Nos tempos que correm, é
de conhecimento comum que o Governo e troika estão a procurar implementar o
aumento do tempo de trabalho em vários setores, para já com a colocação no setor
público do tempo de trabalho mínimo em 40 horas semanais que são o máximo legal
previsto para o setor privado. No futuro se verá o que mais…
Muita gente tem vindo a
afirmar que tudo isto poderá servir apenas para prolongar turnos, cortar no
pagamento de horas extraordinárias e justificar cortes de pessoal em setores importantes,
cuja eficiência e eficácia no terreno começam a ser postas em causa pelos
próprios utentes. Há também quem acrescente que mais horas no posto de trabalho
não vão significar um mais eficaz e eficiente serviço / atendimento aos cidadãos / contribuintes, indo contudo prejudicar a vida pessoal dos cidadãos e das suas
famílias que constituem, no fundo, o coração de uma sociedade.
O aumento da produtividade
parece ser o fundamento apresentado pelos autores das medidas, contudo as
consequências mais claramente visíveis apontam para o facto de se ir trabalhar
mais tempo por menos dinheiro (quer no público, quer após ou imediatamente no
privado).
Assim sendo, há que
procurar respostas claras a algumas perguntas de base. Em que medida trabalhar
mais ou menos horas por dia estará relacionado com a produtividade? Mais tempo,
melhor produção? 1 + 1 são 2, portanto o que é preciso é “trabalhar,
trabalhar”? Porém, terá a ver com o quanto se trabalha ou com o como se
trabalha? E para que trabalhamos? Serão tempo de trabalho, produtividade e
qualidade de vida compatíveis? É que não somos máquinas…
Relativamente
à produtividade, no senso comum nacional, são facilmente identificadas, em
conversas informais, certas crenças relacionadas com as possíveis razões para
uma suposta lacuna, detetada nos trabalhadores portugueses. Esbatem-se
argumentos que são precipitadamente tidos como científicos, que contêm
normalmente uma perspetiva de causa – efeito.
Alguma
ligeireza é detetada quando são avançados, quase que subliminarmente, “factos
que parece que toda a gente já sabe ou devia saber” como a suposta “preguiça”,
qual característica genética dos portugueses, que só poderá ser contrariada com
“rédeas curtas”, no que aos direitos fundamentais de trabalho diz respeito.
Sem
pensar muito, encaixa-se facilmente a lógica de que “as pessoas são mandrionas,
por elas não fazem nada, só trabalham quando têm medo, portanto têm é que dar
mais tempo e temos que andar sempre em cima delas”. Há sempre quem diga que já
faz muito mais do que horas normais de trabalho por dia há bastante tempo e “qual
é o mal de trabalhar durante mais um bocado todos os dias?”.
Normalmente
a seguir a esta tomada de posição, a continuação do raciocínio varia entre:
“olha eu nem noto as horas passarem, pois gosto muito do que faço, é como se
fosse um hobbie e ainda por cima
recebo dinheiro por isso” (clara e infelizmente uma minoria – se existir a
efetiva liberdade de escolha), “que remédio, é assim na empresa, senão vamos
para a rua”, “não faz mal nenhum, pois isto tem de andar para a frente”, “se há
trabalho para fazer e prazos a cumprir trabalhamos as horas que for preciso,
podendo ou não ser compensados depois”, etc.
Então, independentemente
da fonte de motivação, trabalhar muito é sinónimo de trabalhar bem?
Faz lembrar a história que
um amigo me contou sobre o lenhador que se fartava de trabalhar, chegava a
serrar madeira 8, 9 ou 10 horas por dia, não tendo tempo para nada nem mesmo
para… afiar a serra (o que lhe permitiria produzir em menos tempo de trabalho).
Indo mais longe, se
considerarmos que a produtividade hoje em dia
está mais fortemente correlacionada com a sofisticação tecnológica e não tanto
ao esforço físico e presencial humano, facilmente, poderemos pensar que se o
lenhador inventasse uma máquina de serrar inovadora…
Ora, em
Portugal as elites parecem querer manter o lenhador a trabalhar 8, 9 ou 10
horas e o resto não interessa… Mais do mesmo, quando, afinal, podia ser melhor.
vascoespinhalotero@hotmail.com
(*) Psicólogo das Organizações /
Gestão de Recursos Humanos / Desporto / Orientação Vocacional
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www.dosonhoaoprojecto.blogspot.com
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