A falta de debate interno em Portugal sobre temas estruturais (culpa da camada dirigente e dos próprios cidadãos que não “batem o pé”) vai passando de geração em geração. Nada se esclarece, nada se decide, nada se evolui verdadeiramente. Os que tomam as decisões continuam a ser os mesmos e influenciados pelos mesmos e diz-se que não há alternativas… Uns dizem mesmo Jamais!
Como é possível? Quando os esclarecimentos, discussões abertas e soluções para problemas estruturais sempre estiveram disponíveis no nosso país! E nem todas vêm sequer de partidos políticos, há também movimentos de cidadãos e associações com propostas credíveis! Não é preciso ter um cartão partidário para se ter ideias sustentadas.
Basta ver o programa de televisão “Prós e Contras”! Porém, essas propostas alternativas foram e são olhadas por quem manipula o poder com desconfiança, preconceito, rótulo, gozo e tom de ridículo…
Ora, isto não é novidade nenhuma, qualquer cidadão comum comenta entre-dentes este ciclo vicioso em que nos metemos, mas a reacção que se tem até ao momento é o encolher os ombros, dizer que se calhar tem de ser assim ou que até podia ser pior… E por aqui vamos ficando.
Mas quando a cabeça não tem juízo o corpo é que paga e há cada vez mais reacções violentas e, para os mais distraídos, sem causa aparente. Em jeito de retrato psicológico, parece que vamos guardando as frustrações cada vez mais para dentro, até explodir com um mínimo arranhão e assim se cometem muitas asneiras trágicas que se poderiam evitar, principalmente nos chamados bairros sociais…
É que cada vez mais os portugueses não têm tempo nem paciência para más e dispendiosas decisões ou não-decisões, recusas em ouvir outras opiniões e soluções, aparências, “novo riquismo”, “chico espertismo”, fecho de olhos legais, compadrios à descarada, etc. Está tudo farto disto! E continua-se a dizer “nim” aos tais assuntos sociais, económicos e culturais “complicados”…
É como se estivesse um cruzeiro a afundar e a tripulação estivesse cobrar dinheiro aos passageiros para melhorar a pintura dos candeeiros da sala de chá, não querendo ouvir nada sobre fazer algo para evitar o naufrágio e garantir a sobrevivência de todos!
No caso da União Europeia, esta causa foi, é e será o que for negociado entre os estados. Resta ver quem tem vindo a representar Portugal nestas mesas (se tem ouvido a sociedade verdadeiramente para chegar a posições consensuais) e a quem teremos de pedir contas quando a torneira dos fundos se fechar e ficarmos por nossa conta…
Basta lembrarmo-nos da obsessão com as estatísticas quantitativas relativamente ao pessoal com o 9º e 12º ano de escolaridade e não com a sua real qualidade e exigência, das opções tomadas quanto aos fundos europeus e os seus desvios, dos lucros da política do betão e do estado anti-educação, dos benefícios fiscais a grandes grupos e empresas estrangeiras que depois fugiram para países com mão de obra mais barata para explorar, das subidas vertiginosas do custo de vida com o Euro, das privatizações de saldo para grupos portugueses e depois estrangeiros (entre uns e outros…), da crescente degradação das condições laborais (menos direitos e mais horas de trabalho), da constante submissão ao que mandam os países mais fortes, da aposta nos grandes grupos de monopólios em detrimento das pequenas e médias empresas mais próximas dos cidadãos, etc.
Não é por acaso que a maioria dos cidadãos da Turquia não quer a adesão do seu país a este labirinto europeu que estrangula os pequenos e, consequentemente, lhes retira soberania nas suas tomadas de decisão. E sabem que exemplo tem sido dado pelos turcos para não se meterem nesta aventura ou seja neste tipo único de Europa que nos é dado a engolir? Precisamente Portugal!...
vascoespinhalotero@hotmail.com
(*) Psicólogo do Trabalho e das Organizações / Orientação Vocacional
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