quinta-feira, 19 de julho de 2007

Inovação: não começar a casa pelo telhado, nem copiar a casa do vizinho

Numa altura em que o conceito de inovação parece estar na moda no nosso país, (ou pelo menos apela-se para que esteja) revela-se pertinente pensar um pouco sobre como “nasce” a atitude de inovar. Há quem considere que inovar, no sentido de arriscar, inventar ou criar seja uma característica inata, que a “mãe natureza” a uns dá e a outros não, por mais que a procurem. Outros, porém, defendem que esta característica geral se pode aprender, cultivar, reforçar e aqui se aponta a educação e cultura, na sua abrangência, como ponto essencial para enraizar a estratégia de que o risco da inovação compensa.

Não é por acaso que países como Noruega, Suécia, Finlândia ou Dinamarca têm, nos últimos anos, desenvolvido as melhores ideias em termos de mercado. Vejamos as suas abordagens e práticas concretas ao nível da educação e cultura, que não são vistas como despesas (tão fáceis de cortar num orçamento de Estado de “vistas curtas”), mas sim como investimentos que têm, de facto, retorno para a sociedade!

Com um leve tom de profecia, bastar estarmos atentos às ideias que irão surgir nas empresas dos países de leste europeu nos próximos anos e o salto de desenvolvimento que terão... Nestes casos, uma Educação forte (gratuita, pública, com qualidade e igualdade de oportunidades) traz uma Inovação forte (com aplicações quer no público, quer no privado), não começando a casa pelo telhado…

Assim, parece haver uma maior probabilidade de “criarmos” pessoas inovadoras, porém existirão sempre umas pessoas mais inovadoras do que outras e os portugueses até têm alguns bons exemplos de inventores! Infelizmente, na sua maioria, os nossos inovadores são desvalorizados ou ridicularizados, sendo que este sim parece ser o nosso fado ao longo dos tempos...
Sejamos francos, na sociedade portuguesa do passado e ainda presente, tão bem descrita por Eça de Queiroz, muito mais facilmente é implementada uma ideia copiada do estrangeiro do que uma ideia germinada pela “prata da casa”!... Os nossos anos de atraso devem-se exactamente a isto: estamos à espera das ideias vindas de fora, quando até já as tivemos cá dentro!

O desafio dos nossos dias é precisamente esse: a busca de ideias! Quanto mais espaço dermos para essa busca, maior será a nossa vantagem competitiva, a qualidade dos nossos serviços, a recuperação da nossa economia e da auto-estima nacional. Só assim poderemos estar um passo à frente na inovação do dia-a-dia e, consequentemente, no mercado global, pois a inovação não se pode aplicar apenas às grandes empresas, também as pequenas e médias, quer públicas, quer privadas.

vascoespinhalotero@hotmail.com
(*) Psicólogo do Trabalho e das Organizações / Orientação Vocacional

sábado, 7 de julho de 2007

O NEGÓCIO DAS URGÊNCIAS (PRIVADAS)
A questão do encerramento de diversos serviços de urgências em Portugal, supostamente devido ao número insuficiente de utilizadores nalguns pontos, continua na ordem do dia. A argumentação usada tem tanto de incrível como de teimosa, dado ter sido repetidamente utilizada pelo ministro da Saúde até se tornar banal e aceite como natural, óbvia e mesmo necessária pela maioria da população. Passando, na opinião pública, a discutir-se não este argumento sem lógica alguma, mas sim meramente quem é que vai fechar e quem é que se safa.

Trata-se de uma armadilha demagógica cozinhada na frieza das estatísticas que com jeito provam o que se quiser. Como é possível metermos no mesmo saco um utente de uma urgência (esporádico) e um cliente assíduo de um centro comercial? Ir ao centro comercial às compras pode ser um hábito regular Já ir às urgências é uma necessidade, uma excepção nos hábitos regulares das pessoas. Importa, sem dúvida, se a urgência está a 20 km ou a 50 km; se a urgência está aberta 5, 12 ou 24 horas por dia; se tem técnicos que possam prestar os primeiros cuidados, de forma a, pelo menos, estabilizar uma situação de saúde!

É certo que há pessoas que podem ir às urgências por motivos que não o justifiquem, mas, por essas excepções, pagaram todos os outros? Acrescentemos que, se a questão for apenas esta, há que apostar na informação, prevenção e sensibilização para estas situações (que não têm contado com os apoios suficientes, sobrevivendo apenas da boa consciência dos técnicos envolvidos). De forma a que, paradoxalmente ou não, haja menos situações nas urgências, mas que estas não deixem de lá estar, porque, mais dia menos dia ou mais noite menos noite, alguém vai precisar de lá ir!

Importa também, sem dúvida, se o apoio é gratuito ou se vamos pagar 5, 15 ou 50 euros! Parece que, contrariando a Constituição Portuguesa, que nos diz que o direito à saúde deve ser tendencialmente gratuito, as taxas moderadoras e outras criações económicas estão na forja para o serviço nacional de saúde. Se este cenário já é mau, outro pior se avizinha: para substituir as urgências públicas que se fecharem por suposta falta de utentes, surgirão urgências privadas, com os custos certamente no “menu”…

Com este precedente encara-se o custo de um apoio de urgência na área da saúde com o mesmo “olho para o negócio” que o custo de um produto do centro comercial: que poderá subir ou baixar ao sabor do mercado e da (não) concorrência. Sejamos pragmáticos, relativamente aos custos da saúde, no privado a constituição transforma-se apenas em “caixa registadora” e deixa de haver discussão sobre taxas moderadoras, porque quem pode paga, quem não pode…

A luta pela melhoria das urgências e dos seus serviços deveria ser o foco da discussão e não a sua manutenção, mas o “carimbo” da crise serve para cortar em tudo, excepto para buscar os rendimentos fiscais que resolveriam de forma massiva a situação no Estado... É claro que há problemas, acima de tudo, de má gestão, pois é sabido que há serviços que funcionam mal e que gerem mal os recursos disponíveis. Mas a solução é acabar com os serviços ou procurar melhorá-los? Afinal de contas, pretende-se julgar somente ou ajudar a evoluir? Se a intenção é apenas a primeira, a quem interessam os veredictos desse julgamento redutor?

Parece cada vez mais claro que, actualmente, a política do Estado não é melhorar os serviços, é simplesmente denegrir a sua imagem (muitas vezes alimentando preconceitos sobre os serviços públicos que são generalizados sem factos) para cortar em recursos muitas vezes essenciais às populações. Depois coloca-se em causa a qualidade do serviço e apontar-se como solução mágica a sua transferência para o sector privado! Uma receita já conhecida…

Devo referir que não vejo o privado como diabo, nem o publico como santo. Há obviamente pontos fortes, pontos fracos e potenciais sugestões de melhoria para todos os sectores. Julgo, porém, que existem áreas que deveriam ser o pilar seguro de uma sociedade como: Educação, Saúde, Luz, Água, Cultura, Apoio Social, entre outras que deverão estar sempre no domínio público. Outras áreas menos vitais poderão ficar para a concorrência (assegurando que esta acontece de facto, evitando os monopólios) dos privados. Assim, funcionam os países com maior qualidade de vida do mundo: Suécia, Noruega e a tão falada Finlândia!...
(*) Psicólogo do Trabalho e das Organizações / Orientação Vocacional