terça-feira, 2 de janeiro de 2007

No meu Tempo

Pais e filhos jovens e/ou adolescentes têm, de vez em quando, confrontos que são, não raras vezes, comuns. Hoje em dia fala-se mais dos problemas dos jovens e, paradoxalmente ou não, o trabalho dos pais parece cada vez mais exigente, embora possa ser facilitado através do esclarecimento de cinco equívocos, como aponta o psiquiatra Daniel Sampaio, na sua obra “Inventem-se Novos Pais”.

O primeiro equívoco corresponde ao esquecimento das transformações que a família tem experimentado. Noutros tempos, as palavras dos pais determinavam quase tudo: quando os filhos saíam, estudavam e até com quem namoravam! Quem tratava dos miúdos era a mãe, pois o pai só intervinha com os indispensáveis açoites. Os temas “difíceis” eram camuflados e os problemas eram “enterrados”, pois “parecia mal”. Ora, a família actual é, em termos gerais, diferente, mais aberta e com riscos mais visíveis. As mulheres, agora com maior ocupação profissional, continuam a tratar dos filhos, mas com maior colaboração dos homens. Os pais tornaram-se mais sinceros para com os filhos e ouvem frontalmente críticas ao seu comportamento!...

Um segundo equívoco prende-se com a velha crença: para lidar com a nova geração é preciso constantemente recordar a adolescência dos pais. É preciso ter em atenção que os adolescentes de hoje são naturalmente diferentes. Os jovens de agora são mais capazes de discutir e enfrentar os problemas (é verdade, de os criar também...), embora até passem mais tempo sob a alçada dos pais, dado o aumento da sua escolaridade (antigamente os filhos saíam de casa para trabalhar bem mais cedo). Esquecer isto e persistir na célebre frase “No meu tempo...” para repreender é contribuir para dificultar o diálogo com os filhos…

O terceiro equívoco diz respeito ao que se entende por normal e anormal (patológico, doentio) na adolescência. Todos os dias vemos associar, erradamente, turbulência juvenil a perturbação mental e/ou delinquência. Estudos afirmam com segurança que apenas 20% dos adolescentes possuem perturbações psicológicas sérias. Uma tempestade num copo de água diria.

O quarto equívoco será a ideia de que os pais e os adolescentes devam estar de acordo e ter a mesma visão do mundo. Isto foi, é e será sempre impossível! Aliás isso seria sim uma grande “seca”, que transformaria em meros “robots” os nossos homens e mulheres de amanhã! É natural que um pai de quarenta anos e um filho adolescente tenham ideias opostas sobre divertimentos ou horas de deitar por exemplo. Mas é desejável que conversem, discutam e cheguem a um equilíbrio nas suas opções. Nas famílias em que os filhos e pais lutam cada um por si, alguém acaba por ceder, não porque foi levado a concordar, mas sim para não agravar o “ambiente”. E depois se algo corre mal ouve-se dizer “tu é que és o culpado”…

O quinto equívoco consiste em não entender que durante a adolescência os filhos deixam de pertencer aos pais. Durante a infância, é fácil dar-lhes ordens, controlar-lhes o dia-a-dia. Na adolescência, isso já não funciona. Os filhos entregam-se mais aos amigos, namorados ou festivais rock!... Para os pais é doloroso sentir a diminuição do seu poder, mas é fundamental que compreendam qual o seu papel nesta fase: o de estar atentos, de mobilizar sem dirigir, de apoiar nos fracassos e incentivar nos êxitos. O segredo não é controlar, é sim simplesmente supervisionar e estar lá quando é preciso!
vascoespinhalotero@hotmail.com* Psicólogo do Trabalho e das Organizações / Orientação Vocacional

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