Talento pode ser descrito como aptidão natural ou, em parte, adquirida, engenho, disposição, habilidade, no fundo ter jeito para qualquer coisa específica. Este pode ser mais ou menos (pessoalmente e/ou socialmente) valorizado, consoante o tipo de produtos e/ou valores que produza e que façam sentido para a pessoa e/ou para a sociedade em que está inserido.
Na valorização funcional de um talento, muitas vezes, as avaliações pessoais e as avaliações sociais são semelhantes. Mas e quando não são? E quando uma pessoa sabe ou descobre que tem bastante talento para uma área específica, que a todos os que a rodeiam parece uma fantástica carreira a seguir e, mesmo assim, esta prefere não a usar?
Lembro o caso da estrela do basquetebol Michael Jordan que abandonou a prática desta modalidade, dizendo já não sentir prazer e motivação no jogo e enveredou por uma carreira muito menos brilhante no basebol, algo que gerou a estupefação dos media, no geral.
Porém, se o desenvolver e rentabilizar de um talento implicar fatores como, por exemplo, viagens constantes, invasão de privacidade, horários prolongados, trabalho solitário ou outro constrangimento qualquer e se a pessoa não obtiver prazer na atividade (motivação intrínseca) e/ou achar que ter que lidar com esses fatores não é um prazer e/ou que não vai compensar nos benefícios posteriores (ex: dinheiro, férias, acessos privilegiados, entre outros) que irá obter (motivação extrínseca) talvez a decisão de abdicar possa agora parecer, de facto, mais compreensível.
Torna-se claro que há que ter em conta os valores pessoais que cada um tem também para a sua vida. Ora, adotando esta perspetiva, qual é afinal o mal de não se fazer aquilo em que se é “craque”?
A dificuldade social / humana que temos em comunidade na abordagem, de forma aberta e natural, aos talentos terá eventualmente a ver com a sua quase imediata associação a um produto que pensamos ser único: o dinheiro.
Na verdade, só dissociando talento e dinheiro não teremos o reflexo de catalogar como “burrice” o abdicar de uma carreira de milhões. No entanto, curiosamente, a palavra talento vem do latim talentum que era o nome dado a uma moeda da Antiga Grécia e outros povos orientais.
Ou seja, esta associação errónea já vem de longe…
vascoespinhalotero@hotmail.com
(*) Psicólogo das Organizações / Gestão de Recursos Humanos / Desporto / Orientação Vocacional
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