terça-feira, 12 de outubro de 2010

SIM CHEFE! (2ª parte)

Por um instante, paremos um pouco para pensar se a função de um líder é, acima de tudo, ser um pregador da boa forma de se estar, fiscal minucioso de papéis arrumados a centímetros da cruzinha, ceder sempre aos senhores e doutores mais complicados ou “amigos”, deixando de ter critérios justos e clarinhos para nada, ficar refém das aparências e da imagem (não percebendo que é assim mais facilmente manipulado) com recorrente receio de que pareça mal, ser porteiro de entradas aos milésimos de segundo, ser perito em habilmente mudar de conversa quando lhe interessa fugir às questões essenciais…

Chefiar apenas de “boca” e não escrever para não ficar comprometido preferindo deixar tudo no ar, apregoar o seu autoritarismo carimbando cortes cegos (deixando, no entanto, de lado os contínuos despesismos dos protegidos) com a velha máxima tão errada quanto antiga ”levam todos por igual, por isso, por uns pagam os outros” (acabando sempre por pagar os mesmos, mas agora até ficando a parecer que o merecem!)…

Só reconhecer um bom trabalho de um seu “escravo” depois de algum poderoso o fazer e aí fingir já o saber desde há muito, passar boatos de que “isto está mau, portanto é melhor não arrebitarem muito, porque senão…”, deixando os seus subordinados incapacitados de inovarem por medo de dar nas vistas e despertar maldizeres destrutivamente invejosos…

Era, assim, a vida de chefe nos tempos do “antigamente” e será ainda um retrato actual presente em muitas organizações de qualquer parte do mundo. Será este o tipo de liderança que poderá levar qualquer empresa a bom porto no futuro? Não existirão outras maneiras de liderar e estaremos condenados a isto? Este dilema passa-se em qualquer lado do mundo e os prejuízos aparecem depois e a culpa vai direitinha para os “preguiçosos dos trabalhadores, esses malandros que não querem fazer nada”...

Seja qual for a resposta, temos que a saber para nos habituarmos e sabermos, pelo menos, com que é que podemos contar. O problema é que este tipo de chefes tem, muitas vezes, um culto de seguidores fanáticos que arrasta muita gente, por medo ou ilusão. Este tipo de “general com medo” revela-se perito em “vestir a pele de cordeiro” e constitui-se como um mestre na manipulação do “jogar” com outros para que estes dêem a cara pelas suas decisões impopulares mais flagrantes…

Então e não deverá um líder sim definir os grandes desafios e objectivos, partilhá-los abertamente em reuniões com os seus colaboradores, discutir e até assumir, nos maus momentos de uma empresa, com franqueza as reais razões que levaram a que as coisas chegassem a este ponto (senão a culpa morre solteira, os velhos hábitos continuarão a sabotar o real crescimento e, por mais voltas que dermos, não saímos da cepa torta)?

Não deverá um líder sim ouvir e recolher atentamente os contributos de qualquer elemento da malta da sua organização de uma forma transparente e formal (sejam estes, na sua visão, à primeira vista, mais ou menos pertinentes), incentivar e avaliar sim a qualidade ou a quantidade do trabalho apresentado com formação primeiro e autonomia / responsabilidade depois (“dar a cana de pesca para então poder exigir o peixe”)?

Para ultrapassar a crise, em qualquer empresa, precisamos de líderes. Chefes já temos ou tivemos que cheguem…

vascoespinhalotero@hotmail.com
(*) Psicólogo do Trabalho e das Organizações / Orientação Vocacional
Leia todos os artigos na Internet em: www.dosonhoaoprojecto.blogspot.com

5 comentários:

Anónimo disse...

Um Líder normalmente consegue polir um diamente bruto, enquanto um Chefe consegue ofuscá-lo. Um Líder sabe que será mais forte, quanto mais forte for a sua equipa de diamantes polidos e um Chefe tem medo que esses diamantes tomem o seu lugar, ou brilhem mais do que ele. Assim, terá uma equipa nivelada pela mediocridade, não por falta de capacidade dos trabalhadores, mas pelo MEDO dos Chefes.

Um Abraço

Ricardo Antunes

Anónimo disse...

Gostava de um dia conseguir fazer este texto! Dize-lo da forma que o disseste tão simples que parece real. É isto que eu penso e que nunca fui capaz de escrever. Não que não tivesse vontade mas apenas porque não tenho a tua capacidade de expressão! Assino por baixo em qualquer lugar! Abraço e muitos parabéns!

A C Albuquerque disse...

Gostava de um dia conseguir fazer este texto! Dize-lo da forma que o disseste tão simples que parece real. É isto que eu penso e que nunca fui capaz de escrever. Não que não tivesse vontade mas apenas porque não tenho a tua capacidade de expressão! Assino por baixo em qualquer lugar! Abraço e muitos parabéns!

A C Albuquerque

Unknown disse...

Era uma vez um país, debruçado à beira mar, a afundar-se lentamente, desde há muitos anos. O nome desse país é ''Absurdistão''. Tem um presidente que sofre do complexo de se sentir ''rainha de Inglaterra'', não fala, não ouve, não age, nem reage, vive rodeado da sua corte longe da multidão. O Absurdistão tem um primeiro ministro egocêntrico, autoritário, vingativo, que não age, apenas reage, mas que é muito bom a representar e o papel de vítima é que lhe fica melhor. O chefe da oposição é igual ao primeiro ministro e inveja-lhe os dotes e promete todos os dias, a si mesmo, que um dia será ainda melhor, mais poderoso e mais totalitário. No Absurdistão alternam-se no poder os dois grandes partidos, até parece que o país foi inventado por George Orwel. Eles são iguais e rodeiam-se de cortes paralelas de lapas, lesmas e sanguessugas, todos bajulam o chefe e nenhum diz a verdade. O Absurdistão está dividido em algumas centenas de feudos governados por nobres iluminados que também reunem em torno de si cortes provincianas e subservientes. Todo o país vive adormecido e subordinado à vontade suprema de um grande chefe, ou dos pequenos chefes, todos eles se julgam superiores ao povo desse pequeno país. Entendem os poderosos que quando tomam posse de cargos políticos, ou são nomeados para cargos de confiança política, desce sobre todos eles, uma espécie de espírito santo que os iluminará nas decisões tomadas. No Absurdistão é privilégio dequeles que dominam o poder, em determinado momento, distribuir benesses para a família e os amigos, tomando para tal apenas as decisões adequadas aos seus interesses pessoais. O lema no Absurdistão é servir-se a si prórpio. Distribuem-se prémios, condecorações e medalhas aos fiéis servidores e discípulos e muitas vezes os priveligiados cortesãos que privam com o poder, trocam de grupo de pressão, ou mesmo de partido, para melhor garantirem a sobrevivência e as mordomias. No Absurdistão a verdade é sempre uma certeza ebsoluta e irrefutável, mas só num único dia, pois nos dias seguintes essa verdade já pode ser outra e totalmente antagónica, mas ninguém contesta, porque no Absurdistão quase todos têm medo. Toda esta hierarquia de poder, que existe no Absurdistão, critica o estado, mas serve-se dele todos os dias, através do recurso a mecanismos júridicos e políticos, para benefício próprio. Por baixo de toda esta pirâmide de poder, tentáculos obscuros e negócios promíscuos, existem os servos que trabalham e sustentam os poderosos, cada vez têm menos direitos e mais deveres, menos liberdade e mais medo. Mas um dia, os servos que ainda têm o direito supremo e inalienável de poder votar, perdem o medo e nas eleições seguintes, tomam a decisão de escapar ás pressões políticas e dos fazedores de opinião, escrevendo nos boletins de votos ''...corruptos e ladrões...''
O Absurdistão não fica na Ásia central, adivinhem onde?

Rui Munhoz

Vasco Espinhal Otero disse...

Ricardo Antunes: tens razão, o silenciamento de opiniões divergentes empobrece as decisões das lideranças, especialmente quando estas assim o preferem por questões tácticas d usufruto de poder para benefício ou manutenção próprios! Obrigado pelo feedback e abraço!

A C Albuquerque: Infelizmente é uma realidade em cada vez mais contextos, pelo menos no nosso país, que se têm vindo a revelar e deixar cair as máscaras à boleia da crise. Basta olhar para, como por exemplo, foi negociado o Orçamento de Estado... Obrigado pelo feedback e abraço!

Rui Munhoz: que fantástica descrição apresentaste! É de facto irritante como quem apresenta os problemas, na perspectiva de os prevenir ou resolver, é logo apontado como o problema! Não há democracia real assim... Obrigado pelo feedback e abraço!