Por um instante, paremos um pouco para pensar se a função de um líder é, acima de tudo, ser um pregador da boa forma de se estar, fiscal minucioso de papéis arrumados a centímetros da cruzinha, ceder sempre aos senhores e doutores mais complicados ou “amigos”, deixando de ter critérios justos e clarinhos para nada, ficar refém das aparências e da imagem (não percebendo que é assim mais facilmente manipulado) com recorrente receio de que pareça mal, ser porteiro de entradas aos milésimos de segundo, ser perito em habilmente mudar de conversa quando lhe interessa fugir às questões essenciais…
Chefiar apenas de “boca” e não escrever para não ficar comprometido preferindo deixar tudo no ar, apregoar o seu autoritarismo carimbando cortes cegos (deixando, no entanto, de lado os contínuos despesismos dos protegidos) com a velha máxima tão errada quanto antiga ”levam todos por igual, por isso, por uns pagam os outros” (acabando sempre por pagar os mesmos, mas agora até ficando a parecer que o merecem!)…
Só reconhecer um bom trabalho de um seu “escravo” depois de algum poderoso o fazer e aí fingir já o saber desde há muito, passar boatos de que “isto está mau, portanto é melhor não arrebitarem muito, porque senão…”, deixando os seus subordinados incapacitados de inovarem por medo de dar nas vistas e despertar maldizeres destrutivamente invejosos…
Era, assim, a vida de chefe nos tempos do “antigamente” e será ainda um retrato actual presente em muitas organizações de qualquer parte do mundo. Será este o tipo de liderança que poderá levar qualquer empresa a bom porto no futuro? Não existirão outras maneiras de liderar e estaremos condenados a isto? Este dilema passa-se em qualquer lado do mundo e os prejuízos aparecem depois e a culpa vai direitinha para os “preguiçosos dos trabalhadores, esses malandros que não querem fazer nada”...
Seja qual for a resposta, temos que a saber para nos habituarmos e sabermos, pelo menos, com que é que podemos contar. O problema é que este tipo de chefes tem, muitas vezes, um culto de seguidores fanáticos que arrasta muita gente, por medo ou ilusão. Este tipo de “general com medo” revela-se perito em “vestir a pele de cordeiro” e constitui-se como um mestre na manipulação do “jogar” com outros para que estes dêem a cara pelas suas decisões impopulares mais flagrantes…
Então e não deverá um líder sim definir os grandes desafios e objectivos, partilhá-los abertamente em reuniões com os seus colaboradores, discutir e até assumir, nos maus momentos de uma empresa, com franqueza as reais razões que levaram a que as coisas chegassem a este ponto (senão a culpa morre solteira, os velhos hábitos continuarão a sabotar o real crescimento e, por mais voltas que dermos, não saímos da cepa torta)?
Não deverá um líder sim ouvir e recolher atentamente os contributos de qualquer elemento da malta da sua organização de uma forma transparente e formal (sejam estes, na sua visão, à primeira vista, mais ou menos pertinentes), incentivar e avaliar sim a qualidade ou a quantidade do trabalho apresentado com formação primeiro e autonomia / responsabilidade depois (“dar a cana de pesca para então poder exigir o peixe”)?
Para ultrapassar a crise, em qualquer empresa, precisamos de líderes. Chefes já temos ou tivemos que cheguem…
vascoespinhalotero@hotmail.com
(*) Psicólogo do Trabalho e das Organizações / Orientação Vocacional
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