Antigamente, a profissão
era, muitas vezes, herdada por tradição familiar, numa suposta continuidade de
características genéticas relativas a interesses e capacidades transmitidas de
geração em geração: “filho de peixe sabe nadar”. No entanto, com o avançar da
História, as tradições e mentalidades foram, inevitavelmente, mudando…
As novas gerações, em
princípio, ganharam mais espaço para seguir os seus interesses e capacidades. Os
pais, embora de olho franzido, lá foram entendendo, em parte, o espaço de
decisão que os filhos teriam direito. Esta compreensão parental mais facilmente
foi surgindo quando às opções de vida apresentadas estavam associadas saídas
profissionais, salários e/ou até o estatutos sociais mais risonhos...
Esta nova liberdade de
escolha para a juventude trouxe obviamente também responsabilidades e nem tudo
foi um mar de rosas... Surgiram também entre os “novos” alguns focos de
sobranceria “chique”, pois os jovens passaram a olhar, com alguma vergonha,
para os labores tradicionais como algo associado aos “velhos”. Muitos tipos de
trabalho passaram a ser conotados como algo meramente familiar, local, fora de
moda e/ou pouco ambicioso numa sociedade moderna em se quer ser “fixe” ou “cool”.
O mesmo fenómeno ocorreu
quanto às tradições culturais das comunidades, que sendo transmitidas e
representadas (com algumas inovações também) durante décadas e gerações,
“emperraram” nestas últimas fornadas (das quais também faço parte). Dizia-se
que aquilo era um bocado “foleiro”.
Ora, julgo que tudo isto
criou uma quebra de partilha de experiências, de interesse, de respeito e de valorização
cultural / ocupacional entre as várias gerações no nosso país. Deixou de haver
um fio contínuo. Isso prejudicou a (re)construção permanente de uma identidade,
quiçá orgulho, na singularidade que é viver em Portugal.
E depois chegou a crise… Afinal,
este novo modelo de sociedade com cultura de “centro comercial” também tinha
faturas (não só económicas, mas também sociais, culturais, etc) e a situação
tem sido dramática para muitas famílias. Porém também boas oportunidades surgem
(genuínas e não de exploração) que mais à frente abordaremos…
No que respeita ao mundo das
organizações, hoje em dia, o lema do emprego / trabalho para toda a vida tornou-se
dificilmente concretizável. Com os altos níveis de desemprego, é comum ter que
(mas também querer) mudar de trabalho, quer por necessidades do mercado, quer
por vontade pessoal.
Por um lado, numa sociedade
de consumo e de negócios o que hoje dá muito dinheiro, amanhã poderá já ser
obsoleto. O binómio instabilidade versus
adaptação no trabalho constitui-se como regra (ou custo) fundamental deste jogo
de expansão / sobrevivência num mundo concorrencial.
Por outro lado, muitas
pessoas quando são crianças ou jovens sonham fazer algo no futuro e acabam por
não ter oportunidade para o concretizar em adultos ou então até o conseguem
fazer, podendo, contudo, mais tarde estagnar numa rotina que esvazia o prazer da
realização dessas tarefas.
Enquanto que algumas pessoas
conseguem reinventar-se, manter a “chama acesa” sem mudar de ofício e/ou acabam
por ter estabilidade externa / oportunidade laboral para isso, já com outras
isso não sucede e chegam a fases da vida em que se questionam sobre soluções
alternativas para o seu rumo profissional.
Estes estados de
indefinição, como um limbo, podem suceder em qualquer momento, até mesmo quando
já se fizeram muitos anos de “desconto”. Também na passagem para a aposentação
/ reforma, surge a questão de o que fazer agora que se tem tempo. Mais do
mesmo, mas com um ritmo mais tranquilo? Ou coisas novas que sempre geraram uma
tímida (quiçá nunca assumida) curiosidade? Ou então algo completamente
diferente com que nunca, mesmo nunca, se pensou?...
vascoespinhalotero@hotmail.com
(*) Psicólogo das Organizações / Gestão
de Recursos Humanos / Desporto / Orientação Vocacional
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