terça-feira, 29 de abril de 2008

E QUANDO, NO TRABALHO, ALGUÉM ERRA?

Quando erramos, todos nos sentimos um pouco como Joseph K., personagem criado por Franz Kafka para o seu livro “O Processo”. O desconforto instala-se, a nossa auto-estima é espremida, assaltam-nos culpas, olhamos para o lado rezando para que talvez não se note, desesperamos pelos dias mais calmos e invejamos quem parece ter sempre tudo sob controlo… E assim nos surgem as duas dúvidas: agora o que é que eu faço e quem me pode ajudar?

Não há receitas, embora haja princípios, que dependem dos valores de cada um, que solidificam personalidades e caracterizam normalmente os trabalhadores com mais sucesso. Vamos a propostas… Por mais humilhante e/ou injusto que, por vezes, possa parecer, é preferível assumir o erro, com humildade e sem complexos, nem dramas. Depois procurar sozinho e com um grupo (uma coisa nunca exclui a outra) as causas para, de seguida, elaborar um plano para que não se voltem a repetir os mesmos erros.

Um aspecto é importante que se esclareça para que não se construam obsessões ou medos para o futuro: inevitavelmente vão aparecer outros erros, é humano e ainda bem que assim é. Concluindo com sublinhado: assumir com humildade e procurar resolução para evitar que se repita (uma coisa sem a outra provoca mais tarde ou mais cedo incoerências e “telhados de vidro”).

Poderão dizer-me que se trata de uma abordagem demasiado simplista e mesmo ingénua… Pois, é certo que se pode aprender muito com um erro, inclusivamente aprender a esconder os erros! É verdade… Porém, ao faze-lo acabamos por tornar mais provável que, no futuro, cometamos mais erros ainda, especialmente os mesmos, e, mais tarde ou mais cedo, alguém vai reparar no nosso disfarce…

Quando estamos num grupo de trabalho, a exigência e apoio andam de mãos dadas, para o bem e para o mal. Ora, a “digestão” dos erros dos seus elementos são momentos que um líder pode (deve) aproveitar para tirar uma radiografia à coesão da sua rapaziada.

Num grupo em que existe desconfiança, busca e acusação gratuita dos erros alheios, ou seja dos restantes colegas, saltam à vista, desta forma, conflitos futuros, que se murmuravam “baixinho”. Nestes ambientes de “caça às bruxas”, conceitos como objectivos partilhados tornam-se artificiais, restritos ao que está no papel, enfim, uma farsa. Paradoxalmente ou não, pode revelar-se como solução de médio/longo prazo para esta “epidemia” que pode afectar qualquer equipa…

Quanto ao curto prazo, sabe-se que é, muitas vezes, nos momentos de assumir erros que se constroem coesões de grupo, cumplicidades, legitimam lideranças francas e verdadeiras. Por vezes, é preciso aproveitar um “abanão” forte para que problemas escondidos possam ser assumidos “olhos nos olhos” e se possam tomar decisões corajosas, de forma consensual e responsabilizadora.

Quando se lidera um grupo e alguém erra, há que ver o que falhou e não quem falhou, pois quem falhou sabe e isso basta-lhe. Não é preciso que lhe atirem isso constantemente “à cara”, de forma destrutiva. Os ácidos “apontar de dedo” apenas constroem ressentimentos, planos de vingança e promessas de retribuição dos “elogios” aos “juízes”… Até porque, inevitavelmente, toda a gente algum dia, nalguma hora, em qualquer tarefa irá acabar por errar…

Um erro bem apoiado construtivamente pelo grupo, com vista à sua prevenção futura, sem “apontar de dedos”, nem o denegrir do trabalho ou profissionalismo do visado, vale concerteza mais do que mil elogios!

É muito importante também que não se faça um drama de toda a situação e que as coisas, dentro do possível, se resolvam dentro do grupo de trabalho. Não é por acaso que no mundo do desporto se diz que tudo o que se passa no balneário, fica no balneário.

vascoespinhalotero@hotmail.com
(*) Psicólogo do Trabalho e das Organizações / Orientação Vocacional
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