Neste momento, em Portugal
(embora não só) pessoas de várias idades e com ou sem família para cuidar têm
de escolher entre ficar no nosso país e sair para o estrangeiro à procura de
rendimentos para sustentar a sua vida. Uns vão por ambição de mais e de melhor,
outros por mera sobrevivência, outros ainda por razões de saturação
relativamente a mesquinhez de mentalidades…
Nestes momentos na vida de
uma pessoa, tem-se mesmo de parar para pensar, analisar o presente e tentar
prever cenários de futuro para tomar a melhor decisão ou, pelo menos, a
possível, no que respeita às condições laborais. Por mais que deixemos andar a
ver no que isto dá, com a conjuntura que atravessamos, a verdadeira questão,
mais tarde ou mais cedo, tem que ser encarada de frente, assim como o fizeram
no passado outras gerações : ir ou ficar?
Ficando
cá,
há que manter ou arranjar trabalho /emprego, num contexto de escassas
oportunidades nos serviços e nas áreas de produção antigas e atuais. A
(deixarmos) continuar este modelo de exploração definido nas altas esferas
político-económicas, teremos que nos habituar a viver com salários
progressivamente mais baixos, na lógica de “é assim e mais nada” em que “ou
estás desempregado ou ganhas qualquer coisinha e já vais com sorte, pois senão
há mais quem queira”.
Neste contexto, sindicatos
ou a associações de luta por direitos civis e laborais, com todas as suas
características organizativas e formas de luta mais ou menos eficazes,
continuarão a ser a única ameaça a este sistema de medo (por isso são os
maiores alvos de um maldizer mediático e cultural, carimbado por comentadores
televisivos do regime…).
No fundo, estas organizações,
com todas as suas virtudes e defeitos, ainda procuram, de forma genuína, que as
pessoas se unam para terem força para reivindicar condições mínimas/dignas de
trabalho e de vida e, por isso, são direta ou indiretamente atacadas… Ora
precisamente, pertencer, apoiar ou sequer simpatizar com estes grupos poderá
começar a ser (ou sempre terá sido?) assumido, abertamente ou não, por patrões
como motivo de escolha para pôr gente de lado ou na rua e chamar outros mais
caladinhos…
Com as medidas,
propositadamente destrutivas, ordenadas pela troika e pelo Governo, o mercado
interno português ao nível dos clientes usuais está a deixar de ser atrativo
mesmo para os reis dos hiper-mercados, sendo que também e principalmente as pequenas
e médias empresas do nosso país parecem ter que se resignar a uma sobrevivência
sem horizontes com as infra-estruturas a ganharem pó. Para estes últimos a fuga
aos impostos está a tornar-se “mais justificada” ou eventual e infelizmente
mais necessária, mas já não tanto pelos motivos das últimas décadas: mais lucro
para a expansão de luxos não declarados.
Parece uma triste sina para
a vida futura em Portugal a previsão de que que tanto as pessoas com baixas
como altas qualificações serão mão-de-obra barata para empresas exportadoras
nacionais e, acima de tudo, estrangeiras.
Sim, tal como que sucedia na
América Latina há alguns anos atrás (até os seus povos terem dito basta às
medidas de cobrança de dívida pelo FMI, como nos fazem agora…) e sucede, hoje
em dia, com a China, Indonésia, Rússia, Mongólia, entre muitos outros grandes
multinacionais chegam para se instalar como santos milagreiros do progresso ou
recuperação económica e geradores de emprego…
Feitas bem as contas, estas
corporações saltam de país em país à procura de onde se pague pouco ou nada de
IRC e outros impostos ao Estado, contrapartidas cada vez mais miseráveis para os
seus trabalhadores por 10 ou mais horas de trabalho diárias, sem direito a fins
de semana, a distâncias enormes de casa, ganhando meia dúzia de euros ou então
meras senhas de alimentação…
Um novo tipo de escravatura
começa a ser mais claramente assim percecionado por toda a gente, deixando de
ser suposta teoria da conspiração esquerdista para passar a facto consumado,
quiçá já resignado. As “corajosas” privatizações das nossas grandes empresas (que
geram monopólios e não concorrência) e a vinda das empresas multinacionais,
geradoras de emprego que devemos agarrar com “unhas e dentes” e receber de
braços abertos, continuará a ser o tipo de investimento que os sucessivos
Governos nos têm vindo a impingir como solução final e única para a saída da
crise. Tudo isto celebrado como sucessos vitais para a tal salvação nacional...
De qualquer forma, para a
nossa vida diária de cidadãos comuns, o desafio coloca-se em como gerir a nossa
vida com menos dinheiro. A nossa criatividade para planear e desenrascar vai
ser espremida ao máximo, assim como o risco de que o desespero leve à fuga para
a criminalidade…
Claro que em contexto de
crise também surgem outras oportunidades de trabalho/negócio/lucro. Obviamente
mais para a classe alta que tem poder de compra de produtos/serviços que agora
estão a preço de saldo (veja-se, por exemplo, a queda brutal dos preços da compra/venda de habitação…).
Porém, a generalidade da nossa classe alta tem um baixo nível cultural e uma falta
de visão global de qualidade de vida numa comunidade, que não apenas no “bunker”
de Tio Patinhas em que quer viver, com as naturais consequências no tipo de
investimentos que fazem e no capital que deixam parado.
De qualquer forma, é um
facto que a crise económica e de confiança no investimento leva, por um lado, à
destruição de várias áreas e, por outro lado, à abertura de espaço para a
ascensão de outras. Quem “tiver olho” poderá descortinar oportunidades de
negócio e de emprego para a classe média e baixa (embora bem menos e no fundo
só para alguns destes).
No entanto o dinheiro que a
este nível circula é bem menor e talvez a troca direta de serviços seja uma
solução inevitável para fugir às armadilhas da ligação entre dinheiro e
qualidade de vida e… felicidade?
vascoespinhalotero@hotmail.com
(*) Psicólogo das Organizações / Gestão de Recursos
Humanos / Desporto / Orientação Vocacional
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