Na visão das tais chefias duplas que já vêm dos tempos do antigamente (com os supostos bonzinhos politicamente correctos e os ditadores autoritários), que ainda são maioria, actualmente, o que é preciso é o tal tipo de gente “como deve ser”, que faça o que se diz que é para fazer e mais nada. Enfim, escravos modernos, por feitio, convicção ou por necessidade, que encarnem, consciente ou inconscientemente, esse papel.
Infelizmente, neste contexto de exploração da mão-de-obra barata, facilmente descartável e “caladinha”, estas serão as pessoas que, trabalhando por conta de outrem, mais facilmente manterão os seus empregos em tempo de crise!... Será mesmo esta a maneira de ser das pessoas com que teremos de contar para dar a volta a isto?... Tenho a certeza absoluta que não!
Atenção que não procuro aqui fazer o elogio à recusa em trabalhar ou acatar instruções superiores, muito pelo contrário! Procuro sim defender o direito que qualquer profissional de qualquer idade, área ou formação deve ter sempre: o de pensar! O direito a ouvir e ser ouvido de igual para igual, independentemente de qualquer hierarquia ou cargo, para se poder melhorar seriamente no trabalho e não apenas fazer mais do mesmo, fazendo o mesmo que o patrão manda desde o século XIX…
Não o defendo apenas por uma questão de dignidade do ser humano (o que já seria mais do que suficiente, diga-se), mas também para beneficiar a produtividade de qualquer organização. Especialmente em tempos em que é necessário dar resposta à crise, porém terá que ser a resposta certa…
Diz-se que com as dificuldades da crise podem vir oportunidades para nos desenvolvermos. Mas que salto civilizacional poderá o nosso país dar com o mesmo estilo de lideranças (politicamente correctos “bonzinhos” ou ditadores autoritários) a comandar o barco? Indo um pouco mais longe, se este tipo de chefes e de seguidores não pensadores já antes da crise era protegido, ainda mais o será (com o argumento da própria crise) com a consequente estagnação e recuo aos tempos de ignorância social, cultural e económica!… Em termos de lideranças, mais do mesmo implicará seguramente ainda mais crise!
A consequente escassez económica servirá para reforçar os poderes de quem? Exactamente das tais chefias duplas, sendo que provavelmente a face mais ditatorial irá ser mais facilmente assumida.
Parece um ciclo mesmo muito difícil de quebrar se não virmos, de uma vez por todas, que foram as tais chefias, com o seu duplo estilo de liderança, em Portugal e noutros países do mundo, que originaram a crise económica.
Assim, enquanto não se potenciar as restantes e variadas hipóteses de estilo de liderança esta bola de neve não irá parar…
vascoespinhalotero@hotmail.com
(*) Psicólogo do Trabalho e das Organizações / Orientação Vocacional
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