Como podemos facilmente constatar ao sintonizar na frequência 103.0 Mghz num qualquer aparelho de rádio, a Rádio de Cantanhede já não existe. Bem, não o seu nome, pois aí podemos ouvir a Rádio Best Rock FM ou outra, com sede em Lisboa e emitida a partir de Coimbra, onde por vezes o locutor anuncia 103.0 Cantanhede! Depois ouvindo melhor o seu conteúdo confirmamos que já não é mesmo a Rádio de Cantanhede, pois na sua programação não há quase nada sobre o nosso concelho! Trata-se apenas de mais uma rádio de música rock e pop como uma qualquer RFM ou Comercial, ou seja apenas mais uma. Mas então como foi que isto aconteceu?
Segundo consta, há uns anos atrás a Rádio de Cantanhede foi vendida (isto é, o seu sinal 103.0 Mghz) ao grupo Media Capital (dono da Rádio Best Rock FM), porém a produção regional de conteúdos para a rádio teoricamente ficava protegida pela lei ao abrigo da Alta Autoridade para a Comunicação Social.
Segundo a Lei que protege (ou deveria proteger) as Rádios Locais, num processo em que uma Rádio Nacional adquire a uma Rádio Local, os direitos sobre o usufruto da frequência (certos comprimentos de onda que sintonizamos no nosso aparelho de rádio para apanharmos o sinal 103.0 Mghz) implicam que 8 horas diárias de emissão sejam obrigatoriamente criadas e difundidas a partir da região da rádio local com programação criada, proposta e ligada a essa região.
Em termos legislativos, parece fazer todo o sentido, pois desta forma poderia garantir-se o espaço para o aproveitamento da potencialidade e riqueza regional na rádio e nos seus contributos (pois não é só em Lisboa que existe criatividade e qualidade...). A Lei obriga também à divulgação desta oferta através de anúncios na imprensa, que promovam a abertura e recepção de propostas por parte de qualquer cidadão, especialmente os pertencentes à comunidade onde estava sediada a rádio local, cujo sinal foi adquirido. Ora, isto é o que a lei diz...
E o que acontece hoje em dia realmente? Preparem-se! Sucede que, muitas vezes, as rádios nacionais compram o sinal das pequenas rádios locais e ludibriam a questão das 8 horas diárias prevista na lei. Criam uma programação já a partir da sede central da rádio nacional (no “nosso” caso Lisboa) e depois distribuem essas gravações para todas as pequenas rádios (entre as quais a “nossa”) que compraram. Estas gravações são passadas durante as supostas 8 horas de produção de rádio criadas a partir da rádio local! Assim, todos os sinais das pequenas rádios compradas, nestas tais 8 horas diárias, transmitem exactamente a mesma programação, isto é, exactamente as mesmas músicas, exactamente na mesma ordem, exactamente com a mesma publicidade e sinais horários tudo exactamente ao mesmo tempo!
Assim sendo, estas 8 horas acabam por ter uma linha quase exactamente igual à restante programação das restantes 16 horas diárias dessa rádio nacional, nem há diferença nenhuma! Ou seja trata-se apenas de uma rádio nacional, não de várias rádios locais. Estas foram reduzidas ao papel de meros retransmissores de sinal passando 24 horas por dia toda a programação desta rádio nacional! Esta é, infelizmente, a actual situação da “nossa” Rádio de Cantanhede!
Um outro pormenor curioso é o facto de a rádio nacional ter de publicar anúncios na imprensa (porque a lei obriga) a divulgar a abertura a propostas de programas, conteúdos e intérpretes (o que já o fez inclusivamente através deste jornal). Porém, quando surgem interessados as respostas são vagas e evasivas, os adiamentos de entrevista frequentes, fica a sensação de que, no fundo, se está a “engonhar” para não se dizer directamente que não se quer ouvir nem aceitar propostas para ocupar as tais 8 horas de programação local, que já estão ocupadas! E que eles pretendem que assim continuem...
Há que unir as gentes da nossa terra, dar um murro na mesa e dizer que se trata de uma enorme farsa que não podemos aceitar! Pois, o que ouvimos em 103.0 Mghz não é programação feita pela e para a região, mas sim programação criada em Lisboa ou Coimbra, apenas retransmitida em Cantanhede sem ligação efectiva com o nosso concelho! Atenção, não interessa aqui tanto encontrar culpados ou bodes expiatório, mas sim tentar trazer de volta a nossa Rádio de Cantanhede! Por que não constituirmos um movimento de cidadãos amigos de uma real Rádio de Cantanhede e tentarmos meter mãos à obra? Se todos puxarmos para o mesmo lado e surgirem ideias talvez seja possível fazer alguma coisa. Deixo o meu contacto.
vascoespinhalotero@hotmail.com
(*) Psicólogo do Trabalho e das Organizações / Orientação Vocacional
Leia todos os artigos na Internet em: www.dosonhoaoprojecto.blogspot.com
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