domingo, 7 de outubro de 2007

DESEQUILÍBRIOS ECONÓMICOS E CULTURAIS: CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS

Queria partilhar convosco uma análise referente a um país que conheci um pouco: o Brasil. Neste país-continente, genericamente falando, cerca de 20% da população é rica e 80% pobre. Poderíamos, nesta conjuntura, pensar que, no interesse das suas empresas privadas, os preços seriam equilibrados, de modo a possibilitar que o maior número possível de pessoas pudesse aceder aos seus produtos ou serviços: mais clientes, talvez mais lucros… Nesta lógica, as empresas teriam de lutar entre si para oferecer os melhores preços (baixos), levando à letra o conceito de concorrência no mercado.

Porém isto não acontece. Porquê? Bem, parece que ter muitos clientes requer ter mais recursos e, consequentemente, mais despesas. Surpreendentemente ou não, as grandes empresas instaladas no Brasil preferem colocar preços altos apenas acessíveis aos 20% ricos! As empresas perceberam que têm mais lucros se tiverem menos clientes, desde que estes sejam ricos (e daí os preços altos), em detrimento da opção por muitos clientes, mas pobres.
Este fenómeno também só é possível com a permissão de monopólios, concentração de poderes e acordos de lucros base entre grandes empresas (decididos nos bastidores da corrupção) que constituem uma palavra proibida no capitalismo teórico: cartel.

Uma conclusão que se pode retirar é que na lei (da selva) do mercado (seja este regional, nacional ou global) chega-se sempre ao ponto em que deixa de haver concorrência e acaba por compensar ter poucos clientes (desde que ricos) mesmo que o resto da população não possa pagar esses serviços.
A isto chama-se ditadura de mercado. Ora, enquanto esta se reportar apenas a produtos ou serviços de utilidade relativa (como telemóveis, leitores de DVD, artigos de decoração ou outros utensílios) menos mal…

Agora, quando este fenómeno afecta, de forma grave e potencialmente irreversível, sectores vitais para a sobrevivência humana como Educação, Saúde, Electricidade, Água, Cultura, Apoio Social, etc… É que depois para voltar atrás é preciso contrariar leis, lutar nos eternos tribunais, mobilizar e esclarecer a opinião pública, não bastando já as manifestações de rua…

Ora, com as devidas distâncias (embora cada vez mais curtas), parece que estamos, já no nosso cantinho lusitano, infelizmente, a caminhar nesse sentido. Torna-se até possível prever, neste ponto, duas futuras consequências para o nosso país: aumento de emigração (que, comparativamente com a que ocorreu há umas décadas atrás, será altamente qualificada) e aumento do revolta social, insegurança e criminalidade (resultantes da mistura de ingredientes explosivos tais como: falta de princípios éticos e de justiça, vindos de cima, e luta pela sobrevivência).

Enfim, uma bomba relógio, que não é só nacional, tem uma abrangência global (veja-se as semelhanças de causa-efeito entre os motins ocorridos em França, o dia-a-dia dos gangs nos Estados Unidos ou a actual guerra civil no Iraque). É, no entanto, para nós um futuro cada vez menos distante.
Mas por que poderá tudo isto suceder? Resposta complicada, mas podemos apontar algumas causas óbvias: os desequilíbrios escandalosos na distribuição de riqueza económica e os “muros” dos preconceitos inter-culturais criados.

E o que fazer? No que diz respeito ao factor económico um trabalho enorme e corajoso está por realizar (será mesmo possível com os actuais líderes internacionais?). Quanto à segunda causa as coisas podem ser, em certas condições, surpreendentemente mais simples, embora também muito exigentes, sobretudo na abertura mental. E neste ponto será mais cego o que não vê ou o que não quer ver? Talvez o que não quer ver, porque não lhe interessa ver…

Uma aparente dificuldade, mas que poucos vêm como oportunidade, consiste no aproveitamento das, actualmente, inevitáveis vagas de e/imigração. Aqui poderá apostar-se na integração e compreensão cultural mútua através da troca de conhecimentos, tradições e valores.
Sejamos claros, não cabe aos países que acolhem apenas dar trabalho, nem a quem chega a esses países somente procurar trabalho. É fundamental e não acessório que haja mais do que isso! Passando da teoria à prática local, verificamos que na Região Centro, com Cantanhede incluída, há já bons exemplos de avanços inovadores e corajosos nestas áreas!

vascoespinhalotero@hotmail.com
(*) Psicólogo do Trabalho e das Organizações / Orientação Vocacional
Leia todos os artigos na Internet em: www.dosonhoaoprojecto.blogspot.com

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