sexta-feira, 8 de maio de 2009

CONSEQUÊNCIAS DE LONGO PRAZO DO “NIM” (2ª parte)

Nos tempos que correm em que supostamente os cidadãos deverão andar a reflectir sobre as questões europeias, tem sido comum reduzir-se tudo a uma de duas posições: ou se é a favor ou contra a União Europeia. Ora, pondo as coisas apenas dessa forma, se alguém disser que é contra, será imediatamente acusado de ser mal agradecido pelos generosos fundos europeus que nos têm “safado” (embora se vá depois dizendo, com voz mais baixinha, que muitos se têm perdido, devolvido ou sido mal aplicados, mas até fica aquela sensação de que falamos de ninharias…).

E pronto o debate fica por aqui, aliás sempre ficou por aqui, desde a entrada portuguesa neste grande grupo. Então mas se é só mesmo isto, para quê eleições europeias, deputados europeus, políticas europeias e todas essas supostas perdas de tempo?

Na minha opinião, a discussão deverá sim ser que tipo de Europa queremos e quais as condições e papéis de cada membro, incluindo o nosso. Perguntemos ao comum cidadão a sua opinião, depois de se puxar o assunto toda a gente tem uma com “pés e cabeça”, mas é preciso que se lhe pergunte alguma coisa concretamente, se lhe dê ouvidos e já agora real poder de decisão.

Ora, sobre estes e muitos outros assuntos de importância estrutural, dentro da nata dirigente nacional, que dirige o país desde há algumas décadas, com posições-chave sempre de acordo, há alguns que dizem que já toda a gente à partida estava e continua a estar esclarecida e de acordo… Ainda dentro deste grupo, outros dizem que são assuntos de tamanha importância e complexidade que o comum cidadão não poderá compreender e que a decisão deve ser “assumida” politicamente (desconfio que seja o sonho secreto de muitos supostos democratas com apetite pelo Antigamente…).

Há um exemplo que encaixa nas duas opções: falemos de Portugal na União Europeia. Reportando-nos às condições da nossa entrada, passando pela sua evolução e finalizando no seu futuro, a questão que devemos colocar é: alguém nos explicou e perguntou alguma coisa?
Mas atenção, a culpa também é dos próprios cidadãos, nos quais me incluo! Nós, portugueses, habituamo-nos a pensar na Europa apenas pelos fundos económicos e que o melhor é estarmos caladinhos antes que a torneira feche. O debate a sério também não existe, por causa deste mesmo jogo duplo. Enfim, nós habituámo-nos a olhar a produção nacional como fora de moda e embarcamos, mais uma vez na nossa História, no estrangeirismo sem critério (porque com critério é positivo). Sim, a culpa é também de nós próprios!

É certo que debater os tais temas de fundo com visão abrangente, plural e com conclusões corajosas e consensuais para aplicar na prática não é fácil (embora já saibamos ser possível – relembremos o volte face sobre o novo aeroporto).

No entanto, fechar subtilmente a porta a este debate desde início, dizendo o politicamente correcto “nim”, tem consequências de longo prazo que levam ao país em que estamos hoje em que parece impossível chegar a caminhos consensuais.

Mesmo com o “barco a afundar”, nesta elite de “manda-chuvas” ninguém quer tocar nas potenciais soluções para os problemas estruturais, pois não sabe mobilizar a sociedade para o debate, dado nunca lhe ter dado ouvidos, sendo que, com as eleições aí à porta, o melhor é isto andar calminho…

Não o fazem por que não sabem e também por que não querem! E porquê? Pois há investimentos de “grupos ou empresas amigas” a proteger (atente-se à nova lei de financiamento dos partidos e aos “financiamentos” que permite…) e há que garantir também os votos dos mais conservadores, menos esclarecidos ou de mais difícil esclarecimento…

E quais as consequências de longo prazos destes “nins” ao debate com a sociedade? Fica tudo na mesma ou pior ainda…

vascoespinhalotero@hotmail.com
(*) Psicólogo do Trabalho e das Organizações / Orientação Vocacional
Leia todos os artigos na Internet em: www.dosonhoaoprojecto.blogspot.com

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