quinta-feira, 20 de junho de 2013

QUALIDADE DE VIDA E/OU FELICIDADE?




Os meios materiais, tecnológicos, sociais, económicos, culturais, entre outros encontram-se associados por diversos estudos a uma melhor Qualidade de Vida, encontrando-se os países nórdicos no topo do ranking.

A organização participada, a cidadania ativa, os sonhos que passam projetos, o pensamento associado à ação, a reivindicação atenta, luta envolvendo perseverança e/ou a geração de envolvimento da comunidade parecem ser características presentes (em termos gerais e não esquecendo que cada pessoa tem a sua história) em indivíduos que vivem nestas zonas.

No entanto, porventura demasiada concentração em tudo isto pode fazer (embora não necessariamente) com que uma pessoa não crie no seu círculo mais próximo as condições aparentemente mais simples para se ser feliz enquanto pessoa… Alguns têm altas taxas de suicídio.

É importante referir que a investigação científica (e também outras que não têm tal catalogação, mas que abrem vários horizontes) sobre o conceito de Felicidade foca-se muito mais no prazer do gozo da vida, no tranquilo aqui e o agora, em que os países da América Latina parecem ser, segundo os dados analisados, os campeões. Vários estudos sobre este conceito medem os diferentes graus através de perguntas tais como: “Sentiu-se descansado ontem?”, “Foi tratado com respeito ontem?”, “Sorriu muito ontem?”, “Aprendeu ou fez algo de interessante ontem?”, “Sentiu-se alegre e feliz ontem?”.

Daqui decorrentes, encontramos muitos conselhos, de facto, práticos que parecem emergir como soluções concretas e agradáveis: a referência e o elogio direto sem intenção de contrapartidas a pessoas ou coisas de que/quem gostamos e orgulhamos, que nos fazem divertir, suavizar ideias; definir objetivos, valorizar pontos positivos e diferentes que sucederam, resolver de forma construtiva, criativa e simples problemas que se encontram no caminho com os recursos que se tem à disposição sem pensar nos que se gostaria de ter (retirando-lhes a carga de importância angustiante que lhes dá tanto peso porventura indevido), adotar hábitos de vida saudáveis, etc. No fundo, o foco principal parece estar, de forma concisa, na nossa esfera de controlo pessoal.

Contudo, eventualmente podem parecer (ou não) alternativas pouco consequentes a nível imediato enquanto resposta a grandes ou pequenas questões sociais e económicas… Mas o que é certo é que os estudos de Qualidade de Vida nem sempre medem, querem ou acham possível medir estas variáveis ligadas à Felicidade…

Isto pode fazer-nos compreender, em parte, por que razão normalmente os países do norte da Europa são apontados como tendo a melhor qualidade de vida e os países da América Latina como sendo os mais felizes…

Por esta altura, talvez tenhamos mais questões do que conclusões. Será que para sermos efetivamente felizes teremos que abandonar o sonho de termos mais qualidade de vida ou a luta por não perder a que ainda temos? A consequência de viver a nossa felicidade pessoal será forçosamente tornarmo-nos passivos, escondermo-nos, resignarmo-nos, desresponsabilizarmo-nos? Ou há mais opções?

Há que relembrar que indignarmo-nos, protestarmos, lutarmos, envergonharmos os responsáveis têm sido formas necessárias (talvez até justas), ao longo dos tempos, para atingir melhores condições gerais de vida para a nossa sociedade. A Revolução Francesa é prova de que o alcançar de um efetivo impacto social por estes meios é possível, embora à custa de muito sofrimento também.

Porém, dado que estas causas sociais tão abrangentes fogem (pelo menos em parte) à nossa esfera de controlo pessoal, acabam por gerar muitas vezes emoções negativas frequente ou, quem sabe, permanentemente. Então se seguirmos este trilho estaremos na prática a deitar fora nossa chance de Felicidade?

Seguindo esta linha de raciocínio, talvez não valha a pena lutar por grandes mudanças sociais justas se o que se quer mesmo é ser feliz? Isso que fique para os outros que não se importam de ser… infelizes?

Por outro lado, podemos achar que quem pensa assim talvez viva bem a fazer férias de luxo num resort rodeado de bairros de miséria. Mas sejamos sinceros, será que a (in)consciência de “varrer para debaixo do tapete” permitirá a um ser humano ser efetivamente feliz? Ou será somente temporário, pois a nossa alma acaba por nos bater à porta, na forma de pesadelos, ansiedades, depressões, sintomas psico-somáticos, etc…

Mas não estar na linha da frente da luta pelas grandes causas sociais pode não equivaler necessariamente a levar uma vida fútil, materialista ou consumista. Talvez não se deva confundir alienação, escapismo ou desresponsabilização com o direito da procura da Felicidade, pois fugir ou evitar a dor não é seguramente a mesma coisa que estar tranquilo. Mas, também aqui, como distinguir fronteiras por vezes tão ténues?

Ora, paradoxalmente (ou não) ao longo da História, figuras como Mahatma Ghandi na Índia ou Martim Luther King nos Estados Unidos da América provaram que as lutas por causas sociais se podem fazer de muitos modos com enorme impacto na sociedade, nomeadamente pela via pacífica através da desobediência civil não violenta, baseada no argumento filosófico de que o cidadão só tem o dever moral de obedecer as leis, se os legisladores produzirem leis justas.

Ao contrário da desobediência comum ou de um mero ato de transgressão criminoso, a desobediência civil tem uma finalidade social, constituindo um ato inovador, de caráter eminentemente construtivo e não destruidor. Também aqui as fronteiras podem obviamente ser nublosas.

Concluindo, será que é inevitável termos que escolher entre ser felizes e ter qualidade de vida? É que parece tão difícil quanto inevitável conjugar na prática a Qualidade de Vida com a Felicidade. Com um olhar pragmático, parece infelizmente impossível. Com um olhar utópico, parece, sem dúvida, o caminho correto a seguir. Qual é o equilíbrio afinal?

Como diziam os vencedores do Festival da Canção em Portugal de 2012, afinal “a luta é alegria”… 


vascoespinhalotero@hotmail.com
(*) Psicólogo das Organizações / Gestão de Recursos Humanos / Desporto / Orientação Vocacional
Leia todos os artigos na Internet em: www.dosonhoaoprojecto.blogspot.com


segunda-feira, 17 de junho de 2013

3. UMA PAUSA NO TEMPORAL (uma e outra perspetiva)



Há alguns meses atrás, devido a condições meteorológicas anormais que assolaram especialmente a Região Centro do nosso país, muitas áreas e populações ficaram sem luz, água, televisão, rádio, telefone fixo, telemóveis e internet durante alguns dias, nalguns casos semanas.
A precariedade da manutenção das estruturais técnicas e logísticas da nossa sociedade e/ou o poder da mãe natureza fizeram toda a gente sentir e pensar na fragilidade das condições de vida que usufruímos.
Por um lado, fez-nos pensar nas injustiças sociais em termos de acesso a recursos essenciais que permitam uma qualidade de vida da população e dos grupos económicos que com a “muleta” de políticos interessadamente obedientes reservam apenas para uma elite o que devia ser de todos.
Por outro lado, também nos permitiu dar o exemplo de como nos podemos aproximar mais uns dos outros como seres humanos. Não no sentido de intromissão ou invasão de privacidade, mas sim na perspetiva de que temos necessidades, anseios, pontos em comum, levando-nos a questionar o que será realmente mais importante nossa vida, o que nos fez/faz/fará felizes.
Seguindo esta lógica de análise, dois caminhos acabam por ser apontados a uma pessoa: lutar pelo que pensa que é justo socialmente para a comunidade/sociedade e/ou desfrutar tranquilo daquilo que na sua essência é e do que o rodeia.
Ora, tendo em conta a diferença, aparentemente grande, das emoções despoletadas nos momentos de luta social e nos momentos de desfrute pessoal, poderemos colocar a seguinte questão ou desafio: estas duas perspetivas distintas serão inconciliáveis? Serão água e azeite que não se pode/consegue misturar?
Teremos inevitavelmente que escolher um caminho ou outro se quisermos chegar a algum lado na vida? Será que quem luta por justiça se torna mais tarde chato, teimoso, intolerante, pouco aberto a novos caminhos, impossível de aturar e de acalmar? Será que quem desfruta tranquilamente se torna passivo, nada objetivo, alienado, desleixado, irresponsável, “deixa andar”, egoísta? Será possível participar em revoluções e também gostar de estar relaxado no sofá? Será isto demagógico ou coerente?
Apostar na luta pelos direitos civis (quiçá inútil…) ou numa felicidade individual (quiçá isolada…)? Este dilema remete um pouco para os estudos sobre os conceitos de Qualidade de Vida e de Felicidade. Sim, parecem ser coisas diferentes…

vascoespinhalotero@hotmail.com
(*) Psicólogo das Organizações / Gestão de Recursos Humanos / Desporto / Orientação Vocacional
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2. UMA PAUSA NO TEMPORAL (outra perspetiva)



Há alguns meses atrás, devido a condições meteorológicas anormais que assolaram especialmente a Região Centro do nosso país, muitas áreas e populações ficaram sem luz, água, televisão, rádio, telefone fixo, telemóveis e internet durante alguns dias, nalguns casos semanas. Apesar das graves e infelizes circunstâncias, porventura, por instantes, permitiu-nos também fazer uma pausa para refletir sobre o tipo de vida que fazemos e sobre como nos habituamos a relacionar uns com os outros e com o meio envolvente.
Obviamente que naquele terrível temporal uma espécie de nó no estômago surgiu ao darmo-nos conta da dependência absoluta de vários meios para fazermos qualquer coisa, para comunicamos, para…vivermos? Houve gente que passou muito mal e pior poderia ainda ter sucedido, mas esta consciência da nossa fragilidade abriu, por momentos, uma oportunidade…
Vejamos então. Naquela altura, temas de conversa que normalmente são sempre adiados e constituem a nossa base, por um lado, de falta de planeamento, análise, conhecimento racional sobre vários temas da nossa sociedade e, por outro lado, de relacionamento/valorização/preocupação genuína emocional de uns com os outros. Por exemplo, provavelmente lembrámo-nos das tragédias das chuvas na Madeira ou do rio Mississipi em Nova Orleãs e compreendemos melhor o sofrimento daquela gente…
Indo um pouco mais longe, tivemos oportunidade para refletir sobre até que ponto as condições / bens materiais em falta (luz, água, meios de comunicação, etc) eram efetivamente fundamentais, por comparação com outros com níveis de utilidade e prazer proporcionado de facto diferentes…
Não esquecendo a base que é a liberdade individual de escolhas / gostos de cada indivíduo (desde que não prejudique outro obviamente, cada um pode gostar do que lhe apetece) podemos parar para pensar no seguinte: nesta sociedade consumista em que se gera a necessidade de ter/comprar, até que ponto ao nos termos deixado levar nesta onda não ficámos frágeis, controlados, dependentes, mais amorfos, menos humanos e… infelizes?
É certo que talvez necessitemos efetivamente de algumas coisas matérias que temos e de outras que (ainda) não temos, especialmente nesta altura de escassez financeira. Porém, talvez não necessitemos de muitas das coisas que somos levados a adquirir, afinal de contas, quem não sentiu já isso ao voltar de um super-mercado cheio de compras inúteis que não tinha planeado fazer antes de lá entrar? No entanto, com certeza que gostaríamos de ter a liberdade de escolher e não de ter de cortar à força…
Ora, naqueles dias de tempestade, estas conversas surgiram, não de modo passivo a ver os ilustres comentadores na televisão, mas sim em casa com a família, amigos, vizinhos, meros conhecidos e/ou até estranhos que não se conhecia de lado nenhum. Por alguns instantes, todos sentimos que, de facto, estávamos no mesmo barco e aí foi fácil pensar no mais importante: a vida das pessoas em primeiro lugar (o que deveria ser feito prioritariamente, como deveria ser protegida).
Este debate genuíno, embora agoniado no momento, deu-nos uma oportunidade, para dar conta que uma democracia / cidadania popular, próxima, sincera e responsável é/seria possível ou, pelo menos, mais fácil…
O que aconteceu de especial na pausa do temporal então? As pessoas puderam, precisaram e quiseram estar juntas, a falar ou a partilhar silêncios, talvez, acima de tudo, pela companhia. Para pequenas ou grandes coisas, deu-se e recebeu-se ajuda de igual para igual e sem falsas caridades, não por para parecer bem ou fazer figura, mas sim porque fazia sentido.
As pessoas comunicaram, reagiram, fizeram algo em prol de toda a gente. Sim, foram soluções de “desenrasque”, mas também houve espaço para pensar como deveriam a casa, a comunidade e a sociedade ser devidamente planeadas e geridas em conjunto e para o maior benefício possível de todos.
Claro que temos de ter noção de que aquele momento (se é que de facto aconteceu) foi um rasgo disperso, não organizado nem consequente, pois tudo passa à medida que voltamos à dita normalidade… Com o tempo, todos voltámos à nossa “vidinha”.

vascoespinhalotero@hotmail.com
(*) Psicólogo das Organizações / Gestão de Recursos Humanos / Desporto / Orientação Vocacional
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1. UMA PAUSA NO TEMPORAL (uma perspetiva)



Há alguns meses atrás, devido a condições meteorológicas anormais que assolaram especialmente a Região Centro do nosso país, muitas áreas e populações ficaram sem luz, água, televisão, rádio, telefone fixo, telemóveis e internet durante alguns dias, nalguns casos semanas.
A precariedade da manutenção das estruturais técnicas e logísticas da nossa sociedade e/ou o poder da mãe natureza fizeram toda a gente sentir e pensar na fragilidade das condições de vida que usufruímos.
Fez-nos pensar quanto são, hoje em dia, essenciais estes recursos para uma qualidade de vida com dignidade e liberdade, aos quais terei efetivamente que juntar o acesso à saúde, à educação, à cultura.
Levou-nos a refletir também acerca da distância cada vez menor entre o não ter estas condições (momentaneamente como sucedeu com o temporal) e apenas as poder ter quando/se/quem as puder pagar…
Receio que para muitos de nós a perspetiva esteja a poucos passos de se tornar permanente, quer por motivos da vida de cada um, quer pelas regras de exclusão que estão a ser impostas pelas elites do poder mais ou menos sorrateiramente, mas de forma intencional, alegando o alibi da crise, à nossa comunidade.
Dirão alguns de forma ignorante e/ou demagógica “claro, queriam tudo à borla, não faltava mais nada”, esquecendo quem o faz que não falamos de luxos, nem de algo a que não deva ter direito quem paga os seus impostos!... Sejamos francos, os custos destas condições, oportunidades e recursos básicos têm subido a um ritmo cada vez mais veloz e parece, cada vez mais, estar próxima a hora em que apenas um pequeno grupo de privilegiados poderá aceder a estes “luxos”!…
Assim sendo, podemos ou até devemos questionar sobre se isto faz sentido e sobre quem decide o que é luxo e o que é do direito de todos, decorrente dos impostos que pagamos?
Facilmente concluímos que humanamente não é, de facto, lógico e que quem decide são os grandes grupos económicos privados nacionais e multinacionais sem qualquer tipo de moderação. Quanto aos políticos que têm estado no poder (através das nossas escolhas em eleições…) infelizmente não passam de meros porta-vozes ou seguidores de corrente que nas decisões efetivamente importantes fazem o que diretamente ou indiretamente lhes mandam…
E que objetivos têm estes grandes “monstros” económicos fora de controlo? Manipulação efetiva de mercados e retirada do controlo público dos recursos fundamentais de cada país. Num tom metafórico, ver a subida dos números dos seus lucros nos seus quadros de computador sem olhar o que se passa fora das janelas dos seus escritórios…
Não é a primeira vez na História do nosso planeta que assistimos a movimentos de manipulação política, militar e económica desta magnitude. Foram seguidos de reações corajosas e numas vezes recuperou-se algo, noutras vezes quase tudo, outras ainda deram em… Entre muitos fatores, um dos que mais fez variar o grau de sucesso nestas lutas foi a irreverência/criatividade das ações e a organização da população.
E agora?…

vascoespinhalotero@hotmail.com
(*) Psicólogo das Organizações / Gestão de Recursos Humanos / Desporto / Orientação Vocacional
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