quarta-feira, 2 de junho de 2010

SIM, AS PESSOAS PODEM! (2ª parte)

Não deixa de ser algo irónico o facto de apenas em alturas de aperto de curto prazo as pessoas terem tempo e vontade para fazer uma análise global e profunda dos problemas estruturais sobre os quais, há muito, alguns vinham chamando a atenção e propondo mudanças que na altura eram de longo prazo…

Agora sim, vêem que isto não vai lá com remendos de ocasião. Mas por quê só agora? Antes as pessoas andavam distraídas?

Há uns tempos atrás as pessoas preferiam os meios de alienação ou distracção (voluntária ou impingida pelos media) como os futebóis, novelas, anedotas de bolso, concursos dos sonhadores de milionários, bandeirinhas nas campanhas eleitorais, “graxas” aos chefes e “sô doutores”, papéis de vítima ou coitadinho, “chico-espertismos”, etc! Bem, se calhar ainda está tudo na mesma…

Estas mesmas pessoas apontavam a dedo, ao estilo da Inquisição, aqueles que seriam os supostos alarmistas com as suas propostas de longo prazo, sustentáveis, ecológicas e todas essas coisas “chatas” que levam a carregar no botão do comando para mudar de canal na televisão… Fazia lembrar quando queremos ver um jogo de futebol da nossa equipa do coração ou novela preferida e estão ao nosso lado a fazer barulho, não há direito!... E assim nos deixamos iludir e ficamos a ver a banda passar…

Mas tudo bem. Embora tarde, parece que agora, finalmente, as pessoas querem discutir abertamente as propostas e pôr mãos à obra em nome de todos e para todos proteger, no que diz respeito aos índices básicos de qualidade de vida.

O problema é que as pessoas se viram agora para os partidos em que maioritariamente votaram (os partidos do centro) e vêem em ambos um deserto de ideias estruturais, recursos humanos com pouca visão estratégica e estruturas com “mãos amarradas” por interesses de lobbies com demasiado poder e influência nos programas eleitorais ou no que se vai fazendo, à parte disso, ao longo das legislaturas…

No que respeita à intervenção dos partidos políticos centrais do costume, a actual situação dos portugueses faz lembrar quando os passageiros no naufrágio do navio Titanic pediam os coletes e barcos salva-vidas aos membros da tripulação e estes não lhes davam, pois apenas os tinham destinados à elite da 1ª classe!... Por mais que os passageiros pedissem, rastejassem, “engraxassem” ou ameaçassem, os membros da tripulação não queriam ou não podiam ajudá-los, pois estavam completamente dependentes da autoridade desse grupo de interesses e lobbies!

Tempos antes, a tripulação tinha tido a oportunidade de levar mais coletes e barcos salva-vidas, mas por uma questão de imagem do navio (ou aparências de grandeza…) preferiu não o fazer.
O que é curioso nesta história é que o navio foi ao fundo, levando consigo a esmagadora maioria dos passageiros, entre os quais muitos até da tal elite de 1ª classe e outros da tripulação!

vascoespinhalotero@hotmail.com
(*) Psicólogo do Trabalho e das Organizações / Orientação Vocacional
Leia todos os artigos na Internet em: www.dosonhoaoprojecto.blogspot.com

Sem comentários: