terça-feira, 2 de janeiro de 2007

Quando a cabeça não tem juízo...


Neste período de rescaldo (ou de “ressaca”), relativamente à participação portuguesa no Mundial de Futebol Coreia/Japão 2002, considero pertinente abordar de uma forma crítica e construtiva, dentro do que me é legítimo e possível fazer, o processo de preparação dos nossos representantes máximos na referida competição: os jogadores da “nossa” Selecção!

Fala-se muito de preparação física dos jogadores e, uma vez por outra, refere-se a sua preparação psicológica. Queixavam-se os jogadores, antes do jogo com os Estados Unidos da América, de sentirem elevados níveis de ansiedade há vários dias. A consequente derrota – e sobretudo porque foi devida a uma clara dificuldade dos nossos jogadores em atingirem a classe a que nos habituaram – talvez seja fruto dessa mesma ansiedade e dos fantasmas do psiquismo que os dominaram (Neurose do insucesso? Medo? Atitudes narcisistas?).

Numa visão socio-cultural constato que nós, portugueses, sempre nos “guiámos” pelo nosso “fado”, no sentido em que ora nos regozijamos por “sermos os maiores”, ora nos depreciamos por “sermos pequeninos”. Pois é, quanto maior é a subida, maior é a queda. É a nossa História que o acusa! Bem, isto explica e implica muita discussão e daria “pano para mangas”, mas voltemos à Selecção encarando-a como um “espelho” da sociedade portuguesa, ao nível social, cultural, económico e educativo.

No nosso país, frequentemente, na alta competição assistem-se a derrotas cuja explicação alguns técnicos remetem paras as tácticas, castigos, treinos ou para essa malvada falta de sorte (marca exclusiva portuguesa)! Mas terá sido aquela dramática meia-hora inicial, no jogo com a selecção americana, apenas falta de sorte? Será esta malvada a culpada por jogadores com larga experiência internacional, na casa dos trinta anos de idade “tremerem” daquela forma, assemelhando-se a juniores estreantes nestas andanças? Será? Claro que não! Porém para afastar estes “azares” e este “mau perder” será, sim, necessário: Estudar e Prevenir!

Muito raramente se questiona e investiga a fundo qual a explicação psicológica para o fracasso destes homens nos momentos cruciais. Sim, porque falamos de seres humanos e não de “robots comandados pelos treinadores de bancada”. Estes funcionam cognitivamente e emocionalmente envolvendo e influenciando, de modo decisivo, a finalização motora. E “quando a cabeça não tem juízo o corpo é que paga”! Pois então, ocorre-me a dúvida: até que ponto foi cientificamente correcta a preparação psicológica dos jogadores da Selecção? Como foi tratada a ansiedade (natural e, dado a nosso passado, esperada) dos jogadores durante os dias que antecederam o jogo? Com tranquilizantes?

Não fazendo disto a coisa mais importante do mundo (porque afinal o futebol é apenas um jogo!), eu diria que não foram os Estados Unidos que ganharam o jogo, mas antes a fragilização psicológica dos seleccionados portugueses face à pressão da competição em que estiveram envolvidos. É que com “mezinhas com alho” nos bolsos dos jogadores não se fazem milagres...

vascoespinhalotero@hotmail.com

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