sábado, 25 de outubro de 2008

DO ERRO À OPORTUNIDADE

No universo do trabalho, a detecção de um erro é um momento fulcral. Em primeiro lugar, na medida em que é naturalmente comum, pois errar é humano também nas organizações de qualquer parte do mundo, não só no nosso Portugal. Em segundo lugar, respostas a questões como “quem”, “o quê”, “como”, “o que levou a que ocorresse” ou “o que fazer no futuro” revelam-se decisivas para bem ou mal gerir um erro. Afinal como poderemos saber fazer as coisas como deve ser? Uma pequena pista poderá passar por distinguir quais as questões realmente importantes a abordar quando surge um erro…

Soluções? Despedir pessoas é aparentemente solução óbvia para qualquer “patrão-capataz”, que só aparece para “apontar dedos” quando há “asneira”. Seguindo esta via, é fácil culpar um trabalhador, num meio recheado de sábios chefes, que “lavam as suas mãos “ das responsabilidades das falências: “foi um azar”, “tínhamos muitos impostos”, “os salários deviam ser mais baixos, é só direitos e há por aí mão-de-obra mais barata”, “foi culpa concorrência com os países mais desenvolvidos que têm mais subsídios”, “os trabalhadores deviam era trabalhar mais horas” e por aí adiante…

No entanto, o sucesso e a sobrevivência das organizações tem sido feita, nalguns países de sucesso, onde se trabalha menos horas, mas com mais rentabilidade (onde não se trabalha mais - horas -, mas sim melhor), onde os salários são mais altos, assim como as medidas de protecção laboral e social, onde a carga fiscal é maior, mas rigorosa e de aplicação transparente, etc. Razões são várias, mas uma é fundamental: outra aposta na abordagem ao erro!

Vejamos, esta outra maneira de “reciclar” os erros assenta no incentivo que os gestores dão, no dia-a-dia de trabalho, aos trabalhadores para que estes, de forma interessada, responsabilizadora e até autónoma, imediatamente iniciem o processo de rever “à lupa” procedimentos que estiveram na origem de um qualquer erro.

Em soma: abertura e nada de dramas! Os líderes com esta visão perceberam as vantagens de uma cultura “anti - diz que disse”, já que aqui não há lugar para apanhar bodes expiatórios, nem para louvar peritos em “tirar a água do capote”… Estabelecendo e defendo estes valores, retira-se o palco às vazias actuações teatrais e ao seu peso em avaliações do desempenho ou “palmadinhas nas costas”...

E porque o fazem? Por serem líderes (de empresas, associações, clubes, partidos, governos, etc) mais bonzinhos? Ou por terem muito dinheiro e que não se importarem de o perder? Muito pelo contrário! Na actual sociedade capitalista, para o bem e para o mal, todos querem ganhar dinheiro. De uma forma muito simples: fazem-no sim simplesmente por que perceberam que a partir da análise do erro, muitas vezes, surge a inovação e com esta a melhoria dos resultados!

A diferença é notória: o “patrão-capataz” acha que a sua missão é “caçar” os erros ou melhor quem os comete, enquanto que o gestor do século XXI vê os erros (aproveitando a sua análise pelos seus colegas de equipa) como oportunidade para dar um “salto” inovador, que lhe permita ficar à frente de outros concorrentes: uma verdadeira “reciclagem” construtiva e sem dramas! Assim, também se conquista o “amor à camisola” dos elementos da sua equipa e não apenas o amor ao salário no final do mês.

Tendo em conta o peso do horário laboral, insegurança de vínculos e pressões transportadas para a vida pessoal e familiar existentes na sociedade de hoje em dia, acreditem que as pessoas sentem falta de se poderem identificar com algo, de agarrar qualquer coisa com unhas e dentes, confiar e lutar por um líder, entregar-se a uma equipa se… sentirem que são protegidas enquanto pessoas sinceras, humanas e com vida para além do trabalho, não escravos modernos…

Visto isto, se pensarem qualquer coisa do género “isso é muito bonito, mas isto está complicado”, pensem no que me disse há tempos um bom e sábio amigo, “é preciso transformar as dificuldades em oportunidades”.

vascoespinhalotero@hotmail.com

(*) Psicólogo do Trabalho e das Organizações / Orientação Vocacional

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