Atualmente, vivemos no
dia-a-dia num ambiente de crispação devido, por exemplo, à estimulação de preconceitos,
estereótipos, rivalidades invejosas e mesquinhas estre setores público e
privado, deixando as elites apenas a ver passar o cortejo. Surgem os
“queixinhas” a dizer que os outros têm mais migalhas do que eles e que esses
devem também ficar sem nada (em vez de juntos lutarem por mais de direito).
Frequentemente temos uma
sensação de que estamos numa peça de teatro com alguns personagens “coitadinhos”
moralistas que desejam secretamente um apadrinhamento superior que os devolva
ao lugar entre a classe alta que outrora foi seu. Crendo estes que o meio para
lá chegar será apregoar uma ética coletiva de masoquismo sofredor, porque
“assim é que é”.
Por ignorância, tradição
social / familiar e/ou intenção manipuladora, passam-se várias frases feitas
que se dizem de cor, quase de forma automático, treinada, reativa. Nestes
momentos leves (que no conjunto traduzem algo bem mais profundo na sociedade)
dá a sensação que não se tem noção do conteúdo e no uso que dele poderá ser
feito em “nome do povo”. Uma imagem de facto vale por mil palavras e, às vezes,
um conto de ficção ajuda a esclarecer a realidade.
Então, certo dia, colocaram duas rãs numa panela e meteram-na ao
lume. Quando a água começou a ficar morna, ambas se sentiram relaxadas e
espreguiçaram-se para gozar aquela amena temperatura. No entanto, a água foi
aquecendo e uma das rãs, por instinto ou por cautela, decidiu saltar da panela
e voltar ao campo onde tinha sido apanhada. Em boa hora o fez… A outra, por
preguiça ou por comodismo (ou por pensar que a cozinheira até era boa pessoa)
foi ficando. O quentinho sabia-lhe bem e não estava para se incomodar. A água
foi aquecendo e a rã foi perdendo as forças e a vontade de saltar da panela.
Quando viu a sua vida em perigo já não tinha forças para se mexer e, por mais
que tentasse, acabou cozinhada…
Ora, ao
aceitarmos esta subserviência, não tardaremos muito para nos convertermos em
escravos agradecidos e a ter vergonha, remorsos e/ou sensação de mau carácter
só de pensar em exigir que se cumpram acordos laborais prévios, direitos
sociais, a Constituição, a esperança de uma vida de cabeça levantada, a
liberdade…
No caso
do trabalho por conta de outrem, seja no público, seja no privado, estamos a
chegar a um ponto em que parece que o salário é um favor, dádiva, esmola
oferecida pelo gestor. Ora, os patrões precisam tanto dos empregados como estes
dos patrões, muitos para continuarem com o estilo de vida a que se habituaram
legitimamente ou não. Afinal de contas, há alguma empresa que funcione sem
empregados?
Desde há
alguns anos que estamos a navegar na linha entre a abertura de mentalidades e a
tacanhez do antigamente, no que à qualidade de vida diz respeito. Esta batalha
que se tem vindo perder passo a passo institui na população, de forma massiva,
a ideia do “salve-se quem puder”, do “não confio em ninguém”, de cada um por
si…
Enfim,
traz o que de pior há no ser humano em desespero. É o nosso carácter e o legado
olhos nos olhos que passamos para as próximas gerações que que está em causa.
Não na vertente da imagem que damos lá para fora, mas sim da nossa verdadeira
essência, identidade, valores, alma…
vascoespinhalotero@hotmail.com
(*) Psicólogo das Organizações /
Gestão de Recursos Humanos / Desporto / Orientação Vocacional
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