sexta-feira, 29 de novembro de 2013

FORMAS DE OLHAR O MUNDO (2ª parte)




Na minha opinião, no que respeita à forma como vemos e analisamos a dita realidade que nos rodeia, ninguém tem o poder / direito de julgar a fotografia que é tirada por cada pessoa num dado instante. Tudo (ou quase tudo?…) deve ser contextualizado, quer usemos as lentes da ciência, senso comum / empírico, tradicional, herança familiar, religião, espiritualidade, micro / macro do cosmos, entre outras formas.
Não deixa, de facto, de ser que lá está, seja esta visualizada consciente ou inconscientemente com “óculos” aparentemente racionais ou emocionais. Este respeito e tolerância são profundos e exigentes, sendo, muitas vezes, necessário respirar fundo para compreender os outros lados. No fundo, é a essência da nossa liberdade conjunta.
Mas e se entrarmos num exagero seguindo meramente uma das vias, seja a racional (Tipo 1) ou a emocional (Tipo 2)? E o que pode ser considerado um exagero? Se for uma vez, se for de vez em quando, se for sempre assim? Como e quem poderá avaliar isso e com base em que critérios? Tem a ver com a frequência da utilização de um tipo de “óculos” ou com as suas consequências? E quem tem o direito de o julgar? Apenas a própria pessoa?...
Ora, será importante não ceder à tentação de assumir um papel paternal, superior, formatador e/ou endeusado, não fazendo avaliações que possam ser preconceituosas a nível de estilos de vida e de crenças pessoais com que não crescemos nem conhecemos / compreendemos nesse dado momento. Julgo ser fundamental procurar não ultrapassar esta linha, pois cada pessoa tem (ou deveria ter numa sociedade democrática) o direito de viver a sua vida como quer. Afinal, será isso a efetiva liberdade…
Sendo assim, entre outras possíveis hipóteses, um dos critérios que poderá fazer sentido utilizar será o risco de vida e o sofrimento que a pessoa possa sentir. Se umas situações são claras e as próprias pessoas decidem que / quando precisam de ajuda, outras não serão tanto assim e poderemos cair no erro (seja por altruísmo desajeitado, seja por conservadorismo intrometido) de pedir ajuda por elas…
Efetivamente, os “óculos” do Tipo 1 (racional) e do Tipo 2 (emocional) parecem constituir-se, provavelmente, como duas visões imprescindíveis e complementares para se ser feliz e que poderão unir-se de modo tranquilo. No entanto, não poderá existir o risco ou receio de se anularem? Esta é uma questão muito interessante e desafiante.
Por vezes, o produto dessa conjugação é o conflito. Porém, poderá não haver razão para o temer, seja relativamente ao processo como ao resultado. Ele apenas sinaliza que se está no momento de encontrar um novo equilíbrio. Faz-nos verdadeiramente crescer ao termos contacto com estas duas formas de “sentir” a realidade. No entanto, cada pessoa deve ter o espaço para encontrar o (seu) ritmo mais adequado e aquele que se revelar mais confortável e tranquilizador / inspirador para si… Não é, de facto, possível preterir o Tipo 1 em função do Tipo 2 nem vice-versa.
Creio que o equilíbrio não poderá ser sinónimo de estar ali permanentemente num meio termo que nem é uma coisa nem é outra, só porque supostamente se “amadureceu” (como sucede a muitos adultos que, depois mais tarde, querem voltar a sentir emoções fortes durante anos adormecidas). Julgo que isso só por si ajuda, mas não basta para estar mais perto da saborosa utopia que é a felicidade ou a sua procura. Seguir esse caminho, pode tornar-se num pouco de tudo que acaba por ser quase nada, numa zona de ninguém, num abdicar de se sentir mais um pouco, num hábito de não ser… Não.
Neste equilíbrio racional / emocional, há que permitir-se a pesquisa mais profunda em ambos os campos. Não é suficiente que se faça apenas num deles, isto seria um naufrágio de curto, médio ou longo prazo. É, de facto, importante fazer algumas excursões individuais e/ou partilhadas mais longe, umas viagens tranquilas a cada um dos polos. Tudo isto regado com um genuíno sentido de humor relativamente a nós, aos outros e a tudo o que nos rodeia, assim se libertará eventualmente muita tensão. Mas será que também nos tipos de sentido de humor existirão diferenças de 2 ou mais tipos?...
E, afinal de contas, qual é o mal em imaginar, sonhar e criar? E qual é também o mal em ter os pés assentes na Terra? Não se trata, de facto, da diferença entre Bem e Mal (não entrando nas dicotomias Céu / Inferno, mas também não lavando as mãos como Pilatos, dizendo que é tudo igual e vai dar ao mesmo).
Compreendendo esta balança racional / emocional humana, podemos questionar onde fica o livre arbítrio e flexibilidade para se / quando quisermos mudar de “óculos”? Ou somos obrigados permanecer sempre com os mesmos olhos que nós supostamente escolhemos? Afinal, somos o que fazemos ou fazemos o que somos?

vascoespinhalotero@hotmail.com
(*) Psicólogo das Organizações / Gestão de Recursos Humanos / Desporto / Orientação Vocacional
Leia todos os artigos na Internet em: www.dosonhoaoprojecto.blogspot.com

FORMAS DE OLHAR O MUNDO (1ª parte)



Correndo o inevitável risco de ser demasiado redutor na tentativa indutiva de estabelecer um padrão, no que diz respeito a como o ser humano se relaciona com o mundo, parecem haver (pelo menos...) 2 modos de olhar para as coisas conhecidas e/ou desconhecidas, do micro ao macro, do concreto ao abstrato, do claramente visível ao resto…
Sublinho que eu (na verdade, acho que qualquer ser humano), por mais que tente (devido ao nosso diabinho Ego), não tenho o direito de ajuizar como errada qualquer uma delas. Porém, como diria uma grande amiga “no meu pouco entender”, parece-me que cada pessoa tem a sua análise racional / emocional, do que a rodeia num dado instante, “sintonizada” predominantemente num de dois tipos que a seguir tentarei apresentar. São dois tipos de “óculos” que uma pessoa coloca para analisar a realidade.
Com o Tipo 1 (racional), preferimos confirmar ou contestar factos com os conhecimentos disponíveis em termos de acesso já criados pela nossa ciência. Com Tipo 2 (emocional), preferimos procurar hipóteses baseadas em relações, suposições, especulações com provas que se podem confirmar ou não com a tecnologia disponível no momento (histórico, económico, político, até religioso se lembrarmos a Inquisição). 
Ora, se com as “lentes” do Tipo 1 ganhamos pragmatismo e sensatez, também poderemos, por vezes, cortar à partida algumas linhas de raciocínio mais desenvolvido, relacional e criativo. Na linha do Tipo 2, encontramos muitos génios injustiçados no seu tempo de vida (Galileu, Davinci, mesmo Einstein porventura ainda), na maioria "silenciados ou ridicularizados" por pessoas “sintonizadas” no Tipo 1 e também encontramos simples manipuladores ou verdadeiros charlatões (na maioria também desmascarados por pessoas “sintonizada” em 1). 
Qualquer um dos tipos tem claramente vantagens e desvantagens, sendo a grande variante a perceção do RISCO ou do que se entender por mais ou menos arriscado, em função das consequências negativas ou positivas que poderá trazer. É mais ou menos arriscado controlar ou soltar vivermos bem?
Podemos optar pelo Tipo 1 supostamente mais seguro, mas podendo cometer injustiças, crendo nós que temos toda a razão, ou podemos ficar no Tipo 2 supostamente mais incoerente, mas que também dá mais possibilidades de se fazer a diferença e dar saltos de conhecimento. 
Há que sublinhar que falamos de momentos de análise, que poderão, ou não, constituir algo mais enraizado, padrão e/ou regular. São momentos, minutos, instantes ao longo da vida de uma pessoa na maneira como analisamos situações. Optar consciente ou inconscientemente, num dado momento, por uma análise Tipo1 ou Tipo 2, poderá ser uma questão de vontade, (pre)disposição, somo de critérios ponderados, simples intuição ou enfim o resultado de um hábitos conscientes ou inconscientes já adquiridos ao longo da vida de uma pessoa e da evolução de espécie humana.
Não se trata de "uma pessoa ser assim e outra assado". Pode haver é mais espaço, tendência ou probabilidade para optar mais vezes por um caminho ou por outro... Mas e quando se opta claramente muito mais por um tipo do que pelo outro?
Ao longo dos tempos e de várias culturas, muitos nomes e descrições têm sido criados para separar as águas nestes dois polos de neurose / psicose, dedutivo / indutivo, prático / teórico, juiz / irresponsável, empreendedor / contemplativo, grave / agudo, dia / noite, etc…
Demasiado Tipo 1, tornamo-nos chatos, moralistas, cinzentos, juízes, supostos donos da razão única e óbvia (assumindo ou não a sua inquestionabilidade), cansativos, arrogantes no sentido de achar os outros maus ou burros. Demasiado Tipo 2, tornamo-nos divagantes, inconsequentes, pouco práticos, desorganizados, dificuldade na explicação simples por receio de ser redutor coisa que não querem, relaxados, preguiçosos com o argumento das várias perspetivas, arrogantes no sentido de achar os outros fechados e de vistas curtas.

vascoespinhalotero@hotmail.com
(*) Psicólogo das Organizações / Gestão de Recursos Humanos / Desporto / Orientação Vocacional
Leia todos os artigos na Internet em: www.dosonhoaoprojecto.blogspot.com