segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

OS CANTANHEDES DA CIDADE (parte 3)

Devido ao rótulo elitista colocado (ou existente realmente) na geração jovem de Cantanhede dos anos 80 e 90 (ou pelo menos numa parte dela), algumas razões históricas concretas e muitas outras justificações baseadas no “diz que disse” serviram para solidificar de geração para geração este desconfiado “olhar de lado” para os meninos e/ou senhores da cidade.
Segundo estes pressupostos, as restantes freguesias do concelho não tinham na altura ou, porventura, nunca tiveram no passado grandes afinidades e motivos de simpatia para com Cantanhede, indo um pouco mais longe: para com os tais de quem se dizia “comerem da gaveta”.

Neste particular, algum humor é também necessário, no sentido em que, muitas vezes, perguntava-se a alguém de outra freguesia que dizia não gostar dos “Cantanhedes” o motivo de tal posição e as respostas sempre foram variadas: silêncio, episódios passados de pancadaria, atitudes, bocas ou troca de galhardetes mal resolvidos, encolher de ombros, “não sei, mas não gosto” ou evocação de motivos históricos do tipo “foi por causa disto” sem confirmação de factores anteriores ou paralelos…

Ao longo dos últimos anos, estas barreiras de preconceito, desconfiança e bairrismo invejoso entre “os de Cantanhede e os de fora” foram desaparecendo lentamente em grande parte devido, na minha opinião, a um evento que podemos dizer já marcar a história do nosso concelho: a Expofacic!

Repare-se que, no início desta festa, as pessoas de cada freguesia apenas iam às tasquinhas e stands das suas freguesias, mas ao longo dos anos as coisas foram felizmente mudando… A mistura de gentes começou, laços entre vizinhos (que mudavam de um ano para o outro para não criar zonas rígidas) foram sendo criados, amizades surgiram, trocas de jogadores da bola entre as equipas das terras foram sendo feitas, inclusivamente com… Cantanhede! Entre muitos outros pequenos, mas importantes exemplos.

A Expofacic teve o condão de criar um sentimento de orgulho dos munícipes pelo concelho de Cantanhede, por fazer-nos deixar de ter vergonha de dizer que somos do concelho de Cantanhede. Ora, consequentemente, foi diminuindo também o preconceito (com ou sem razões efectivas e mesmo justificadas) pelos “Cantanhedes” da cidade.

vascoespinhalotero@hotmail.com
(*) Psicólogo do Trabalho e das Organizações / Orientação Vocacional
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quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

OS CANTANHEDES DA CIDADE (parte 2)

Relativamente à infância de toda esta geração dos anos 80 e 90, um factor interessante ocorreu: as saudosas férias desportivas que a Sociedade Columbófila Cantanhedense organizava! Que ninguém tenha dúvidas: esta iniciativa estruturante foi um pilar importantíssimo na formação de toda esta gente (na qual me incluo) que influenciou todos os contributos que esta geração teve (ou poderia ter tido), tem e terá na nossa sociedade!

Aliando educação, desporto, cultura, saúde ao convívio e boa disposição dos monitores, promovia-se uma aprendizagem fácil de valores de trabalho em equipa, espírito de camaradagem e gosto pela cultura geral nas suas várias vertentes e não apenas nas mais popularuchas.

É natural que os miúdos dessa época passem pela velha sede e se lembrem do papel fantástico que tiveram dirigentes e monitores tais como: Alberto Abrantes, Casas de Melo, Lurdes Silva, Dora Manso, Francisco Cristovão, João Barreto, Tó Vagos, Celsino, Carmo, Pedro Cardoso, Ferreirinha, irmãos Nogueira, Paulo “francês”, Clara Neves, Ferreirinha, entre muitos outros igualmente importantes.

Assim, foi a nossa infância na cidade de Cantanhede, mas depois, na passagem para a adolescência, uma brecha surgiu e não continuou esta fabulosa base que nos unia e misturava independentemente das nossas origens, gostos, descendências, moradas, turmas, etc.

O que faltou? Talvez causas mobilizadoras comuns ou uma cultura de participação em qualquer que fosse o evento desde que fosse levado a cabo por uma entidade de referência para todos nós. É certo que muitos andavam no futebol, na natação, entre outras modalidades desportivas ou passatempos, mas o que também é certo é que nada nos unia, não havia nada de transversal, coisa que já não sucedia nem sucede na maioria das restantes freguesias do concelho: quase todas têm uma associação à volta da qual toda a gente das várias gerações se une e participa nas várias actividades, mesmo naquelas de que nem toda a gente gosta!

Ora, em Cantanhede, resquícios de um bairrismo positivo, “à antiga”, no que respeita a existir um forte apoio dentro da sua comunidade e alguma riqueza cultural podia ser encontrado no “Bairro” de São João, mas que foi perdendo este fulgor devido à perda do seu adversário histórico que era o “bairro” localizado mais ao centro da cidade.

A meu ver, faltou isto mesmo à geração de Cantanhede dos anos 80 e 90… Julgo, no entanto, que quem passou a adolescência por estas bandas nos anos 80 foi ainda mais fustigado, pois se virmos bem: quase não ficou cá ninguém dessa geração, quase todos foram embora!

vascoespinhalotero@hotmail.com
(*) Psicólogo do Trabalho e das Organizações / Orientação Vocacional
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quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

OS CANTANHEDES DA CIDADE (parte 1)

A infância e adolescência (ou juventude, como preferirem) são fases na vida de um ser humano muito importantes para o “limar” da sua personalidade, assumindo particular importância os valores da família, dos amigos e da comunidade local. Relativamente a este último pormenor, revela-se interessante analisar o caso da cidade de Cantanhede, mais propriamente das gerações (a que também pertenço) que aqui passaram os seus períodos de infância e adolescência durante os anos 80 e 90.

Comecemos pela adolescência. Estas gerações em Cantanhede dividiam-se em vários grandes grupos: os “meninos bem”, os “queques”, os “freaks”, a “malta do bairro” (de zonas mais desfavorecidas economicamente). As suas bases de inter-relacionamento pessoal eram estabelecidas em zonas distintas, casas de amigos e/ou cafés/bares onde só se atrevia a entrar pessoal dos grupos dominantes.

Na falta de maiores desafios, o “corte e costura” de gozo e maldizer por demais evidente era (e ainda é?...) a arma de defesa de cada grupo mais frequentemente utilizada. Assim se acentuavam as fronteiras com “os outros” e reforçava essa prática depreciativa como a típica e valorizada maneira de ser de toda a gente do grupo. Mesmo daqueles que com isso não concordavam, mas a quem o tempo acabava por dobrar. “Junta-te aos bons serás um deles, junta-te aos maus serás pior do que eles”.

Nestas guerras de protagonismos de bota-abaixo, o grupo dos “meninos bem” sempre deu as cartas mais altas, exibindo roupas de marca e apregoando as suas ligações familiares ou laborais às cidades de alto nível, enquanto marcas registadas do seu “pedigree” distinto do restante povo jovem de Cantanhede.

Ora, este grupo de pequenos “jet-set” acabou por ser apontado como prova cabal por quem acusava o pessoal de Cantanhede de revelar desprezo relativamente ao resto do concelho. Nesta imagem elitista se baseava o pessoal de fora da cidade para justificar a sua antipatia, não apenas por este grupo, mas por todos os “Cantanhedes” que assim eram colocados no mesmo saco, mesmo aqueles que pertenciam aos restantes grupos que não partilhavam as características do tal grupo das pompas e circunstâncias.

Ora, sucedia que toda esta malta dos vários grupos da cidade só se misturava quando abria um café ou bar novo. Aí, nesses momentos sentia-se ou fingia-se existir um espírito de comunidade entre a juventude de Cantanhede. Porém, no fundo, as coisas não passavam de sorrisos de circunstância entre quem fazia que não sabia quem era o outro ou abraços de aparente euforia de quem já não se via há muito tempo (como se não se cruzassem todos os dias na rua ou escola ignorando-se propositadamente ou não)…

Contudo as ressacas do normal dia-a-dia formatado e rotineiro nos tais grupos bem distintos acabavam rapidamente por chegar e tudo o resto pareciam partes soltas de um sonho de uma noite mal dormida… Tudo voltava ao piloto automático de altivez e isolamento chique, sem vontade de construir algo em comum com simplicidade e humildade.

vascoespinhalotero@hotmail.com
(*) Psicólogo do Trabalho e das Organizações / Orientação Vocacional
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quarta-feira, 4 de novembro de 2009

A ESTATÍSTICA NÃO ENGANA (parte 2)

Relativamente às frequentes reviravoltas nas posições defendidas pelos partidos antes e depois de estarem no governo, que comentários costumam surgir entre os cidadãos? Circunstâncias diferentes e compreensíveis dirão uns, incoerência dirão outros, fingimento de oposição em que as propostas dos dois partidos serão, feitas bem as contas, “farinha do mesmo saco” dirão outros ainda…

Não admira que as pessoas durante os mandatos digam que as coisas andam mal, que não gostam do governo, mas que não vêem alternativas e depois quando chega o circo das campanhas eleitorais: tudo esquecem.

De um certo ponto de vista, é até compreensível que memória se torne curta nos distraídos cidadãos quando são ofuscados com tanta diversão de marketing político contratado ao estrangeiro ou a artistas nacionais pagos a peso de ouro… Os profissionais da “névoa” na cidadania conseguem, mostrando um rebuçado, levar uma criança a cair do berço.

No meio de tudo isto, distinguir com critérios claros, fazer escolhas ponderadas e tomar decisões com base nas posições claras de cada oferta partidária transforma-se numa tarefa facilmente gozada ou catalogada de teimosa até o cidadão ceder e se deixar ir na corrente, qual “Maria vai com as outras”.

Até quando surgem escândalos que parecem revelar os podres de quem costuma deter o trono, as coisas já parecem banais, normais, habituais… No fundo, os cidadãos são levados a pensar que se tratam apenas de jogadas (umas mais, outras menos bem disfarçadas) que visam apenas e só proteger interesses financeiros de gente bem colocada juntos dos dois partidos do centro.

A maioria dos cidadãos já parece “educada” neste circo dos “chicos espertos” de pequena ou grande escala, conforme a sua manha para disfarçar ou o seu descaramento para exibir. Nesta efectiva realidade, onde ficam as palavras bonitas: cidadania, liberdade, respeito?

Assim sendo, poderemos chamar a este sistema: democracia? Neste ponto de vista, não será legítimo concluir que, ao longo destas últimas décadas, um só partido tem estado no poder? Pois as directivas e interesses que defendem os dois que se têm revezado parecem ter sido sempre as mesmas…

Não será possível chegar à conclusão de que, no fundo, quase sempre desde o 25 de Abril a democracia tem sido uma ilusão?

Não terão os cidadãos, pensando terem, ao longo de várias eleições, feito mudanças nos vários governos, terem afinal mantido no poder exactamente a mesma camada dirigente tal como acontecia nos tempos do antigamente?

Muita gente diz que se outros para lá fossem tudo seria igual, pois todos querem “poleiro”. Ora, por mais louco que pareça, quem o diz acaba por fazer com que exactamente os mesmos que têm estado no poder por lá vão ficando!

Assim, não seria a mesma coisa se nos dessem boletins de voto apenas com uma opção para por a cruzinha, pois acabamos por manter exactamente a mesma gente no poder?

Afinal, que diferenças teremos de regimes de partido único que existem noutros países no mundo e que criticamos ao ponto de apoiar invasões, bloqueios ou cortes de relações em nome de uma democracia? Democracia como a nossa? Não serão apenas os nossos espelhos com menos marketing e cordiais falinhas mansas?

Mas calma…

Não deveremos precipitarmo-nos a fazer futurologia e a tirar conclusões, mesmo se o passado parecer apontar para aí… Bem, mas vamos esperar pela estatística das alianças nas votações das propostas sobre as várias áreas estratégicas para o país ao longo desse mandato legislativo e depois, aí sim, tirar conclusões pela nossa própria cabeça.

Vejamos então se a maioria as propostas do agrado dos socialistas será aprovada com o aval do PSD, mesmo do CDS ou se, pelo contrário, este partido de esquerda moderada irá apresentar e/ou deixar passar propostas da concordância dos partidos à sua esquerda.

vascoespinhalotero@hotmail.com
(*) Psicólogo do Trabalho e das Organizações / Orientação Vocacional
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A ESTATÍSTICA NÃO ENGANA (parte 1)

Terminado o período de eleições legislativas, com a vitória não absoluta do Partido Socialista, é chegada a hora de este ouvir as outras forças políticas, restando saber quais as suas preferências em termos de opções de base para as áreas mais importantes do país.

Durante a campanha eleitoral, ao tentar marcar a distância relativamente aos partidos à sua direita e à teoria do possível bloco central com o PSD, os socialistas procuraram com sucesso passar a mensagem de uma esquerda moderada e confiável para governar. Esta foi a sua imagem de marca e terá sido essa a principal razão dos votos dos seus eleitores.

Ora, passada essa fase de definições e promessas, eis que chegam os grandes e cruciais momentos da apresentação de provas desta mesma identidade e postura concreta do agora governo eleito. A opinião pública aguarda para ver como serão então abordadas e defendidas algumas posições relativamente às áreas estratégicas que dominam os destinos do nosso país (educação, saúde, economia, cultura, segurança, finanças, etc). E como poderão os cidadãos verificar a forma concreta como as orientações de esquerda moderada são seguidas?

Uma solução poderá passar simplesmente pelo uso de um pouco de matemática, mais propriamente a estatística! Bastará ver no final do mandato com que forças políticas mais frequentemente se aliou o PS para fazer passar propostas na Assembleia da República: PSD, BE, CDU ou CDS.

Uma hipótese que se pode colocar é se se irá manter o costume que tem existido nas maiorias relativas quer de PS, quer de PSD: a esmagadora maioria das leis aprovadas terem o acordo decisivo destes dois partidos para poderem “passar”. Diz-se que tem sido por uma questão de responsabilidade…

Sempre que um destes partidos do centro está no poder com maioria relativa, quando chega a altura de decidir sobre os tais assuntos-chave há sempre um denominado de “consenso de Estado” ou “pacto de regime” e o acordo entre estes supostos arqui-rivais surge de forma tão “milagrosa” quanto frequente. Afinal de contas, parecem ter em atenção as mesmas prioridades e os (seus) interesses comuns…para o país.

Isto nos governos de maioria relativa… Pois, nos governos de maioria absoluta de um partido ou de coligação, o colega do centro que fica de fora mostra supostamente as suas “garras”… Senão vejamos: é curioso verificar que quando um destes partidos (PS ou PSD) está numa maioria absoluta sozinho ou em coligação recebe uma maior percentagem de votos contra do outro partido do “centrão” que está em princípio fora do poder.

Note-se, por exemplo, que, quando PSD e CDS formaram Governo, o PS votou, muitas vezes, contra propostas da coligação de direita, sabendo, claro, que os seus votos eram “inofensivos”, no sentido em que não evitariam a aprovação das propostas, situação que não sucede quando existe um governo sem maioria absoluta… Já depois quando os socialistas passaram da oposição para o governo, o que aconteceu? Pois é…

Lembremos apenas um exemplo entre muitos outros que poderíamos ter escolhido. O caso da aprovação do novo Código do Trabalho que tinha sido apresentada pela maioria absoluta de PSD / CDS e que recebeu um (aparentemente) indignado voto contra do PS. Porém, mais tarde, com a mudança de governo que se seguiu, esta visão do mundo do trabalho foi (surpreendentemente?) ainda mais reforçada com o aval do PS que agora tinha maioria absoluta!
Outro caso curioso foi o do TGV com o PSD a apresentar o projecto e depois, já na oposição, passar a ser do contra… Agora apenas podemos imaginar o que aconteceria se tivessem ganho as eleições…

vascoespinhalotero@hotmail.com
(*) Psicólogo do Trabalho e das Organizações / Orientação Vocacional
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segunda-feira, 7 de setembro de 2009

A VERDADEIRA DEMOCRACIA DE IDEIAS

Na sua essência, a democracia consiste em que as pessoas livremente possam votar nas ideias ou posições que defendem. Ou será antes nas pessoas? Ou, aliás, nas pessoas cuja imagem nos atrai e que, por isso, julgamos conhecer e poder confiar?

Se acreditamos na segunda opção, então, sem conhecer as propostas dos programas políticos, como se a política fosse como o futebol em que cada um torce pelo seu desde pequenino, apostar-se-á apenas no candidato com o aspecto físico mais “confiável” (de entre os dois em geral apresentados pelos dois únicos partidos que normalmente ganham as eleições)?

Isto é, sem sabermos concretamente se concordamos com as suas futuras propostas de lei, passamos um “cheque em branco” a todo um programa político apenas pelos “bonitos olhos” de um mero actor político?

No fundo, carimbamos o passaporte por supostamente não haver alternativas (às propostas de modelo único que a comunicação social nos apresenta…) e, mais provavelmente, por que o marketing da imagem dos candidatos alternativos não ser tão “plasticamente” bem feito?...
Será isto votar em democracia?...

Na minha opinião, talvez um pouco utópica, a verdadeira democracia só se pode fazer se o cidadão puder votar, não em pessoas, mas sim nas ideias com as quais concorda. Ou seja, para mim cada partido deveria ter que apresentar uma lista de posições muito claras sobre várias matérias, sendo todas estas colocadas no boletim de voto e seria o cidadão a votar nas ideias que pretendia, independentemente de onde elas viessem.

O cidadão votaria nas ideias ou, se quiserem, nas propostas concretas e não nos partidos ou caras mais ou menos maquilhadas… Uma espécie de cardápio ou menu ao estilo do que consultamos quando vamos a um restaurante e de entre as várias ofertas escolhemos um prato principal, uma sobremesa e uma bebida.

Até porque um cidadão pode apreciar certas propostas de um partido, mas também outras de um movimento diverso ou outras ainda de autores diferentes! Mas esse conjunto é que é o seu voto e não apenas a cruz num partido! Desta forma, seria, assim, defendida a opinião real do cidadão na sua variedade de pareceres sobre várias matérias.

É certo que existiria sempre o perigo do uso da demagogia e do populismo nas discussões para ganhar votos “robot” criando, para cada grande matéria, rótulos fáceis de decorar e de “meter” na cabeça dos eleitores com menos paciência para comparar argumentos sobre as várias opções. Mas estes truques de retórica feirante já são utilizados actualmente… E só com o debate aprofundado e sério sobre os temas essas tácticas são desmascaradas, sendo que, numa democracia de ideias, essa discussão seria inevitável.

É claro que, adoptando uma postura mais paternalmente realista, é fácil pensarmos que as pessoas não estão preparadas para isto e que não querem saber de discussões a sério sobre as várias matérias. Neste ponto de vista, bastaria olhar para o actual sistema de votação com os seus altos níveis de abstenção e poderíamos pensar que, numa democracia de ideias, com listagens de propostas no lugar da mera lista de partidos para pôr a cruzinha, a coisa seria ainda pior…

No entanto, lembremo-nos que também antes do 25 de Abril a democracia era acusada de ser perda de tempo, pois teríamos um conjunto de sábios, com cultura superior ao comum povo, que governava o país… Por outro lado, é necessário ver as causas da elevada abstenção, algo a que as trocas de bocas, amuos e desvios de conversa nos debates políticos não são alheios…

O que é que isto implicaria? Que as campanhas eleitorais se focassem no debate dessas mesmas posições sobre essas matérias, verdadeiros esclarecimentos muito claros e acessíveis à maioria dos cidadãos (independentemente da idade, formação ou cultura, pois cada voto é um voto), ao jeito do programa televisivo “Prós e Contras”.

Implicaria cidadãos forçosamente mais informados ou pelo menos a tentarem informar-se. Imaginem o que seriam umas eleições em que os cidadãos estão tão esclarecidos e seguros da sua opinião como, actualmente, estão sobre as novelas da moda, futebol, revistas cor-de-rosa, crimes e dramas de “faca e alguidar”! Se assim fosse concerteza não estaríamos na cauda da Europa…

E como seria tudo isto possível? Apenas com uma forte aposta na educação de qualidade, pública e gratuita, ou seja, de grande nível e para todos, gerando igualdade de oportunidades e liberdade efectiva, deixando depois ao cuidado de cada cidadão o rumo da sua vida.

Para este sonho poder ser concretizado num projecto de longo prazo concreto, seria imprescindível valorizar e proteger as figuras que, juntamente com o resto dos funcionários públicos, mais denegridas e fragilizadas têm sido: os professores.

Na minha opinião, todo este conceito é sim a democracia (de debate de ideias e não de marketing de caras). Utopia dirão muitos com um sorriso no rosto…

vascoespinhalotero@hotmail.com
(*) Psicólogo do Trabalho e das Organizações / Orientação Vocacional
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sexta-feira, 24 de julho de 2009

PARA MOTIVAR NO DIA-A-DIA DE TRABALHO BASTA O DINHEIRO?

Muitas vezes, no mundo do trabalho, ouvimos, nos corredores de uma qualquer organização, debates “entre-dentes”, pouco aprofundados e até, porventura e infelizmente, mal informados e/ou esclarecidos.

Nestas conversas da hora do cafezinho são decretadas verdadeiras sentenças, com aparente validade fundamentada, que ultrapassam em força informal e popular qualquer discussão ou reunião concreta ou oficial.

Em grande medida, neste tipo de ambiente quem está há mais tempo na casa tem mais tempo de antena e as suas conclusões (mesmo as mais descabidas) raramente são refutadas, pois “já andam aqui há muitos anos”…

Enquanto os temas de tertúlia se centram nas telenovelas, notícias cor-de-rosa ou futebol surgem sorrisos compreensivos e comentários que só algum fervor clubista pode aquecer… Porém, quando alguém passa a algum tema daqueles mais a “sério”, o ambiente torna-se mais tenso. Aqui, enquanto alguns opinam com volume proporcional ao seu autoritarismo, outros sorriem com lábios que teimam em tremer, enquanto outros ainda preferem fingir não ouvir, até que alguém se atreve a refutar…

Geralmente, por mais assertivo, civilizado ou respeitador que se seja, o populismo acaba por arrastar parte do público e os argumentos trocados teimam em fugir ao cerne dos temas “sérios”. Daqui ao maldizer no corredor ao lado sobre o “atrevidote” que era do contra é um passinho…

Ora, um dos tais assuntos “sérios”, que é assim sentenciado e que, por isso mesmo, talvez tenha levado o povo português a perder a sua capacidade de mobilização esclarecida e construtiva, é, sem dúvida, a falta de motivação na Função Pública. Ouve-se dizer que “faltam prémios de produtividade” para ser possível motivar, que não há outra forma…

Portanto, para fazer um “bolo” de funcionários super-motivados, numa qualquer organização pública, teríamos que usar como “ingrediente essencial” a criação de prémios de produtividade chorudos?

Mas se a “fórmula mágica” fosse assim tão básica por que é que nem todas as organizações privadas do nosso país, que aplicam esta receita, são um sucesso inquestionável? Aliás, haverá concerteza quem diga que a maioria delas funciona mais a nível da exploração do que da motivação…

Sejamos generosos e acrescentemos ainda ao “bolo” um “ingrediente surpresa”: a facilidade de despedimento de funcionários (“ingrediente” tão apregoado por tanta gente para o sector público). Porém, um sabor amargo surgiria com o facto de estar comprovado que fica mais caro despedir um trabalhador, ir buscar outro e esperar que este comece a render (normalmente leva um par de meses) do que motivar quem já lá está e conhece a casa…

Ora, é óbvio que isto não basta. Aliás, reduzir a motivação apenas ao factor económico serve frequentemente para “tirar a água do capote” a muita gente. Vou tentar explicar o meu raciocínio.

Por um lado, permite que as chefias fujam às suas responsabilidades ao nível da gestão e motivação individual e colectiva. Estes argumentos dão-lhes jeito, mais que isso, constituem um “álibi”, pois assim não se lhes pode exigir nada (“não temos condições”) e podem continuar a “gerir” mal pessoas como se fossem a isso “obrigados”…

Por outro lado, os restantes funcionários também ganham um “álibi” para poder cruzar os braços e ficar de consciência tranquila. Assim, podem justificar o seu desinteresse, “deixa andar” ou mesmo boicotar o trabalho bem feito, em jeito de suposta manifestação silenciosa contra as opções de gestão ou governamentais (talvez estes mesmos que acabam depois por votar no exactamente no mesmo Governo…).

Meus amigos, apregoar apenas como fonte de motivação o prémio de produtividade não beneficia a produtividade! Ora, no uso desta desculpa socialmente popular, tanto é culpado, por este “deixa andar”, quem lidera (porque não vê) como quem é liderado (porque não diz ao líder para ver). Eu sei que me dirão, com razão, que há líderes que, mesmo que lhes digam, não querem ver…

Mas atenção, nada de dramas ou apontares de dedo. Qualquer pessoa já ficou mais preguiçosa, molengona, acomodada, passiva ou ferrugenta no trabalho. Sejamos sinceros: já aconteceu a todos nós!

O problema é quando acontece muitas vezes e durante muito tempo até se tornar um hábito! Até perderrmos confiança nas nossas capacidades. Depois torna-se mais difícil reagir a mudanças e aí ou nos tornamos agressivos/destrutivos ou deprimimos ou… com ajuda humilde e genuína dos colegas, com gosto pelos novos desafios do trabalho que produzimos e pela noção sua importância para quem servimos… tentamos voltar ao início!

É claro que também ajudará uma política e estratégia clara e aberta de inovação com aposta na “prata da casa” como acontece em pequenas ilhas de desenvolvimento, embora não deixem de ser apenas ilhas.…

vascoespinhalotero@hotmail.com
(*) Psicólogo do Trabalho e das Organizações / Orientação Vocacional
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sexta-feira, 26 de junho de 2009

EM DEMOCRACIA, QUEM VÊ CARAS NÃO VÊ IDEIAS

Nos dias de hoje, às vezes, ouvimos dizer “não voto nesse político, porque não vou com a cara dele”. E, quando perguntamos sobre o que se pensa acerca das ideias desse político, ouvimos “não sei de nada”.

Seguindo esta lógica, poderemos facilmente considerar como fabulosos candidatos a futuros primeiros-ministros qualquer top-model pouco dada a conversas “demais para a sua cabeça” ou galã de televisão que só sabe o que está escrito no tele-ponto…

Outras vezes, ouvimos “continuo a votar nestes, senão vêm outros e fazem ainda pior”. Nesta lógica, quem vivia na miséria ou era perseguido por algum regime ditatorial continuaria a querer que as coisas ficassem na mesma, antes que ficasse ainda pior…

Frequentemente, ouvimos as pessoas dizer que este Governo é terrível, mas que não vêem solução, porque “os da oposição não têm alternativas, aliás, são a mesma coisa e mal por mal…” Mas a que oposição se referem? A simplesmente outras caras para exactamente as mesmas decisões e prioridades? Ou de outras propostas sobre matérias sobre as quais se tenham manifestado? Se sim, que matérias? E terão mesmo conhecimento das várias propostas? Ou será que tomam as posições do Governo como as únicas que se ouve falar (na comunicação social…) e “ou essas ou nada”?

E não deveria a comunicação social prestar estas informações aos cidadãos (recusando debates apenas a dois e acomodar-se à não existência de verdadeiros debates…), assim como dá destaque às medidas do governo, como se fosse os grandes anúncios de “ou essas ou nada”?

Por que é que quem está contra uma proposta do Governo, explica porquê e apresenta uma proposta concreta alternativa apenas é “transmitido” e apresentado à população, pela comunicação social, com uma frase só, dizendo que está contra?

Assim, aparecem vagos e dispersos os artigos que se fazem nos jornais sensacionalistas ou nos noticiários televisivos! Na televisão, por exemplo, usa-se e abusa-se das notas de rodapé para dar notícias, sem explicação, entrevista e contextualização que só uma reportagem permite.
Ora, para os meios de comunicação social, que se regem pelas audiências e lucros publicitários, as reportagens só valem a pena para os “casos da vida” especialmente dramáticos (onde se prefere esmifrar a miséria do que esclarecer para as causas estruturais de todo o conjunto) ou quando há “cusquice”, “peixeirada” ou “escândalo” sem nunca ir às raízes dos problemas (torcendo até para que mais casos apareçam para aumentar o “share”). É por estas e por outras, que, hoje em dia, se generalizou o mito de que “quando há problema não ligue à polícia, mas sim à TVI”…

À primeira vista, poderíamos achar um exagero a ligação entre o decréscimo de rigor, abrangência e qualidade da comunicação social, especialmente jornais e televisões de canal aberto com mais público, e a falta de debate e de envolvimento dos cidadãos na discussão das diversas propostas (não só as do Governo) para várias matérias essenciais para o país.

Porém, depois vemos o que apenas um bom programa de televisão (“Prós e Contras”) tem feito pelo esclarecimento a sério sobre muitos assuntos, apresentando claramente as visões distintas (alguém acredita que os rumos que levaram processos como o novo aeroporto, aborto, encerramento dos serviços de urgências, entre outros seriam os mesmos sem o “Prós e Contras”?).

No entanto, é apenas um programa de serviço público no meio de tanto “fast food televisivo”… É preciso fazer mais pela discussão continuada, nos meios de comunicação social mais influentes, sobre as várias alternativas, acerca das matérias sobre as quais as pessoas “resmungam de braços caídos”, apresentadas pelos vários partidos ou outros movimentos de cidadãos (pois não é necessário pertencer a um partido para ter propostas concretas para a sociedade)!

Não seria uma boa ideia organizar, nas campanhas eleitorais, debates públicos nas praças de cada freguesia, com apresentação oral e visual (com apresentações simples em power point com limite de tempo), sonorizados de forma a que muita gente possa assistir e efectuar perguntas? Não será isto mais útil, barato e esclarecedor do que cartazes com slogans que não permitem desenvolver as ideias propostas (quando as há)? Aqui a comunicação social teria a responsabilidade de organizar e quem se recusasse a vir deixaria a cadeira vazia à frente de toda a gente…

Tudo isto nos leva ao enigma principal: será por acaso, que este mesmo Governo, que defende muitas políticas com as quais, aparentemente, a maioria não concorda, segundo as sondagens, se prepara para vencer as próximas eleições novamente com maioria absoluta?!

Então, quer dizer que a maioria das pessoas que dará a vitória ao Governo irá votar a favor precisamente das ideias contra as quais todos os dias se têm manifestado (seja em conversas de café, na rua ou “entre-dentes” enquanto vêem um “Telejornal”)?

vascoespinhalotero@hotmail.com
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quarta-feira, 20 de maio de 2009

CONSEQUÊNCIAS DE LONGO PRAZO DO “NIM” (3ª parte)

A falta de debate interno em Portugal sobre temas estruturais (culpa da camada dirigente e dos próprios cidadãos que não “batem o pé”) vai passando de geração em geração. Nada se esclarece, nada se decide, nada se evolui verdadeiramente. Os que tomam as decisões continuam a ser os mesmos e influenciados pelos mesmos e diz-se que não há alternativas… Uns dizem mesmo Jamais!

Como é possível? Quando os esclarecimentos, discussões abertas e soluções para problemas estruturais sempre estiveram disponíveis no nosso país! E nem todas vêm sequer de partidos políticos, há também movimentos de cidadãos e associações com propostas credíveis! Não é preciso ter um cartão partidário para se ter ideias sustentadas.

Basta ver o programa de televisão “Prós e Contras”! Porém, essas propostas alternativas foram e são olhadas por quem manipula o poder com desconfiança, preconceito, rótulo, gozo e tom de ridículo…

Ora, isto não é novidade nenhuma, qualquer cidadão comum comenta entre-dentes este ciclo vicioso em que nos metemos, mas a reacção que se tem até ao momento é o encolher os ombros, dizer que se calhar tem de ser assim ou que até podia ser pior… E por aqui vamos ficando.

Mas quando a cabeça não tem juízo o corpo é que paga e há cada vez mais reacções violentas e, para os mais distraídos, sem causa aparente. Em jeito de retrato psicológico, parece que vamos guardando as frustrações cada vez mais para dentro, até explodir com um mínimo arranhão e assim se cometem muitas asneiras trágicas que se poderiam evitar, principalmente nos chamados bairros sociais…

É que cada vez mais os portugueses não têm tempo nem paciência para más e dispendiosas decisões ou não-decisões, recusas em ouvir outras opiniões e soluções, aparências, “novo riquismo”, “chico espertismo”, fecho de olhos legais, compadrios à descarada, etc. Está tudo farto disto! E continua-se a dizer “nim” aos tais assuntos sociais, económicos e culturais “complicados”…

É como se estivesse um cruzeiro a afundar e a tripulação estivesse cobrar dinheiro aos passageiros para melhorar a pintura dos candeeiros da sala de chá, não querendo ouvir nada sobre fazer algo para evitar o naufrágio e garantir a sobrevivência de todos!

No caso da União Europeia, esta causa foi, é e será o que for negociado entre os estados. Resta ver quem tem vindo a representar Portugal nestas mesas (se tem ouvido a sociedade verdadeiramente para chegar a posições consensuais) e a quem teremos de pedir contas quando a torneira dos fundos se fechar e ficarmos por nossa conta…
Basta lembrarmo-nos da obsessão com as estatísticas quantitativas relativamente ao pessoal com o 9º e 12º ano de escolaridade e não com a sua real qualidade e exigência, das opções tomadas quanto aos fundos europeus e os seus desvios, dos lucros da política do betão e do estado anti-educação, dos benefícios fiscais a grandes grupos e empresas estrangeiras que depois fugiram para países com mão de obra mais barata para explorar, das subidas vertiginosas do custo de vida com o Euro, das privatizações de saldo para grupos portugueses e depois estrangeiros (entre uns e outros…), da crescente degradação das condições laborais (menos direitos e mais horas de trabalho), da constante submissão ao que mandam os países mais fortes, da aposta nos grandes grupos de monopólios em detrimento das pequenas e médias empresas mais próximas dos cidadãos, etc.

Não é por acaso que a maioria dos cidadãos da Turquia não quer a adesão do seu país a este labirinto europeu que estrangula os pequenos e, consequentemente, lhes retira soberania nas suas tomadas de decisão. E sabem que exemplo tem sido dado pelos turcos para não se meterem nesta aventura ou seja neste tipo único de Europa que nos é dado a engolir? Precisamente Portugal!...

vascoespinhalotero@hotmail.com
(*) Psicólogo do Trabalho e das Organizações / Orientação Vocacional
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sexta-feira, 8 de maio de 2009

CONSEQUÊNCIAS DE LONGO PRAZO DO “NIM” (2ª parte)

Nos tempos que correm em que supostamente os cidadãos deverão andar a reflectir sobre as questões europeias, tem sido comum reduzir-se tudo a uma de duas posições: ou se é a favor ou contra a União Europeia. Ora, pondo as coisas apenas dessa forma, se alguém disser que é contra, será imediatamente acusado de ser mal agradecido pelos generosos fundos europeus que nos têm “safado” (embora se vá depois dizendo, com voz mais baixinha, que muitos se têm perdido, devolvido ou sido mal aplicados, mas até fica aquela sensação de que falamos de ninharias…).

E pronto o debate fica por aqui, aliás sempre ficou por aqui, desde a entrada portuguesa neste grande grupo. Então mas se é só mesmo isto, para quê eleições europeias, deputados europeus, políticas europeias e todas essas supostas perdas de tempo?

Na minha opinião, a discussão deverá sim ser que tipo de Europa queremos e quais as condições e papéis de cada membro, incluindo o nosso. Perguntemos ao comum cidadão a sua opinião, depois de se puxar o assunto toda a gente tem uma com “pés e cabeça”, mas é preciso que se lhe pergunte alguma coisa concretamente, se lhe dê ouvidos e já agora real poder de decisão.

Ora, sobre estes e muitos outros assuntos de importância estrutural, dentro da nata dirigente nacional, que dirige o país desde há algumas décadas, com posições-chave sempre de acordo, há alguns que dizem que já toda a gente à partida estava e continua a estar esclarecida e de acordo… Ainda dentro deste grupo, outros dizem que são assuntos de tamanha importância e complexidade que o comum cidadão não poderá compreender e que a decisão deve ser “assumida” politicamente (desconfio que seja o sonho secreto de muitos supostos democratas com apetite pelo Antigamente…).

Há um exemplo que encaixa nas duas opções: falemos de Portugal na União Europeia. Reportando-nos às condições da nossa entrada, passando pela sua evolução e finalizando no seu futuro, a questão que devemos colocar é: alguém nos explicou e perguntou alguma coisa?
Mas atenção, a culpa também é dos próprios cidadãos, nos quais me incluo! Nós, portugueses, habituamo-nos a pensar na Europa apenas pelos fundos económicos e que o melhor é estarmos caladinhos antes que a torneira feche. O debate a sério também não existe, por causa deste mesmo jogo duplo. Enfim, nós habituámo-nos a olhar a produção nacional como fora de moda e embarcamos, mais uma vez na nossa História, no estrangeirismo sem critério (porque com critério é positivo). Sim, a culpa é também de nós próprios!

É certo que debater os tais temas de fundo com visão abrangente, plural e com conclusões corajosas e consensuais para aplicar na prática não é fácil (embora já saibamos ser possível – relembremos o volte face sobre o novo aeroporto).

No entanto, fechar subtilmente a porta a este debate desde início, dizendo o politicamente correcto “nim”, tem consequências de longo prazo que levam ao país em que estamos hoje em que parece impossível chegar a caminhos consensuais.

Mesmo com o “barco a afundar”, nesta elite de “manda-chuvas” ninguém quer tocar nas potenciais soluções para os problemas estruturais, pois não sabe mobilizar a sociedade para o debate, dado nunca lhe ter dado ouvidos, sendo que, com as eleições aí à porta, o melhor é isto andar calminho…

Não o fazem por que não sabem e também por que não querem! E porquê? Pois há investimentos de “grupos ou empresas amigas” a proteger (atente-se à nova lei de financiamento dos partidos e aos “financiamentos” que permite…) e há que garantir também os votos dos mais conservadores, menos esclarecidos ou de mais difícil esclarecimento…

E quais as consequências de longo prazos destes “nins” ao debate com a sociedade? Fica tudo na mesma ou pior ainda…

vascoespinhalotero@hotmail.com
(*) Psicólogo do Trabalho e das Organizações / Orientação Vocacional
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CONSEQUÊNCIAS DE LONGO PRAZO DO “NIM” (1ª parte)

Há assuntos sociais, económicos e culturais mais “complicados” que os líderes e camadas dirigentes no geral no nosso país não conseguem retirar do “nim”, justificando que, para estes casos, é preciso um amplo e profundo debate na sociedade e conveniente consciencialização das massas. Mas o que é certo é que depois fecham desde início a porta a esse mesmo debate!

É preciso ter presente que a consciência social, que resiste à demagogia e populismo, leva o seu tempo para conquistar uma esmagadora maioria da população. No entanto, se os líderes vestirem a camisola neste esclarecimento e derem a cara para o fazer (afinal de contas, isso é a essência da política e da cidadania) as coisas revelam-se mais fáceis e mais rápidas. É que as coisas não se mudam por milagre, é preciso trabalhar para isso!

Porém, no nosso sistema político, onde dois partidos têm partilhado todas as linhas de base de decisões nas últimas décadas, mesmo com o “barco a afundar”, ninguém quer tocar nas potenciais soluções para os problemas estruturais.

Nesta nata (com honrosas, mas impotentes excepções) quase ninguém quer “dar o corpo às balas” no que respeita a debater estes temas de fundo com visão abrangente, plural e com conclusões corajosas e consensuais para aplicar na prática. E porquê? Pois há investimentos de “grupos ou empresas amigas” a proteger, há eleições a ganhar e, para este remoinho continuar, há que garantir também os votos dos mais conservadores, menos esclarecidos ou de mais difícil esclarecimento…

Ora, isto não é novidade nenhuma, todo o cidadão comum comenta entre-dentes sobre este ciclo vicioso em que nos metermos, mas a reacção que se tem até ao momento é de encolher os ombros, dizer que se calhar tem de ser assim ou que até podia ser pior… E por aqui vamos ficando. Mas quando a cabeça não tem juízo o corpo é que paga e há cada vez mais reacções violentas e aparentemente sem causa no momento muito forte: parece que vamos guardando as frustrações para dentro, para dentro, até explodir com um mínimo arranhão!

É que cada vez mais os portugueses não têm tempo nem paciência para más e dispendiosas decisões ou não-decisões, recusas em ouvir outras opiniões e soluções, aparências, “novo riquismo”, “chico espertismo”, fecho de olhos legais, compadrios à descarada, etc. Está tudo farto disto! E continua-se a dizer “nim” aos tais assuntos sociais, económicos e culturais “complicados”…

É como se estivesse um cruzeiro a afundar e a tripulação estivesse cobrar dinheiro aos passageiros para melhorar a pintura dos candeeiros da sala de chá, não querendo ouvir nada sobre fazer algo para evitar o naufrágio e garantir a sobrevivência de todos!

Enfim, estas questões vão passando de geração em geração, nada se esclarece, nada se decide, nada se evolui verdadeiramente, sendo os que tomam as decisões continuam a ser os mesmos e influenciados pelos mesmos e diz-se que não há alternativas… Como é possível? Quando os esclarecimentos, discussões abertas e soluções para problemas estruturais sempre estiveram disponíveis no nosso país!

Não nos digam que não há soluções e alternativas! Jamais! E nem todas vêm sequer de partidos políticos, há também movimentos de cidadãos e associações com propostas credíveis! Basta ver o programa de televisão “Prós e Contras”! Porém, essas propostas alternativas foram e são olhadas por quem manipula o poder com desconfiança, preconceito, rótulo, gozo e tom de ridículo…

vascoespinhalotero@hotmail.com
(*) Psicólogo do Trabalho e das Organizações / Orientação Vocacional
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quinta-feira, 9 de abril de 2009

CÁ SE VAI ANDANDO…

Numa altura em que, neste ano de 2009, se vislumbram, no horizonte três eleições, vale a pena reflectir à distância sobre o que já nos acostumamos a ver nestes momentos.

O que assistimos, desde há um bons anos a esta parte, quando chega à altura das eleições, é um desfile de slogans pomposos, fotografias de estado, outdoors de milhares de centímetros/euros, bandeirinhas coloridas de cores sempre renovadas, autocarros recheados de gente ansiosa pela jantarada e concerto de música pimba para animar a malta antes da seca do discurso do político… É certo que nem sempre é assim, mas quanto mais se aproxima a data de ir visitar as urnas, infelizmente, mais comum se torna.

Chamar a tudo isto campanha eleitoral num sistema democrático chega a parecer anedótico… Mas o que é certo é que na hora H funciona! A população entra num estado de alienação, extremismo “clubístico-partidário” exaltado (com direito a claques dos jotas) e esquecimento pela dura realidade do dia-a-dia, só comparável a quando o país pára para ver um derby da bola.
Tudo parece acontecer! Tudo? Não, o debate de propostas concretas cada vez fica mais fora de moda… Quando algum líder político se atreve genuinamente a lançar estas questões, logo surge algum director profissional de campanha que lhe diz baixinho que, assim, afasta potenciais consumidores, perdão, eleitores.
Discutir planos de longo prazo, medidas de base para problemas estruturais e opiniões sobre assuntos mais “complicados” não rendem brilhantes destaques de Telejornal e podem custar descidas nas sondagens. O que é preciso é que o marketing da imagem dos candidatos seja “plasticamente” bem feito. E como “água mole em pedra dura tanto bate até que fura”, o político de intenções genuínas lá acaba por ceder ai director profissional de campanha… De repente, já se acha tudo natural, é assim, tem que ser e por aí fora. Enfim, pensa-se cada vez mais que “essas coisas do que é para fazer ficam para depois das eleições”.

E o que acontece quando acaba a festança, perdão, a campanha das eleições? Volta-se à rotina… As pessoas queixam-se, lamentam-se, gritam… “Despejam o saco” no vizinho que os tem que ouvir (ou aturar…) e vão para casa mais aliviadas por supostamente mostrarem a sua coragem e indignação. “A mim ninguém me cala”, embora só a muito custo consigam vislumbrar propostas alternativas concretas… Alias, muitas vezes, a conversa não tem sequer final construtivo… Porém, quando chegam as eleições, ninguém os ouve … Ou, por vezes, em incoerência-mor, até se ouvem, mas sim a elogiar, empunhando uma bandeirinha ou envergando um crachá, aqueles que apresentaram propostas contra as quais resmungam todos os dias… Pena sim de quem os tem que aturar depois no normal dia-a-dia…

Outros tentam fazer-se ouvir, manifestam-se e apresentam propostas alternativas. Propostas estas que são, sem serem analisadas, à partida ignoradas ou desacreditadas e por quem? Precisamente pelos que apenas se queixam, lamentam, gritam, resmungam sem final construtivo… E estimulados por quem?

Em boa parte, pela tal comunicação social que só aborda os temas “ao de leve”, preferindo o sensacionalismo do caso a caso, transmitindo a sensação de que não há propostas alternativas aos problemas que o país atravessa. Empurra, para um cantinho escondido de destaque, as soluções apresentadas por outros partidos ou movimentos de cidadãos (pois não é necessário pertencer a um partido para ter propostas concretas para a sociedade)... Porquê? Por que não trazem polémica por si só, espectáculo, audiências, contratos publicitários, lucros…

E a quem é que este ciclo de “não faz, nem deixa fazer” dá jeito?... Talvez às elites económicas dos grandes bancos, especuladores, seguros, imobiliárias, construtoras, companhias energéticas, entre outros que nunca estiveram, estão e estarão interessadas em ouvir e perder o seu poder e, acima de tudo, os seus lucros, quer haja crise, quer não.

Diz-se que, hoje em dia, temos liberdade, mas sem igualdade de oportunidades esta valerá, só por si, assim tanto? Sem a garantia de que se é pelo menos ouvido, de que serve falar, queixar, lamentar, gritar, resmungar ou mesmo manifestar construtivamente?

Se, como vimos, a nossa actual democracia é o que é e a nossa actual liberdade vale o que vale, em que é que estamos, afinal, assim tão diferentes de outros regimes com imagem mais rígida? Enfim, como dizia uma célebre canção de Sérgio Godinho, cá se vai andando com a cabeça nas orelhas…

vascoespinhalotero@hotmail.com
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segunda-feira, 16 de março de 2009

COMUNICAÇÃO SOCIAL SENSACIONALISTA: FORMA OU (DES)INFORMA?

Para os que viveram as realidades do antigamente e para os que, hoje em dia, assistem a um qualquer documentário sobre História, parece ou parecia mais fácil ver o que naqueles tempos era um ditadura ou uma democracia, onde estava a censura ou a liberdade.

Actualmente, é tudo mais “nublado”. O poder da comunicação social e do marketing, tornou-se na nova e sofisticada máquina de propaganda. Dominada por grupos económicos, que apenas lutam pela sua sobrevivência e lucro e não o serviço público ou cidadania (porventura, assim iriam perder clientes), esta máquina adormeceu a opinião crítica e construtiva das pessoas. Mistura-se jornalismo, cidadania e educação com lucros, famosos e audiências… coisa boa não pode dar.

Só quando uma grave crise económica nos bate à porta e ao bolso é que as pessoas despertam, sem, infelizmente, procurarem as causas, as opções e os interesses que contribuíram para tudo isto.

Não será no mínimo estranho andarem bancos, companhias de seguros, especuladores e companhia limitada, desde há uns bons anos, a terem lucros estratosféricos (os seus administradores que o digam…) e agora, de repente, toda a gente fala da crise financeira como se fosse uma inesperada peste negra?

Sim, diz-se que simplesmente aconteceu, como poderia ter acontecido a queda de um meteorito… Foi um azar, dizem… Dizem, quem? Ah! A comunicação social…

A tal máquina que tem como simples propósito, consciente ou inconsciente (por vezes, os seus funcionários não têm noção do papel que realmente estão a desempenhar…), apoiar quem lhe dá lucros. Um famoso ditador disse um dia: quanto maior for a mentira, mais gente acreditará nela.

Esta máquina de propaganda facilmente se apoia na demagogia populista e paternalista para com o “zé povinho”, na dependência do sensacionalismo das notícias que só nos fazem abrir a boca de espanto e não reflectir numa opinião informada, na mesquinha “cusquice” pelos vazios assuntos da bola e das revistas cor-de-rosa, na imposição de somente as ideias, serviços ou produtos economicamente rentáveis para algumas gigantescas corporações multi-nacionais.

Para um cidadão se informar, conhecer e poder desenvolver uma opinião própria rica e sustentada numa análise longa quer do passado, quer do futuro, é necessário ir mais além do que as normais fontes de informação. Ou, pelo menos, é necessário receber com espírito crítico e questionador qualquer registo que nos seja apresentado num qualquer noticiário.

Qualquer “Telejornal” deve ser visto apenas como um ponto de partida para debates e trocas de opiniões, até ao ponto de estarmos seguros de poder, aí sim, ter a nossa.

vascoespinhalotero@hotmail.com
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quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

A PARTE DIFÍCIL PARA SE SER SINCERO E JUSTO E PARA O SEREM PARA CONNOSCO…

Já aconteceu a qualquer pessoa: ter que comunicar a alguém uma falha, um defeito, um erro ou simplesmente algo de que não gostamos ou que foi mal feito por um amigo, um colega de trabalho ou mesmo um estranho.

Por um lado, surge a situação de quem tem de apontar o erro e contar a quem o fez da sua existência. Existe sempre algum desconforto e receio de ferir sentimentos. Afinal somos pessoas e não robots sem emoções. Acontecem hesitações, mesmo com a melhor das intenções, de provocar ressentimentos, pelo risco de se virarem contra quem sinaliza o erro. Ninguém quer ser apontado como “fiscal”, “bufo” ou “queixinhas”, mesmo no caso de se falar com a pessoa visada em primeira-mão e não soltar a informação pelos corredores dos boatos… Concerteza já qualquer pessoa teve que lidar com este dilema: como dizer aquela pessoa que errou? E se que esta leva a mal?

Ora, talvez seja útil colocarmo-nos no papel da outra pessoa. Quando nos reportam um erro que cometemos, essa verdade é dura, mas está lá. Não lhe podemos fugir eternamente e teremos que a enfrentar mais dia, menos dia, de uma forma ou de outra.... Porém, não gostamos, com razão, que essa descoberta seja publicitada como grande conquista por quem a sinalizou.

Podemos, sem dúvida, preferir que sejamos nós mesmos a dar conta dos nossos erros, de forma a, de imediato, os podermos emendar ou remendar, porém somos humanos e, por mais perspicácia, valor, técnica ou poder de análise que tenha uma pessoa, é humanamente impossível estar preparado para detectar todos os erros.

O que é certo é que, no fundo e no limite, todo o ser humano procura a verdade. Assim sendo, a solução poderá passar por pensar em como gostaríamos que nos comunicassem um erro que fizemos.

E o que pode fazer quem é acusado para aliviar o desconforto da situação? Preparar-se para enfrentar a sinalização de um erro cometido por si. Independentemente do erro, a reacção pode dar-se de várias formas: negar até à exaustão, acusar a outra pessoa de má fé, colocar o foco das culpas para outro lado, reconhecer, gerar soluções, etc. Cabe ao próprio escolher.

Uma equipa de trabalho de sucesso geralmente possui facilidade de diálogo, franqueza e abertura à mudança e à melhoria. Aqui é fundamental que cada elemento que receba a sinalização de um erro cometido por si, consiga ouvir, debater argumentos e reconhecer os pontos em que não tem razão (existem sempre, assim como os inversos). Para além de procurar conselhos sobre sugestões de melhoria e pensar conjuntamente em formas de o erro não se repetir no futuro.

No fundo, é imprescindível garantir que se constrói algo ali, que se ganhou qualquer coisa com aquele debate, que algo depois se passou a fazer de maneira diferente do que se fazia (relativamente ao erro).

Nestas situações é certinho que alguma coisa muda. Assim, o desafio é que mude de forma construtiva e para melhor! Para isso é vital que os líderes, gestores ou moderadores se agarrem construtivamente, com “unhas e dentes“, a factos e a conteúdos fundamentados. Se isso não suceder as pessoas fecham-se, confundem sinalização de erros com acusações e, assim sendo, passam a não querer “acusar” (se não forem acusados), nem admitem ser “acusados” (visto que não acusaram antes).

Quem não arrisca, pode errar menos vezes, porém os erros que cometer serão constante e inevitavelmente sempre os mesmos erros… Se é humanamente impossível nunca cometer um erro, já podemos esperar não cometer sempre os mesmos, sendo sinal de evolução.

Quem arrisca, quem inova, também cometerá erros, mas estes advirão de desafios e da procura permanente de resolução de problemas. Assim se aprendem coisas novas, se evoluem em mais campos e nos tornarmos mais completos e maduros.

Se dois erros não fazem um acerto… também é certo que quem não arrisca, não petisca… e quem não tem medo de errar, muito mais que outros aprenderá!

vascoespinhalotero@hotmail.com
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segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

QUAL A LEGITIMIDADE DA DISCIPLINA DE VOTO PARTIDÁRIA? (II)

Nas eleições legislativas, nós, cidadãos, votamos em deputados individualmente para nos representarem. Embora estejam, naturalmente, comprometidos com o programa eleitoral consensual do partido a que pertencem, tudo o resto cabe ao seu juízo de consciência. Ou seja, aqui entram os valores que cada um defende para a sociedade enquanto cidadão eleito para pensar pela sua cabeça!

Nesta perspectiva, seria, portanto, óbvio, legítimo e legal que qualquer deputado exercesse o seu direito de voto na Assembleia da República segundo as suas opiniões sobre cada tema. No entanto, surge o choque com a realidade: disciplina de voto implementada pela direcção de uma banca que impede os seus deputados de votar consoante as suas reais convicções.

Adoptando uma postura um pouco mais compreensiva, poderíamos até respeitar as posições consensuais dos partidos, se estes as debatessem real e abertamente nos seus congressos, coisa que não acontece, servindo apenas para agitar bandeiras quando dão as 20 horas de horário nobre de televisão...

Correndo o risco de ser algo redutor: faz algum sentido, num país com um sistema supostamente democrático, que um deputado seja obrigado a votar “não” quando a sua opinião é “sim”? Gostaria de saber se os deputados socialistas (assim como de qualquer outro partido) que deliberada e conscientemente ignoraram a ordem de disciplina partidária vão ou podem vir a ser punidos…

Como é possível um político manter-se íntegro e sincero nos valores em que acredita quando é assim manipulado com um simples fantoche? Quem é que aguenta? Se calhar ninguém!... Assim se afastam cidadãos que poderiam trazer verdade e transparência à política. Já os que aguentam e ficam tornam-se iguais ou mesmo piores dos que os manipulam: elevando os patamares da arte da hipocrisia, demagogia e politiquice cor-de-rosa. É que só assim conseguem sobreviver nesta selva de interesses descarados…

Concluindo, certamente que nós, cidadãos, não votamos para que o deputado que nos representa a nossa zona geográfica seja um “Maria vai com as outras” que levanta o braço como um robot, se os colegas o acordarem da sesta; que lê o jornal desportivo na “seca” dos debates, murmurando que “o que era bom eram uns seis mesitos sem democracia”; que, quando um seu colega fala ao microfone, repete com ar sério até à exaustão, qual canção de infância, “Muito bem, muito bem!”; que “pica o ponto do dia” e vai à sua vida pré-eleitoral, baldando-se a comissões e inquéritos; que à sexta-feira vai mais cedo de fim-de-semana algaraviado logo a seguir a aprovar decisões para o resto da população apertar o cinto e trabalhar “como deve ser” (semana das 65 horas, congelamento de salários, facilitismo na obtenção anos de escolaridade, ordenados chorudos de grandes cargos de confiança política, salvação de bancos de multimilionários em risco, etc).

Às vezes, mete dó reparar nas excursões escolares de crianças que vão à Assembleia da República ver estes tristes exemplos, para quando os miúdos forem grandes… serem iguais a eles?

vascoespinhalotero@hotmail.com
(*) Psicólogo do Trabalho e das Organizações / Orientação Vocacional
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QUAL A LEGITIMIDADE DA DISCIPLINA DE VOTO PARTIDÁRIA? (I)

Recentemente foi apresentada, para votação na Assembleia da República, uma proposta que defendia a legalização dos casamentos entre casais homossexuais, suscitando a questão da legitimidade da chamada disciplina de voto dentro dos partidos.

Esta proposta foi chumbada com votos contra da maioria das bancadas parlamentares do PS, PSD e CDS/PP. Houve, no entanto, votos favoráveis apresentados por alguns deputados das primeiras duas bancadas, sendo que, no caso do PSD, a liberdade de voto foi decidida. Já no caso da bancada socialista imperou a então chamada disciplina de voto.

Este último ponto constitui-se num episódio caricato e, a meu ver, grave. Segundo consta, pelo destaque que foi dado por alguma comunicação social, dentro da bancada do Partido Socialista, existiu acesa discussão, visto vários deputados terem opiniões distintas sobre a matéria a ser votada na Assembleia da República.

Foi decidido pela direcção daquela bancada que existiria disciplina de voto, reprovando a proposta apresentada e apoiada pelos partidos à esquerda do PS. Esta posição impediu, consequentemente, qualquer deputado de ter uma votação diferente, mesmo que a sua opinião não fosse aquela.

Foi definida apenas uma excepção, sustentada em critérios mal explicados, para o presidente de Juventude Socialista (organização que defende esta matéria há alguns anos, como inclusivamente chegou a constar no programa político de uma das legislaturas do então primeiro-ministro socialista Eng.º António Guterres).

Ora, acontece que, nas eleições legislativas, cada eleitor vota, não para eleger um primeiro-ministro, não para eleger uma bancada partidária, mas sim para escolher o deputado que entende melhor poder representar a sua região (no nosso caso Coimbra) na Assembleia da República, constituindo, desta forma, uma amostra representativa da população portuguesa.

Portanto, quando votamos nesse deputado temos (ou teríamos…) de ter em conta as suas opiniões próprias e não a sua mera subjugação à vontade da direcção do partido a que pertence (embora eu duvide que muita gente, na qual me incluo, saiba o nome dos deputados eleitos que representam a nossa região).

No entanto, se assim não fosse assim, bastaria estar na Assembleia da República um deputado por cada partido, possuindo uma ponderação de voto diferenciada, conforme as percentagens obtidas nas eleições, em vez de todo o grupo representativo de cada uma das regiões portuguesas! Ora, isto não é obviamente o que está previsto no nosso sistema democrático…

vascoespinhalotero@hotmail.com
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