Nos tempos que correm, em que se desespera por migalhas milagrosas, que nos guiem pelos escuros caminhos da saída labiríntica da crise económica e social, a antiga palavra invenção, bem castiça e portuguesa, ganha uma ponta de pompa sofisticada e iluminada, que constitui um novo conceito definitivamente na moda: a inovação nas organizações.
É altura de mudanças, toda a gente o sente. Porém, pergunta-se: de que modo, por que vias, com que procedimentos, com que tipo de pessoas e com que cultura? Pelo menos um resultado imediato é facilmente percepcionado: há mais reflexões, mais questões, mais vontade de contribuir e de fazer algo para melhorar a “nossa” vida.
Mais gente usa e ouve as palavras e ideias com “garra”, independentemente do contexto da nossa sociedade ou das regras de imposição que se queiram “decidir à partida”, tentando abafar uma qualquer discussão por se “catalogar” as pessoas como demasiado ignorantes ou ingénuas para terem uma palavra útil a dizer… Sem dúvida, algo vai mudar, espera-se que mude (para) bem.
Apesar de todas graves privações que a população portuguesa tem (e terá ainda?) que passar, vale a pena, por momentos, desfrutar desta energia mobilizadora que constitui a vontade fazer alguma coisa para “dar a volta a isto”. Pois esta é a atitude-chave que faz render o diálogo, que o torna sério e levado a sério.
As pessoas dão mais genuinamente de si e param para pensar (sem perder tempo) e põem mãos à obra em equipa (pois dão-se conta nestes momentos que sozinhos não vão lá). As reuniões passam, nestes breves momentos quase épicos, a ser guiadas pela utopia construtiva da procura da melhoria sustentada do bem-estar comum. Na minha opinião, é precisamente este “toque” que determina se uma decisão irá ter, no futuro, bons ou maus resultados, em termos de envolvimento social.
São fases em que todos os elementos de uma sociedade ou organização pensam a sua realidade, voltam a questionar-se abertamente e com isso fazem o mais difícil: geram decisões estruturais de forma participada. Decidir sobre a gente com a gente. Depois disto todos estamos no mesmo “barco”, para aguentar quando as coisas correm bem e quando correm mal.
Quando os dirigentes da nossa sociedade e das nossas organizações públicas e privadas tiverem visão e souberem ouvir esta corrente, verão que o seu trabalho será facilitado… Já se continuarem a julgar que apenas eles são capazes de pensar… Os resultados e os factos da nossa História falam por si. Não se pode inovar no século XXI com métodos de gestão do século XIX… Mas a julgar pelos “humildes” ordenados, indemnizações, ajudas de custos e pensões de muitos dos administradores das “nossas” empresas públicas e privadas, devemos ter uma super-gestão!...