidade do fato e gravata que nos retira naturalidade de movimentos e pensamento, a hiper-preocupação ou obsessão em dar uma boa imagem (esquecendo quem o faz que se trata apenas disso, não mais do que uma “casca” que não chega para mostrar recheio...). Devo dizer até que, a título pessoal, não me convencem sobre a manutenção de termos “estrangeiros” na língua portuguesa, supostamente, por não haver tradução possível para português...

Por mais paradoxal que possa parecer, penso que, para os portugueses vencerem o desafio da inovação, a recuperação deste conhecimento e orgulho do passado profissional e cultural das anteriores gerações nacionais é essencial. Sucede que isso pode ser transformado em confiança para criar, propor, arriscar, na medida em que sabemos o “chão que pisamos”, a História que herdamos e o futuro que podemos fazer crescer. Conhecer o nosso passado permite-nos olhar em frente, pois sabemos que representamos uma “equipa de várias gerações“.

Poderão dizer-me que estou a ser demasiado drástico ou abusivamente generalista (é claro que há excepções), mas a História, neste caso, suporta o meu juízo. Basta pensar na quase eterna submissão portuguesa ao império inglês e, em contraponto, ao empreendorismo dos Descobrimentos em que avançamos, arriscamos e inventamos sozinhos, mas juntos e esclarecidos sem “falinhas mansas”...

vascoespinhalotero@gmail.com(*) Psicólogo do Trabalho e das Organizações / Orientação Vocacional

A Perda de uma Pessoa


As chamadas intervenções em crise têm sido mais faladas em termos mediáticos por altura do Verão, aquando das tragédias humanas causadas pelos incêndios ou noutras calamidades públicas que envolvam perdas materiais e, sobretudo, humanas. O apoio psicológico nestas situações de perda inesperada é muito importante (pois cada pessoa que sentiu a perda está tão abalado por esta que apenas consegue preocupar-se, numa primeira fase, em reagir individualmente), mas também o poderá ser nas situações de perda já esperada, tudo depende de muitos factores... E como saber se precisamos de ajuda ou não?

Os acontecimentos de perda não se tratam daquelas situações que pensamos só acontecer aos outros e depois até nos podem acontecer a nós, são sim acontecimentos inevitáveis na vida! A questão aqui é como reagir da melhor forma possível e evitar que uma má “digestão” deste processo nos marque negativamente para o resto da vida. Sim, porque existe o perigo, não pelo acontecimento negativo em si ter ocorrido, mas sim pela forma como o “encaixamos”. É óbvio que cada pessoa tem a sua forma específica de ser e, consequentemente, de reagir. É bom esclarecer que a boa gestão psicológica da situação não é sempre a mesma, ou seja não existe uma “receita única que se dê às pessoas para que não fiquem traumatizadas com a perda que sofreram”!

Cada pessoa “trabalha” a questão de maneira diferente, trilha caminhos próprios, mas existem parecenças gerais e “sinais vermelhos em várias dessas estradas” que não se podem passar e às vezes sozinhos não os conseguimos distinguir. Agora o que se pode fazer autonomamente, em grupo/família e/ou com apoio psicológico profissional é prevenir, no momento a seguir à perda (horas, dias, meses), que não se reaja de formas específicas bem descritas que já sabemos poder ter consequências danosas no futuro para pessoa.

Nas situações de perda é importante realizar o luto sob dois grandes pilares: as atribuições do acontecimento (“porque perdemos esta pessoa?”; “porquê agora?”; “existe um responsável por esta perda?”; “agora fiquei sozinho?”; “sofro mais ou menos que os outros?”; “o que é que poderia ter feito para impedir isto?”, etc) e as recordações da pessoa que perdemos (ex: a forma como descascava uma laranja, como andava de bicicleta, a sua preguiça em trabalhar, as brincadeiras com os netos, a barba que picava quando lhe tocavam, as suas intermináveis histórias à refeição, etc).

Relativamente ao primeiro pilar, aqui mais que tudo é necessário que uma ou mais pessoas ao lado ajudem quem faz o luto a elaborar respostas verdadeiras e adequadas, não fugindo aos factos, evitando dúvidas e principalmente atribuições extremas e perigosas que possam gerar revolta, agressividade, vingança (ex: “isto foi tudo culpa de Deus”; “vou vingar-me”; “agoira não confio em ninguém”; “as pessoas são todas más no mundo”, etc). Atenção que isto não implica que se uma pessoa quiser gritar, chorar desalmadamente não o possa fazer! Apenas o conteúdo das suas explosões é que deve ser apoiado e explicado convenientemente. Como? Com espaço, esperando pelo silêncio da pessoa para então falar de forma a que ela oiça realmente! E não de “rajada racional”, “calando a pessoa”, reprimindo-a até mesmo involuntariamente, não deixando espaço à pessoa para libertar as emoções! Só depois desta libertação poderá mais facilmente compreender a análise racional dos factos que lhe é proposta por quem está a apoiar (amigos, família ou profissional).

Aliás, os ataques de choro são momentos de catarse importantíssimos que normalmente surgem em presença de pessoas que nos são queridas e que conhecem bem o nosso interior, representam o quebrar das nossas barreiras racionais e o abrir de portas à emoções que depois ajudam a equilibrar a nossa personalidade e vivências futuras. Em suma, são inevitavelmente necessários e estruturantes para a nossa vida! O perigo surge quando a pessoa não chora, mantém-se com “compostura”, supostamente está bem, mas há uma série das tais questões que referi atrás que ficaram mal esclarecidas, cria-se a uma calma aparente que mais tarde se mostra na forma de depressão, ataques de fúria, em atitudes frias e calculistas, enfim, psicopatologia ou mesmo psicopatia!

Relativamente ao segundo pilar chamo a atenção para o facto de se ter referido, como exemplos, pormenores característicos de uma pessoa, bons ou maus, não fazendo dela um “santo” nem um “diabo”! Estas duas tentações tornam-se perigosas no sentido em que poderão muito facilmente levar a pessoa que faz o luto a dizer “esta era uma pessoa totalmente perfeita, a vida vai ser terrível sem ela” ou “esta pessoa era totalmente terrível, ainda bem que partiu, se calhar até foi bom”. Ora, tanto uma posição extrema como a outra levam a que nos recusemos a reconhecer o legado de conjunto que a pessoa nos deixou e que “escavemos um buraco” nas recordações da nossa vida (sucede que mais tarde idolatramos a pessoa de forma doentia e só falamos dela ou, no outro extremo, já não nos lembramos sequer dela e temos vergonha que tenha existido por completo).

Para evitar estas situações é bom que falemos com pessoas que nos são próximas ou genuinamente interessadas em ouvir-nos sobre as características da pessoa que partiu, na fase que se segue à perda (não deixemos isso para depois, isso será uma fuga que depois nos dará um “nó na barriga” de angústia do que ficou por dizer!). Por um lado, não nos devemos “fechar” pelo suposto receio de demonstrar fraquezas ou de ser “lamechas”. Por outro lado, também não deveremos andar por aí a falar com “toda a gente que nos aparece à frente”, pois não podemos ter a atitude carente ou fria de “publicitar” uma perda que sofremos para obter ganhos e favores futuros: uma perda não pode ser nunca um instrumento!

Como há tempos um amigo me disse: as pessoas não têm defeitos nem qualidades, têm características e todas elas são únicas! Já pensaram que não há ninguém no mundo que caminhe da mesma forma, que sorria da mesma forma, que pegue numa caneta da mesma forma, que diga bom dia ou boa tarde da mesma forma, entre outros milhares de coisas únicas? É precisamente isto que devemos recordar e partilhar com pessoas que nos são próximas sobre a que partiu, pois estas são as suas marcas. Essa é a melhor forma de agradecermos a presença da pessoa que perdemos na nossa vida, de dizermos obrigado por tudo o que fizemos juntos. E eu digo obrigado avô.

vascoespinhalotero@hotmail.com

Desporto para todos


Há tempos, numa conversa informal, alguém referiu a existência de uma grande lacuna no desporto português: a falta de formação de qualidade para crianças e adolescentes. Seria aí a prioridade de intervenção, de criação de infra-estruturas, formação técnica, investimento de fundos, etc. Ainda segundo esta opinião, o investimento em adultos seria desperdício, pois “burro velho não aprende línguas” e um grande desportista não se faz de um dia para o outro e tem que começar cedo.

Concordei, mas só no que se refere ao desporto de alta competição. Na minha opinião, relativamente ao desporto de lazer ou manutenção é igualmente importante o investimento no desporto para adultos e idosos!

Vejamos, no desporto em geral existe a alta competição, que inevitavelmente abrange uma percentagem baixa da população, e existe o desporto de lazer ou de manutenção, este sim, capaz de absorver a grande maioria da população (pois nem todos podem ser “Figo, Rosa Mota, Carlos Lisboa ou Nuno Delgado”, mas quase toda a gente poderá ou poderia praticar futebol, atletismo, basquetebol, judo ou qualquer outra modalidade).

Por outro lado, se é certo que as fronteiras entre o desporto de competição e o desporto de lazer são bem definidas, também é certo que estes podem funcionar num contínuo em que proporcionando à população a opção do “experimentar” uma modalidade, se acaba por descobrir talentos, podendo aproveitá-los, quanto mais cedo melhor, para a competição. Ou seja, do geral para o particular, uma coisa beneficia a outra!

Com alguma atenção e auto-análise, damo-nos conta que em Portugal se confunde com incrível ligeireza desporto com desporto de competição! Sejamos realistas, num país com alguns “craques” do desporto, a maioria da nossa população é extremamente sedentária, sendo que a prática desportiva regular mais intensa para muita gente é estar no sofá a ver futebol no papel de “treinador de bancada”!

Provavelmente alguns dirão que, de vez em quando, dão uma “perninha” no futebol de 5. Ora, apesar de serem, na globalidade, poucos os que o fazem, há que reconhecer que a prática do futebol de 5 por adultos é, no nosso país, mais aceitável. Porém, também através deste facto, podemos apresentar outro dado: falta de alternativas ao futebol de 5, no quer diz respeito à prática desportiva por adultos!

Proponho-vos um desafio: se forem adultos, tentem lembrar-se de uma única vez (que não no vosso percurso escolar) em que praticaram basquetebol, voleibol, andebol, hóquei em patins, remo, ciclismo, ginástica ou mesmo um qualquer tipo de dança, só para citar alguns exemplos? Pensem nas alturas em que algum colega adulto vos diz “temos que fazer algum desporto” e logo surge apenas o futebol de 5 como se fosse a única alternativa possível!

É certo que há gente que pratica, de quando em vez, ténis, natação, atletismo, hipismo ou ginásios para manutenção. No entanto, são, infelizmente, minorias, sendo que nalgumas modalidades o afastamento do público potencialmente interessado se deve mais ao “rótulo social” de desporto elitista do que a puro desinteresse.

Concluindo, em Portugal, existe, sem dúvida, uma falta de prática desportiva regular em desportos variados principalmente entre os adultos (relativamente a crianças e adolescentes já não é bem assim). Seja por falta de interesse cultural enraizado, relativamente a algumas modalidades, com pouca tradição no nosso país, seja por falta de oferta de infra-estruturas e formação técnica, o que é certo é que a partir sensivelmente dos 30 anos pouca gente faz desporto e quem o faz na esmagadora maioria é um jogo de futebol de 5 quando calha... Será que o desporto não vale a pena?

vascoespinhalotero@hotmail.com(*) Psicólogo do Trabalho e das Organizações / Orientação Vocacional

O fenómeno do Folk no concelho de Cantanhede


Neste ano de 2006, em que o concelho mais uma vez se galvanizou ao ritmo de grandes eventos, que, cada vez mais, fazem “crescer” Cantanhede e projectar o dinamismo concelhio a nível regional e nacional, assume destaque, como evento revelação, o Folk 2006 organizado pelo Grupo Folclórico Cancioneiro de Cantanhede!

Deixando o comentário sobre a grande qualidade cultural e organizativa para mais à frente, importa desde já referir também o ponto relativo aos baixos custos do evento, que demonstram que é possível, com colaboração entre entidades na troca de serviços e partilha de materiais para bem comum, fazer muito com pouco.

Foi impressionante ver como funcionaram associações, autarquia, freguesias, voluntários, famílias anónimas, enfim, toda a massa humana solidária e desinteressada do concelho num evento que não mostra apenas cultura, mas procura também formar, transmitir e fazer participar públicos de várias faixas etárias. Foi muito bom ver o número de pessoas de várias idades que comparecia aos espectáculos.

Relativamente à diversidade cultural presente com diversos grupos folclóricos nacionais (de várias regiões) e grupos estrangeiros de países como Itália, Ucrânia, Turquia, México e Serra Leoa, o nível foi surpreendente, com os conteúdos a chegarem a públicos que se julgava pouco receptivos. Um fenómeno muito interessante!

Quem acreditaria há 20 ou 30 anos atrás que seria possível ter numa qualquer freguesia do concelho, durante todas as noites da semana, actuações de grupos de música e dança de vários países intercalados com actuações do grupo folclórico da terra?...

Não é por acaso que este artigo é publicado apenas algum tempo após o encerramento do evento. É que a memória por vezes é curta e um evento destes merece ser valorizado antes, durante e após, sendo que foi História do concelho de Cantanhede que se fez naquela semana.É claro que há pontos a melhorar e certamente que a organização irá recolher as sugestões e contributos dos vários intervenientes. Para o ano serão aplicadas novas acções e outros erros, como é óbvio, se irão cometer (mas certamente não os mesmos). É natural e louvável que a atitude de continuar a identificar sem complexos e protagonismos os pontos a melhorar se continue a enraizar.

Provavelmente a muitos elementos da assistência deu vontade de contactar com aquela gente que veio de longe, de dançar aquelas estranhas modas, de cantar aquelas letras esquisitas de significado profundo, de tocar aqueles instrumentos pouco conhecidos, enfim, de poder aprender mais directamente.

E talvez o caminho seja cada vez mais por aí! Não foi por acaso que as oficinas de dança e as recepções para almoço com famílias do concelho foram sucessos. Traduzem-se na vontade de conhecer, de aprender, de receber que as gentes de todas as freguesias do nosso concelho parecem Ter relativamente às diversas culturas.

Fica a sugestão de, para a próxima edição, se desenvolverem oficinas de dança incorporadas nos espectáculos nas freguesias. É que depois de ver tocar, cantar e dançar aqueles grupos de forma tão aberta, enriquecedora e simpática dava mesmo vontade de aprender um pouco com eles, quer se tenha!

Eis um exemplo da verdadeira (e possível) globalização cultural!...

vascoespinhalotero@hotmail.com(*) Psicólogo do Trabalho e das Organizações / Orientação Vocacional

Ver o futebol com outros olhos


Em primeiro lugar, devo esclarecer uma coisa: eu gosto de futebol e vibro com os jogos do mundial de futebol, mas vejamos...

Nestes dias de festa, é mais comum encontrar motivos de alegria ou sofrimento “desportivo” do que consciência social, pois parece que o mundo parou e que está tudo a ver, ingenuamente, os jogos. Sei que vou parecer chato para alguns, mas é, no mínimo, surreal analisar como pessoas que vivem em países onde reina insegurança, exclusão social, desemprego, trabalho precário, educação minimalista suspiram pelos seus heróis que jogam (qual soldados que lutam!) pela sua pátria (a troco de alguns milhares de euros...).

O futebol “indústria” é assim mesmo, e levado ao extremo, é concerteza mais uma forma de alienação que tem paralelo, por exemplo, com o concurso “Euro Milhões”: nestes dois fenómenos a maioria das pessoas (pobres) sonha ser milionária e famosa de um dia para o outro!...

Por outro lado, não falamos só de futebol, falamos do Mundial de futebol! A representação de cada país neste evento pode constituir-se como um depósito de esperança colectiva de um futuro risonho, qual via para a união nacional. Basta recordarmos a euforia que se viveu no nosso Euro 2004!

Mas a história da humanidade já deu alguns exemplos do lado negro desta mobilização de massas... Muitos foram os regimes políticos que se serviram de sucessos desportivos internacionais como exemplo para colocarem as “massas na ordem”, ou seja, no seu caminho de formatação cinzenta em que o pensamento crítico, criativo ou inovador era linchado em função dos interesses da nação agora coroada.

Homens como Hitler, Mussolini, Péron ou mesmo Salazar foram mestres neste jogo de se servirem destes fenómenos para conseguirem obter do povo “certificados de qualidade” aos seus regimes opressivos que afinal “davam” vitórias à nação... Atentemos que nestas vitórias sempre era realçada a Imagem do país como entidade suprema a preservar. Esta estratégia baseava-se, de maneira quase mesquinha, no mostrar, no parecer e não no aproveitamento do que as pessoas da “casa” tinham para dar, criar ou fazer! No fundo, acabava-se por copiar o que se fazia “lá fora” e mal com vergonha de ficar mal visto no estrangeiro...

Neste ponto, considero que Portugal de hoje em dia continua a falhar redondamente, pois se pensarmos friamente no que lucramos internamente (não só financeiramente, mas também em termos de inovação) com a Expo98, Euro2004 ou Porto Capital Europeia da Cultura... Um exemplo inverso desta fenómeno surge quando percebemos o “salto” que “nuestros hermanos” deram com os Jogos Olímpicos de Barcelona e a sua Expo em 1992!

Ora, em contraponto aos exemplos que atrás referi (de aproveitamento ditatorial de vitórias desportivas para blindar o poder e legitimar a cultura de isolamento) podemos recordar alguns momentos notáveis. Ainda recentemente tivemos um exemplo paradoxal e interessante. No Mundial de futebol de 1998, a França venceu o campeonato com uma equipa composta, quase exclusivamente, por jogadores oriundos de outros países, rotulados por muitos, em generalizações perigosíssimas, de “terroristas” ou inimigos da pátria da “Marselhesa” como facilmente um qualquer Jean Marie Le Pen apontaria numa retórica primitiva... Pelo menos durante uns tempos, este país reconheceu e aplaudiu a sua multi-culturalidade através daquela equipa, transpondo para cada cidade, cada bairro, cada casa um orgulho pela diversidade, pela partilha e pela solidariedade. Curiosamente, a equipa acabou por funcionar como lendário modelo de tolerância e convivência a seguir pelo o país e pelo o mundo!

Há que sublinhar sensatamente que o espírito que se criou naquela equipa não surgiu de um dia para o outro. Conta-se, por exemplo, que jogadores e técnicos, antes do campeonato se iniciar, passaram, propositadamente, o Natal juntos, isolados numa casa de montanha, num episódio que ainda hoje é referido pelos intervenientes como marcante!

Um exemplo inverso surge com a Selecção holandesa de futebol que é composta por alguns jogadores oriundos do Surinam que não são “misturados” com os restantes colegas de selecção, tendo inclusive um treinador próprio...

É possível concluir que este fenómeno desportivo global pode, de facto, servir de modelo de atitudes e comportamentos sociais. Por um lado, pode gerar num país uma onda de formatação cinzenta, onde se consolida o “orgulhosamente sós” da anti-diversidade. Por outro lado, pode potenciar um outro resultado: o exemplo da confiança. Centremo-nos, por exemplo, na actualidade portuguesa. Confiança para quê? Para apostar nos nossos valores (sem copiar o que se faz lá fora, dizendo que se está a adaptar...), para receber e abraçar a diversidade e influências, para “empurrar” a audácia de inovar, criar, arriscar, inventar (que não é sinónimo de desenrascar...) com os Figos, Ronaldos e Decos do nosso país multi-cultural.

As repercussões a nível económico, social e cultural poderão ser, a longo prazo, massivas, pois em alturas de dúvida sobre se uma empresa é capaz ou não de lançar um produto inovador alguém se há de lembrar: também aquela equipa de futebol conseguiu!

Analisando de outro ponto de vista, após a euforia criada pela conquista estritamente desportiva (porque afinal de contas é apenas um campeonato..) tudo o resto pode ficar na mesma... E aí voltamos a reflectir sobre o desporto “indústria” como forma de alienação, como meio de nos impedir de pensar e estar atentos a outras questões, porventura, as mais importantes...

No fundo, não importa o acontecimento, importa que uso fazemos dele. Após esta reflexão, não posso deixar de lançar um desafio de previsão ao leitor: o que aconteceria se selecção portuguesa fosse campeã do mundo de futebol?

vascoespinhalotero@hotmail.com

Uma oportunidade para pensarmos os nossos serviços


Quando ouvimos falar em avaliação de desempenho, muitas vezes pensamos em avaliação de pessoas e/ou de grupos (que envolvem subordinados e superiores, pois as chefias também precisam de ser auxiliadas e ter um “feedback”), mas também podemos falar de avaliação de serviços, departamentos ou organizações na sua globalidade!

Estas avaliações organizacionais, em que todos os trabalhadores, clientes internos e externos são ouvidos e as suas sugestões de melhoria acolhidas, estão a dar os primeiros passos no nosso país e com excelentes resultados!

No fundo, trata-se de aproveitar o maior potencial de qualquer organização: a análise crítica. Como? Através de questionários, entrevistas, grupos de análise, reuniões de ideias, recolha de evidências, análise de circuitos, conversas informais, entre outros meios: ouvir construtivamente as pessoas sobre o funcionamento dos serviços onde trabalham! E porquê construtivamente? Porque, como sabemos, devido a factores pessoais, sociais, educacionais, económicos e culturais, no nosso país, bem como em muitos outros, muitas vezes as pessoas criticam de forma destrutiva, o famoso “bota abaixo” que irrita e destrói, muitas vezes, o esforço despretensioso de muita gente que quer realmente contribuir...

O que fazer? Em primeiro lugar, é importante não desvalorizar (pelo contrário, dar importância à crítica, mesmo que à primeira vista nos pareça descabida ou mesmo mesquinha). Depois questionar pontos específicos (como se planeou, quem foi ouvido, o que correu mal, o que sentiu). No final, pedir naturalmente sugestões de melhoria (o que acha que se deve fazer para a próxima) e responsabilizar pela sua aplicação (pois falar só não basta…).

Este questionamento genuíno leva facilmente à distinção de uma crítica vazia (em que quem a faz acaba inclusivamente por aperceber-se disso) e a crítica construtiva (que pode ser recebida, organizada e aproveitada concretamente sem rancores). Há, no entanto, que ter atenção para o facto de muitas críticas vazias, após se filtrar o seu conteúdo, acabarem por resultar em boas críticas construtivas! No fundo toda a gente quer ser ouvida, mesmo que se faça ouvir da pior maneira!...

O problema da avaliação de desempenho, quer seja de pessoas ou de serviços, é o eterno fantasma do que poderá ser feito com uma má utilização destes processos. É basicamente isto que leva as pessoas a “fecharem-se” no seu canto no local de trabalho. Aqui a desconfiança, a intriga e o medo vencem sobre a autenticidade e a abertura construtiva.

Se as pessoas confiarem verdadeiramente num processo de avaliação organizacional/serviços, entregando o seu “coração profissional”, é compreensível que se sintam “traídas” se não virem resultados apresentados ou novos ganhos atingidos. É, sem dúvida, difícil envolver as pessoas, mas tendo-o conseguido torna-se vital não as desiludir, de modo a não alimentar as desconfianças e a pseudo-justificação da criação de “capelinhas” no mundo do trabalho!

vascoespinhalotero@hotmail.com

Somos o que Fazemos ou Fazemos o que Somos?...


A actual estrutura do mundo do trabalho é extremamente exigente e competitiva. Prazos e objectivos rigorosos são estipulados, o trabalho em equipa torna-se comum e necessário, novas estratégias são delineadas tendo em vista uma produtividade e um rendimento cada vez mais elevados. Surgem frequentemente situações novas e imprevisíveis devendo existir flexibilidade individual e organizacional, nas diferentes instituições, para com elas lidar. Perante este cenário exigem-se pessoas que saibam reagir a mudanças, com aptidões para transferir competências e tomar decisões, com capacidade para gerir as suas próprias carreiras. Em suma, pessoas que gostem do que fazem e que, acima de tudo, o façam bem! Mas, serão rendimento e satisfação profissional e de vida compatíveis ? Na actual sociedade?

As profissões são avaliadas pelo senso comum, consoante o que se entende ser o seu Esforço, Utilidade e Responsabilidade. Por exemplo, um operário civil despenderá grande esforço no seu trabalho, já um engenheiro terá uma maior responsabilidade (se uma casa que projectou ruir, ele será o réu principal), embora ambos sejam igualmente úteis (a casa só será feita com a participação de ambos)! Poderemos questionar qual o trabalho mais importante, obtendo respostas e opiniões discutíveis a que ideologias políticas e estilos de vida não serão alheios...

Porém, talvez estejamos a colocar a questão errada! A questão poderá sim ser quem trabalha melhor e em quê! Questão de avaliação polémica, ambígua, talvez mesmo impossível! Mas o que é isso de Trabalhar Melhor e Como Poderemos Trabalhar Melhor? Será que só algumas pessoas têm potencialidades para trabalhar bem, será que há um código genético dos bons e dos maus trabalhadores e/ou da preguiça? Será o trabalhador escravo/máquina o trabalhador ideal (lembram-se do filme de Charlie Chaplin?), será o prazer no que faz (nem dar pelo tempo a passar...) fazendo bem e ainda ter tempo para ter acesso a cultura e educação ao longo da vida e para estar com amigos e família? E então “vem-nos à memória uma questão batida”: serão rendimento e satisfação profissional e de vida compatíveis? Na actual sociedade? Essa será a “primeira resposta do resto da nossa vida”...

Bem, independentemente da opinião pessoal de cada um para estas questões, vamos lá ver uma coisa: Quem poderá avaliar quem trabalha melhor, quem poderá no futuro vir a trabalhar melhor e em que ambiente poderá trabalhar melhor? Seguramente que não um qualquer patrão à custa do regime de Flexibilidade proposto no Projecto de Revisão do Código de Trabalho... Bem, a resposta, na minha opinião, é... Nós Próprios! Como? Através de uma pura (mais tarde explicarei porquê...) Orientação Vocacional (Escolar e Profissional), seguindo o exemplo do que os países de Leste Europeu fizeram (ou tentaram fazer...). Nestes países Cultura, Educação e Informação para Todos constituíam (ou procurava-se que constituíssem...) elementos “alimentadores” de uma expressão mais humanizada do mundo do trabalho. Existia um continuum vocacional natural entre ensino secundário, ensino universitário e mercado de trabalho que possibilitava (ou possibilitaria...) que cada pessoa fizesse o que “realmente” gostava! E vejam que nos países que aplicaram tal medida se constatava, por exemplo, que as vagas nas faculdades eram ocupadas de acordo com a decisão vocacional de cada um, não existindo uma sobrelotação de alguns cursos como poderíamos esperar (não iam todos para Medicina, Arquitectura ou Direito!). Não eram então necessários outros critérios de entrada tais como: resultados obtidos em provas de avaliação (repetição?) teórica...

Bem, seria uma ideia interessante também para o nosso país, mas então e os custos? Nada que um real investimento na Educação (e na Saúde) como projecto nacional de sólido futuro não pudesse comportar (acabar com off-shores, fuga aos impostos, privatizações de saldo também ajudaria...). Os lucros, esses chegariam pela qualidade profissional, pelo contributo inovador dos trabalhos de investigação (passaríamos a deixar de “copiar” os outros) e, quem sabe, por rendimento e satisfação profissional e de vida mais compatíveis!... Utopias?...

De volta à nossa realidade e pensando na Orientação Vocacional o que é que verificamos? Que profissões socialmente ultra-valorizadas (pelo seu esforço, utilidade, responsabilidade ou compensação monetária) provocam desequilíbrios e “cegueiras” no puro desenvolvimento vocacional e nas aspirações profissionais de cada um. Às vezes, é devido a estas crenças “quase irracionais” que escolhas são monopolizadas, sendo congeladas decisões autónomas resultantes de auto-análise e de uma real verificação de aptidões e interesses pessoais. Renuncia-se ao direito de ser feliz, dizendo que teve que ser!

O mundo do trabalho transforma-se num palco de simples representações de papeis (as profissões) : dos “bons” e dos “maus”. Não será pura e simples coincidência recordarmos o exemplo de... “Tens boas notas, vai para Medicina”! Não raras vezes, os jovens optam por determinados cursos, devido apenas às suas elevadas médias de acesso e possibilidade de ascensão ao topo da pirâmide social: “os senhores doutores”! Não acredito na formação de bons profissionais seguindo apenas estes critérios!

Na minha opinião, no que ao processo de pura orientação e selecção vocacional e, posteriormente, profissional diz respeito, será importante abafar do estatuto social de algumas profissões, a influência da variável compensação monetária ou seja, seguir uma carreira apenas e só pelo dinheiro e/ou saída profissional. Abafar? Palavra forte, ousada, à primeira vista irresponsável, mesmo ditatorial, a fazer lembrar outros tempos de má memória! Porém esta expressão (pois apesar de a ter traduzido num verbo, não creio que o seja propriamente) não se serve de uma “censura” relativamente a estas representações mentais (ligadas ao dinheiro e ao estatuto), que justamente iria questionar os termos éticos do exercício da psicologia! Existiria sim o constante Relativizar (talvez seja esta a expressão adequada), criação de uma “montra” de informações novas, com actualização das velhas, sobre o acto de ser/fazer, tidas de repente, pelos orientandos, como “até giras e também interessantes”, promovendo uma reestruturação cognitiva e emotiva (“nunca tinha pensado nisto”, “tinha uma ideia diferente sobre isto”, “vendo as coisas nesta perspectiva isto até tem a ver comigo”).

Seria provavelmente possível o “semear” de uma tolerância, quiçá desvalorização, em relação às posições estratificadas, algo “militarizadas”, que se presume estarem imiscuídas na “planta” do actual mundo profissional. Nestes momentos que poderia apelidar de terapêutico-vocacionais, que na minha experiência como estagiário já presenciei e constatei (ainda que a um nível formal e, consequentemente, não científico), julgo existir pouco espaço para dinheiro e estatuto, pois neste “acordar” para a busca da essência da construção pessoal da realidade, neste caso da realidade vocacional (trabalhos de Kelly, Savickas, entre outros), o que se procura, permitam-me porventura especular mais um pouco, poderá estar intimamente relacionado com factores genéticos e experiências adquiridas, sobretudo aquelas que se reportam às relações humanas com pessoas significativas. Bem, muito ainda haverá por saber, por pesquisar...

Voltando ao que se passa hoje em dia e ao que todos já sentimos, mas nunca traduzimos talvez. Quantas vezes já ouvimos: “Tu fizeste bem, o teu curso tem saída e vais ganhar bem” ou “Tu fizeste mal, vais para o desemprego”! Poderei até questionar a real justiça nas remunerações das diferentes profissões, pois infelizmente não se recompensa quem trabalha melhor, recompensa-se sim quem tem o “melhor” emprego. Acontece que o lema ocidental “Melhor homem para o cargo” é sabotado por um sistema educativo que alimenta a fabricação em série de pessoas que são autênticas máquinas fotocopiadoras, em que não existe espaço para a compreensão crítica e prática dos conteúdos (há felizmente muitas excepções também, mas por quanto mais tempo resistirão?). Um sistema de ensino, que privilegia a memorização temporária, o despejar de matéria em exames teóricos, transforma-se num teatro em que os bons alunos serão aqueles que melhor fingirem compreender. Para não falar da forma como alguns cursos das universidades privadas são “oferecidos”... A actual sociedade impele para que se estude não para aprender, não para prestar, mas sim para mais tarde ter, poder, ser! Porém, não se pode ser mais tarde, é-se ao longo da vida!

A meu ver, Educar e Formar deverá contemplar muito mais do que uma preparação técnica, pois as componentes comportamental e cultural são também essenciais! Será importante não só saber “apertar um parafuso”, mas também compreender como “funciona toda a fábrica”! Então e se os patrões das fábricas disserem que apenas pretendem que o trabalhador saiba “apertar um parafuso” e que se conforme com isso? Exemplo mais claro foi o procedimento das empresas portuguesas nos últimos anos ao ignorarem o necessário investimento no trabalho qualificado, aproveitando-se apenas da nossa mão-de-obra barata! Esquecem-se, no entanto, que quando o barco for ao fundo levará com ele até os ratos do porão!

Como contraponto olhemos para a formação, competências, cultura e educação de grande parte dos nossos colegas ucranianos! As empresas têm que entender de uma vez por todas (talvez precisem de uns “óculos”) que uma boa articulação entre o sistema educativo e o sistema produtivo traz ganhos para todos os parceiros envolvidos. Ora vejamos: para os indivíduos (para o seu desenvolvimento pessoal), para as organizações empresariais (ganhos produtivos) e para a sociedade em geral (usufruto de melhores serviços). Para além de que esta articulação possui para os jovens uma enorme importância, não apenas em termos de satisfação e bom desempenho profissional, mas também na construção da sua identidade, tornando-se cidadãos críticos e responsáveis, não apenas consumidores...

Ora, com a pura Orientação Vocacional, o psicólogo proporcionará ao consulente o “apalpar” do real mundo do trabalho e o “respirar” do Eu que se pretende afirmar. Pretende-se combater o “encaixotamento” das pessoas, a desinformação e a fundamentação dos estereótipos relacionados com a vida profissional. Activar processos de auto-inserção no sistema profissional, consoante a vocação de cada um. Para evitar que o trabalho continue a ser visto como um “fardo”, uma “seca”, é necessário criar condições para que a maioria das pessoas faça o que gosta, e não o que é obrigado a gostar! Note-se que o gostar implica um processo de auto-descoberta muito grande e delicado, que não devemos menosprezar atribuindo valor “ditatorial” aos testes psicológicos! O fazer deve incorporar-se naturalmente no nosso ser. As pessoas devem ser orientadas no sentido de se expressarem. O desempenho laboral poderá então humanizar-se.

Agora o que acham: Somos o que Fazemos ou Fazemos o que Somos?...

Sofrer leva a não produzir


Entre o homem e a organização prescrita para a realização do trabalho existe, por vezes, um espaço de liberdade que autoriza uma negociação, invenções e acções de modulação do modo operatório, isto é, uma invenção / sugestão do trabalhador sobre a própria organização do trabalho, para adaptá-la às necessidades e desejos da organização para a qual trabalha, dos clientes a quem presta serviço e, acima de tudo, do próprio trabalhador, que é aquele que mais fica satisfeito com o sucesso do seu trabalho! Exemplos disso são verificados quando os trabalhadores dão sugestões para um melhor funcionamento e qualidade do seu serviço, sendo construtivamente quer declarados, quer ouvidos!

E aqui há que fazer um esclarecimento científico: para esta colaboração existir não são necessárias mais (ou menos...) compensações monetárias, pois trata-se de uma necessidade / potencialidade humana e social, basta haver predisposição para a organização a receber! A vontade de trabalhar bem, com prazer naquilo que se faz é uma porta que está sempre aberta em todos os trabalhadores de todas as organizações, pois na verdade ninguém quer trabalhar mal! Talvez por aqui se possa concluir o fracasso do mito da privatização para obrigar os trabalhadores das empresas públicas a trabalharem “como deve ser”, pois o autoritarismo, que aparece “vestido” de rigor profissional (ou a ameaça de despedimento...) não facilitam a contribuição das pessoas, antes pelo contrário, seja num empresa pública, seja numa privada! ...
Porém, quando a tal negociação que abordei no início do artigo não existe, devido à “surdez” egocêntrica e medrosa de não ter mão firme nos seus “súbditos”, por vezes, diagnosticada a muitos administradores e gestores ou a processos burocráticos destruidores, a relação homem-organização do trabalho fica bloqueada e entra-se no domínio do sofrimento dos trabalhadores e do modo como os trabalhadores reagem a esse sofrimento! E aí, sim, nascem o mau serviço, as más relações dentro do trabalho, absentismo, doenças no trabalho, stress (e consequentemente a baixa produtividade...), que no fundo não são uma “doença” (que no universo cultural português, muitas vezes displicentemente, se aponta aos funcionários públicos), são sim um sintoma que nos sugere a “doença” que atrás descrevi : a falta de negociação, invenções e acções entre os trabalhadores e seus superiores sobre a própria organização do trabalho!

O indivíduo, neste caso o trabalhador, dispõe de muitas vias de descarga da sua energia. Essas vias de descarga são três: via psíquica, via motora e via visceral. A primeira é saudável, enquanto que as duas seguintes nem sempre são.

Segundo Freud (1968), tomado pela sua energia pulsional direccionada para o trabalho, um sujeito pode eventualmente produzir criatividade e envolvimento, que são representações mentais que podem, às vezes, ser suficientes para descarregar o essencial da tensão interior. Outro sujeito não conseguirá relaxar-se por esse meio e deverá utilizar a sua musculatura: fuga, crise de raiva motora, actuação agressiva, violência, oferecendo toda uma gama de “descargas psicomotoras” (quem não viu já pessoas a “explodirem” por causa do trabalho?).

Enfim, quando a via mental e a via motora estão fora de acção, a energia pulsional não pode ser descarregada senão pela via do sistema nervoso autónomo e surgem então as doenças psicossomáticas (fadiga crónica, depressão, entre outras são geralmente mais comuns em pessoas que não “explodem” como no exemplo anterior).

Mas que tipo de trabalho ou formas de estar no e com o trabalho darão ao Homem possibilidade de não sofrer neste contexto? É deixa-lo não fazer nada? Isso é que era bom, diriam alguns! Ora bem, o psiquiatra francês Cristophe Dejours sugere uma abordagem que aproxima a Psicopatologia do Trabalho e a Ergonomia, apontando três respostas: a primeira é a possibilidade de participação na organização do trabalho; a segunda diz respeito à liberdade / autonomia no trabalhar dentro da organização; a terceira é a autêntica orientação vocacional.

O trabalho torna-se perigoso para o aparelho psíquico quando ele se opõe à sua livre actividade. Ou seja, quando as regras são impostas sem serem explicadas e negociadas abertamente e as contribuições, sugestões e participações dos trabalhadores permanecem olhadas com desconfiança! Cai assim o mito de que “os trabalhadores gostam é de não fazer nada”!
* Psicólogo do Trabalho e das Organizações / Orientação Vocacionalvascoespinhalotero@hotmail.com

Quando a cabeça não tem juízo...


Neste período de rescaldo (ou de “ressaca”), relativamente à participação portuguesa no Mundial de Futebol Coreia/Japão 2002, considero pertinente abordar de uma forma crítica e construtiva, dentro do que me é legítimo e possível fazer, o processo de preparação dos nossos representantes máximos na referida competição: os jogadores da “nossa” Selecção!

Fala-se muito de preparação física dos jogadores e, uma vez por outra, refere-se a sua preparação psicológica. Queixavam-se os jogadores, antes do jogo com os Estados Unidos da América, de sentirem elevados níveis de ansiedade há vários dias. A consequente derrota – e sobretudo porque foi devida a uma clara dificuldade dos nossos jogadores em atingirem a classe a que nos habituaram – talvez seja fruto dessa mesma ansiedade e dos fantasmas do psiquismo que os dominaram (Neurose do insucesso? Medo? Atitudes narcisistas?).

Numa visão socio-cultural constato que nós, portugueses, sempre nos “guiámos” pelo nosso “fado”, no sentido em que ora nos regozijamos por “sermos os maiores”, ora nos depreciamos por “sermos pequeninos”. Pois é, quanto maior é a subida, maior é a queda. É a nossa História que o acusa! Bem, isto explica e implica muita discussão e daria “pano para mangas”, mas voltemos à Selecção encarando-a como um “espelho” da sociedade portuguesa, ao nível social, cultural, económico e educativo.

No nosso país, frequentemente, na alta competição assistem-se a derrotas cuja explicação alguns técnicos remetem paras as tácticas, castigos, treinos ou para essa malvada falta de sorte (marca exclusiva portuguesa)! Mas terá sido aquela dramática meia-hora inicial, no jogo com a selecção americana, apenas falta de sorte? Será esta malvada a culpada por jogadores com larga experiência internacional, na casa dos trinta anos de idade “tremerem” daquela forma, assemelhando-se a juniores estreantes nestas andanças? Será? Claro que não! Porém para afastar estes “azares” e este “mau perder” será, sim, necessário: Estudar e Prevenir!

Muito raramente se questiona e investiga a fundo qual a explicação psicológica para o fracasso destes homens nos momentos cruciais. Sim, porque falamos de seres humanos e não de “robots comandados pelos treinadores de bancada”. Estes funcionam cognitivamente e emocionalmente envolvendo e influenciando, de modo decisivo, a finalização motora. E “quando a cabeça não tem juízo o corpo é que paga”! Pois então, ocorre-me a dúvida: até que ponto foi cientificamente correcta a preparação psicológica dos jogadores da Selecção? Como foi tratada a ansiedade (natural e, dado a nosso passado, esperada) dos jogadores durante os dias que antecederam o jogo? Com tranquilizantes?

Não fazendo disto a coisa mais importante do mundo (porque afinal o futebol é apenas um jogo!), eu diria que não foram os Estados Unidos que ganharam o jogo, mas antes a fragilização psicológica dos seleccionados portugueses face à pressão da competição em que estiveram envolvidos. É que com “mezinhas com alho” nos bolsos dos jogadores não se fazem milagres...

vascoespinhalotero@hotmail.com