Constatam-se facilmente, no senso comum nacional, as vulgares acusações que se fazem aos estudantes, mais frequentemente aos universitários (porventura resultado de uma analogia ao passado elitista do ensino universitário nos tempos ditatoriais), de serem pouco amigos do estudo e grandes companheiros das greves (no sentido do “não querer fazer nada”), praxes (no sentido do prazer da humilhação do caloiro, decorrente da posse do estatuto de “doutor”), irreverência (no sentido que “querem tudo, porque são jovens, depois aprendem”), farras e bebedeiras (crê-se que será uma prática exclusiva destes estudantes, “fazendo-se de conta” que só eles bebem no nosso país…).
Estas construções sociais são, nada mais, nada menos, que preconceitos fortemente enraizados numa parte da população, que desconhece uma realidade que infelizmente na verdade nunca viu (não tendo, assim, oportunidade para disconfirmar estas crenças) e que toma o todo pelas partes, caindo na tentação fácil e pouco rigorosa da indução. Serve-nos a metáfora do “Adamastor para os navegadores portugueses”, ninguém o tinha visto, mas todos já sabiam perfeitamente que existia e que era medonho…
Passeia-se do particular para o geral (“aquele estudante está bêbado, todos os estudantes são bêbados) com uma irresponsabilidade consentida e mesmo incentivada socialmente por uma espécie restrita de moral, numa clara falta de tolerância e de respeito que consiste na ideia de que “apenas a nossa ideia de moral é que está certa”. É claro que existem excessos condenáveis ao nível de alguns comportamentos de jovens. São pelo menos mais visíveis num fenómeno de atenção selectiva, mas obviamente também existirão até mesmo nas fracções supostamente mais íntegras da sociedade actual, sendo que estes últimos serão mais facilmente cobertos pela capa de silêncios impostos, pois “é uma vergonha se se sabe”.
A verdade é que há espaço para muitas coisas na vida dos jovens e de todos nós. Se é verdade que no processo de maturação é “com as cabeçadas que se aprende”, actuar numa condenação a priori, lembra um pouco o conceito de “guerra preventiva”! Não é escondendo e fortificando os medos que se fornece autonomia e responsabilidade a um jovem, neste caso ao estudante, que se arriscará a seguir a sua vida receando exacerbadamente encontrar as “armas de destruição massiva”! Defender ser degradante, por não se compreender a sua cultura, aquilo que poderá ser natural e mesmo construtivo (dentro dos limites da ética que se aprende pela consciencialização que trazem as experiências e a sua análise/prevenção crítica) será ofuscar outras facetas, outras aprendizagens, outros contributos, outras lutas…
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