segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

CORAGEM OU CRUEL SUBSERVIÊNCIA?


Nos actuais debates diários na nossa sociedade, temos vindo a verificar que frequentemente surgem algumas pessoas defender as decisões drásticas tomadas pelo Governo na Saúde, Educação e outros sectores estratégicos, apelidando-as de corajosas…

Será que anunciar medidas que sacrificam a classe baixa e média em detrimento da cada vez mais confortável classe alta é ter coragem? Não será antes subserviência no tipo de acordos celebrados, desde há muitos anos, com a União Europeia e o sistema bancário dominante? Não será até uma fria crueldade por não ter noção do impacto na classe média e baixa que é a base da economia interna do país? De facto, se a demagogia fosse arte, associar coragem a estas medidas seria com certeza uma obra-prima.

Respiremos fundo por momentos e apelemos ao nosso senso comum. É que talvez aqueles que apelidam as sucessivas medidas de austeridade de corajosas o façam por, no fundo, estarem preocupados. Mas preocupados com quê? Por julgarem que porventura poderão estar errados? Por temerem pelo futuro do nosso país? Por recearem pelo prejuízo incalculável na vida das famílias portuguesas?

Temo que não… Infelizmente não julgo existir neste particular qualquer exame de consciência pré, durante ou pós decisão. Parece-me sim existir apenas um certo medo de que a revolta social gerada se vire contra os próprios decisores políticos que nos governam desde o final da década de 70. Ora, este medo acaba por gerar preocupação em quem manda meramente sobre FORMA como se transmitem as decisões tomadas, não sobre o seu conteúdo…

Por exemplo, o próprio Presidente da República tem vindo a dizer que “é preciso evitar que a sociedade SINTA que a distribuição dos sacrifícios é injusta”. Quando o diz critica o conteúdo das medidas ou meramente a forma como são comunicadas?

Tendo em conta que também Cavaco Silva já apelidou as medidas de “corajosas, embora não transpareçam um equilíbrio”, exactamente com a mesma argumentação que outras figuras usaram de modo a defender o conteúdo das decisões, poderemos então, no raciocínio que temos vindo a seguir, considerar que o Presidente de todos os portugueses apenas discorda da forma?... No fundo, estará insatisfeito por não se estar a iludir / disfarçar / enganar o povo de forma tão competente como nos habituaram ao logo de todos estes anos?

Fica a sensação de que o desafio, assumido por todos aqueles que assim pensam, é como melhor convencer a população portuguesa de que uma coisa horrível é necessária, inevitável, até merecida (assim afirma Angela Merkel com imediata concordância de quem nos governa…) e mesmo positiva para a vida da população. Não nos querem ou sabem explicar os cortes, querem sim enganar-nos com os cortes. A prova disso é que quando se pedem esclarecimentos sobre o porquê, para quê e até quando as respostas são… zero.

Sejamos claros e foquemo-nos no importante: um corte num serviço que faz falta à comunidade é um acto de corajosa boa gestão? Um corte em coisas que nada tem a ver com o aumento de produtividade invocando isso mesmo como justificação é um acto de corajosa boa gestão?...

Por que não se verifica como se geriu, quem geriu e quem beneficiou com essa gestão ruinosa, responsabilizando criminalmente e procurando melhorar, rentabilizar e solidificar serviços para a nossa sociedade sem perder direitos fundamentais para a nossa qualidade de vida / sobrevivência? Talvez por que, em primeira instância, encontraríamos precisamente todos os responsáveis nacionais e internacionais pela crise e que nos ordenam os cortes…

vascoespinhalotero@hotmail.com

(*) Psicólogo das Organizações / Gestão de Recursos Humanos / Desporto / Orientação Vocacional

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