terça-feira, 2 de janeiro de 2007

Acalmar o Stress no Trabalho


Sabe-se hoje que o Stress Ocupacional constitui uma das principais causas de disfuncionamento, não só para o indivíduo, como também para a organização, originando custos elevados e consequências catastróficas, para ambos. Numa sociedade como a nossa tão enraizada e dependente do “poder material” das coisas, seria de todo pertinente perguntar até que ponto o bem-estar, a saúde física e psicológica, são ou não consumidas ao Ser Humano quando este é reduzido ao que de mais impessoal possui: números!

Levanta-se uma questão tão simples quanto fundamental, mas muito pouco ingénua: será que existe alguma causa “real” para o Stress? Respondendo dentro da velha dicotomia meio-hereditariedade, podemos imaginar situações ou ambientes que mais facilmente provoquem Stress em trabalhadores, mas também sabemos que a reacção a uma fonte de Stress é algo que está dentro de cada indivíduo. Mais do que a própria situação em que está o trabalhador, é a sua percepção pessoal da situação que lhe provoca stress! Por exemplo, não é pelo facto de um indivíduo trabalhar numa zona com muito barulho que lhe vai provocar stress, será sim a importância que ele der isso, pois se ele não se importar de trabalhar com barulho não há stress! Assim, se pode compreender que perante as mesmas situações, contendo supostamente uma forte probabilidade de causar stress, uns indivíduos “stressem” e outros não. Ou seja a “causa” de muitas das reacções stressantes do trabalhador são a combinação da situação em que se encontra e o modo como as sente.

Para simplificar esta reflexão, iremos dividir as fontes de Stress em dois tipos, um de cariz interno ligado às exigências (pressões exercidas pelo indivíduo sobre si próprio) e outro de cariz externo (mais ligada às exigências de que este é alvo). Não se pode inferir, assim sem mais nem menos, que as fontes internas são maiores ou mais determinantes do que as externas ou vice-versa, pois a fronteira existente entre elas é muito difícil de marcar. Para além de que é a percepção do indivíduo em relação a essas fontes tidas como stressantes ou não, que faz “pender a balança” para um lado (factores do meio) ou para o outro (factores da própria pessoa). Ora, e o que será que estará “dentro” do indivíduo e que o fará percepcionar ou não uma situação como geradora de Stress? Recordando o exemplo de há pouco, por que será que uma pessoa poderia dar importância e “stressar” com o trabalho com barulho e outra não? Vários factores, entre os quais se destacam a personalidade, as experiências anteriores ao lidar com situações iguais ou semelhantes e a capacidade para resolver a situação percepcionada.

Independentemente destas diferenças nas percepções de cada pessoa, interessa perceber, para uma intervenção na organização, quais são, para a maioria das pessoas, as condições das situações geradoras de Stress nas organizações e, portanto, a serem consideradas como potenciais fontes de Stress no trabalho. Afinal, onde e o que é que nos “stressará” mais facilmente no trabalho? Segundo o Modelo de Stress no trabalho de Cartwright e Cooper (1997) existirão 6 áreas identificadas como possíveis fontes de Stresse: Intrínsecas do Trabalho (trabalho em excesso, trabalho demasiado reduzido, pressões de tempo, tomadas de decisão, etc), Papel na Organização (conflito/ambiguidade de papel, responsabilidade, não participação nas tomadas de decisão, etc), Carreira (perspectiva de ascensão, sobre/sub promoção, emprego inseguro, etc), Estrutura e Clima da Organização (falta de uma supervisão eficaz, política da empresa, restrições ao comportamento, etc), Relações da Empresa com o Mundo Exterior (exigências da empresa versus família, exigências da empresa versus interesses pessoais, etc) e Relações Dentro da Organização (relações pobres com o chefe, colegas ou subordinados, dificuldades em delegar responsabilidades, etc).

Como se pode deduzir a partir de tudo o se tem dito até aqui, o stress Ocupacional traz elevados prejuízos, em primeiro lugar para o indivíduo, mas também para a organização. Um trabalhador “doente” não é um elemento produtivo e eficaz. A diminuição da produtividade e da qualidade é nefasta para a eficácia organizacional e conceitos como Rotação de Pessoal (os trabalhadores que sentem o seu trabalho como stressante têm uma probabilidade duas vezes superior de mudar de trabalho do que aqueles que não têm essa sensação), Absentismo (está estimado que 60% da totalidade do absentismo é devida ao Stress) e Baixas por motivos de Doença têm sido muito falados actualmente, a propósito da discussão que envolve o novo Código do Trabalho. Nesse documento são apresentadas algumas restrições e medidas que, como vimos anteriormente, estão paradoxalmente entre os factores indutores de stress no trabalho! Esquecem-se as lacunas no acompanhamento médico de prevenção, as condições de trabalho e relacionamento entre membros de uma organização. Talvez seja mesmo caso para entrar em Stress…
vascoespinhalotero@hotmail.com

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