Torna-se difícil à primeira vista perceber como é possível que em tempos de paz (pelo menos no mundo ocidental) continue a ser o mercado de compra e venda de armas, líder do comércio mundial! À frente do futebol, dos automóveis e mesmo da droga, surgem as armas (e atenção que não me refiro a “inofensivas” carabinas, balas ou granadas, mas sim aquelas que podem chacinar toda a população mundial várias vezes: as chamadas armas de destruição maciça).Eis que emerge o lado negro desta sociedade que é meticulosamente e, atrever-me-ia mesmo a dizer, propositadamente entretida com factos banais, mórbidos e mesquinhos, que passam a ser notícia de interesse prioritário num qualquer jornal nacional...
Isto não é notícia, é, sim, “areia atirada para nossos olhos”, pois se nós soubéssemos, se nós suspeitássemos, se nós acusássemos (não o vilão da telenovela ou o malandreco que se meteu com outra mulher e vai à televisão vangloriar-se, enquanto a audiência explode) quem dirige e/ou deixa dirigir este negócio que mata milhões de seres humanos, provavelmente seria o caos ou a liberdade por fim!
Há quem diga, porém, que “enquanto for lá longe não nos aflige”, “se aqueles árabes se querem matar que se matem, são uns extremistas”. Há quem diga bem alto “não são as armas que matam, são as pessoas que as usam que o fazem”. E aqui surge o cerne da questão! Pensem neste ditado: “Tão ladrão é o que rouba como quem fica à porta”. Afinal quem lhes vende as armas? E alguns responderiam “sim ,mas eles não são obrigados a comprá-las, muito menos a usá-las”. Muito bem, mas o que poderá levar estes seres humanos, como nós (porque se estivéssemos no seu lugar provavelmente não seríamos diferentes, por muito que levantemos o queixo da nossa arrogância, pois afinal nós é que somos os civilizados...) a cometer este acto monstruoso? Peguemos nesta metáfora: “Imagine o leitor que assaltam a sua casa, roubam tudo, destroem o seu único meio de subsistência, a sua cultura; matam a sua família no caminho de saída, porque não compreendem, nem querem compreender os vossos costumes e ainda vos apelidam de fanáticos, pois também não entendem a vossa religião.”
Perante isto imagine o que sentiria? Tristeza, revolta, raiva e eis que chega a sede de vingança! Junte-se agora uma pitada de interpretações erróneas de livros religiosos desta cultura e de quem se serve da religião para unir as pessoas no sentido da retaliação (se quiser uma imagem lembre-se daquelas sessões mais exacerbadas de alguma seita religiosa perto de si). Assim, pode nascer o extremismo! Ora, imagine também que, aproveitando-se da situação, lhe aparece alguém tentando vender-lhe uma pistola! Ah, peço ao leitor, não racionalmente, mas apenas emotivamente, pois é disso que se trata, que me diga o que faria?...
Mas vamos lá ver uma coisa, estes actos de violência, quer de ataque, quer de resposta (embora haja sempre o problema “quem atirou a primeira pedra?”) nunca se devem deixar passar em claro! Agora para intervir e, mais importante ainda, para os prevenir, há que fazer um esforço para compreender a sua génese, desmantelando o “monstro extremista” que nos é impingido via comunicação social por quem dirige o mercado do armamento (e as armas e o petróleo são amigos íntimos...). Pretendem estes garantir o apoio da opinião pública (o nosso apoio!), qual manta que cobre crimes humanitários vergonhosos, que nunca são sancionados (basta recordar que nunca foi condenada por crimes de genocídio qualquer força militar vencedora de qualquer guerra...) em nome, dizem eles, da democracia e da liberdade, contra o “eixo do mal”!
É preciso ter em atenção que para combater actos radicais de inimigos que desconhecemos (e quem diz que são nossos inimigos e não de apenas alguns que actuaram em nosso nome?...) há que responder com compreensão, tolerância e solidariedade para entendermos as suas culturas e costumes. Afinal, é isto que nos faz humanos! Não se deverá responder a um crime com outro crime! Às vezes o “feitiço vira-se contra o feiticeiro” e surgem os atentados terroristas...
O apoio cego concedido a estes pretensos defensores da segurança e estabilidade mundial é, em larga medida, irresponsável, pois permite que se manipule a opinião pública como se de uma criança se tratasse colocando apenas duas opções: “ou comes ou levas”! Tendo em conta que se agita a bandeira da luta contra ditaduras (quantos ditadores não foram e são democraticamente eleitos?) e defesa dos direitos humanos parece-me no mínimo esquizofrénico que se acene ao mundo com a mãe de todas as bombas! Afinal quem são os extremistas?
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