Não é raro conhecermos casos
de alguém que, citando alguns exemplos ficcionais, foi para médico, mas o que sempre
gostou mesmo foi tratar das vinhas, de alguém que foi para informática, no
entanto desde cedo demonstrou habilidade para costurar e criar roupa, de alguém
que foi para contabilidade, porém há muito que adora pintar e outras artes, de
alguém que foi para enfermeiro e que tem queda para a escrita ou teatro, de
alguém está num banco adorando atividades ao ar livre, de alguém que foi
meramente para “engenheiro” e que se delicia com trabalhos manuais com
madeiras, etc.
Curiosamente, numa situação
de crise económico-social, muitas pessoas têm que se dedicar a segundas vias
profissionais, acabando por descobrir ou redescobrir alternativas viáveis em
atividades para as quais, em crianças e jovens, já lhes diziam terem jeito. São
estas as tais boas oportunidades (genuínas)
que as crises trazem, fazem levar estas “maluquices” mais a sério e a dizer-lhes…
sim.
É que no entusiasmo deste
novo balanço vocacional, as renitências por preconceito ou estereótipo em
assumir estes projetos de vida acabam por se desvanecer. Mais facilmente se
defende um labor que não tem tanto (pretenso) estatuto social se for o caso,
pois nesta fase já não se quer ser “doutor” nem “engenheiro” só por ser.
Já ouvimos dizer com orgulho
ou naturalidade, sem complexos, “sou mecânico(a)”, “sou pintor(a)”, “sou
costureiro(a)”, “sou jardineiro(a)” ou outra coisa qualquer, pois é o que se gosta
de fazer e mai(s) nada!
Nalguns casos, a mudança é mesmo
feita de armas e bagagens. Noutros casos conjugam-se atividades que já se faziam
com estas novas ou reacendidas paixões que se podem consubstanciar num segundo
trabalho / emprego ou num hobbie para
os tempos livres.
Não deixo de pensar que o
assumir, na idade adulta, destes sonhos ainda possíveis de realizar, pondo “mãos
à obra”, é um ato de comunhão com o passado pessoal (muitas vezes longínquo,
datando aos primeiríssimos anos de vida) de cada um e com as escolhas boas e
más que se fazem. Não desistindo de ir construindo o seu percurso, porque se
calhar era assim que tinha de ser…
Há quem diga que as “velhas”
profissões estão a voltar, que a História é cíclica, que o tempo das “coisas de
plástico” está a passar e que as pessoas preferem confiar no que é caseirinho.
Talvez sim.
Eu considero que nos atuais movimentos
de reorientação vocacional, para além do benefício para a própria pessoa,
também a sociedade ganha. É que aprende-se a respeitar outras profissões,
outras gerações, outros tempos e realidades, outros estilos de vida, outros
passados, presentes e futuros…
Nesta perspetiva, o papel de
cada um de nós para contribuir para a sociedade é olhar para dentro de si e
(re)descobrir coisas para as quais tinha/tem jeito e fazer algo disso, fazendo
o exercício de análise sozinho ou com a ajuda de amigos, família e/ou de um
técnico profissional em entrevista e testes. Porque trilhar o seu caminho para
ser mais feliz vale a pena…
vascoespinhalotero@hotmail.com
(*) Psicólogo das Organizações / Gestão
de Recursos Humanos / Desporto / Orientação Vocacional
Leia todos os artigos na Internet em: www.dosonhoaoprojecto.blogspot.com
Sem comentários:
Enviar um comentário