terça-feira, 2 de janeiro de 2007

Psicologia convocada para a Selecção Nacional


Talvez a exaltação do futebolista João Pinto face ao árbitro Angel Sanchez fosse evitada e as “mezinhas de alho” antes do jogo, para dar sorte, fossem dispensadas, se os jogadores da selecção portuguesa de futebol que competiram no Mundial tivessem beneficiado de um acompanhamento psicológico continuado ao longo do tempo. A equipa técnica da selecção incluía médicos, enfermeiros e fisioterapeutas, mas ao contrário do que aconteceu com algumas selecções de outros países, como a de Inglaterra ou Brasil, não integrou nenhum psicólogo que interviesse ao nível da gestão das emoções dos jogadores, das suas ansiedades, capacidade de concentração e de vários outros aspectos.

Sidónio Serpa, professor de Psicologia do Desporto na Universidade Técnica de Lisboa, considera que o processo de treino em alta competição compreende quatro dimensões: a técnica, a táctica, a física e a psicológica. O treinador e/ou a sua equipa deve, portanto, estar apto para trabalhar todas estas vertentes, impondo-se então a incorporação de um psicólogo neste “plantel”. Mas realmente que papel poderá ter? E quando o poderá desempenhar?

O apoio psicológico deve ser dado de uma forma constante e progressiva. O trabalho do psicólogo deve ser orientado no sentido de desenvolver, nos atletas, capacidades a nível psicológico que lhe permitam um maior rendimento e capacidade de concentração. Neste processo são utilizadas estratégias para trabalhar a motivação e o controlo da ansiedade.

Segundo Luís Baptista, formador de treinadores da Federação portuguesa de Futebol, a intervenção deverá, antes de mais, ser pedagógica e de prevenção sistemática, de modo a ajudar os jogadores a poder antecipar determinadas situações. De que forma? Por exemplo, através de uma técnica chamada imagética, os jogadores são levados a imaginar (sob orientação do psicólogo) situações que podem acontecer no jogo (desmarcações, fintas, foras de jogo, decisões do árbitro, defesas, faltas, indicações dos colegas, provocações de adversários, etc).

A antecipação do que pode acontecer é, aliás, uma das técnicas utilizadas no próprio dia do desafio de futebol, antes dos jogadores entrarem no campo. No final de um jogo, a intervenção também pode ser importante para ajudar os jogadores a perceberem o que se passou. Noutros casos, há apenas que os deixar viver a emoção da derrota. E mais tarde começar a preparar a situação futura, pensando no próximo objectivo, como melhor modo de ultrapassar a derrota, sem deixar de a recordar de uma forma construtiva.

Outro tipo de intervenção poderá ser desenvolvida, sendo esta mais aprofundada, mais técnica e diferenciada, no sentido de um auto-conhecimento do atleta: o aconselhamento psicológico. Segundo Sidónio Serpa o psicólogo pode adoptar um papel observador, identificando disfunções e, posteriormente, alertando o treinador. É um trabalho que deverá ser realizado em equipa e numa perspectiva multidisciplinar.

Todo este apoio deverá ser feito de uma forma progressiva ao longo do tempo... não faz sentido meter um psicólogo num avião com atletas que não conhece para uma competição como o Mundial de Futebol! Em alta competição, o psicólogo não pode ser utilizado como uma “ambulância”!

vascoespinhalotero@hotmail.com

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