Cada vez mais acredito que a nossa personalidade está definida à nascença, através do nosso mapa genético, e que, ao longo da vida, vamos, de acordo com o ambiente que vivenciamos, encontrando várias maneiras de a exprimir. Tendo em conta o seu impacto em nós e em quem nos rodeia, vamos fazendo (consciente ou inconscientemente) a nossa seleção de padrões para a expressar em situações-tipo.
Inevitavelmente, vamos catalogando contextos, para uma maior eficácia e eficiência do nosso processamento de informação, e antecipando cenários e consequências. Daí dizer-se que os mais velhos têm mais experiência.
Porventura, o nosso desafio de maturidade, enquanto indivíduos, estará somente em conhecer cada vez melhor a nossa personalidade, aceitá-la, aprender a lidar e até brincar com ela.
Nesta lógica e adotando uma visão de orientação vocacional, é claro que é interessante saber o mais cedo possível que coisas um ser humano gosta de fazer e as áreas para as quais tem jeito, de facto.
No entanto, numa perspetiva mais holística, mesmo com os benefícios do conhecimento agora adquirido, não interessa só o que se descobriu ou tornou claro naquele momento de avaliação vocacional. Há também muito por descobrir ao longo de toda a sua vida. Depois daquele momento, terá o seu passado e presente com certeza, mas também muito futuro ainda por descobrir, no que respeita a interesses, capacidades, contextos, etc. E a vida comporta muitas surpresas, de facto.
Ter jeito para isto ou para aquilo é popularmente associado a ter talento para qualquer coisa. Uma aptidão natural ou, em parte, adquirida, disposição ou habilidade pode ser mais ou menos valorizada socialmente, consoante o tipo de produtos e/ou valores que produza. Por exemplo, talento para cantar e talento para fazer bricolage têm importâncias sociais distintas.
Os talentos para algo em específico são desenvolvidos se o contacto com o contexto em que eles podem ser verificados estiver presente. Se não surgir esse contexto, a pessoa pode nem sequer saber que tem esse potencial.
Por exemplo, se o Cristiano Ronaldo, com o seu talento para o futebol, tivesse nascido na Índia, onde o críquete é o desporto mais incentivado e popular, provavelmente não teria sido futebolista, pois essa capacidade não teria sido descoberta e/ou estimulada. O mesmo pode acontecer com qualquer pessoa.
No que ao potencial humano diz respeito, a passagem da ignorância ao conhecimento somente se efetua pela experimentação. É assim na ciência, é assim na vida quotidiana. Trata-se de um caminho de paciência, persistência e fé.
Uma procura ativa em que é preciso explorar campos desconhecidos, tomar opções inesperadas, arriscar a dar muitos passos no escuro, aparentemente sem sentido algum, empurrarmo-nos para fora de aparentes zonas de conforto até chegarmos, de repente, a algo diferente do normal e surgir... um milagre. É isso mesmo que sentimos nesse instante. Quando se chega a esse ponto de descoberta e se olha para trás vê-se que valeu a pena, que tinha que ser assim para ser… especial.
Atentemos que não se aplica só a alguns ou que só acontece aos outros. Não há aqui toque de Midas ou acesso limitado para iluminados, pois inevitavelmente cada um de nós possui vários talentos: uns já foram descobertos, outros estão ainda por descobrir.
Assim sendo, quem achar que não tem talento para nada que se desengane, pois pode somente não ter encontrado até então contextos que permitam que eles se exprimam. Falamos de todo o seu percurso de vida, não só quando jovens…
Algumas pessoas poderão dizer que só têm descoberto em si talento para coisas que não valem a pena ou não servem para nada. Aqui já estaremos no campo dos valores sociais / pessoais ou aplicações funcionais, enquanto possível área de negócio por exemplo. Deixo uma pista para não desmoralizar: há sempre maneira… E quanto a “bitaites” e opiniões: “a de todos ouvirás, só a tua seguirás”.
Acima de tudo, esta malha de potencial por conhecer dentro de cada ser humano revela-se tão fascinante quanto enigmática ao imaginarmos no que poderemos estar, por enquanto, a ignorar, não aproveitar e/ou perder.
Há que aproveitar a vida para ir descobrindo…
vascoespinhalotero@hotmail.com
(*) Psicólogo das Organizações / Gestão de Recursos Humanos / Desporto / Orientação Vocacional
Leia todos os artigos na Internet em: www.dosonhoaoprojecto.blogspot.com
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