sexta-feira, 24 de julho de 2009

PARA MOTIVAR NO DIA-A-DIA DE TRABALHO BASTA O DINHEIRO?

Muitas vezes, no mundo do trabalho, ouvimos, nos corredores de uma qualquer organização, debates “entre-dentes”, pouco aprofundados e até, porventura e infelizmente, mal informados e/ou esclarecidos.

Nestas conversas da hora do cafezinho são decretadas verdadeiras sentenças, com aparente validade fundamentada, que ultrapassam em força informal e popular qualquer discussão ou reunião concreta ou oficial.

Em grande medida, neste tipo de ambiente quem está há mais tempo na casa tem mais tempo de antena e as suas conclusões (mesmo as mais descabidas) raramente são refutadas, pois “já andam aqui há muitos anos”…

Enquanto os temas de tertúlia se centram nas telenovelas, notícias cor-de-rosa ou futebol surgem sorrisos compreensivos e comentários que só algum fervor clubista pode aquecer… Porém, quando alguém passa a algum tema daqueles mais a “sério”, o ambiente torna-se mais tenso. Aqui, enquanto alguns opinam com volume proporcional ao seu autoritarismo, outros sorriem com lábios que teimam em tremer, enquanto outros ainda preferem fingir não ouvir, até que alguém se atreve a refutar…

Geralmente, por mais assertivo, civilizado ou respeitador que se seja, o populismo acaba por arrastar parte do público e os argumentos trocados teimam em fugir ao cerne dos temas “sérios”. Daqui ao maldizer no corredor ao lado sobre o “atrevidote” que era do contra é um passinho…

Ora, um dos tais assuntos “sérios”, que é assim sentenciado e que, por isso mesmo, talvez tenha levado o povo português a perder a sua capacidade de mobilização esclarecida e construtiva, é, sem dúvida, a falta de motivação na Função Pública. Ouve-se dizer que “faltam prémios de produtividade” para ser possível motivar, que não há outra forma…

Portanto, para fazer um “bolo” de funcionários super-motivados, numa qualquer organização pública, teríamos que usar como “ingrediente essencial” a criação de prémios de produtividade chorudos?

Mas se a “fórmula mágica” fosse assim tão básica por que é que nem todas as organizações privadas do nosso país, que aplicam esta receita, são um sucesso inquestionável? Aliás, haverá concerteza quem diga que a maioria delas funciona mais a nível da exploração do que da motivação…

Sejamos generosos e acrescentemos ainda ao “bolo” um “ingrediente surpresa”: a facilidade de despedimento de funcionários (“ingrediente” tão apregoado por tanta gente para o sector público). Porém, um sabor amargo surgiria com o facto de estar comprovado que fica mais caro despedir um trabalhador, ir buscar outro e esperar que este comece a render (normalmente leva um par de meses) do que motivar quem já lá está e conhece a casa…

Ora, é óbvio que isto não basta. Aliás, reduzir a motivação apenas ao factor económico serve frequentemente para “tirar a água do capote” a muita gente. Vou tentar explicar o meu raciocínio.

Por um lado, permite que as chefias fujam às suas responsabilidades ao nível da gestão e motivação individual e colectiva. Estes argumentos dão-lhes jeito, mais que isso, constituem um “álibi”, pois assim não se lhes pode exigir nada (“não temos condições”) e podem continuar a “gerir” mal pessoas como se fossem a isso “obrigados”…

Por outro lado, os restantes funcionários também ganham um “álibi” para poder cruzar os braços e ficar de consciência tranquila. Assim, podem justificar o seu desinteresse, “deixa andar” ou mesmo boicotar o trabalho bem feito, em jeito de suposta manifestação silenciosa contra as opções de gestão ou governamentais (talvez estes mesmos que acabam depois por votar no exactamente no mesmo Governo…).

Meus amigos, apregoar apenas como fonte de motivação o prémio de produtividade não beneficia a produtividade! Ora, no uso desta desculpa socialmente popular, tanto é culpado, por este “deixa andar”, quem lidera (porque não vê) como quem é liderado (porque não diz ao líder para ver). Eu sei que me dirão, com razão, que há líderes que, mesmo que lhes digam, não querem ver…

Mas atenção, nada de dramas ou apontares de dedo. Qualquer pessoa já ficou mais preguiçosa, molengona, acomodada, passiva ou ferrugenta no trabalho. Sejamos sinceros: já aconteceu a todos nós!

O problema é quando acontece muitas vezes e durante muito tempo até se tornar um hábito! Até perderrmos confiança nas nossas capacidades. Depois torna-se mais difícil reagir a mudanças e aí ou nos tornamos agressivos/destrutivos ou deprimimos ou… com ajuda humilde e genuína dos colegas, com gosto pelos novos desafios do trabalho que produzimos e pela noção sua importância para quem servimos… tentamos voltar ao início!

É claro que também ajudará uma política e estratégia clara e aberta de inovação com aposta na “prata da casa” como acontece em pequenas ilhas de desenvolvimento, embora não deixem de ser apenas ilhas.…

vascoespinhalotero@hotmail.com
(*) Psicólogo do Trabalho e das Organizações / Orientação Vocacional
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