Nos tempos que correm, assistimos a uma parada contínua de decisões catastróficas para a segurança, qualidade e sobrevivência de vida dos portugueses. Com efeito, começam a existir bastantes (não todas) semelhanças com os tempos do “Antigamente”.
Há tempos, numa conversa entre amigos sobre as diferenças entre o antes e pós 25 de Abril, debatíamos se sofre mais alguém que já viveu em democracia económica e observa com angústia, ao longo da sua vida, a descida para a ditadura económica ou alguém que sempre viveu em ditadura económica e a quem nunca deixaram culturalmente pensar sobre o direito que tinha de viver de outra forma.
O que é certo é que, a nível governamental, decisões inimagináveis há alguns anos são tomadas com uma ligeireza gritante. No geral, a reacção das pessoas tem vagueado pela apatia, resignação, revolta, desvio de atenções para outros temas paralelos para se distrair, culpabilização dos funcionários públicos ou a toda a classe política (metendo tudo no mesmo saco), ou até mesmo desdém por qualquer manifestação devido ao receio de a nossa imagem para o exterior passe de “alunos bem comportados” a refilões e mandriões do sul da Europa para com quem é atitude ponderada exigir juros altos quando se empresta dinheiro…
Infelizmente estes últimos preconceitos injustos estão a enraizar-se na nossa sociedade, é fácil nota-lo nas conversas do dia-a-dia… Na minha opinião, não é coincidência. Há neste fenómeno uma intenção deliberada e o plano tem sido desenhado pelos elementos das elites e dos (seus) representantes… políticos.
Notícias-rumores que passado um tempo de “digestão” passam a notícias-factos-consumado são mediaticamente “encaixadas” pela população à hora dos telejornais. Tudo isto com o auxílio precioso de comentadores vestidos de sábios que “educam” paternalmente e amedrontam a opinião pública com as frases de pai de família: “tinha que ser”, “temos que cortar”, “há que ter rigor”, “a culpa foi dos portugueses”, etc impendido a comunidade de pensar colectivamente sobre onde e como cortar, sobre onde e como investir, sobre de quem é realmente a culpa e sobre em quem podemos confiar para viver numa real democracia social…
Não será nada irreal ou pouco sensato dizer que a maioria da população (classe média e baixa) está a viver uma depressão psicológica colectiva com algumas explosões de agressividade auto-dirigidas ou dirigidas a quem não tem culpa nenhuma!
O resultado desta actual caracterização das nossas gentes sente-se já no nosso dia-a-dia. As pessoas andam tensas, nervosas, “em baixo”, facilmente irritáveis. Estão em ritmo de “bomba relógio”, numa pressão latente que se pode manifestar de forma explosiva com uma mera faísca. Há pessoas com medo sem saberem do quê, de quem ou porquê, o que é extremamente perigoso, pois é desta forma que surgem as atitudes irracionais, defensivas/ofensivas e, assim, se cometem muitos crimes ou actos mal pensados. São os tais comportamentos que a pessoa tem e que depois “diz que nem sabe o que lhe passou pela cabeça” naqueles momentos.
Esta crise (e a forma como esta não está a ser resolvida de forma transparente e justa) está a impor o medo às pessoas da classe baixa e média! Medo de serem apontados como malandros e culpados da crise, medo de que se lembrem de lhes cortar ainda mais, medo de um crime que não cometeram, mas que começam a “pôr na cabeça” e a pensar que cometeram não o tendo de facto feito!
No que respeita à forma como nos estão a tentar “vender a crise, parece-me que é quase como se um criminoso estivesse a convencer outra pessoa inocente a assumir a culpa pelo acto cometido pelo primeiro, utilizando a estratégia mais certeira: fazer a própria pessoa inocente começar a achar que foi mesmo ela própria que cometeu! Existirá crime mais perfeito? Já dizia Hitler que quanto maior for a mentira, mais gente acreditará nela… E foi precisamente num momento de instabilidade social e de medo provocados, em grande parte, pelo seu grupo que o ditador alemão subiu ao poder…
Por outro lado (ou talvez não), cada vez mais assistimos a atitudes reaccionárias, demagogas, populistas por ignorância ou por intenção manipuladora, de espionagem, controlo invasivo da privacidade e da liberdade pessoal. Em termos psicológicos, é fácil e alarmante perceber que o simples cidadão comum está a ficar extremamente ansioso, irrequieto, angustiado e… dominado.
O exemplo vem de cima para baixo, desde o topo das instituições internacionais, passando pela União Europeia, Governo português, administradores, dirigentes intermédios, gestores de empresas até chegar a donos de pequenos estabelecimentos, colegas de trabalho, amigos, família…
Está a tornar-se cada vez mais frequente verificar diariamente a forma como pessoas que têm grandes, médias ou pequenas posições de poder ou de chefia abusam de modo arrogante desse estatuto, rebaixando subordinados ou clientes, por um prazer de autoritarismo disfarçado de rigor. E quando alguém fala em diálogo efectivo, democracia ou respeito pela liberdade pessoal, a resposta é dada infantilizando, ridicularizando, agredindo, marcando para depois vingar…
A democracia, nas suas instâncias e processos formais, já há muito em crise. No entanto, também no nosso dia-a-dia pessoal e/ou laboral de liberdade de debate e troca de ideias, de igual para igual, como refere a Constituição, está a ser abertamente atacada.
vascoespinhalotero@hotmail.com
(*) Psicólogo das Organizações / Gestão de Recursos Humanos / Desporto / Orientação Vocacional
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