terça-feira, 14 de janeiro de 2014

PAUSAS NO TRABALHO



Hoje em dia, num clima de incerteza quanto ao futuro social, económico e cultural em que vivem várias organizações públicas e privadas, a tensão e ansiedade acumuladas são grandes, bem como a vontade de encontrar algo a que nos possamos agarrar para tornar útil e focada a revolta que se sente de forma generalizada.
Neste ambiente incandescente, muita gente distribui juízos e sentenças sobre direitos básicos do comum cidadão como se fosse aí que estivesse a razão dos buracos financeiros que a grande corrupção portuguesa e estrangeira criou. Muitas pessoas parecem reafirmar o seu desejo de candidatura ao posto de capataz que urge, segundo a sua postura, criar para pôr todos os mandriões na linha. Esta melodia arranhada só é, ocasionalmente, engasgada quando algum atrevido questiona mais a fundo sobre o seu efetivo conhecimento acerca da realidade técnica, humana e de liderança associada às funções desempenhadas pelos visados…
Após um sonoro “chega para lá” disfarçado de feitio, o timbre regressa mais robusto, apresentando como às de trunfo o seu exercício voluntário de vigilância das práticas laborais para com aqueles que andam ali, que não fazem nada e que deviam era ficar lá até à noitinha.
Prossigamos nesta perspetiva. Frequentemente quem (auto)louva e cobra o sacrifício de longas horas de trabalho e quem “convida” os outros a terem semelhante postura só assume para consigo mesmo que o real aproveitamento das longas horas de trabalho é, de facto, muito relativo…
É precisamente esta gestão eficaz e eficiente do tempo de trabalho que pretendo, sem demagogias, com o leitor conversar. Ora, mesmo tendo em conta a variedade de profissões, tarefas, responsabilidades, prazos e objetivos, afirmar-se que se está sempre a trabalhar é a provavelmente maior ilusão do mundo laboral em qualquer parte do planeta.
É certo que haverá quem diga que há abusos e terá, em parte, razão, mas serão sempre casos pelos quais a restante maioria não pode pagar, sendo injusto colar-lhe um rótulo. Não raras vezes quem aponta o dedo é precisamente quem mais longas pausas faz (basta chamar-lhe outro nome, quiçá… parte do trabalho).
Há que ser honesto e realista, é inevitável ter que se fazer pausas no trabalho para gerir o cansaço. Vejamos. Nas escolas, as crianças e adolescentes têm aulas com duração limitada de 50 ou 90 minutos, devido à necessária gestão do “picos” de esforço, concentração e saturação. Obviamente que também os seres humanos mais velhos precisam de parar de vez em quando, pois não somos máquinas que trabalhem com afinação total ao longos de horas a fio.
São necessidades efetivas quer em termos de saúde (o que por si já é mais do que suficiente), quer precisamente em termos de efetiva produtividade. A respeito desta última, sejamos claros, esta será mais alta se o produto resultante for melhor e não necessariamente se se estiver mais tempo por ali. É, de facto, preciso “respirar” um pouco, ficar mais aliviado, poder regressar mais tranquilo ao trabalho e fazer mais e melhor na sua organização, para render!
Se é necessário pedir desculpa por este “crime”, então rigorosamente todos teremos de o fazer, pois qualquer pessoa o faz, quer o admita quer não. Quem disser que consegue estar sempre ultra concentrado, não está a ser sincero… Ou encaramos isto com naturalidade ou nos iludimos na suposta proibição, acabando por incentivar apenas um melhor ou pior faz de conta…
Por outro lado, parece que só certos conteúdos são aceites socialmente para se ter permissão para uma pausa, tais como… fumar! Então e quem não fuma? Fará sentido estar a averiguar o que se vai fazer no tempo legítimo de pausa para permitir ou não que esta seja concedida? Será que uma pessoa não tem direito à pausa e o que faz nesse tempo ser assunto seu? Senão qualquer dia toda a gente fuma ou finge que fuma…
Julgo que o que se faz com esse tempo de pausa diz respeito à liberdade pessoal de cada um, seja conversar, comer ou beber qualquer coisa, brincar com os colegas, cumprimentar amigos ou simplesmente não fazer nada nesse curto período. Qual é o mal?
Indo mais longe, a efetiva necessidade de uma “permissão” superiora é, na minha opinião, muito questionável, o que não quer dizer que a pausa não possa ser comunicada e exercida em momentos que não ponham em causa o serviço.
Portugal é um dos países da União Europeia em mais horas se trabalha por dia (ou está mais tempo no local de trabalho), mas com níveis de produtividade por hora mais humildes. Por outro lado, os portugueses que têm de sair do seu país são reconhecidos no estrangeiro pelas suas competências, criatividade e ânimo no trabalho.

vascoespinhalotero@hotmail.com
(*) Psicólogo das Organizações / Gestão de Recursos Humanos / Desporto / Orientação Vocacional
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