quinta-feira, 11 de novembro de 2010

PORQUE HÁ NOVOS QUE SÃO AINDA MAIS VELHOS… (2ª parte)

Parece-me que a sociedade de hoje e os seus líderes de opinião se desresponsabilizam, de forma leviana, quando atiram para a escola (sublinhando as suas lacunas ou para a sua ausência) o fardo do incentivo à cidadania nos seus cidadãos adultos.

Parece que se passa a mensagem de que a única esperança passará pelo surgimento futuro de uma milagrosa nova geração de crianças / cidadãos “proveta” modelo. Portanto a escola que trate disso… Como se para os actuais adultos já não existisse “esperança”, como se “burro velho não aprendesse nem pudesse ensinar línguas”!...

Ora, esta atitude, vinda de cima, por um lado, discrimina a geração adulta no trabalho e na sociedade que quer participar activamente, mas, por outro lado, também a desresponsabiliza… E como? Permitindo-lhe aproveitar o álibi do “coitadinho”, possibilitando que muita gente, com potencial, lave as suas mãos, dizendo que, afinal de contas, já não tem nada a ensinar, a aprender, a mudar…

Esta atitude de conformismo, ultra-protecção, falta de aposta e até embaraço para com os mais velhos, da parte das lideranças, cria, na sociedade, uma ânsia, ao jeito de Dom Sebastião, pelo momento em que os mais novos tomem conta disto! Parece que até esses “craques” chegarem só nos restará olhar para os ponteiros do relógio e esperar, com a angústia e esperança similares à que sente uma criança que aguarda o seu presente de Natal…

No entanto, estas expectativas são, para além de altas, muitas vezes ilusórias, pois, tal como a criança nunca fica tão satisfeita com o presente real quanto esperava ficar com o presente idealizado, também as novas gerações não parecem nunca corresponder a este papel de Messias salvador que lhes é atribuído! Então e porquê?

Na minha opinião, talvez porque as novas gerações, muito mais facilmente do que se possa esperar, copiam os velhos hábitos positivos e também negativos que os mais velhos mostram através dos seus exemplos do dia-a-dia, dados nos vários contextos de vida, entre os quais o do trabalho…

O “fruto proibido é o mais apetecido” e se a nova geração aprende uma coisa dentro de portas e depois quando vê o mundo fora de portas lhe mostra outra coisa, que até lhe permite sobreviver com mais sucesso ou recolher uma maior valorização social (porque assim ouve dizer que “também é dos nossos”), torna-se mais compreensível a razão por que este ciclo nunca vai parar…
Focando-nos num campo mais específico, os responsáveis pelas escolas afirmam frequentemente que não conseguem apoiar mais um aluno, pois a sua família, devido aos seus velhos hábitos, “estraga tudo” dando exemplo contrários…

Ora, se, por um lado, as escolas precisariam de mais técnicos para apoiar as famílias, por outro lado, a família é composta por adultos, podendo estes ser apoiados e evoluir nas suas atitudes, através das aprendizagens que vão tendo no mundo do trabalho profissional, enquanto empregados ou mesmo formandos, como sucede no processo de reconhecimento e validação de competências.

Quanto a este último processo, há que apontar que o Governo com as suas metas meramente quantitativas para a estatística (delas fazendo depender a atribuição e/ou manutenção de financiamentos para cada Centro de Novas Oportunidades) tem dificultado enormemente o bom trabalho dos técnicos da área…

Já quanto à formação social e cívica nas empresas, bem como o apoio in loco, tudo está à deriva, dependendo da maior ou menor boa vontade ou visão abrangente dos líderes, ainda por cima numa altura que estão com a corda financeira ao pescoço…

vascoespinhalotero@hotmail.com
(*) Psicólogo do Trabalho e das Organizações / Orientação Vocacional
Leia todos os artigos na Internet em: www.dosonhoaoprojecto.blogspot.com

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