quarta-feira, 4 de novembro de 2009

A ESTATÍSTICA NÃO ENGANA (parte 1)

Terminado o período de eleições legislativas, com a vitória não absoluta do Partido Socialista, é chegada a hora de este ouvir as outras forças políticas, restando saber quais as suas preferências em termos de opções de base para as áreas mais importantes do país.

Durante a campanha eleitoral, ao tentar marcar a distância relativamente aos partidos à sua direita e à teoria do possível bloco central com o PSD, os socialistas procuraram com sucesso passar a mensagem de uma esquerda moderada e confiável para governar. Esta foi a sua imagem de marca e terá sido essa a principal razão dos votos dos seus eleitores.

Ora, passada essa fase de definições e promessas, eis que chegam os grandes e cruciais momentos da apresentação de provas desta mesma identidade e postura concreta do agora governo eleito. A opinião pública aguarda para ver como serão então abordadas e defendidas algumas posições relativamente às áreas estratégicas que dominam os destinos do nosso país (educação, saúde, economia, cultura, segurança, finanças, etc). E como poderão os cidadãos verificar a forma concreta como as orientações de esquerda moderada são seguidas?

Uma solução poderá passar simplesmente pelo uso de um pouco de matemática, mais propriamente a estatística! Bastará ver no final do mandato com que forças políticas mais frequentemente se aliou o PS para fazer passar propostas na Assembleia da República: PSD, BE, CDU ou CDS.

Uma hipótese que se pode colocar é se se irá manter o costume que tem existido nas maiorias relativas quer de PS, quer de PSD: a esmagadora maioria das leis aprovadas terem o acordo decisivo destes dois partidos para poderem “passar”. Diz-se que tem sido por uma questão de responsabilidade…

Sempre que um destes partidos do centro está no poder com maioria relativa, quando chega a altura de decidir sobre os tais assuntos-chave há sempre um denominado de “consenso de Estado” ou “pacto de regime” e o acordo entre estes supostos arqui-rivais surge de forma tão “milagrosa” quanto frequente. Afinal de contas, parecem ter em atenção as mesmas prioridades e os (seus) interesses comuns…para o país.

Isto nos governos de maioria relativa… Pois, nos governos de maioria absoluta de um partido ou de coligação, o colega do centro que fica de fora mostra supostamente as suas “garras”… Senão vejamos: é curioso verificar que quando um destes partidos (PS ou PSD) está numa maioria absoluta sozinho ou em coligação recebe uma maior percentagem de votos contra do outro partido do “centrão” que está em princípio fora do poder.

Note-se, por exemplo, que, quando PSD e CDS formaram Governo, o PS votou, muitas vezes, contra propostas da coligação de direita, sabendo, claro, que os seus votos eram “inofensivos”, no sentido em que não evitariam a aprovação das propostas, situação que não sucede quando existe um governo sem maioria absoluta… Já depois quando os socialistas passaram da oposição para o governo, o que aconteceu? Pois é…

Lembremos apenas um exemplo entre muitos outros que poderíamos ter escolhido. O caso da aprovação do novo Código do Trabalho que tinha sido apresentada pela maioria absoluta de PSD / CDS e que recebeu um (aparentemente) indignado voto contra do PS. Porém, mais tarde, com a mudança de governo que se seguiu, esta visão do mundo do trabalho foi (surpreendentemente?) ainda mais reforçada com o aval do PS que agora tinha maioria absoluta!
Outro caso curioso foi o do TGV com o PSD a apresentar o projecto e depois, já na oposição, passar a ser do contra… Agora apenas podemos imaginar o que aconteceria se tivessem ganho as eleições…

vascoespinhalotero@hotmail.com
(*) Psicólogo do Trabalho e das Organizações / Orientação Vocacional
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