terça-feira, 23 de novembro de 2010

PORQUE HÁ NOVOS QUE SÃO AINDA MAIS VELHOS… (4ª parte)

Por que razão têm as organizações públicas e privadas de apostar na educação cívica? Bem, porque, para além de melhorar a motivação dos seus funcionários, assim incentivam também a curto, médio e/ou longo prazo a produtividade e inovação.

Reparemos que não tem sido assim tão difícil e longa a mudança, por parte da população no geral, nalgumas áreas chave como reciclagem, por exemplo. Precisamente devido à sensibilização ter sido direccionada para todas as gerações!

Contudo é preciso apostar nisto mesmo e não entrar no jogo de dizer que é complicado e tal… O caminho faz-se caminhando e, na maior parte das vezes, chegamos ao final e dizemos que até nem foi assim tão difícil!

Uma coisa é certa: a visão que cada pessoa tem sobre o trabalho, em particular, bem como sobre a vida e sociedade, no geral, é apresentada e debatida, aprendida e re-aprendida no dia-a-dia laboral. Daqui a expressão: a verdadeira escola da vida…

Cabe assim dizer que esta aprendizagem vivencial não acaba, portanto, na “escola” do sistema educativo. Não é apenas nos “tempos da escola” que se formam valores, há mais vida para além desta fase… Assim, seguindo esta perspectiva, o mundo do trabalho deverá ter para os adultos o mesmo papel que a escola tem para as crianças e adolescentes: formar.

Se um miúdo sentir que as suas ideias são ouvidas na escola e que lhe dão a oportunidade de implementar os seus projectos também no mundo “lá fora” terá essa esperança e responsabilidade cívica para com os outros. Ora, exactamente o mesmo se poderá passar no trabalho numa qualquer organização!

Também as organizações (públicas e privadas) deverão ter esse papel relativamente aos adultos, garantindo com certeza retorno para si e para a sociedade em que estão inseridas. Se esta perspectiva vos parecer muito sonhadora, pesquisem sobre o funcionamento das melhores empresas suecas ou norueguesas…

vascoespinhalotero@hotmail.com
(*) Psicólogo do Trabalho e das Organizações / Orientação Vocacional
Leia todos os artigos na Internet em: www.dosonhoaoprojecto.blogspot.com

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

PORQUE HÁ NOVOS QUE SÃO AINDA MAIS VELHOS… (3ª parte)

A meu ver, a chave da mudança das novas gerações está nas gerações adulta e idosa actuais, com os seus exemplos positivos ou negativos dados… Daí que apostar na formação dos adultos e idosos actuais não é desperdiçar recursos. Há que mudar desde já o presente e investir realmente nas mudanças do futuro a consolidar pelas novas gerações.

A “bola” do início de alterações não deve ser passada, assim, para os mais novos, como quem diz vá “faz lá tu sozinho, se conseguires…” Geralmente, isto acaba por levar a que tudo fique na mesma e a geração mais velha possa dizer “eu não disse que era complicado…”.

Nesta perspectiva, o insucesso dos mais novos assim “deixados à deriva” é previsível, quando a colaboração e apoio de quem tem mais experiência é semelhante a quem dá uma receita de culinária, omitindo as quantidades, e diz que está ansioso por provar os novos cozinhados…

Ora, sejamos positivos: há, sem sombra de dúvida, muitos casos de bons exemplos. Aqui fica um pequeno exemplo a que eu já tive o prazer de assistir: “se a minha avó e o meu pai fazem reciclagem, eu que sou novo também quero fazer e vou dizer aos meus amigos para também fazerem!”. Só mexendo no presente se pode mudar o futuro! Não se pode continuar a fazer uma coisa agora, dizendo que mais tarde é que vai ser diferente…

Assim, quanto mais se negligenciar e desaproveitar o potencial de inovação e adaptação / incentivo a mudanças sociais e de cidadania que os mais velhos possuem, mais se estará a gerar nestes um alheamento ou um amargo olhar de vingança que se revela no dar maus exemplos de passagem de atitudes destrutivas e mesquinhas…

A solução estará nas lideranças que apostam no potencial de inovação com experiência, por parte dos mais velhos, ouvindo-os para as mudanças (o que é completamente diferente de ficarem refém de “velhos do Restelo” anti-mudança socialmente responsável e consensual após discussão…).

É preciso que os líderes de qualquer organização apostem nas características positivas dos mais velhos e, assim, darão bons exemplos para os mais novos. Atenção: não estou a fazer a apologia da máxima de “defender os mais velhos só por defender” ou só porque fica bem! É preciso saber concretamente porquê e, com precisão, o quê. É necessário defender concretamente os pontos positivos que eles têm e que serão sempre necessários aos mais novos no seu presente e no seu futuro enquanto adultos!

Reparem que não estamos aqui a falar de “bons” e “maus” da fita, mas sim de características positivas ou negativas que qualquer adulto pode ter e explorar mais ou menos, sendo que, no final, se tiver algum papel importante na sociedade, será sempre um exemplo… esse sim: bom ou mau!

Atrevo-me a dizer que há muita gente mais nova de idade, mas já com mentalidade bem mais velha do que pessoas com cartão do cidadão mais antigo!

Resumindo: não basta esperar pela geração mais nova, é preciso dar-lhe exemplos de agora, de adultos de hoje que possam seguir pela positiva. No entanto, com esta linha de raciocínio, surgem outras questões…

Que exemplos temos hoje de como ser bem sucedido na sociedade? Aliás o que é hoje ser bem sucedido na sociedade e o que é preciso fazer para lá chegar? Se não houver bons exemplos para esclarecer isto aos mais jovens, a nova geração será uma surpresa de facto…

Posso até apontar um exemplo: basta vermos como o pessoal das juventudes partidárias (pelo menos dos grandes partidos) imita os tiques arrogantes, os discursos vazios e as futilidades da vida dos cabeças de cartaz que, assim, lhes dão apenas este tipo de exemplos…

vascoespinhalotero@hotmail.com
(*) Psicólogo do Trabalho e das Organizações / Orientação Vocacional
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quinta-feira, 11 de novembro de 2010

PORQUE HÁ NOVOS QUE SÃO AINDA MAIS VELHOS… (2ª parte)

Parece-me que a sociedade de hoje e os seus líderes de opinião se desresponsabilizam, de forma leviana, quando atiram para a escola (sublinhando as suas lacunas ou para a sua ausência) o fardo do incentivo à cidadania nos seus cidadãos adultos.

Parece que se passa a mensagem de que a única esperança passará pelo surgimento futuro de uma milagrosa nova geração de crianças / cidadãos “proveta” modelo. Portanto a escola que trate disso… Como se para os actuais adultos já não existisse “esperança”, como se “burro velho não aprendesse nem pudesse ensinar línguas”!...

Ora, esta atitude, vinda de cima, por um lado, discrimina a geração adulta no trabalho e na sociedade que quer participar activamente, mas, por outro lado, também a desresponsabiliza… E como? Permitindo-lhe aproveitar o álibi do “coitadinho”, possibilitando que muita gente, com potencial, lave as suas mãos, dizendo que, afinal de contas, já não tem nada a ensinar, a aprender, a mudar…

Esta atitude de conformismo, ultra-protecção, falta de aposta e até embaraço para com os mais velhos, da parte das lideranças, cria, na sociedade, uma ânsia, ao jeito de Dom Sebastião, pelo momento em que os mais novos tomem conta disto! Parece que até esses “craques” chegarem só nos restará olhar para os ponteiros do relógio e esperar, com a angústia e esperança similares à que sente uma criança que aguarda o seu presente de Natal…

No entanto, estas expectativas são, para além de altas, muitas vezes ilusórias, pois, tal como a criança nunca fica tão satisfeita com o presente real quanto esperava ficar com o presente idealizado, também as novas gerações não parecem nunca corresponder a este papel de Messias salvador que lhes é atribuído! Então e porquê?

Na minha opinião, talvez porque as novas gerações, muito mais facilmente do que se possa esperar, copiam os velhos hábitos positivos e também negativos que os mais velhos mostram através dos seus exemplos do dia-a-dia, dados nos vários contextos de vida, entre os quais o do trabalho…

O “fruto proibido é o mais apetecido” e se a nova geração aprende uma coisa dentro de portas e depois quando vê o mundo fora de portas lhe mostra outra coisa, que até lhe permite sobreviver com mais sucesso ou recolher uma maior valorização social (porque assim ouve dizer que “também é dos nossos”), torna-se mais compreensível a razão por que este ciclo nunca vai parar…
Focando-nos num campo mais específico, os responsáveis pelas escolas afirmam frequentemente que não conseguem apoiar mais um aluno, pois a sua família, devido aos seus velhos hábitos, “estraga tudo” dando exemplo contrários…

Ora, se, por um lado, as escolas precisariam de mais técnicos para apoiar as famílias, por outro lado, a família é composta por adultos, podendo estes ser apoiados e evoluir nas suas atitudes, através das aprendizagens que vão tendo no mundo do trabalho profissional, enquanto empregados ou mesmo formandos, como sucede no processo de reconhecimento e validação de competências.

Quanto a este último processo, há que apontar que o Governo com as suas metas meramente quantitativas para a estatística (delas fazendo depender a atribuição e/ou manutenção de financiamentos para cada Centro de Novas Oportunidades) tem dificultado enormemente o bom trabalho dos técnicos da área…

Já quanto à formação social e cívica nas empresas, bem como o apoio in loco, tudo está à deriva, dependendo da maior ou menor boa vontade ou visão abrangente dos líderes, ainda por cima numa altura que estão com a corda financeira ao pescoço…

vascoespinhalotero@hotmail.com
(*) Psicólogo do Trabalho e das Organizações / Orientação Vocacional
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terça-feira, 2 de novembro de 2010

PORQUE HÁ NOVOS QUE SÃO AINDA MAIS VELHOS… (1ª parte)

Nos tempos de hoje, um adulto empregado, descontando o tempo em que dorme, está de férias ou usufrui do seu tempo livre, passa a maior parte das horas da sua vida no contexto de trabalho.

Assim sendo, acaba por ser, necessariamente, também aqui que expressa e molda os seus valores ao longo da sua vida. No trabalho, e, a partir do trabalho, para a sociedade, as pessoas dão e recebem os seus contributos, as suas responsabilidades, os seus direitos…

Quer se olhe para o lado (dizendo que com a crise não há tempo para pensar nessas coisas) ou não, o que é certo é que uma empresa, por exemplo, nunca é apenas um mero local de produção material ou intelectual… É, também, um local de aprendizagem de lições humanas e de exemplos que transportamos (quer queiramos quer não) para a nossa visão sobre os diversos contextos da sociedade e da vida no geral.

Esta influência social é inevitável. Porém, pode ser bem aproveitada e aí entra-se no campo da responsabilidade social das organizações no mundo do trabalho. Agarrar esta oportunidade passará inevitavelmente pela promoção de boas práticas a nível ambiental, de cidadania, de trabalho em equipa, inovação, etc, tendo em conta o tempo que uma pessoa passa no trabalho ao longo da sua vida.

Atenção que isto não tem rigorosamente nada a ver com pressões e censuras nas opções políticas de cada um! Não há aqui nada a confundir, reforço isto, pois muitas vezes estas dúvidas e mal entendidos levam a que as pessoas arranjem álibis, mal fundamentados, para se “livrarem destas coisas chatas” da sociedade e da cidadania…Há sim, aqui, uma fronteira bem definida que nos deve separar de outros tempos, assim o esperamos... Mesmo que patrões menos escrupulosos tentem misturar o trigo e o joio para se “safarem”…

Por outro lado, o tal envolvimento com a comunidade de que falava, por vezes, dá a sensação de ser algo de novo e de que apenas as escolas poderão ter acesso, no sentido de educar as novas gerações… Não concordo de todo com isso! E, por isso mesmo, sublinho a expressão aprendizagem ao longo da vida, pois a ideia de que “burro velho não aprende línguas” há muito que foi ultrapassada pela máxima do “saber não ocupa lugar”. Pelo menos assim o espero…

Sejamos claros, não é, de facto, somente quando somos novos que conseguimos aprender e ensinar! Torno aqui a realçar, neste caso o verbo ensinar, pois, com a, sempre crescente, onda tecnológica e métodos modernos (com os seus conteúdos interessantes, mas que também, por vezes, são mais formas ocas e palavreados caros para coisas já há muito inventadas…), fica-se com a sensação de que os “velhos” já não têm nada para ensinar à malta nova e que nem com ela conseguem já aprender, pois os ritmos são muito diferentes… Obviamente que isto não é verdade! Há, sem dúvida alguma, muitos conteúdos e formas positivas que podem e devem ser ensinados por quem tem mais experiência. Aliar a experiência do “terreno” à inovação com certeza que traz resultados bem melhores…

vascoespinhalotero@hotmail.com
(*) Psicólogo do Trabalho e das Organizações / Orientação Vocacional
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terça-feira, 12 de outubro de 2010

SIM CHEFE! (2ª parte)

Por um instante, paremos um pouco para pensar se a função de um líder é, acima de tudo, ser um pregador da boa forma de se estar, fiscal minucioso de papéis arrumados a centímetros da cruzinha, ceder sempre aos senhores e doutores mais complicados ou “amigos”, deixando de ter critérios justos e clarinhos para nada, ficar refém das aparências e da imagem (não percebendo que é assim mais facilmente manipulado) com recorrente receio de que pareça mal, ser porteiro de entradas aos milésimos de segundo, ser perito em habilmente mudar de conversa quando lhe interessa fugir às questões essenciais…

Chefiar apenas de “boca” e não escrever para não ficar comprometido preferindo deixar tudo no ar, apregoar o seu autoritarismo carimbando cortes cegos (deixando, no entanto, de lado os contínuos despesismos dos protegidos) com a velha máxima tão errada quanto antiga ”levam todos por igual, por isso, por uns pagam os outros” (acabando sempre por pagar os mesmos, mas agora até ficando a parecer que o merecem!)…

Só reconhecer um bom trabalho de um seu “escravo” depois de algum poderoso o fazer e aí fingir já o saber desde há muito, passar boatos de que “isto está mau, portanto é melhor não arrebitarem muito, porque senão…”, deixando os seus subordinados incapacitados de inovarem por medo de dar nas vistas e despertar maldizeres destrutivamente invejosos…

Era, assim, a vida de chefe nos tempos do “antigamente” e será ainda um retrato actual presente em muitas organizações de qualquer parte do mundo. Será este o tipo de liderança que poderá levar qualquer empresa a bom porto no futuro? Não existirão outras maneiras de liderar e estaremos condenados a isto? Este dilema passa-se em qualquer lado do mundo e os prejuízos aparecem depois e a culpa vai direitinha para os “preguiçosos dos trabalhadores, esses malandros que não querem fazer nada”...

Seja qual for a resposta, temos que a saber para nos habituarmos e sabermos, pelo menos, com que é que podemos contar. O problema é que este tipo de chefes tem, muitas vezes, um culto de seguidores fanáticos que arrasta muita gente, por medo ou ilusão. Este tipo de “general com medo” revela-se perito em “vestir a pele de cordeiro” e constitui-se como um mestre na manipulação do “jogar” com outros para que estes dêem a cara pelas suas decisões impopulares mais flagrantes…

Então e não deverá um líder sim definir os grandes desafios e objectivos, partilhá-los abertamente em reuniões com os seus colaboradores, discutir e até assumir, nos maus momentos de uma empresa, com franqueza as reais razões que levaram a que as coisas chegassem a este ponto (senão a culpa morre solteira, os velhos hábitos continuarão a sabotar o real crescimento e, por mais voltas que dermos, não saímos da cepa torta)?

Não deverá um líder sim ouvir e recolher atentamente os contributos de qualquer elemento da malta da sua organização de uma forma transparente e formal (sejam estes, na sua visão, à primeira vista, mais ou menos pertinentes), incentivar e avaliar sim a qualidade ou a quantidade do trabalho apresentado com formação primeiro e autonomia / responsabilidade depois (“dar a cana de pesca para então poder exigir o peixe”)?

Para ultrapassar a crise, em qualquer empresa, precisamos de líderes. Chefes já temos ou tivemos que cheguem…

vascoespinhalotero@hotmail.com
(*) Psicólogo do Trabalho e das Organizações / Orientação Vocacional
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SIM CHEFE! (1ª parte)

Estamos em tempos de crise e diz-se que é altura de mudanças, toda a gente o sente. Parece haver mais reflexões, mais questões, mais vontade de contribuir e de fazer algo para melhorar a “nossa” vida, mais garra para “dar a volta a isto” ou, por outro lado, mais desânimo, desconfiança e alienação… E qual o porquê desta aparente ambiguidade ou contradição?

É certo que todos procuramos lideranças em quem possamos confiar para os tempos de mudança que aí vêm: “como é que eu posso fazer alguma coisa e com quem posso contar?”

Ora, é certo e sabido que palavras leva-as o vento, que uma acção vale realmente mais do que mil palavras e que chega a hora da verdade ou, melhor, do poder e, por vezes, este sobe mesmo à cabeça. Já temos vindo a desiludirmo-nos ao longo dos tempos… Afinal de contas, “gato escaldado de água fria tem medo”.

Há que ter em atenção que esta actual “caixa de Pandora” pode levar a que muitos espertalhões tentem legitimar velhos hábitos de “chicote” que andavam melhor ou pior disfarçados desde o 25 de Abril.

Lembremo-nos que grandes ditaduras locais, regionais, nacionais e internacionais da História começaram em épocas de “apertar o cinto”, tendo aproveitado para ter “carta branca” para cometer horrores humanos, corrupções monopolistas e injustiças criminosas…

Então há que estar, nesta fase, crítico e atento ao ressurgimento desses tempos bem piores.

Tempos de medo dos poderosos que tudo parecem poder. Tempos de preconceito e inveja mesquinha do comum cidadão para com o vizinho do lado, na luta por pequenas migalhas, quando os tais poderosos continuam a acumular as grandes fatias.
Tempos de reforço do autoritarismo capataz grunhido como a única forma de pôr tudo na linha… Porém, hoje em dia, tudo isto se faz com a “maquilhagem“ de uma imagem pulida e charmosa, com um toque de “lobo em pele de cordeiro”... Assim se conquistam as massas que se deixam tratar como ignorantes (quando muitas vezes nem sequer o são)…

vascoespinhalotero@hotmail.com
(*) Psicólogo do Trabalho e das Organizações / Orientação Vocacional
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segunda-feira, 14 de junho de 2010

O COMPLEXO DA IMAGEM

Julgo que nós, portugueses, sofremos de um complexo da imagem, em especial da nossa imagem internacional. Por causa dela, o país entra em depressão ou em euforia, mesmo que tenhamos noção que tudo é um fenómeno momentâneo ou até uma ilusão e que, mesmo com boas ou más impressões “lá fora”, no nosso cantinho lusitano, os velhos problemas estruturais continuam aqui, concretamente no dia-a-dia, a puxar-nos, cada vez mais, para a miséria material e intelectual escondida, mas real.

Sempre que há algo que corre mal, logo vem alguém alertar para os prejuízos gravíssimos para a nossa imagem “lá fora”. E aí, mesmo em tempo de crise, logo aparecem financiamentos milagrosos, empréstimos salvadores e engenharias financeiras heróicas que acabam até por cavar a nossa sepultura económica ,a médio e longo prazo…

Já no tempo dos Descobrimentos, no seu declínio, assim foi. Nestes momentos épicos, trabalha-se em cima do joelho, conseguindo até explorar o Zé Povinho com redobrada legitimidade patriótica. Parece que se está a salvar Portugal e a mostrar ao mundo, que se julga estar sempre a olhar para nós com espanto e admiração, o quão grandes os lusitanos podem ser! Já Camões, mais ou menos assim, o escrevia em “Os Lusíadas”…

Nestes momentos repletos de humor trágico, define-se como objectivo estratégico “tapar o sol com a peneira” para estrangeiro (não) ver e ficamos todos contentes com isto a achar que é uma grande coisa!

Muitas vezes, em vez de nos preocuparmos de forma genuína com a justiça social, qualidade de vida, desenvolvimento sustentado, entre outros factores que são decisivos para vivermos melhor ou pior no nosso país, só nos mobilizamos ou pomos mãos à obra para “pôr o lixo para debaixo do tapete” por vergonha de que os estrangeiros se apercebam das nossas “burrices” estruturais.
Fica a sensação de que em Portugal só se consegue fazer algo em grande se se criar uma visão à moda do Rei Dom Sebastião, com pitadas de Fernando Pessoa, de que podemos ser grandes “lá fora” ou se se der o alarme de que vamos ficar muito mal vistos “lá fora”.

Basta lembrarmo-nos dos argumentos que se utilizaram para investir forte e feio em projectos sem sustentabilidade posterior como o Euro 2004, a Expo 98, Porto Capital Europeia da Cultura. Dizia-se que estes eventos só por si iam ser fantásticos para a nossa imagem durante e após o tempo da sua realização e que, para além disso, iriam servir para reestruturar as bases de desenvolvimento das áreas de desporto e cultura no nosso país. Que ficassemos descansados, pois o retorno iria ser muito bom...

Ora, o balanço final destes grandes empreendimentos é invariavelmente uma derrapagem gigantesca de contas, umas visitas mais de estrangeiros apenas e só nesse período e, fechada a cortina desses espectáculos, tudo volta à mesmo miséria cultural e desportiva.

Falando metaforicamente, as teias de aranha, que teimam em inundar os edifícios “elefantes brancos”, fazem-nos recordar, todos os dias, em qualquer conversa informal, a falta de estudos custo-benefício sem a “mãozinha” política populista… Também o frio betão das obras faraónicas parece chamar-nos repetidamente a atenção para o facto de os velhos hábitos de desorganização e de falta de visão para estas áreas se manterem intocados...

Para finalizar, uma simples pergunta: por que é que um português talentoso de uma qualquer área precisa de ir para o estrangeiro para ter uma oportunidade a sério e ser (só depois) reconhecido no nosso país?

vascoespinhalotero@hotmail.com
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sexta-feira, 11 de junho de 2010

FORMA VERSUS CONTEÚDO: AS MENTALIDADES… (2ª parte)

Por que é que quando um projecto ou uma matéria tem que ser discutida, quem o quer fazer (porventura baralhando o esquema já delineado por quem tem o poder) tem tantas dificuldades em encontrar uma via para o fazer?

E quando consegue furar e dar a sua opinião técnica ou como mero cidadão ou associação é de imediato apelidado depreciativamente de atrevido com se fosse um membro do povo que invadisse alguma corte monárquica?

Depois é óbvio que a qualidade do debate não é a melhor, a análise das matérias não é enriquecida com opiniões divergentes e as coisas são aprovadas por quem as vê sempre para o mesmo lado. Mais tarde, os cidadãos que têm que levar com essas decisões erradas, mal fundamentadas e aberrantes, no que à aplicação no terreno diz respeito, com efeitos práticos inexistentes ou negativos… Citando os “Gato Fedorento”, ficamos chateados, com certeza que ficamos chateados!

Os cidadãos acabam por expressar a sua revolta de uma de duas maneiras.

Individualmente, entre-dentes (geralmente é o que sucede), preferindo-se “explodir” numa conversa de café com um colega ou “descarregando” em falta de paciência no trato com as outras pessoas e depois até se acaba por esquecer ou fazer que se esquece para entrar num jogo de “lambe-botas” com quem manda…

Ou colectivamente, unindo-se e lutando, fazendo barulho pelas injustiças que sofrem na pele já que não puderam ser ouvidos aquando da discussão dos projectos ou matérias como cidadãos normais ou associações da área como abordamos atrás.

Um bom exemplo a seguir é o da luta do professores que unidos forçaram a existência de uma real negociação que comprometesse Governo e a grande maioria dos sindicatos e não apenas os sindicatos mais coniventes partidariamente com os governantes. Para o exemplo dos professores devemos olhar de forma elogiosa e não com mesquinha inveja como deseja quem quer dividir para reinar…

Já agora, um pequeno aparte. Neste particular, há gente que acusa os professores de serem uns privilegiados (se o fossem, teria que ser inventada uma nova escala para outra gente mais poderosa…) e incompetentes (é certo que há sempre uns melhores do que outros, mas aqui falamos no geral), mas quem o faz foge a “sete pés” quando lhe perguntam se gostaria de ser professor dizendo: “Eu? Aturar turmas de miúdos todos os dias? Só se fosse maluco”…

Concluindo, na minha opinião, quando se diz que é preciso mudar as mentalidades e que isso é complicado, deve tentar-se também concretizar pequenos passos e destacar alguns exemplos em que isso até foi, de alguma forma, conseguido para então poder estudar e aplicar concretamente noutros sectores ou áreas.

Tudo isto de forma a não ficarmos reféns desse desejo utópico e, assim, potencialmente preguiçoso legitimado de que “mudar mentalidades é complicado e tal…”.

vascoespinhalotero@hotmail.com
(*) Psicólogo do Trabalho e das Organizações / Orientação Vocacional
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FORMA VERSUS CONTEÚDO: AS MENTALIDADES… (1ª parte)

Há tempos, em conversa, ouvi dizerem que o baixo ritmo de desenvolvimento e de eficiência/eficácia na realização de projectos estruturantes, no nosso país, se deve a uma questão de mentalidades e que é complicado mudar. Enfim, que é difícil pensarmos as coisas de raiz e com forte envolvimento social, numa fase inicial, para evitar “broncas” por mau planeamento e despesismos absurdos…

Concordei em parte, pois não acredito, de forma alguma, que o nosso código genético nacional esteja fatalmente carimbado pela corrupção e autoritarismo. Porém, o que é certo é que isto se passa e impede que haja efectiva participação e envolvimento de todos, na fase de planeamento de grandes projectos realmente estruturantes.

E porquê? Na minha opinião, pelo menos parcialmente, devido ao facto de os portugueses valorizarem o parecer em detrimento do ser. Quantas vezes não ouvimos (sabiamente?...) dizer que não basta ser, é preciso parecer? E paradoxalmente (ou talvez não?...) ouvimos também alguns a queixarem-se do lusitano excesso de aparência e fachada.

Mas o que é certo é que, hoje em dia, na nossa sociedade, quem te mais jeito para o “teatro social” parece levar vantagem… E mesmo quem aposta muito no ser começa, ao longo do tempo, a render-se à conjugação com o parecer até que… fica só com o parecer! Geralmente, nesta altura diz-se que a pessoa está mais madura… E estará realmente?...

Em Portugal, agora e talvez desde há muitos séculos atrás, parece haver esta preocupação com a imagem (para o exterior, mas também a nível interno). Uma espécie de guerra sussurrada de forma (parecer) versus conteúdo (ser). Aqui se criam barreiras de preconceito que nos cegam e destroem a capacidade de mobilização social genuína em torno de grandes projectos estruturantes (do ser e não do parecer…). Assim nos condenamos aos nossos tais defeitos supostamente congénitos abordados no início desta reflexão.

Haja alguém que me explique com dados científicos: por que é que exactamente a mesma opinião dita por uma pessoa humilde, simples e sincera não há-de ter tanta credibilidade quando é dita por uma pessoa algo arrogante, de fato e gravata, “nariz empinado” e tom verbal pomposo?

Por que é que, em Portugal, a maioria das pessoas aparentemente prefere a ilusão da imagem (que dá sempre, mais tarde ou mais cedo, muitas contas para pagar…) à realidade do conteúdo?
No entanto, sejamos razoáveis, é certo que tem que haver um mínimo de cuidado com a imagem, mas daí até isso ser mais importante que o conteúdo vai uma longuíssima distância! Por que não seguimos os exemplos dos espanhóis ou dos suecos que se tratam entre eles por tu e não cultivam as expressões do género de “excelência”, “doutor”, etc?

Esta questão da forma versus conteúdo pode parecer, à primeira vista, meramente “castiça”, mas a verdade é que está ligada ao cerne de muitos buracos estruturais e de falta de coordenação/cooperação a nível local, regional e nacional com diferentes graus de consequente prejuízo para os cofres do Estado…

Na minha opinião, o medo de dar má imagem (seja para vizinhos, comunidade, país, estrangeiro, etc) é um dos principais factores responsáveis por os portugueses não participarem e/ou reivindicarem mais e, principalmente, melhor (sem sectarismos de classes). É que depois são “obrigados” a calar e consentir para…

vascoespinhalotero@hotmail.com
(*) Psicólogo do Trabalho e das Organizações / Orientação Vocacional
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quarta-feira, 2 de junho de 2010

SIM, AS PESSOAS PODEM! (4ª parte)

A actual legislação já abriu a possibilidade de apresentação de candidaturas de movimentos de cidadãos em eleições locais ou presidenciais, mas ainda fecha a porta no que respeita a legislativas. O número exigido de assinaturas para que uma proposta apresentada directamente por cidadãos possa ir ao Parlamento (esse mesmo local de representação das diversas vozes do povo) é de 5 mil o que torna a tarefa muito difícil. Talvez esteja na altura de exigir que este número mínimo baixe. Proposta neste sentido foi já apresentada pelos partidos de esquerda no parlamento (PCP, “Os Verdes” e Bloco de Esquerda).

Diz-se que estes movimentos sociais constituirão a democracia do futuro, numa sociedade informatizada com as redes sociais da Internet, em que a adesão a causas específicas pode ocorrer muito repentinamente e, simultaneamente, com muita força e impacto mediático, nomeadamente na comunicação social.

Porém, nem tudo o que luz é ouro e existirão também previsíveis desvantagens. Estes movimentos, se focados muito especificamente em matérias da mesma área, poderão não ter uma visão de conjunto das diversas áreas da sociedade e poderão, nalguns casos, ser manietados para defesa de lobbies de grupos dominantes (que, nesse caso, deixariam de necessitar de ter certos partidos no bolso…). Ora, no que diz respeito a ter uma visão global da sociedade, aí os partidos teoricamente levam vantagem. Ou será que não? Ou será que nem todos?...

Concluindo, parecem existir e, futuramente, irão existir ainda mais opções para os cidadãos se envolverem e terem a oportunidade de fazerem a diferença activamente. É tudo uma questão de fazer chegar a informação a toda a gente para que cada um possa fazer as suas escolhas e possa lutar por elas: enfim, real cidadania. Se for para isto, que venha a crise!

vascoespinhalotero@hotmail.com
(*) Psicólogo do Trabalho e das Organizações / Orientação Vocacional
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SIM, AS PESSOAS PODEM! (3ª parte)

Ora, na actual conjuntura social, os cidadãos que queiram apresentar ideias e bater-se por elas poderão virar-se para os pequenos partidos (com ideias alternativas às normais, dentro do risco que isso implica, em cada um dos extremos) ou então para os partidos do centro (porventura na perspectiva de os regenerar).

No entanto, o descrédito que a actividade política sofreu nas últimas décadas poderá fazer com que muita gente fique reticente em seguir este caminho com receio de que a sua opinião livre fique abafada pelas estruturas onde se terá somente de encaixar, sem oportunidade de perceber melhor e dar um pouco de si a esse conjunto.

Certamente dependerá das pessoas e dos partidos, mas é certo que existe claramente o receio de que o resto das pessoas de fora do partido já não os olhem e ouçam da mesma forma, após entrarem nesse mundo facilmente dado a rótulos, estereótipos, “cassetes” ou preconceitos.

E é óbvio que ninguém quer arriscar ficar refém de ideias ou ideais já estabelecidos, imutáveis e que não é fácil compreender bem ou discutir de forma aberta e crítica (seja pela falta de informação, seja pela real oposição com conhecimento).

Cabe a cada partido abrir as portas verdadeiramente, apostando com coragem, na crítica construtiva vinda de fora ou de dentro e deixar de lado a mera passagem de vícios e trejeitos de politiquices de geração para geração. Deixar de uma vez por toda de elogiar provincianamente os discursos que nada dizem para não se comprometerem com nada e, com isso, nada fazerem e de nada poderem ser acusados de ter feito…

Porém, mesmo com esta realidade, muita gente fica de fora. Muita gente continua a ter ideias, análises e propostas concretas e abrangentes e continua a não ter um espaço ou grupo para as discutir, melhorar, pôr em prática!

E é aqui mesmo que surgem os movimentos sociais de cidadãos! Conjuntos de independentes unidos por causas comuns e não necessariamente com profundidade política. Dentro destes, muita variedade de causas haverá.

vascoespinhalotero@hotmail.com
(*) Psicólogo do Trabalho e das Organizações / Orientação Vocacional
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SIM, AS PESSOAS PODEM! (2ª parte)

Não deixa de ser algo irónico o facto de apenas em alturas de aperto de curto prazo as pessoas terem tempo e vontade para fazer uma análise global e profunda dos problemas estruturais sobre os quais, há muito, alguns vinham chamando a atenção e propondo mudanças que na altura eram de longo prazo…

Agora sim, vêem que isto não vai lá com remendos de ocasião. Mas por quê só agora? Antes as pessoas andavam distraídas?

Há uns tempos atrás as pessoas preferiam os meios de alienação ou distracção (voluntária ou impingida pelos media) como os futebóis, novelas, anedotas de bolso, concursos dos sonhadores de milionários, bandeirinhas nas campanhas eleitorais, “graxas” aos chefes e “sô doutores”, papéis de vítima ou coitadinho, “chico-espertismos”, etc! Bem, se calhar ainda está tudo na mesma…

Estas mesmas pessoas apontavam a dedo, ao estilo da Inquisição, aqueles que seriam os supostos alarmistas com as suas propostas de longo prazo, sustentáveis, ecológicas e todas essas coisas “chatas” que levam a carregar no botão do comando para mudar de canal na televisão… Fazia lembrar quando queremos ver um jogo de futebol da nossa equipa do coração ou novela preferida e estão ao nosso lado a fazer barulho, não há direito!... E assim nos deixamos iludir e ficamos a ver a banda passar…

Mas tudo bem. Embora tarde, parece que agora, finalmente, as pessoas querem discutir abertamente as propostas e pôr mãos à obra em nome de todos e para todos proteger, no que diz respeito aos índices básicos de qualidade de vida.

O problema é que as pessoas se viram agora para os partidos em que maioritariamente votaram (os partidos do centro) e vêem em ambos um deserto de ideias estruturais, recursos humanos com pouca visão estratégica e estruturas com “mãos amarradas” por interesses de lobbies com demasiado poder e influência nos programas eleitorais ou no que se vai fazendo, à parte disso, ao longo das legislaturas…

No que respeita à intervenção dos partidos políticos centrais do costume, a actual situação dos portugueses faz lembrar quando os passageiros no naufrágio do navio Titanic pediam os coletes e barcos salva-vidas aos membros da tripulação e estes não lhes davam, pois apenas os tinham destinados à elite da 1ª classe!... Por mais que os passageiros pedissem, rastejassem, “engraxassem” ou ameaçassem, os membros da tripulação não queriam ou não podiam ajudá-los, pois estavam completamente dependentes da autoridade desse grupo de interesses e lobbies!

Tempos antes, a tripulação tinha tido a oportunidade de levar mais coletes e barcos salva-vidas, mas por uma questão de imagem do navio (ou aparências de grandeza…) preferiu não o fazer.
O que é curioso nesta história é que o navio foi ao fundo, levando consigo a esmagadora maioria dos passageiros, entre os quais muitos até da tal elite de 1ª classe e outros da tripulação!

vascoespinhalotero@hotmail.com
(*) Psicólogo do Trabalho e das Organizações / Orientação Vocacional
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SIM, AS PESSOAS PODEM! (1ª parte)

Portugal, em particular, e o mundo, no geral, estão a atravessar uma época de crise que vai muito além da escassez de bens materiais ou recursos financeiros. Chega, aliás, a um nível que estava, desde há uns bons anos, adormecido no debate entre os cidadãos: o dos valores de base. Volta a falar-se finalmente dos alicerces em que fundamos a nossa democracia.

Afinal, o que é mais importante proteger numa sociedade? O que é vital para existir uma qualidade de vida global? Quais as prioridades para se ter um desenvolvimento sustentável e equilibrado? Que oportunidades e obrigações deve ter qualquer cidadão para desenvolver o seu projecto de vida?

É altura de mudanças, toda a gente o sente. Porém, pergunta-se: de que modo, por que vias, com que procedimentos, com que tipo de pessoas e com que cultura? “Como é que eu posso fazer alguma coisa?”

Pelo menos um resultado imediato é facilmente percepcionado: há mais reflexões, mais questões, mais vontade de contribuir e de fazer algo para melhorar a “nossa” vida. Mais garra para “dar a volta a isto”.

É hora do diálogo ser levado a sério, porque assim não se perde tempo, muito pelo contrário, evitam-se futuros atrasos que, no fundo, já eram previstos… Mais gente quer ouvir, expor e enriquecer ideias e projectos concretos e abrangentes e não apenas que se desenvolvam algumas “capelas” dentro da mesma sociedade.

Mais gente quer pensar no global! Mais gente quer lutar contra a presunção de que apenas alguns podem usar da palavra e que os outros são demasiado ignorantes ou ingénuos para o fazer.

As pessoas, mais que nunca, querem fazer parte de algo, pôr mãos à obra em equipa (pois dão-se conta nestes momentos que sozinhos não vão lá). Na minha opinião, é precisamente este “toque” que determina se uma decisão irá ter, no futuro, bons ou maus resultados, em termos de envolvimento social.

Agora, há que aproveitar! E para quê? Para fazer coisas pequenas, porque senão a malta não compreende? Não, nem pensar! Um projecto por mais complexo que seja pode ser sempre explicado de forma simples e sincera, quem disser o contrário não quer explicar nada! Sim, mas então aproveitar para quê? Não para projectos financeiramente faraónicos…

Aproveitar para, a partir das análises profundas sobre as várias matérias já efectuadas e metidas na gaveta (num hábito mesquinho que nos tem custado milhões ao longo da História), tomar decisões estruturais (e não superficiais ou remendadas…) de forma participada e com critérios claros e respeitados.

Sem dúvida, algo vai mudar, espera-se que mude (para) bem e que as pessoas façam parte das mudanças estruturais e não levem apenas com elas…

vascoespinhalotero@hotmail.com
(*) Psicólogo do Trabalho e das Organizações / Orientação Vocacional
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SIM, AS PESSOAS PODEM! (1ª parte)

Portugal, em particular, e o mundo, no geral, estão a atravessar uma época de crise que vai muito além da escassez de bens materiais ou recursos financeiros. Chega, aliás, a um nível que estava, desde há uns bons anos, adormecido no debate entre os cidadãos: o dos valores de base. Volta a falar-se finalmente dos alicerces em que fundamos a nossa democracia.

Afinal, o que é mais importante proteger numa sociedade? O que é vital para existir uma qualidade de vida global? Quais as prioridades para se ter um desenvolvimento sustentável e equilibrado? Que oportunidades e obrigações deve ter qualquer cidadão para desenvolver o seu projecto de vida?

É altura de mudanças, toda a gente o sente. Porém, pergunta-se: de que modo, por que vias, com que procedimentos, com que tipo de pessoas e com que cultura? “Como é que eu posso fazer alguma coisa?”

Pelo menos um resultado imediato é facilmente percepcionado: há mais reflexões, mais questões, mais vontade de contribuir e de fazer algo para melhorar a “nossa” vida. Mais garra para “dar a volta a isto”.

É hora do diálogo ser levado a sério, porque assim não se perde tempo, muito pelo contrário, evitam-se futuros atrasos que, no fundo, já eram previstos… Mais gente quer ouvir, expor e enriquecer ideias e projectos concretos e abrangentes e não apenas que se desenvolvam algumas “capelas” dentro da mesma sociedade.

Mais gente quer pensar no global! Mais gente quer lutar contra a presunção de que apenas alguns podem usar da palavra e que os outros são demasiado ignorantes ou ingénuos para o fazer.

As pessoas, mais que nunca, querem fazer parte de algo, pôr mãos à obra em equipa (pois dão-se conta nestes momentos que sozinhos não vão lá). Na minha opinião, é precisamente este “toque” que determina se uma decisão irá ter, no futuro, bons ou maus resultados, em termos de envolvimento social.

Agora, há que aproveitar! E para quê? Para fazer coisas pequenas, porque senão a malta não compreende? Não, nem pensar! Um projecto por mais complexo que seja pode ser sempre explicado de forma simples e sincera, quem disser o contrário não quer explicar nada! Sim, mas então aproveitar para quê? Não para projectos financeiramente faraónicos…

Aproveitar para, a partir das análises profundas sobre as várias matérias já efectuadas e metidas na gaveta (num hábito mesquinho que nos tem custado milhões ao longo da História), tomar decisões estruturais (e não superficiais ou remendadas…) de forma participada e com critérios claros e respeitados.

Sem dúvida, algo vai mudar, espera-se que mude (para) bem e que as pessoas façam parte das mudanças estruturais e não levem apenas com elas…

vascoespinhalotero@hotmail.com
(*) Psicólogo do Trabalho e das Organizações / Orientação Vocacional
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