sexta-feira, 25 de julho de 2008

A MULTA E O EXEMPLO

Como sabemos, o nosso país está recheado de grandes contradições económicas, sociais, culturais e de aparências com “telhados de vidro”!... Senão vejamos alguns exemplos deste último aspecto.
O Presidente da República surgiu, recentemente, preocupado com o desinteresse e aparente falta de vontade de participação, por parte da juventude, em aspectos como a cidadania e política. Esqueceu-se, ou assim o pareceu, que as portas, que poderiam dar realmente influência, só estão abertas para juventudes partidárias dos maiores partidos.

Nestas “juventudes”, muitas vezes (claro que há sempre excepções milimétricas), o modelo para “chegar alto” não é o ter e debater de ideias, mas sim aprender as manhas e o saber estar dos bastidores da politiquice com os mais velhos, para, no futuro, serem exactamente iguais a eles e garantir a sucessão “estável”, que, consequentemente, afasta a política e a cidadania da real juventude!...

O actual Presidente da República, que já esteve uma década como Primeiro-Ministro, tinha como famoso lema, na altura: nunca se enganar e raramente ter dúvidas. Não é propriamente uma atitude que dê as boas vindas a uma juventude que se quer próxima da política e da cidadania…
Por outro lado ou talvez pelo mesmíssimo lado, o actual Primeiro-Ministro parece também ele seguir este lema, quem sabe devido inclusivamente à mesma formação de juventude partidária… Elogiado pela sua determinação e sentido de rumo, paradoxalmente ou não, conta no seu currículo profissional com vários sinais “indeterminados” ou pelo menos com rumo duvidoso…

Poderíamos relembrar a história do súbito deputado engenheiro que ficou muito mal contada ou mesmo aquela em que, enquanto engenheiro-técnico, assinava projectos de construção para concelhos vizinhos, feitos verdadeiramente por técnicos “amigos” que trabalhavam nesse próprio concelho e que por lei não poderiam ter tais “biscates”…

Mas há um caso recente que faz derreter toda a aparente elevação (valor tão apregoado como argumento contra a apresentação de críticas da oposição sobre o não cumprimento das suas promessas eleitorais) defendida pelo Primeiro-Ministro…

Sucede que o Governo e, consequentemente, o Primeiro-Ministro assinaram e aprovaram uma lei “anti-tabaco”, transposta de directivas da União Europeia, com o propósito de proteger os cidadãos não fumadores (e não apenas para proibir que se fume em locais fechados, como às vezes se ouve dizer). Ora, sucede que, passados uns meses, é este mesmo Primeiro-Ministro apanhado em não cumprimento. Seria fácil vestir a pele de juiz e censurar o caso por si só, no entanto, há que reconhecer que todos somos humanos (mesmo o Primeiro-Ministro) e qualquer cidadão pode, intencionalmente ou não, deixar nalgumas situações de cumprir uma lei, sabendo claro que estará sujeito a justas punições…

Como tal, diz o senso comum que, mesmo com uma boa educação para a cidadania, uma lei, que não tenha previsto punições a aplicar aquando do seu não cumprimento, não serve para nada, pois corre o sério risco de não ser respeitada por ninguém… E se estão previstas punições, nos casos detectados, há que as aplicar, seja a quem for… A todos? Parece que não, o último exemplo descarado é mediático e vem de cima…

Pensou então o Primeiro-Ministro que bastaria um simples pedido de desculpas via comunicação social, com o habitual desdém pela polémica gerada (como se fossem meros boatos de imprensa cor de rosa), para ficar tudo em “águas de bacalhau”… Pergunto eu: então e o pagamento da multa? Não é um cidadão como os outros?

Imaginem se a partir de agora todos os que infringissem a lei, por exemplo de trânsito, também pensassem que bastaria chamar o jornal da terra para pedir desculpas e dizer que não voltam a fazê-lo (que vão deixar de conduzir ou de fumar…)!

O Primeiro-Ministro poderia ter assumido o erro, pago a multa e dado o exemplo para todos os portugueses (só lucraria com isso em todos os aspectos, pois inclusivamente a sua imagem de arrogância seria atenuada e a sua demonstração de humildade iria faze-lo subir nas sondagens com eleições à porta…). Mas não resistiu… Simplesmente a sua arrogância foi mais forte e ele próprio bem mais fraco, no que respeita a manter a “sua” elevação…
Vejam o artigo que saiu no Diário de Notícias sobre este facto: http://jn.sapo.pt/PaginaInicial/Nacional/Interior.aspx?content_id=975555

vascoespinhalotero@hotmail.com
(*) Psicólogo do Trabalho e das Organizações / Orientação VocacionalLeia todos os artigos na Internet em: http://www.dosonhoaoprojecto.blogspot.com/