terça-feira, 2 de janeiro de 2007

O Psicólogo na Escola


Por vezes as escolas que requisitam a colocação de um psicólogo criam expectativas ultra-elevadas, vêem-no como um “salvador” que resolverá todos os problemas, principalmente aqueles ligados aos alunos indisciplinados, num ápice! Porém quando este promove medidas de longo prazo que exigem um trabalho contínuo de base envolvendo todos os sectores intervenientes do meio escolar (ou seja quando afinal se dão conta de que ele não traz consigo uma “varinha mágica”!) rapidamente a desilusão e a desconfiança se instalam. Será então importante esclarecer que a acção do psicólogo não se limita a “passar testes”, nem a tratar dos “casos difíceis” para ali “encaixotados”.

Ou seja não se resume a consultas de orientação vocacional pontuais em que se utilizam unicamente métodos de avaliação psicométrica, nem a acompanhamento e/ou encaminhamento de casos clínicos. Este estereótipo é comum, mas inaceitável! Vamos lá ver uma coisa: o psicólogo não vai resolver todos os problemas da escola (pode, inclusivamente, descobrir outros até então desconhecidos), vai sim contribuir para a sua identificação e resolução, o mais cedo possível, num processo contínuo de prevenção/intervenção primária (com a população em geral), secundária (com populações específicas e/ou de risco) e terciária (casos individuais).

Segundo a minha perspectiva o conceito de educação poderá definir-se como o processo de construção das “hipóteses” de sermos nós mesmos! Isto implica toda uma revalorização das potencialidades do nosso percurso de vida com todos os seus “preciosos” obstáculos que constituem as nossas vivências. Assim, a dificuldade e o erro passam a ser vistos como oportunidades de aprender e enriquecer os conhecimentos e o ofício.

A diversidade socio-cultural constitui-se como a “gasolina” deste processo sendo esta aproveitada e explorada para o nosso auto-apetrechamento. Esta abordagem encara a informação, discussão e negociação construtivas como factores desenvolvimentistas de consciencialização social, cultural e profissional. Ora, seguindo esta linha de orientação chegamos ao real papel do psicólogo! Este caracteriza-se por ser um catalizador de relações, aprendizagens e escolhas essenciais num meio escolar inclusivo onde se recebam, ou melhor, se conquistem “competências de vida” num processo heurístico e autónomo dos alunos visando a sua inserção e orientação no mundo do trabalho.

Especificando um pouco mais, o psicólogo poderá ter uma intervenção directa com os professores no sentido de os aconselhar, ajudar, fornecer outras perspectivas e modos de lidar com diferentes problemáticas e desafios como são, por exemplo, os resultantes da nova estruturação curricular. Pretende-se promover a planificação e a flexibilidade prática nos métodos de ensino-aprendizagem e nos conteúdos programáticos adaptados a cada escola, grupo-turma, e nalguns casos, a cada aluno.

Relativamente ao pessoal não docente, a promoção de acções de formação ao nível das relações interpessoais revela-se importante sendo, muitas vezes, compreensivelmente desejada pelos próprios funcionários. No que diz respeito aos alunos, para além das sessões de orientação vocacional (individual ou em grupo), poderão realizar-se semanas de informação escolar e profissional, viagens a instituições profissionais locais, actividades de integração de novos alunos, programas de prevenção para a saúde (ex: educação sexual, alcoolismo, etc) e muito mais, dependendo apenas de dois factores: vontade e criatividade! Os pais e e/ou encarregados de educação poderão ser chamados e sensibilizados para as suas potencialidades educativas, embora eu entenda o quanto será difícil trazê-los à escola, mas esta “aliança” será porventura a mais espectacular forma de intervenção e orientação com os seus miúdos!

Em relação aos serviços especializados de apoio educativo, o modelo seguido é cooperativo, pois requer-se o trabalho de equipa (psicólogos, assistentes sociais, professores de apoio educativo, entre outros). Em termos muito gerais, posso dizer que esta equipa auxilia desde alunos com deficiências (quer intelectuais, quer físicas) a alunos sobredotados, sendo a tónica dominante as dificuldades de aprendizagem. A título de exemplo, posso realçar a possibilidade da elaboração de um currículo alternativo, de programas de estudo acompanhado, de promoção cognitiva, entre outros para o aluno com necessidades educativas especiais sem, no entanto, o separar do seu grupo-turma de referência.

Muitas vezes todo este trabalho “sombra” realizado pelo psicólogo é subvalorizado, sendo até utilizado por aqueles que se julgam capazes de o “avaliar” para justificar a sua própria falta de empenhamento e envolvência no meio escolar! Numa sociedade como esta em que vivemos que tão facilmente cultiva a apatia, o desinteresse e a resignação como virtudes compreensíveis, a escola deverá inequivocamente constituir-se como “despertador” de todo o potencial humano.

1 comentário:

Anónimo disse...

experiencia