Indo
para fora, há que optar por levar a família ou deixá-la no nosso
país (seja a pensar em mais tarde se reunirem no novo destino ou no regresso a
Portugal quando as coisas acalmarem).
Encontrar trabalho/emprego
por conta de outrem parece ser a inevitável solução inicial numa aventura deste
género por alguém de classe média e baixa (pois classe alta pode transferir ou
investir numa área de negócio por sua conta) por intermédio de pessoas
conhecidas ou pela internet.
Acresce ainda, dentro das
ofertas de trabalho encontradas, a escolha do país de destino parece dividir-se
entre duas grandes alternativas: ir para onde se possa ganhar dinheiro ou até
muito dinheiro para trazer e gastar lá pouco ou mesmo apenas sobreviver (“estar
lá sem lá estar mesmo”) ou então ir para onde a qualidade de vida também seja
importante (“estar lá para viver bem”). Qualquer uma das alternativas pode ser
ponderada em função ou independentemente de o plano ser ficar lá apenas por
algum tempo, muito tempo ou o tempo que for preciso.
A integração e acolhimento
no país de destino é também um ponto a ponderar com atenção e antecipação.
Ocupar postos de trabalho que ninguém quer (como sucedeu com muitas vagas
emigratórias portuguesas no passado) parece uma oportunidade mais tranquila
logo à chegada, geralmente exigindo qualificações mais simples, embora
normalmente seja mais duro para a saúde e menos rentável economicamente.
Aparentemente não trará rivalidade ou inveja profissional, embora possa levar a
uma vida de “pão e água” e isolamento em termos culturais, o que poderá dar
origem a fenómenos de segregação e discriminação por parte da população de
origem, sendo a nossa gente vista como cidadãos de segunda.
Ocupar postos de trabalho
que cidadãos do país de destino também desejam é um fenómeno novo para a
emigração em massa de população portuguesa, mas mais provável dadas as elevadas
qualificações dos nossos ex-estudantes de ensino profissional e ensino
superior. Com estes currículos e tendo em conta que as empresas (seja em
Portugal seja no estrangeiro), podem querer pagar menos pelo mesmo serviço,
poderá suceder que numa situação de emergência pessoal ou familiar o nosso
emigrante aceite (ou sugira até) fazer trabalho que exija elevadas qualificações
a um preço mais baixo do que o cobrado pelos cidadãos que já lá vivem.
Mesmo que o pagamento seja
igual, existirá inevitavelmente rivalidade profissional com os técnicos dessas
áreas que habitam na nação que acolhe. As reações podem ser várias. O recém-chegado
pode predispor-se para fazer tudo e a que horas o que for preciso tornando-se
um (auto)explorado para obter dividendos para comparações com os técnicos da
mesma área que já lá estavam. Podem contudo querer ser tratado de forma igual,
conseguindo-o ou não.
Se existir emprego e bom
salário para a maioria, em princípio, tudo bem, se deixar de ser assim,
problemas poderão surgir que podem levar a uma maior integração e união a nível
de sindicatos e movimentos civis que juntem os novos e os que já lá estão na
construção e reivindicação de equilíbrios sociais e laborais entre
trabalhadores e patrões. Porém, outras consequências poderão ocorrer a nível de
segregação e discriminação por parte da população de origem, podendo também (ou
não) a nossa gente ser vista como cidadãos de segunda.
vascoespinhalotero@hotmail.com
(*) Psicólogo das Organizações / Gestão de Recursos
Humanos / Desporto / Orientação Vocacional
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