terça-feira, 2 de janeiro de 2007

Entre o Adamastor e D. Sebastião: a nossa Inovação

Nos exigentes tempos que correm torna-se uma tentação o descarregar das culpas de atrasos de desenvolvimento ou fracassos profissionais em bodes expiatórios, quando, na verdade, muitos dos problemas são estruturais e só se podem resolver com as pessoas e pelas pessoas! Como? Ouvindo-as e “traduzindo” as suas mensagens em propostas de melhoria concretas! Parece utópico ou mesmo ingénuo, mas só assim se consegue planificar e mobilizar em conjunto. Pois se apenas planificarmos, as coisas não passam do papel. Se apenas mobilizarmos, as coisas são meramente “desenrascadas”…

Por outro lado, com figuras “sebastiónicas” (“isto só correu bem por causa dele”) ou, no lado oposto, diabolizações “adamastorianas” (“isto só correu mal por causa dele”) nem se planifica, nem se mobiliza…

Tentação mais fácil ainda se torna o descarregar da nossa frustração, pelo ponto a que chegou o panorama nacional, na suposta incapacidade crónica dos trabalhadores portugueses (especialmente funcionários públicos e trabalhadores por conta de outrem), generalizando de forma leviana e perigosa, mas, por vezes, bem aceite numa qualquer discussão de café ou comentário televisivo…

Coloca-se em causa o seu desempenho, muitas vezes com verdade, esquecendo, porém, em especial a grande maioria dos líderes do nosso país, o potencial crítico desaproveitado que estas pessoas possuem e que muitas vezes as empurra para a frustração e o “deixa andar”. A reacção ao silêncio no mundo do trabalho surge de várias formas: uns acomodam-se, outros trabalham ainda mais, alguns um pouco de ambos, outros nem uma coisa, nem outra!

Que soluções? Se o conceito de inovação está na moda, porque não traze-lo para o dia-a-dia de trabalho? A oportunidade está ali mesmo ao lado: o maior potencial de inovação das organizações! Atentem líderes das nossas organizações: para se tomar decisões chave é mais fácil e eficaz ouvir, delegar, responsabilizar e apostar do que controlar, fechar, silenciar… Deixemos os nossos recursos humanos inovarem, “inventarem” e aplicarem, de forma organizada e sistemática (não só de vez em quando…). Numa organização de sucesso recorre-se às ideias que provêem da mistura da experiência acumulada dos mais velhos com os conhecimentos actualizados dos mais novos e, atenção, independentemente das funções exercidas, sejam estas mais operacionais, de gestão ou mais técnicas!

Há que lembrar que as grandes coisas foram sempre decididas em grandes reuniões com abertura à análise e propostas dos intervenientes! Quer estejemos a falar dos grupinhos de trabalho de alunos na escola, das equipas de trabalho de uma empresa ou de um clube recreativo!

Basta olharmos para a História e revermos como, no século XV, os navegadores portugueses abriram a porta ao mundo, trabalhando em equipas multidisciplinares com gente de diversas formações e experiência (cartógrafos, geógrafos, arquitectos, carpinteiros, entre outros) que tinham permanentemente de planificar e mobilizar. Porque não repetirmos esta receita mais vezes?...

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