quarta-feira, 12 de outubro de 2011

LIDERAR É SÓ MANDAR? MUDAR PARA FICAR TUDO NA MESMA… 9ª parte

No meio de todo este caos de lideranças politicamente correctas “bonzinhas” e ditadores autoritários “à bruta” que existem, em grande medida, no poder no nosso país, ouço algumas pessoas dizerem “à boca cheia” que no tempo do Salazar é que era!
Mas é que era o quê? O que é que era? Expliquem-me…

Era a saúde mínima de caridade para os pobrezinhos, a concentração da grande riqueza nos grandes grupos económicos, as perseguições e torturas da PIDE, a falta de visão do mundo em mudança do ditador relativamente às colónias, a educação apenas para a gente importante e endinheirada, entre outros atrasos de civilização?
Isto é que era?

Ou quando se fala que com o Salazar é que era, quer-se dizer que apenas esse chefe tomava as decisões e que não havia aparentemente (provavelmente os grandes grupos económicos eram ouvidos…) mais discussão? E nesse tempo é que era?...

É verdade que, hoje em dia, infelizmente, muitas coisas não estão assim tão diferentes ou lentamente caminham (de forma mais clara) para como era “antigamente”, pois a camada dirigente do chamado centro acaba por ser uma continuação das prioridades de desenvolvimento do antigo regime, embora com algumas pitadas mais politicamente correctas, provavelmente apenas para não poderem ser acusados de serem… fascistas.

Contudo ouvir as pessoas dizerem, em revolta com a situação actual social e com a classe de chefias que o nosso povo escolheu (nós escolhemos!) para mandar desde os anos 80 até ao presente, que mais valia vir o Salazar… Sobre quem o diz, julgo que podem ficar descansados, pois na cultura do centro do poder laranja e rosa trata-se apenas de mais do mesmo. As diferenças residem somente nas referidas pitadas politicamente correctas…

No geral, nós portugueses deixamo-nos enganar com as conversas politicamente correctas do “senhor doutor bonzinho” e depois, quando nos apercebemos disso mesmo, a nossa reacção é louvar os tempos ditatoriais em que “era assim e mais nada”!
Então e não há outras soluções? Só temos que aceitar todos contentes ser enganados de mansinho ou à bruta? Estaremos condenados eternamente às chefias duplas? Talvez sim…

vascoespinhalotero@hotmail.com
(*) Psicólogo do Trabalho e das Organizações / Orientação Vocacional
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LIDERAR É SÓ MANDAR? O CULTO DOS DITADORES EM PORTUGAL… 8ª parte

Na minha opinião, há, em Portugal, um certo culto ao líder ditador! Ouvimos constantemente as pessoas dizerem que não suportam o ex-primeiro-ministro José Sócrates, mas que também não vêem mais ninguém... Paremos para pensar um momento: será que nos restantes 10 milhões de portugueses não há uma única pessoa com melhores ideias para liderar o país?

Esta forma amedrontada de pensar manteve, ao longo da história, no poder todos os ditadores supostamente que foram muitos deles eleitos democraticamente! Senão vejamos, se se perguntasse aos alemães nos tempos de Hitler, aos italianos na altura de Mussolini, aos soviéticos, no período de Estaline, aos norte-americanos na fase George Bush (será assim tão diferente no conteúdo do que deixam Barack Obama fazer?...), também eles com certeza diriam que não gostavam, mas que não havia mais ninguém…

Nem vou falar de partidos, pois há, com certeza, deles muito diferentes e outros também que são cópia exacta apenas com logótipo diferente… Mas será que em toda a restante população não havia, não há mais ninguém?

Por que será que o português comum sorri com vénia de medo e fascínio e permite ser abusado com roubos económicos gravíssimos e “à descarada” por pomposos senhores ditadores?

E por que será que o português comum se deixa enganar tranquilamente, com os mesmos resultados desastrosos, por outros com as mesmas intenções, mas com estilo aparentemente mais suave e “bonzinho”?No entanto, quando a Justiça (não…) funciona ou melhor quando a comunicação social não dominada consegue descobrir algum caso mal contado, que expõe estes monopólios e corrupção com prejuízo directo no bolso de tantas e tantas famílias portuguesas, surpresa das surpresas, aparece já muita gente a dizer que “rouba para ele, mas também para nós”!

E com frases chave como a anterior, que são apenas a ponta do iceberg desta cultura humildemente ignorante ou consciente de fascínio pelo brilho do patrão capataz, se volta a dar poder legítimo a personagens (que apenas não disfarçaram tão bem como outros…) como Isaltino Morais, Fátima Felgueiras, Alberto João Jardim, Avelino Ferreira Torres, entre outros e se “safa” heroicamente das malhas amigas da Justiça e com futuros pedidos de indemnização gente como Pinto da Costa, Valentim e João Loureiro, Luís Filipe Vieira, entre infelizmente muitos outros…

vascoespinhalotero@hotmail.com

(*) Psicólogo do Trabalho e das Organizações / Orientação Vocacional

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quinta-feira, 11 de agosto de 2011

LIDERAR É SÓ MANDAR? JOSÉ MOURINHO POSITIVO… 7º parte

Por que razão o comum português mais facilmente elogia as reprimendas que o treinador José Mourinho dá do que as técnicas positivas, criativas e que dão liberdade e responsabilidade aos seus jogadores? Há aqui algo de metafórico relativamente à forma como a sociedade portuguesa vê as lideranças e o que é para ela liderar ou, melhor, mandar…

Não ouço falar tanto que Mourinho costuma ser sincero e construtivo na aprendizagem táctica e técnica com os seus atletas, que motiva muito bem os grupos e sabe lidar com cada um na sua especificidade (não metendo “todos no mesmo saco”). Não escuto referir-se que nos treinos é exigente sim, mas simples e atencioso para ajudar a equipa e atletas a melhorarem as suas performances ao pormenor, sem as manias de vedeta que transparece para a comunicação social (usadas apenas para condicionar, atemorizar ou pressionar os adversários) e que são paradoxalmente alvo de idolatria pelas pessoas no geral.

Por que será que, com tanta variedade de técnicas, as pessoas se focam somente nos aspectos “durões e de cara feia”? Será que em Portugal gostamos de adorar ditadores ou os maus da fita?

Sejamos razoáveis, José Mourinho, só pela imagem que dá para fora, não conseguiria jamais conquistar genuinamente equipas e jogadores, pois não é à força que se conquistam as pessoas!

Não é a mandar que se motiva! Não é a gritar que se gera respeito! E também não é com discursos politicamente correctos, “mansinhos”, desviando os assuntos complicados e dando silenciosas e afáveis “facadas pelas costas”…

É sim discutindo as coisas cara a cara, ouvindo as outras versões também, procurando gerar consensos para evoluir, crescer em conjunto, podendo responsabilizar todos pela melhor ou pior performance!

Por que razão esta versão do fenómeno Mourinho não é tão publicitada como exemplo? Por que razão em Portugal apenas gostamos de elogiar a versão de Mourinho arrogante, ditador e mesmo cruel?

vascoespinhalotero@hotmail.com

(*) Psicólogo do Trabalho e das Organizações / Orientação Vocacional

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quinta-feira, 4 de agosto de 2011

LIDERAR É SÓ MANDAR? JOSÉ MOURINHO NEGATIVO… - 6ª parte

É curioso que, muitas vezes, se dá o exemplo do treinador de futebol José Mourinho como líder de sucesso, sendo que, no entanto, a opinião pública, no geral, apenas destaca as atitudes aparentemente mais autoritárias (que, muitas vezes, são planeadas apenas para a imprensa ver…) e mesmo anti-desportivas.

O que é interessante é que o dizem, não para condenar esta faceta negativa do treinador (entre muitas outras positivas que tem certamente), mas sim para a enaltecer!

Como se a obsessão pelo sucesso justificasse passar por cima de tudo e todos, atropelando regras do jogo e da boa educação e colocando com as suas palavras incendiárias, muitas vezes, o público irado quando se quer que famílias possam ir aos estádios em segurança… Para nem falar do exemplo que dá às crianças sobre como atingir o sucesso na vida: não apenas com esforço, mas com manha, valendo tudo para se ser o maior…

Nestes campos, infelizmente, muitas outras figuras da nossa sociedade, ainda com mais responsabilidade social, acompanham Mourinho, com certeza, neste ensinar aos miúdos sobre como é que se faz para ser o maior na vida…

Frases feitas surgem ditas um pouco por todo o lado enaltecendo a sua dureza para com os jogadores. Diz-se que trata todos por igual, que ninguém brinca com ele, que faz o que for preciso para ganhar! Logo surge alguém que confirma tudo isto com um “ah pois é” e, assim, fica a fórmula de sucesso de Mourinho lida e sabida por toda a gente. Mas será assim mesmo? E/ou assim tão simples?...

Depois não faltam por aí pessoas a tentar imitá-lo nestes detalhes “durões e de cara feia” conhecidos mediaticamente, pensando que, assim, serão como ele e atingirão os seus resultados, nas suas áreas de trabalho… Curiosamente ficam muito admirados por nada conseguirem afinal…

Porém, não me parece que as pessoas falem com o mesmo entusiasmo das técnicas mais positivas, humanas e não tão mediáticas que Mourinho utiliza para conquistar os seus atletas e não para mandar neles… Para os fazer sentir… especiais!

vascoespinhalotero@hotmail.com

(*) Psicólogo do Trabalho e das Organizações / Orientação Vocacional

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sexta-feira, 6 de maio de 2011

LIDERAR É SÓ MANDAR? NADA MAIS ERRADO… - 5ª parte

Apontemos uma luz ao fundo do túnel. Felizmente, Portugal produz muito mais tipos de líderes e muitos deles com características muito diversas e bem positivas, tais como: o debate em reuniões regulares, a partilha de opiniões para a tomada de decisões pelo líder, a recolha e análise de ideias inovadoras, a aposta na formação para melhorar competências específicas para apoiar novos projectos e rentabilizar velhos recursos, reduzindo, aí sim, despesas, a responsabilização dos trabalhadores após o compromisso partilhado e assumido, etc.


No entanto, num fenómeno de difícil e abrangente explicação, com certeza, a opinião pública ou as pessoas nas conversas do normal dia-a-dia preferem quase sempre apontar como exemplos de liderança que, ora elogiam, ora criticam, as chefias autoritárias!


Aliás, numa aparente relação de amor-ódio, a crítica, muitas vezes, parece mais inveja de não poder fazer ou assumir socialmente que se faz exactamente o mesmo na sua prática diária pessoal!


E, assim, quando se chega à altura de escolher líderes ou fazer algo para os mudar, fica tudo na mesma, porque se diz que “até podia ser pior”… “Que mais vale um malandro que se conhece do que um malandro que não se conhece ainda”… Diz-se que, pelo menos, já se sabe como ele é…

Seja por que o poder lhe subiu à cabeça e o seu estatuto agora é outro, julgo ser certo que, geralmente, quando um qualquer cidadão assume um cargo de dirigente, logo ocorre um fenómeno de quase imitação dos exemplos mediáticos que por aí temos e que, contradição das contradições, passamos a vida a criticar por serem politicamente correctos ou ditadores autoritários, como é o caso do primeiro-ministro José Sócrates (reservo-me o direito pessoal de não lhe chamar engenheiro…).


Uma coisa parece certa: para a maioria dos portugueses, liderar é mandar! Nada mais errado…

vascoespinhalotero@hotmail.com
(*) Psicólogo do Trabalho e das Organizações / Orientação Vocacional
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quinta-feira, 3 de março de 2011

LIDERAR É SÓ MANDAR? GENTE COMO DEVE SER… - 4ª parte

Na visão das tais chefias duplas que já vêm dos tempos do antigamente (com os supostos bonzinhos politicamente correctos e os ditadores autoritários), que ainda são maioria, actualmente, o que é preciso é o tal tipo de gente “como deve ser”, que faça o que se diz que é para fazer e mais nada. Enfim, escravos modernos, por feitio, convicção ou por necessidade, que encarnem, consciente ou inconscientemente, esse papel.


Infelizmente, neste contexto de exploração da mão-de-obra barata, facilmente descartável e “caladinha”, estas serão as pessoas que, trabalhando por conta de outrem, mais facilmente manterão os seus empregos em tempo de crise!... Será mesmo esta a maneira de ser das pessoas com que teremos de contar para dar a volta a isto?... Tenho a certeza absoluta que não!


Atenção que não procuro aqui fazer o elogio à recusa em trabalhar ou acatar instruções superiores, muito pelo contrário! Procuro sim defender o direito que qualquer profissional de qualquer idade, área ou formação deve ter sempre: o de pensar! O direito a ouvir e ser ouvido de igual para igual, independentemente de qualquer hierarquia ou cargo, para se poder melhorar seriamente no trabalho e não apenas fazer mais do mesmo, fazendo o mesmo que o patrão manda desde o século XIX…


Não o defendo apenas por uma questão de dignidade do ser humano (o que já seria mais do que suficiente, diga-se), mas também para beneficiar a produtividade de qualquer organização. Especialmente em tempos em que é necessário dar resposta à crise, porém terá que ser a resposta certa…


Diz-se que com as dificuldades da crise podem vir oportunidades para nos desenvolvermos. Mas que salto civilizacional poderá o nosso país dar com o mesmo estilo de lideranças (politicamente correctos “bonzinhos” ou ditadores autoritários) a comandar o barco? Indo um pouco mais longe, se este tipo de chefes e de seguidores não pensadores já antes da crise era protegido, ainda mais o será (com o argumento da própria crise) com a consequente estagnação e recuo aos tempos de ignorância social, cultural e económica!… Em termos de lideranças, mais do mesmo implicará seguramente ainda mais crise!


A consequente escassez económica servirá para reforçar os poderes de quem? Exactamente das tais chefias duplas, sendo que provavelmente a face mais ditatorial irá ser mais facilmente assumida.


Parece um ciclo mesmo muito difícil de quebrar se não virmos, de uma vez por todas, que foram as tais chefias, com o seu duplo estilo de liderança, em Portugal e noutros países do mundo, que originaram a crise económica.


Assim, enquanto não se potenciar as restantes e variadas hipóteses de estilo de liderança esta bola de neve não irá parar…

vascoespinhalotero@hotmail.com
(*) Psicólogo do Trabalho e das Organizações / Orientação Vocacional
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quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

LIDERAR É SÓ MANDAR? OS TRABALHADORES QUE SAEM DA CRISE… - 3ª parte

Há que ter noção de que, hoje em dia, o mundo se encontra numa fase de aparente incentivo à inovação, ao debate de ideias nas empresas e expansão dos seus mercados, com alguma visão global. Esta lógica é (seria?) assente no trabalho em equipa multi-disciplinar, para garantir um maior grau de adaptação das organizações às mudanças do meio exterior, num contexto de globalização.


Assim sendo, com o tal tipo de chefias duplas do antigamente (politicamente correctos “bonzinhos” ou ditadores “à bruta”), que género de trabalhadores irão, mais facilmente sobreviver no mundo do trabalho ou mero associativismo, dominado pela lei da selva da insegurança laboral?


Sem entrar em dicotomias de “bons” e “maus” da fita (pois todos nós, seres humanos, fazemos rigorosamente tudo o que for preciso para sobreviver em caso de efectiva necessidade nossa e dos nossos) facilmente percebemos que este tipo de chefes aprecia, e mais facilmente mantém, trabalhadores que, por convicção ou por necessidade, fazem o papel teatral de submissos, “lambe botas”, “caladinhos” ou especialistas nas “conversas de corredor”, que, aparentemente, fazem “só” tudo o que lhes mandam, que não se atrevem a propor ideias nem a questionar regras, construtivamente, que não pensam duas vezes antes de dar uma “facada nas costas de um colega”, que detestam trabalhar em equipa para não terem concorrência na relação privilegiada que “cozinham” com o seu chefe / protector, que vão a correr contar os segredinhos, queixinhas e denúncias (sem direito defesa ou outra versão) aos superiores, que não têm gosto pelo serviço em que estão inseridos, pois o que conta é a sobrevivência ou ambição salarial a todo e qualquer custo, sem olhar a meios ou pessoas…


Repare-se que toda esta sequência de efeitos previsíveis é produzida desde o início em nome da competitividade entre empresas que nos traria, em princípio, melhores serviços e a um melhor preço… Porém, na realidade, parece que este conceito de competitividade só foi aplicado às pessoas (que são tratadas como milhares de ratos a lutar por um pedacinho de queijo) com o carimbo de Qualidade, dizendo que assim é que a sociedade avança e se moderniza…

vascoespinhalotero@hotmail.com
(*) Psicólogo do Trabalho e das Organizações / Orientação Vocacional
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segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

LIDERAR É SÓ MANDAR? OS BONZINHOS, OS MANDÕES E A CRISE… - 2ª parte

Os dois estilos de “mandar”, o suposto bonzinho ou o assumido mandão (serão mesmo afinal assim tão diferentes?), naturalmente afastam ou oprimem quem tem ideias construtivas e profissionalismo/gosto no que faz.


Acabam por atrair sim pessoas bajuladoras, “lambe botas” por medo ou interesse, sem capacidade e/ou coragem para fazer propostas e fazer evoluir a sociedade, no geral, ou a comunidade específica em que está inserido. Muita gente sobrevive e/ou sobe na vida/carreira desta forma que, tal como um eucalipto, tudo seca à sua volta…


Ora, em tempo de crise, o tal duplo tipo de chefes ganha uma renovada legitimidade e confiança (quando, afinal de contas, foi este tipo de pessoas que tomou as decisões que provocaram os buracos estruturais em que estão muitas organizações públicas e privadas no nosso pais e noutros países, porventura, com chefes da mesma estirpe…).


Ouvimos alguns destes patrões dizer, directamente ou sub-repticiamente com “falinhas mansas”, “olhe que se não quer, há mais quem queira…”, “sabe que isto está complicado…”, “tem muita sorte por ter emprego, portanto…”, “se não faz apenas e só o que digo…”, “para pensar estou cá eu, vocês só têm que executar”.


Acresce ainda dizer que esta corrente de chefes (recheada de elementos que afirmam com orgulho o suposto facto de apenas eles saberem o que é preciso para “vencer”) apela, quase que caridosamente, para que haja mais flexibilidade legal nos despedimentos. E para quê? Para em nome da competitividade de sucesso, gerar (ainda mais?…) insegurança e instabilidade no posto de trabalho que se ocupa e, consequentemente, mera serventia não pensante, sem oportunidade de trazer inovação para a organização e sem direito aos seus direitos laborais.


Por mais desculpas técnicas ou pressões dos mercados (quem manipula esta pressão a nível internacional e quem lhes deu poder para isso?) que se arranjem, o resultado e a intenção, com um pouco de bom senso, são fáceis de discernir…


Diz-se oficialmente que é tudo para nosso bem, em nome da competitividade, para pôr as pessoas mais activas, modernas, senão não fazem nada… Escutamos dizer, com ares de verdade universal, que a maioria das pessoas é preguiçosa e, se não for à força, não trabalham, como se de animais. que labutam com o incentivo do chicote. se tratasse…


Assim, com este tipo de pessoas, com a tal visão dupla de como mandar e agora com a “faca e o queijo na mão” por causa da crise, a luta pela sobrevivência no emprego leva e continuará a levar cada vez mais, não a um aumento da produtividade, como muitos apregoam, mas sim a um aumento da manutenção de empregos apenas por um certo tipo de trabalhadores…E que tipo de trabalhadores ou colaboradores é este?...

vascoespinhalotero@hotmail.com
(*) Psicólogo do Trabalho e das Organizações / Orientação Vocacional
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segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

LIDERAR É SÓ MANDAR? AS CHEFIAS DUPLAS… - 1ª parte

Em Portugal, de forma quase automática, quase sempre que uma pessoa vai para uma posição de poder (seja numa empresa, associação, clube, partido, grupo, família, etc), logo assume uma de duas posturas (ou então mesmo as duas, embora por fases): a do líder politicamente correcto ou a do ditador autoritário. Parece que tem que ser assim… Ou ficamos com o suposto bonzinho ou o assumido mandão que são, geralmente e surpreendentemente, … adorados (mesmo que deles falem mal nas costas…)!


Motivos para esta adoração (só assim se compreende a aceitação e manutenção de certas pessoas em cargos importantes) podem ser muitos: fascínio, medo, interesse, inveja por não poder fazer o mesmo até que surge uma oportunidade para o poder fazer... Porém, não deixa de ser, de facto, bastante mesquinho e, com certeza, terceiro mundista, por parte de quem chefia, assim como de quem assim é chefiado…


Na minha opinião, na sociedade de hoje (ou talvez de sempre…), o caminho que se faz para se chegar ao poder (com os “sapos que se tem que engolir” e/ou ficar a dever para lá chegar) aliado, quer a uma, quer outra das tais duas posturas de chefia que referi, resulta num convite para o uso e abuso da manipulação para benefícios próprios, atraindo por arrastamento incompetência seguidista e subserviência nos que os rodeiam, aceitando este resignado (ou interesseiro…) “olhe tem quer assim, o que é que a gente há-de fazer”...


Quem assim age com o poder de mandar acaba por convencer-se de que a isso tem direito, pois crê-se mais esperto que o comum dos mortais que o bajula… Assim, podemos, em parte, compreender como a corrupção e tráfico de influências aparecem quer na versão de suposto bonzinho, quer na versão de assumido mandão. Com maior ou menor cuidado com as aparências / descaramento, o resultado é exactamente o mesmo!


Quem encarna uma ou ambas as faces da mesma moeda apenas chama gente, não para reunir e ouvir mais opiniões cara a cara e chegar a consensos sociais e sustentáveis, mas sim apenas para comunicar algo já feito, em jeito de prova de que são os maiores! Com estes hábitos (conscientes ou inconscientes), quase inevitável e naturalmente, palavras como cidadania, democracia e trabalho em equipa são levadas pelo vento nas suas bocas… assumida ou disfarçadamente.


Ora, na visão do povo talvez um pouco mais esclarecido, estas duas posturas possíveis de chefiar ocorrem de uma de duas maneiras: por uma estranha transfiguração pessoal, quando a pessoa chega a essa posição de chefia (diz-se que o “poder lhe subiu à cabeça”), ou por uma mais clara afirmação, sem necessidade de “maquilhagens” de quem já assim era antes de lá chegar.


No entanto, podemos aprofundar ainda mais um pouco a nossa reflexão. A única diferença entre estes dois estilos prende-se somente com o tempo (“até quando”) que se consegue aguentar com a máscara de “bonzinho”, pois, mais tarde ou mais cedo, dada a questionável (in)genuinidade que é colocada nos discursos sobre cidadania, democracia e trabalho em equipa, a “mostarda chega ao nariz”, perde-se a paciência para o teatrinho social e ouve-se alto e bom som: “é assim, porque eu é que mando”!


No geral, parando um pouco para pensar, a visão das tais duas opções de chefiar, como únicas soluções para essa tarefa, é aceite automaticamente por grande parte dos cidadãos / trabalhadores na nossa cultura portuguesa… No entanto, não é só no nosso cantinho lusitano que este fenómeno das chefias duplas infelizmente acontece. A crise internacional, com a sua ditadura desumana dos mercados, está aí para o provar…

vascoespinhalotero@hotmail.com
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