domingo, 13 de maio de 2007

Psicologia sempre existiu: nos provérbios que quisermos

Os provérbios ou ditados populares sempre foram tidos como sinónimo de sabedoria, sendo muitas vezes utilizados para melhor explicar ou justificar a aplicação de uma ideia ou processo. Geralmente quem os utiliza lucra, pois todos lhe dão ouvidos e razão, como se quem os citasse estivesse a ler partes da Constituição! Porém, estas informais leis gerais tidas pela maioria de nós como universais, dependem, na verdade, muito do seu contexto e, acima de tudo, de cada cultura.

Ora, sucede que a moral presente nos provérbios e ditados populares é muito diferente de cultura para cultura, de sociedade para sociedade, mesmo de país para país, variando até ao longo do tempo e espaço da História! Basta comparar os ditados portugueses e espanhóis por exemplo. Por exemplo, os provérbios e ditados portugueses são, na sua globalidade, muito conformistas e resignados (“quem tudo quer, tudo perde”). Já os provérbios e ditados espanhóis são sempre empreendedores e orgulhosos (“mais vale ser a cauda do leão do que o nariz do rato”).

Outro ponto interessante diz respeito à tão famosa mitologia grega que, no fundo, não era mais do que um conjunto de lendas (histórias que se contavam sem garantia de veracidade dos factos) que criavam a moral do povo: as leis informais por que se deveria reger uma sociedade e a conduta dos seus elementos.

Sucede que todo o anterior conjunto de dados e conselhos faz pensar numa determinada ciência... a Psicologia! Trata-se de uma ciência humana relativamente recente. O seu “nascimento” científico data de 1879, quando o alemão Wundt criou, em Leipzig, o primeiro laboratório de Psicologia Experimental. Desde aí, até aos nossos dias, esta ciência desenvolveu-se, “amadureceu” com vários contributos e expandiu-se em várias áreas e correntes. A Psicologia está presente, de forma cultural e contextualizada, na moral desde sempre.
A base da Psicologia poderá ser encontrada nos provérbios e ditados populares, mas não ousemos duvidar da superior riqueza e abrangência destes. Provavelmente, somos obrigados a incluir no “pote” científico, para além da Psicologia, também a Antropologia e a Sociologia, pois há grandes diferenças de cultura para cultura, de sociedade para sociedade, mesmo de país para país, com variações ao longo do tempo e espaço da História.

Em suma, tudo poderá fazer parte de uma grande ciência que sempre existiu e apenas se passou a documentar e reproduzir, via ensino: o conhecimento acumulado, o senso comum, enfim, a experiência da(s) vida(s)! Outras expressões, palavras ou termos mais ou menos técnicos poderiam caracterizar estas “coisas”.

Enfim, segundo este ponto de vista, no que à Psicologia e à sua fatia de conhecimento diz respeito, poderíamos afirmar que esta, afinal, sempre existiu, apenas se racionalizou e modernizou, provavelmente, no último século.

Porém, dado que a moral (expressa nos provérbios e ditados populares) varia de cultura para cultura, ao basearmo-nos apenas nestes registos e tradições, teríamos meramente pequenas psicologias culturais, de diferentes nacionalidades espartilhadas e dispersas, provavelmente passando ao lado dos pontos transversais do Ser Humano... Enfim, a Psicologia não é só conhecimento de vida adquirido e acumulado também nos provérbios, ditados ou saberes populares: é também algo mais.


vascoespinhalotero@hotmail.com
(*) Psicólogo do Trabalho e das Organizações / Orientação Vocacional
Leia todos os artigos na Internet em: http://www.dosonhoaoprojecto.blogspot.com/

1 comentário:

Cão Malinoso disse...

Muito filosofante o nosso coelhinho... :)