Sejamos honestos e
realistas, a maioria das pessoas prefere trabalhar pouco tempo, mas bem, em vez
de muito tempo, contudo mal. Normalmente as águas separam-se mesmo assim.
A questão aqui a merecer
que paremos um pouco para pensar não é, de facto, se se deve trabalhar mais ou
menos uma horita… É sim o princípio, o precedente, o rumo escolhido como
solução para qualidade de vida de uma sociedade, de toda uma civilização. Se
for regra, seja legal ou ilegalmente (que em muitos casos é o que acontece)
não. Se for uma exceção num imprevisto que sucedeu poderá obviamente ser aceite,
com bom senso, sustentada numa gestão séria e aberta. Isto desde que o azar não
se torne hábito…
Não importa se é uma,
duas, cinco, até poderemos trabalhar dez ou doze horas por dia legal ou ilegalmente
como se faz nalgumas empresas, zonas ou países ou quiçá regressar à escravatura
de 24 horas disponíveis para o patrão e/ou para colegas (infelizmente ainda
existe no nosso mundo e nalguns casos perto de nós por imposição, subserviência
e/ou bajulação). A política do mal menor acaba,
muitas vezes, por ser a política do mal maior que não tem limites…
Porventura, o que importa
será sim a forma como se trabalha durante o tempo laboral, não numa perspetiva
fiscalizadora do que supostamente é trabalhar “como deve ser”, mas sim numa
perspetiva de permanente procura da forma de rentabilizar recursos, atingir
objetivos ambiciosos e fazer diferentes, construindo valor acrescentado.
É óbvio
que toda a gente deve procurar ser eficiente e fazer um trabalho com qualidade
e diligência. Não é de hoje, sempre foi assim. É uma questão de brio, o que não
deverá implicar nem deve ser confundida com a subserviência de ter que “estar
caladinho e fazer o que lhe mandam”.
Chegando a este ponto da
análise, inevitavelmente falaremos do tipo de gestão, de lideranças, da
liberdade / autonomia individual e coletiva para poder fazer bem.
É fundamental e até
bastante simples estimular para a inovação, protegendo da eventualidade do erro
quem está na nossa equipa, pois importa ver o que falhou e não tanto quem
falhou, sabendo-se que os apontares de dedo levam ao jogar pelo seguro de fazer
mais do mesmo, mesmo que errado… De facto, quem não faz não erra e só se evolui
com as lições nunca mais esquecidas, aprendidas precisamente com… grandes
erros.
Vejamos um exemplo quando
as coisas correm bem. Quando, no dia-a-dia de trabalho, o trabalhador persegue
o cumprimento ou superação de objetivos (anteriormente negociados em consenso
com a sua chefia), não abandona situações/casos pendentes com clientes internos
ou externos e apresenta propostas de melhoria / inovações (não apenas para um
caso, mas para aspetos transversais) que julga terem boa probabilidade serem
ouvidas e aprovadas.
Por estes caminhos,
efetivamente responsabiliza-se pela forma como fazemos as coisas e não pelo que
nos mandam fazer…
Indo um
pouco mais longe e talvez ao ponto essencial de todas as polémicas, será que o
foco no aumento do tempo de trabalho não serve apenas para escamotear efetivas
razões de falta de produtividade relacionada com uma pobre gestão nas
organizações portuguesas e falta de visão dos seus supostos líderes? Não
estaremos perante uma fuga da desresponsabilização
e fenómeno de bode expiatório?
Ora, se a relação entre
tempo de trabalho e produtividade poderá afinal de contas ser uma questão (de)
técnica poderá, assim, ficar um pouco desmistificada, não poderemos esquecer um
enigma já de índole mais civilizacional…
O trabalho, sendo mais ou
menos interessante, pode impedir-nos de ter tempo de... viver? Isto é, se
podemos antes ou depois do trabalho usufruir de tempo de qualidade com família,
amigos, educação, saúde, cultura, lazer, descontração, hobbies, férias, sono, simples descanso ou o que / como bem
entendermos?
Não nascemos só para
trabalhar, o tempo livre não pode ser um luxo, é um direito civilizacional e se
muitos não o têm há que lutar para que o possam ter ao invés de cortar a
direito e nos (auto)nivelarmos por baixo…
vascoespinhalotero@hotmail.com
(*) Psicólogo das Organizações /
Gestão de Recursos Humanos / Desporto / Orientação Vocacional
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www.dosonhoaoprojecto.blogspot.com
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