terça-feira, 23 de novembro de 2010

PORQUE HÁ NOVOS QUE SÃO AINDA MAIS VELHOS… (4ª parte)

Por que razão têm as organizações públicas e privadas de apostar na educação cívica? Bem, porque, para além de melhorar a motivação dos seus funcionários, assim incentivam também a curto, médio e/ou longo prazo a produtividade e inovação.

Reparemos que não tem sido assim tão difícil e longa a mudança, por parte da população no geral, nalgumas áreas chave como reciclagem, por exemplo. Precisamente devido à sensibilização ter sido direccionada para todas as gerações!

Contudo é preciso apostar nisto mesmo e não entrar no jogo de dizer que é complicado e tal… O caminho faz-se caminhando e, na maior parte das vezes, chegamos ao final e dizemos que até nem foi assim tão difícil!

Uma coisa é certa: a visão que cada pessoa tem sobre o trabalho, em particular, bem como sobre a vida e sociedade, no geral, é apresentada e debatida, aprendida e re-aprendida no dia-a-dia laboral. Daqui a expressão: a verdadeira escola da vida…

Cabe assim dizer que esta aprendizagem vivencial não acaba, portanto, na “escola” do sistema educativo. Não é apenas nos “tempos da escola” que se formam valores, há mais vida para além desta fase… Assim, seguindo esta perspectiva, o mundo do trabalho deverá ter para os adultos o mesmo papel que a escola tem para as crianças e adolescentes: formar.

Se um miúdo sentir que as suas ideias são ouvidas na escola e que lhe dão a oportunidade de implementar os seus projectos também no mundo “lá fora” terá essa esperança e responsabilidade cívica para com os outros. Ora, exactamente o mesmo se poderá passar no trabalho numa qualquer organização!

Também as organizações (públicas e privadas) deverão ter esse papel relativamente aos adultos, garantindo com certeza retorno para si e para a sociedade em que estão inseridas. Se esta perspectiva vos parecer muito sonhadora, pesquisem sobre o funcionamento das melhores empresas suecas ou norueguesas…

vascoespinhalotero@hotmail.com
(*) Psicólogo do Trabalho e das Organizações / Orientação Vocacional
Leia todos os artigos na Internet em: www.dosonhoaoprojecto.blogspot.com

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

PORQUE HÁ NOVOS QUE SÃO AINDA MAIS VELHOS… (3ª parte)

A meu ver, a chave da mudança das novas gerações está nas gerações adulta e idosa actuais, com os seus exemplos positivos ou negativos dados… Daí que apostar na formação dos adultos e idosos actuais não é desperdiçar recursos. Há que mudar desde já o presente e investir realmente nas mudanças do futuro a consolidar pelas novas gerações.

A “bola” do início de alterações não deve ser passada, assim, para os mais novos, como quem diz vá “faz lá tu sozinho, se conseguires…” Geralmente, isto acaba por levar a que tudo fique na mesma e a geração mais velha possa dizer “eu não disse que era complicado…”.

Nesta perspectiva, o insucesso dos mais novos assim “deixados à deriva” é previsível, quando a colaboração e apoio de quem tem mais experiência é semelhante a quem dá uma receita de culinária, omitindo as quantidades, e diz que está ansioso por provar os novos cozinhados…

Ora, sejamos positivos: há, sem sombra de dúvida, muitos casos de bons exemplos. Aqui fica um pequeno exemplo a que eu já tive o prazer de assistir: “se a minha avó e o meu pai fazem reciclagem, eu que sou novo também quero fazer e vou dizer aos meus amigos para também fazerem!”. Só mexendo no presente se pode mudar o futuro! Não se pode continuar a fazer uma coisa agora, dizendo que mais tarde é que vai ser diferente…

Assim, quanto mais se negligenciar e desaproveitar o potencial de inovação e adaptação / incentivo a mudanças sociais e de cidadania que os mais velhos possuem, mais se estará a gerar nestes um alheamento ou um amargo olhar de vingança que se revela no dar maus exemplos de passagem de atitudes destrutivas e mesquinhas…

A solução estará nas lideranças que apostam no potencial de inovação com experiência, por parte dos mais velhos, ouvindo-os para as mudanças (o que é completamente diferente de ficarem refém de “velhos do Restelo” anti-mudança socialmente responsável e consensual após discussão…).

É preciso que os líderes de qualquer organização apostem nas características positivas dos mais velhos e, assim, darão bons exemplos para os mais novos. Atenção: não estou a fazer a apologia da máxima de “defender os mais velhos só por defender” ou só porque fica bem! É preciso saber concretamente porquê e, com precisão, o quê. É necessário defender concretamente os pontos positivos que eles têm e que serão sempre necessários aos mais novos no seu presente e no seu futuro enquanto adultos!

Reparem que não estamos aqui a falar de “bons” e “maus” da fita, mas sim de características positivas ou negativas que qualquer adulto pode ter e explorar mais ou menos, sendo que, no final, se tiver algum papel importante na sociedade, será sempre um exemplo… esse sim: bom ou mau!

Atrevo-me a dizer que há muita gente mais nova de idade, mas já com mentalidade bem mais velha do que pessoas com cartão do cidadão mais antigo!

Resumindo: não basta esperar pela geração mais nova, é preciso dar-lhe exemplos de agora, de adultos de hoje que possam seguir pela positiva. No entanto, com esta linha de raciocínio, surgem outras questões…

Que exemplos temos hoje de como ser bem sucedido na sociedade? Aliás o que é hoje ser bem sucedido na sociedade e o que é preciso fazer para lá chegar? Se não houver bons exemplos para esclarecer isto aos mais jovens, a nova geração será uma surpresa de facto…

Posso até apontar um exemplo: basta vermos como o pessoal das juventudes partidárias (pelo menos dos grandes partidos) imita os tiques arrogantes, os discursos vazios e as futilidades da vida dos cabeças de cartaz que, assim, lhes dão apenas este tipo de exemplos…

vascoespinhalotero@hotmail.com
(*) Psicólogo do Trabalho e das Organizações / Orientação Vocacional
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quinta-feira, 11 de novembro de 2010

PORQUE HÁ NOVOS QUE SÃO AINDA MAIS VELHOS… (2ª parte)

Parece-me que a sociedade de hoje e os seus líderes de opinião se desresponsabilizam, de forma leviana, quando atiram para a escola (sublinhando as suas lacunas ou para a sua ausência) o fardo do incentivo à cidadania nos seus cidadãos adultos.

Parece que se passa a mensagem de que a única esperança passará pelo surgimento futuro de uma milagrosa nova geração de crianças / cidadãos “proveta” modelo. Portanto a escola que trate disso… Como se para os actuais adultos já não existisse “esperança”, como se “burro velho não aprendesse nem pudesse ensinar línguas”!...

Ora, esta atitude, vinda de cima, por um lado, discrimina a geração adulta no trabalho e na sociedade que quer participar activamente, mas, por outro lado, também a desresponsabiliza… E como? Permitindo-lhe aproveitar o álibi do “coitadinho”, possibilitando que muita gente, com potencial, lave as suas mãos, dizendo que, afinal de contas, já não tem nada a ensinar, a aprender, a mudar…

Esta atitude de conformismo, ultra-protecção, falta de aposta e até embaraço para com os mais velhos, da parte das lideranças, cria, na sociedade, uma ânsia, ao jeito de Dom Sebastião, pelo momento em que os mais novos tomem conta disto! Parece que até esses “craques” chegarem só nos restará olhar para os ponteiros do relógio e esperar, com a angústia e esperança similares à que sente uma criança que aguarda o seu presente de Natal…

No entanto, estas expectativas são, para além de altas, muitas vezes ilusórias, pois, tal como a criança nunca fica tão satisfeita com o presente real quanto esperava ficar com o presente idealizado, também as novas gerações não parecem nunca corresponder a este papel de Messias salvador que lhes é atribuído! Então e porquê?

Na minha opinião, talvez porque as novas gerações, muito mais facilmente do que se possa esperar, copiam os velhos hábitos positivos e também negativos que os mais velhos mostram através dos seus exemplos do dia-a-dia, dados nos vários contextos de vida, entre os quais o do trabalho…

O “fruto proibido é o mais apetecido” e se a nova geração aprende uma coisa dentro de portas e depois quando vê o mundo fora de portas lhe mostra outra coisa, que até lhe permite sobreviver com mais sucesso ou recolher uma maior valorização social (porque assim ouve dizer que “também é dos nossos”), torna-se mais compreensível a razão por que este ciclo nunca vai parar…
Focando-nos num campo mais específico, os responsáveis pelas escolas afirmam frequentemente que não conseguem apoiar mais um aluno, pois a sua família, devido aos seus velhos hábitos, “estraga tudo” dando exemplo contrários…

Ora, se, por um lado, as escolas precisariam de mais técnicos para apoiar as famílias, por outro lado, a família é composta por adultos, podendo estes ser apoiados e evoluir nas suas atitudes, através das aprendizagens que vão tendo no mundo do trabalho profissional, enquanto empregados ou mesmo formandos, como sucede no processo de reconhecimento e validação de competências.

Quanto a este último processo, há que apontar que o Governo com as suas metas meramente quantitativas para a estatística (delas fazendo depender a atribuição e/ou manutenção de financiamentos para cada Centro de Novas Oportunidades) tem dificultado enormemente o bom trabalho dos técnicos da área…

Já quanto à formação social e cívica nas empresas, bem como o apoio in loco, tudo está à deriva, dependendo da maior ou menor boa vontade ou visão abrangente dos líderes, ainda por cima numa altura que estão com a corda financeira ao pescoço…

vascoespinhalotero@hotmail.com
(*) Psicólogo do Trabalho e das Organizações / Orientação Vocacional
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terça-feira, 2 de novembro de 2010

PORQUE HÁ NOVOS QUE SÃO AINDA MAIS VELHOS… (1ª parte)

Nos tempos de hoje, um adulto empregado, descontando o tempo em que dorme, está de férias ou usufrui do seu tempo livre, passa a maior parte das horas da sua vida no contexto de trabalho.

Assim sendo, acaba por ser, necessariamente, também aqui que expressa e molda os seus valores ao longo da sua vida. No trabalho, e, a partir do trabalho, para a sociedade, as pessoas dão e recebem os seus contributos, as suas responsabilidades, os seus direitos…

Quer se olhe para o lado (dizendo que com a crise não há tempo para pensar nessas coisas) ou não, o que é certo é que uma empresa, por exemplo, nunca é apenas um mero local de produção material ou intelectual… É, também, um local de aprendizagem de lições humanas e de exemplos que transportamos (quer queiramos quer não) para a nossa visão sobre os diversos contextos da sociedade e da vida no geral.

Esta influência social é inevitável. Porém, pode ser bem aproveitada e aí entra-se no campo da responsabilidade social das organizações no mundo do trabalho. Agarrar esta oportunidade passará inevitavelmente pela promoção de boas práticas a nível ambiental, de cidadania, de trabalho em equipa, inovação, etc, tendo em conta o tempo que uma pessoa passa no trabalho ao longo da sua vida.

Atenção que isto não tem rigorosamente nada a ver com pressões e censuras nas opções políticas de cada um! Não há aqui nada a confundir, reforço isto, pois muitas vezes estas dúvidas e mal entendidos levam a que as pessoas arranjem álibis, mal fundamentados, para se “livrarem destas coisas chatas” da sociedade e da cidadania…Há sim, aqui, uma fronteira bem definida que nos deve separar de outros tempos, assim o esperamos... Mesmo que patrões menos escrupulosos tentem misturar o trigo e o joio para se “safarem”…

Por outro lado, o tal envolvimento com a comunidade de que falava, por vezes, dá a sensação de ser algo de novo e de que apenas as escolas poderão ter acesso, no sentido de educar as novas gerações… Não concordo de todo com isso! E, por isso mesmo, sublinho a expressão aprendizagem ao longo da vida, pois a ideia de que “burro velho não aprende línguas” há muito que foi ultrapassada pela máxima do “saber não ocupa lugar”. Pelo menos assim o espero…

Sejamos claros, não é, de facto, somente quando somos novos que conseguimos aprender e ensinar! Torno aqui a realçar, neste caso o verbo ensinar, pois, com a, sempre crescente, onda tecnológica e métodos modernos (com os seus conteúdos interessantes, mas que também, por vezes, são mais formas ocas e palavreados caros para coisas já há muito inventadas…), fica-se com a sensação de que os “velhos” já não têm nada para ensinar à malta nova e que nem com ela conseguem já aprender, pois os ritmos são muito diferentes… Obviamente que isto não é verdade! Há, sem dúvida alguma, muitos conteúdos e formas positivas que podem e devem ser ensinados por quem tem mais experiência. Aliar a experiência do “terreno” à inovação com certeza que traz resultados bem melhores…

vascoespinhalotero@hotmail.com
(*) Psicólogo do Trabalho e das Organizações / Orientação Vocacional
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