Hoje em dia, num clima de
incerteza quanto ao futuro social, económico e cultural em que vivem várias organizações
públicas e privadas, a tensão e ansiedade acumuladas são grandes, bem como a
vontade de encontrar algo a que nos possamos agarrar para tornar útil e focada
a revolta que se sente de forma generalizada.
Neste ambiente
incandescente, muita gente distribui juízos e sentenças sobre direitos básicos
do comum cidadão como se fosse aí que estivesse a razão dos buracos financeiros
que a grande corrupção portuguesa e estrangeira criou. Muitas pessoas parecem
reafirmar o seu desejo de candidatura ao posto de capataz que urge, segundo a
sua postura, criar para pôr todos os mandriões na linha. Esta melodia arranhada
só é, ocasionalmente, engasgada quando algum atrevido questiona mais a fundo
sobre o seu efetivo conhecimento acerca da realidade técnica, humana e de
liderança associada às funções desempenhadas pelos visados…
Após um sonoro “chega para
lá” disfarçado de feitio, o timbre regressa mais robusto, apresentando como às
de trunfo o seu exercício voluntário de vigilância das práticas laborais para
com aqueles que andam ali, que não fazem nada e que deviam era ficar lá até à
noitinha.
Prossigamos nesta
perspetiva. Frequentemente quem (auto)louva e cobra o sacrifício de longas
horas de trabalho e quem “convida” os outros a terem semelhante postura só assume
para consigo mesmo que o real aproveitamento das longas horas de trabalho é, de
facto, muito relativo…
É precisamente esta gestão
eficaz e eficiente do tempo de trabalho que pretendo, sem demagogias, com o
leitor conversar. Ora, mesmo tendo em conta a variedade de profissões, tarefas,
responsabilidades, prazos e objetivos, afirmar-se que se está sempre a
trabalhar é a provavelmente maior ilusão do mundo laboral em qualquer parte do
planeta.
É certo que haverá quem diga que há abusos e
terá, em parte, razão, mas serão sempre casos pelos quais a restante maioria
não pode pagar, sendo injusto colar-lhe um rótulo. Não raras vezes quem aponta
o dedo é precisamente quem mais longas pausas faz (basta chamar-lhe outro nome,
quiçá… parte do trabalho).
Há que ser honesto e
realista, é inevitável ter que se fazer pausas no trabalho para gerir o
cansaço. Vejamos. Nas escolas, as crianças e adolescentes têm aulas
com duração limitada de 50 ou 90 minutos, devido à necessária gestão do “picos”
de esforço, concentração e saturação. Obviamente que também os seres humanos
mais velhos precisam de parar de vez em quando, pois não somos máquinas que
trabalhem com afinação total ao longos de horas a fio.
São necessidades efetivas quer em termos de
saúde (o que por si já é mais do que suficiente), quer precisamente em termos
de efetiva produtividade. A respeito desta última, sejamos claros, esta será
mais alta se o produto resultante for melhor e não necessariamente se se
estiver mais tempo por ali. É, de facto, preciso “respirar” um pouco, ficar
mais aliviado, poder regressar mais tranquilo ao trabalho e fazer mais e melhor
na sua organização, para render!
Se é necessário pedir
desculpa por este “crime”, então rigorosamente todos teremos de o fazer, pois qualquer
pessoa o faz, quer o admita quer não. Quem disser que consegue estar sempre
ultra concentrado, não está a ser sincero… Ou encaramos isto com
naturalidade ou nos iludimos na suposta proibição, acabando por incentivar
apenas um melhor ou pior faz de conta…
Por outro lado, parece que
só certos conteúdos são aceites socialmente para se ter permissão para uma
pausa, tais como… fumar! Então e quem não fuma? Fará
sentido estar a averiguar o que se vai fazer no tempo legítimo de pausa para permitir
ou não que esta seja concedida? Será que uma pessoa não tem direito à pausa e o
que faz nesse tempo ser assunto seu? Senão qualquer dia toda a gente fuma ou
finge que fuma…
Julgo que o que se
faz com esse tempo de pausa diz respeito à liberdade pessoal de cada um, seja
conversar, comer ou beber qualquer coisa, brincar com os colegas, cumprimentar amigos
ou simplesmente não fazer nada nesse curto período. Qual é o mal?
Indo mais longe, a efetiva necessidade de uma “permissão”
superiora é, na minha opinião, muito questionável, o que não quer dizer que a
pausa não possa ser comunicada e exercida em momentos que não ponham em causa o
serviço.
Portugal é um dos países da União Europeia em mais horas se trabalha por
dia (ou está mais tempo no local de trabalho), mas com níveis de produtividade
por hora mais humildes. Por outro lado, os portugueses que têm de sair do seu país
são reconhecidos no estrangeiro pelas suas competências, criatividade e ânimo
no trabalho.
vascoespinhalotero@hotmail.com
(*) Psicólogo das Organizações /
Gestão de Recursos Humanos / Desporto / Orientação Vocacional
Leia todos os artigos na Internet em: www.dosonhoaoprojecto.blogspot.com