segunda-feira, 7 de setembro de 2009

A VERDADEIRA DEMOCRACIA DE IDEIAS

Na sua essência, a democracia consiste em que as pessoas livremente possam votar nas ideias ou posições que defendem. Ou será antes nas pessoas? Ou, aliás, nas pessoas cuja imagem nos atrai e que, por isso, julgamos conhecer e poder confiar?

Se acreditamos na segunda opção, então, sem conhecer as propostas dos programas políticos, como se a política fosse como o futebol em que cada um torce pelo seu desde pequenino, apostar-se-á apenas no candidato com o aspecto físico mais “confiável” (de entre os dois em geral apresentados pelos dois únicos partidos que normalmente ganham as eleições)?

Isto é, sem sabermos concretamente se concordamos com as suas futuras propostas de lei, passamos um “cheque em branco” a todo um programa político apenas pelos “bonitos olhos” de um mero actor político?

No fundo, carimbamos o passaporte por supostamente não haver alternativas (às propostas de modelo único que a comunicação social nos apresenta…) e, mais provavelmente, por que o marketing da imagem dos candidatos alternativos não ser tão “plasticamente” bem feito?...
Será isto votar em democracia?...

Na minha opinião, talvez um pouco utópica, a verdadeira democracia só se pode fazer se o cidadão puder votar, não em pessoas, mas sim nas ideias com as quais concorda. Ou seja, para mim cada partido deveria ter que apresentar uma lista de posições muito claras sobre várias matérias, sendo todas estas colocadas no boletim de voto e seria o cidadão a votar nas ideias que pretendia, independentemente de onde elas viessem.

O cidadão votaria nas ideias ou, se quiserem, nas propostas concretas e não nos partidos ou caras mais ou menos maquilhadas… Uma espécie de cardápio ou menu ao estilo do que consultamos quando vamos a um restaurante e de entre as várias ofertas escolhemos um prato principal, uma sobremesa e uma bebida.

Até porque um cidadão pode apreciar certas propostas de um partido, mas também outras de um movimento diverso ou outras ainda de autores diferentes! Mas esse conjunto é que é o seu voto e não apenas a cruz num partido! Desta forma, seria, assim, defendida a opinião real do cidadão na sua variedade de pareceres sobre várias matérias.

É certo que existiria sempre o perigo do uso da demagogia e do populismo nas discussões para ganhar votos “robot” criando, para cada grande matéria, rótulos fáceis de decorar e de “meter” na cabeça dos eleitores com menos paciência para comparar argumentos sobre as várias opções. Mas estes truques de retórica feirante já são utilizados actualmente… E só com o debate aprofundado e sério sobre os temas essas tácticas são desmascaradas, sendo que, numa democracia de ideias, essa discussão seria inevitável.

É claro que, adoptando uma postura mais paternalmente realista, é fácil pensarmos que as pessoas não estão preparadas para isto e que não querem saber de discussões a sério sobre as várias matérias. Neste ponto de vista, bastaria olhar para o actual sistema de votação com os seus altos níveis de abstenção e poderíamos pensar que, numa democracia de ideias, com listagens de propostas no lugar da mera lista de partidos para pôr a cruzinha, a coisa seria ainda pior…

No entanto, lembremo-nos que também antes do 25 de Abril a democracia era acusada de ser perda de tempo, pois teríamos um conjunto de sábios, com cultura superior ao comum povo, que governava o país… Por outro lado, é necessário ver as causas da elevada abstenção, algo a que as trocas de bocas, amuos e desvios de conversa nos debates políticos não são alheios…

O que é que isto implicaria? Que as campanhas eleitorais se focassem no debate dessas mesmas posições sobre essas matérias, verdadeiros esclarecimentos muito claros e acessíveis à maioria dos cidadãos (independentemente da idade, formação ou cultura, pois cada voto é um voto), ao jeito do programa televisivo “Prós e Contras”.

Implicaria cidadãos forçosamente mais informados ou pelo menos a tentarem informar-se. Imaginem o que seriam umas eleições em que os cidadãos estão tão esclarecidos e seguros da sua opinião como, actualmente, estão sobre as novelas da moda, futebol, revistas cor-de-rosa, crimes e dramas de “faca e alguidar”! Se assim fosse concerteza não estaríamos na cauda da Europa…

E como seria tudo isto possível? Apenas com uma forte aposta na educação de qualidade, pública e gratuita, ou seja, de grande nível e para todos, gerando igualdade de oportunidades e liberdade efectiva, deixando depois ao cuidado de cada cidadão o rumo da sua vida.

Para este sonho poder ser concretizado num projecto de longo prazo concreto, seria imprescindível valorizar e proteger as figuras que, juntamente com o resto dos funcionários públicos, mais denegridas e fragilizadas têm sido: os professores.

Na minha opinião, todo este conceito é sim a democracia (de debate de ideias e não de marketing de caras). Utopia dirão muitos com um sorriso no rosto…

vascoespinhalotero@hotmail.com
(*) Psicólogo do Trabalho e das Organizações / Orientação Vocacional
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