terça-feira, 2 de janeiro de 2007

Desporto para todos


Há tempos, numa conversa informal, alguém referiu a existência de uma grande lacuna no desporto português: a falta de formação de qualidade para crianças e adolescentes. Seria aí a prioridade de intervenção, de criação de infra-estruturas, formação técnica, investimento de fundos, etc. Ainda segundo esta opinião, o investimento em adultos seria desperdício, pois “burro velho não aprende línguas” e um grande desportista não se faz de um dia para o outro e tem que começar cedo.

Concordei, mas só no que se refere ao desporto de alta competição. Na minha opinião, relativamente ao desporto de lazer ou manutenção é igualmente importante o investimento no desporto para adultos e idosos!

Vejamos, no desporto em geral existe a alta competição, que inevitavelmente abrange uma percentagem baixa da população, e existe o desporto de lazer ou de manutenção, este sim, capaz de absorver a grande maioria da população (pois nem todos podem ser “Figo, Rosa Mota, Carlos Lisboa ou Nuno Delgado”, mas quase toda a gente poderá ou poderia praticar futebol, atletismo, basquetebol, judo ou qualquer outra modalidade).

Por outro lado, se é certo que as fronteiras entre o desporto de competição e o desporto de lazer são bem definidas, também é certo que estes podem funcionar num contínuo em que proporcionando à população a opção do “experimentar” uma modalidade, se acaba por descobrir talentos, podendo aproveitá-los, quanto mais cedo melhor, para a competição. Ou seja, do geral para o particular, uma coisa beneficia a outra!

Com alguma atenção e auto-análise, damo-nos conta que em Portugal se confunde com incrível ligeireza desporto com desporto de competição! Sejamos realistas, num país com alguns “craques” do desporto, a maioria da nossa população é extremamente sedentária, sendo que a prática desportiva regular mais intensa para muita gente é estar no sofá a ver futebol no papel de “treinador de bancada”!

Provavelmente alguns dirão que, de vez em quando, dão uma “perninha” no futebol de 5. Ora, apesar de serem, na globalidade, poucos os que o fazem, há que reconhecer que a prática do futebol de 5 por adultos é, no nosso país, mais aceitável. Porém, também através deste facto, podemos apresentar outro dado: falta de alternativas ao futebol de 5, no quer diz respeito à prática desportiva por adultos!

Proponho-vos um desafio: se forem adultos, tentem lembrar-se de uma única vez (que não no vosso percurso escolar) em que praticaram basquetebol, voleibol, andebol, hóquei em patins, remo, ciclismo, ginástica ou mesmo um qualquer tipo de dança, só para citar alguns exemplos? Pensem nas alturas em que algum colega adulto vos diz “temos que fazer algum desporto” e logo surge apenas o futebol de 5 como se fosse a única alternativa possível!

É certo que há gente que pratica, de quando em vez, ténis, natação, atletismo, hipismo ou ginásios para manutenção. No entanto, são, infelizmente, minorias, sendo que nalgumas modalidades o afastamento do público potencialmente interessado se deve mais ao “rótulo social” de desporto elitista do que a puro desinteresse.

Concluindo, em Portugal, existe, sem dúvida, uma falta de prática desportiva regular em desportos variados principalmente entre os adultos (relativamente a crianças e adolescentes já não é bem assim). Seja por falta de interesse cultural enraizado, relativamente a algumas modalidades, com pouca tradição no nosso país, seja por falta de oferta de infra-estruturas e formação técnica, o que é certo é que a partir sensivelmente dos 30 anos pouca gente faz desporto e quem o faz na esmagadora maioria é um jogo de futebol de 5 quando calha... Será que o desporto não vale a pena?

vascoespinhalotero@hotmail.com(*) Psicólogo do Trabalho e das Organizações / Orientação Vocacional

4 comentários:

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