quarta-feira, 20 de maio de 2009

CONSEQUÊNCIAS DE LONGO PRAZO DO “NIM” (3ª parte)

A falta de debate interno em Portugal sobre temas estruturais (culpa da camada dirigente e dos próprios cidadãos que não “batem o pé”) vai passando de geração em geração. Nada se esclarece, nada se decide, nada se evolui verdadeiramente. Os que tomam as decisões continuam a ser os mesmos e influenciados pelos mesmos e diz-se que não há alternativas… Uns dizem mesmo Jamais!

Como é possível? Quando os esclarecimentos, discussões abertas e soluções para problemas estruturais sempre estiveram disponíveis no nosso país! E nem todas vêm sequer de partidos políticos, há também movimentos de cidadãos e associações com propostas credíveis! Não é preciso ter um cartão partidário para se ter ideias sustentadas.

Basta ver o programa de televisão “Prós e Contras”! Porém, essas propostas alternativas foram e são olhadas por quem manipula o poder com desconfiança, preconceito, rótulo, gozo e tom de ridículo…

Ora, isto não é novidade nenhuma, qualquer cidadão comum comenta entre-dentes este ciclo vicioso em que nos metemos, mas a reacção que se tem até ao momento é o encolher os ombros, dizer que se calhar tem de ser assim ou que até podia ser pior… E por aqui vamos ficando.

Mas quando a cabeça não tem juízo o corpo é que paga e há cada vez mais reacções violentas e, para os mais distraídos, sem causa aparente. Em jeito de retrato psicológico, parece que vamos guardando as frustrações cada vez mais para dentro, até explodir com um mínimo arranhão e assim se cometem muitas asneiras trágicas que se poderiam evitar, principalmente nos chamados bairros sociais…

É que cada vez mais os portugueses não têm tempo nem paciência para más e dispendiosas decisões ou não-decisões, recusas em ouvir outras opiniões e soluções, aparências, “novo riquismo”, “chico espertismo”, fecho de olhos legais, compadrios à descarada, etc. Está tudo farto disto! E continua-se a dizer “nim” aos tais assuntos sociais, económicos e culturais “complicados”…

É como se estivesse um cruzeiro a afundar e a tripulação estivesse cobrar dinheiro aos passageiros para melhorar a pintura dos candeeiros da sala de chá, não querendo ouvir nada sobre fazer algo para evitar o naufrágio e garantir a sobrevivência de todos!

No caso da União Europeia, esta causa foi, é e será o que for negociado entre os estados. Resta ver quem tem vindo a representar Portugal nestas mesas (se tem ouvido a sociedade verdadeiramente para chegar a posições consensuais) e a quem teremos de pedir contas quando a torneira dos fundos se fechar e ficarmos por nossa conta…
Basta lembrarmo-nos da obsessão com as estatísticas quantitativas relativamente ao pessoal com o 9º e 12º ano de escolaridade e não com a sua real qualidade e exigência, das opções tomadas quanto aos fundos europeus e os seus desvios, dos lucros da política do betão e do estado anti-educação, dos benefícios fiscais a grandes grupos e empresas estrangeiras que depois fugiram para países com mão de obra mais barata para explorar, das subidas vertiginosas do custo de vida com o Euro, das privatizações de saldo para grupos portugueses e depois estrangeiros (entre uns e outros…), da crescente degradação das condições laborais (menos direitos e mais horas de trabalho), da constante submissão ao que mandam os países mais fortes, da aposta nos grandes grupos de monopólios em detrimento das pequenas e médias empresas mais próximas dos cidadãos, etc.

Não é por acaso que a maioria dos cidadãos da Turquia não quer a adesão do seu país a este labirinto europeu que estrangula os pequenos e, consequentemente, lhes retira soberania nas suas tomadas de decisão. E sabem que exemplo tem sido dado pelos turcos para não se meterem nesta aventura ou seja neste tipo único de Europa que nos é dado a engolir? Precisamente Portugal!...

vascoespinhalotero@hotmail.com
(*) Psicólogo do Trabalho e das Organizações / Orientação Vocacional
Leia todos os artigos na Internet em: www.dosonhoaoprojecto.blogspot.com

sexta-feira, 8 de maio de 2009

CONSEQUÊNCIAS DE LONGO PRAZO DO “NIM” (2ª parte)

Nos tempos que correm em que supostamente os cidadãos deverão andar a reflectir sobre as questões europeias, tem sido comum reduzir-se tudo a uma de duas posições: ou se é a favor ou contra a União Europeia. Ora, pondo as coisas apenas dessa forma, se alguém disser que é contra, será imediatamente acusado de ser mal agradecido pelos generosos fundos europeus que nos têm “safado” (embora se vá depois dizendo, com voz mais baixinha, que muitos se têm perdido, devolvido ou sido mal aplicados, mas até fica aquela sensação de que falamos de ninharias…).

E pronto o debate fica por aqui, aliás sempre ficou por aqui, desde a entrada portuguesa neste grande grupo. Então mas se é só mesmo isto, para quê eleições europeias, deputados europeus, políticas europeias e todas essas supostas perdas de tempo?

Na minha opinião, a discussão deverá sim ser que tipo de Europa queremos e quais as condições e papéis de cada membro, incluindo o nosso. Perguntemos ao comum cidadão a sua opinião, depois de se puxar o assunto toda a gente tem uma com “pés e cabeça”, mas é preciso que se lhe pergunte alguma coisa concretamente, se lhe dê ouvidos e já agora real poder de decisão.

Ora, sobre estes e muitos outros assuntos de importância estrutural, dentro da nata dirigente nacional, que dirige o país desde há algumas décadas, com posições-chave sempre de acordo, há alguns que dizem que já toda a gente à partida estava e continua a estar esclarecida e de acordo… Ainda dentro deste grupo, outros dizem que são assuntos de tamanha importância e complexidade que o comum cidadão não poderá compreender e que a decisão deve ser “assumida” politicamente (desconfio que seja o sonho secreto de muitos supostos democratas com apetite pelo Antigamente…).

Há um exemplo que encaixa nas duas opções: falemos de Portugal na União Europeia. Reportando-nos às condições da nossa entrada, passando pela sua evolução e finalizando no seu futuro, a questão que devemos colocar é: alguém nos explicou e perguntou alguma coisa?
Mas atenção, a culpa também é dos próprios cidadãos, nos quais me incluo! Nós, portugueses, habituamo-nos a pensar na Europa apenas pelos fundos económicos e que o melhor é estarmos caladinhos antes que a torneira feche. O debate a sério também não existe, por causa deste mesmo jogo duplo. Enfim, nós habituámo-nos a olhar a produção nacional como fora de moda e embarcamos, mais uma vez na nossa História, no estrangeirismo sem critério (porque com critério é positivo). Sim, a culpa é também de nós próprios!

É certo que debater os tais temas de fundo com visão abrangente, plural e com conclusões corajosas e consensuais para aplicar na prática não é fácil (embora já saibamos ser possível – relembremos o volte face sobre o novo aeroporto).

No entanto, fechar subtilmente a porta a este debate desde início, dizendo o politicamente correcto “nim”, tem consequências de longo prazo que levam ao país em que estamos hoje em que parece impossível chegar a caminhos consensuais.

Mesmo com o “barco a afundar”, nesta elite de “manda-chuvas” ninguém quer tocar nas potenciais soluções para os problemas estruturais, pois não sabe mobilizar a sociedade para o debate, dado nunca lhe ter dado ouvidos, sendo que, com as eleições aí à porta, o melhor é isto andar calminho…

Não o fazem por que não sabem e também por que não querem! E porquê? Pois há investimentos de “grupos ou empresas amigas” a proteger (atente-se à nova lei de financiamento dos partidos e aos “financiamentos” que permite…) e há que garantir também os votos dos mais conservadores, menos esclarecidos ou de mais difícil esclarecimento…

E quais as consequências de longo prazos destes “nins” ao debate com a sociedade? Fica tudo na mesma ou pior ainda…

vascoespinhalotero@hotmail.com
(*) Psicólogo do Trabalho e das Organizações / Orientação Vocacional
Leia todos os artigos na Internet em: www.dosonhoaoprojecto.blogspot.com

CONSEQUÊNCIAS DE LONGO PRAZO DO “NIM” (1ª parte)

Há assuntos sociais, económicos e culturais mais “complicados” que os líderes e camadas dirigentes no geral no nosso país não conseguem retirar do “nim”, justificando que, para estes casos, é preciso um amplo e profundo debate na sociedade e conveniente consciencialização das massas. Mas o que é certo é que depois fecham desde início a porta a esse mesmo debate!

É preciso ter presente que a consciência social, que resiste à demagogia e populismo, leva o seu tempo para conquistar uma esmagadora maioria da população. No entanto, se os líderes vestirem a camisola neste esclarecimento e derem a cara para o fazer (afinal de contas, isso é a essência da política e da cidadania) as coisas revelam-se mais fáceis e mais rápidas. É que as coisas não se mudam por milagre, é preciso trabalhar para isso!

Porém, no nosso sistema político, onde dois partidos têm partilhado todas as linhas de base de decisões nas últimas décadas, mesmo com o “barco a afundar”, ninguém quer tocar nas potenciais soluções para os problemas estruturais.

Nesta nata (com honrosas, mas impotentes excepções) quase ninguém quer “dar o corpo às balas” no que respeita a debater estes temas de fundo com visão abrangente, plural e com conclusões corajosas e consensuais para aplicar na prática. E porquê? Pois há investimentos de “grupos ou empresas amigas” a proteger, há eleições a ganhar e, para este remoinho continuar, há que garantir também os votos dos mais conservadores, menos esclarecidos ou de mais difícil esclarecimento…

Ora, isto não é novidade nenhuma, todo o cidadão comum comenta entre-dentes sobre este ciclo vicioso em que nos metermos, mas a reacção que se tem até ao momento é de encolher os ombros, dizer que se calhar tem de ser assim ou que até podia ser pior… E por aqui vamos ficando. Mas quando a cabeça não tem juízo o corpo é que paga e há cada vez mais reacções violentas e aparentemente sem causa no momento muito forte: parece que vamos guardando as frustrações para dentro, para dentro, até explodir com um mínimo arranhão!

É que cada vez mais os portugueses não têm tempo nem paciência para más e dispendiosas decisões ou não-decisões, recusas em ouvir outras opiniões e soluções, aparências, “novo riquismo”, “chico espertismo”, fecho de olhos legais, compadrios à descarada, etc. Está tudo farto disto! E continua-se a dizer “nim” aos tais assuntos sociais, económicos e culturais “complicados”…

É como se estivesse um cruzeiro a afundar e a tripulação estivesse cobrar dinheiro aos passageiros para melhorar a pintura dos candeeiros da sala de chá, não querendo ouvir nada sobre fazer algo para evitar o naufrágio e garantir a sobrevivência de todos!

Enfim, estas questões vão passando de geração em geração, nada se esclarece, nada se decide, nada se evolui verdadeiramente, sendo os que tomam as decisões continuam a ser os mesmos e influenciados pelos mesmos e diz-se que não há alternativas… Como é possível? Quando os esclarecimentos, discussões abertas e soluções para problemas estruturais sempre estiveram disponíveis no nosso país!

Não nos digam que não há soluções e alternativas! Jamais! E nem todas vêm sequer de partidos políticos, há também movimentos de cidadãos e associações com propostas credíveis! Basta ver o programa de televisão “Prós e Contras”! Porém, essas propostas alternativas foram e são olhadas por quem manipula o poder com desconfiança, preconceito, rótulo, gozo e tom de ridículo…

vascoespinhalotero@hotmail.com
(*) Psicólogo do Trabalho e das Organizações / Orientação Vocacional
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